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Sibele Bulcão - Coletivo Rapadura com Urucum & Dendê UFBA - Foto Jéssica Sueli, 2019.
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DENILSON FRANCISCO DAS NEVES (DENNY NEVES) - É Pernambucano radicado em Salvador – BA.
Mestre em Dança pelo PPGDANÇA - Programa de pós-graduação em Dança, UFBA - Universidade
Federal da Bahia. Doutorando em Danças das Culturas Populares pelo PPGDANÇA - Programa de Pós-
graduação da Escola de Dança da UFBA - Universidade Federal da Bahia. Atua como Professor de
danças das culturas indígenas, repertórios populares e afro-brasileiras na Escola de Dança da UFBA. Foi
professor da Danças Populares na Escola de Dança da FUNCEB - Fundação Cultural do Estado da Bahia.
É membro da Nação do Maracatu Porto Rico, desde 2000, onde mantém dedicação às expressões das
danças dos Orixás e Caboclos de Pena Reiamar de Pernambuco. Realiza projetos e pesquisa para
formação com ênfase nas populações tradicionais de povos Indígenas e Quilombolas pelo Instituto
MAPUMALANGA-SP, em parceria com o UNICEF. É diretor artístico e coreógrafo do Coletivo de
Pesquisa em Criação em Danças Populares do Brasil - "RAPADURA COM URUCUM & DENDÊ" pela
Escola de Dança da UFBA. É diretor artístico e produtor cultural do Movimento BOI ESTRELA DE
IGATU pela ONG GERAIS - Revitalização Cultural e Socioambientalismo na Chapada Diamantina -
BA. É membro proponente e pesquisador do GIRA - Grupo de Pesquisa em Danças das Culturas
Indígenas, Repertórios Populares e Afro-brasileiras - UFBA, (CNPq), UMBIGADA - Grupo de Pesquisa
em Dança, Cultura e Contemporaneidade - UFBA, (CNPq) e Grupo de Pesquisa ENCRUZILHADA em
parceria com a UFS – Universidade Federal de Sergipe (CNPq – Ufs).
Vale iniciar o debate analisando a própria história da construção curricular
implementada a partir da década de 1950, para compreendermos o atual contexto ao
qual justificamos a reivindicação desses saberes como normativa curricular reconhecida
pelo CONSUNI-UFBA – Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia, por
meio da mais recente reestruturação curricular iniciada em 2015 e, atualmente, em
processo de aprovação.
Por meio da análise curricular das primeiras décadas entre 1956 e 1980, apresento
reflexões sobre a inserção das danças provenientes dos saberes Indígenas, danças Afro-
diaspóricas e Populares, sinalizando as idéias curriculares originalmente proposta pelos
primeiros diretores da instituição, Yanka Rudzka (1956 - 1959) e Rolf Gelewski (1962-
1970). Esses dois diretores estabeleceram os princípios curriculares iniciais, mediante
três departamentos que incluíam o estudo do Ballet Clássico, o estudo da Dança
Moderna e o emblemático Departamento de Dança Folclórica. Através de uma
perspectiva de inclusão desses saberes sob a batuta do que reconhecemos como folclore,
como nos apontam os primeiros indicadores formativos, o currículo do passado
apresentava como pressupostos:
Foi sob a batuta do termo Folclore que os saberes provenientes do que atualmente
chamamos de danças provenientes dos saberes Indígenas, danças Afro-diaspóricas e
Populares, foram invisibilizados dentro da perspectiva curricular proposta por seus
pioneiros. É notório refletir que nesse processo, essas danças foram equivocadamente
associadas ou vistas como equivalentes ao termo como se fizessem parte do mesmo
caldeirão epistemológico. Considerando os indicadores do Movimento Folclórico
Brasileiro, entre as décadas de 1920 e 1950, questionamos no decorrer da comunicação:
como estes conceitos influenciaram a criação dos currículos de dança da UFBA nas
décadas seguintes?
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Sobre a existência de “currículos ocultos”, o professor Macedo (2002) sinaliza que: “O campo do
currículo conhece algo já fartamente discutido que é o fenômeno do currículo oculto. É precisamente no
âmbito da formação não vista, não dita, que vai se revelar mais potente na constituição das ordens
sociais que se desenvolvem a capacidade de interpretar densamente, compreender além do que é
oficialmente alarmado, e constituir as grandes e sutis retificações que o currículo traz embutido no modo
que cultiva a concepção, a organização, a implementação, a institucionalização e a avaliação dos saberes
e competências” (MACEDO, 2002, p. 35).
(NEVES, 2016), onde me debrucei à identificar práticas sobre as referidas danças que
não estavam oficialmente implementadas no currículo oficial.
Antes de qualquer indicador sobre a inserção das danças aqui referidas em
questões curriculares, busco apontar as inquietudes sobre o termo “dança popular”
contemporaneamente. Ao problematizar o paradigma sobre o termo “popular”,
reconheço que esse termo foi forjado por um coletivo de praticantes, o qual tem sido
tema de revisões, contradições e conflitos entre os pesquisadores dessas danças, nos
últimos anos. Fugindo às minimizações e críticas ao qual o termo folclore foi
submetido, historicamente, considerado uma “arte menor”, geralmente designado à uma
perspectiva cultural pejorativamente “folclorizada”, busco justificativas por meio da
revisão desses termos na própria historiografia do movimento folclórico, instituído no
Brasil (1947), que culminou com a criação da Carta Nacional do Folclore Brasileiro, em
1951.
A nomenclatura “danças populares” foi forjada, em princípio, por indicadores
provenientes do conceito de “Cultura Popular”. Atualmente se apresenta enfaticamente
como tema de debates entre os pesquisadores e praticantes dessas danças, especialmente
no que diz respeito à tentativa dos folcloristas em associar a cultura popular como
equivalente aos estudos do folclore brasileiro, gerando tensões e inquietudes.
Movimentos sociais organizados, indígenas e negros, vêm sinalizando que o termo
“popular”, como descrito na mais recente Carta Nacional do Folclore Brasileiro (1995),
não é aceito homogeneamente como consenso coletivo, especialmente quando nos
referimos à inclusão das danças provenientes dessas matrizes no Brasil. Os termos
folclore e cultura popular estão encharcados de visões de mundo eurocêntricas,
provenientes dos processos colonizadores, em que continuam imprimindo hierarquias e
promovendo invisibilidades e apagamentos por meio de incentivos mercadológicos
promovidos, por exemplo, pelos concursos carnavalescos que incentivam a “disputa”
entre agremiações que fazem do “popular” uma moeda de troca folclorizada.
Outra problemática latente é sobre a origem do conceito de cultura popular,
relacionada ao termo “povo”, no significado restrito da palavra. Essa memória nos
aponta que no Brasil as populações indígenas e negras, na elaboração da primeira Carta
Constituinte proposta pela Assembleia Constituinte de 1823, foram pensadas por uma
elite composta pela fração dominante de povos europeizados livres. Esses consideravam
as populações indígenas e negras como potentes ameaças às ordens sociais, apontando
eminentes organizações de rebeliões, segundo a perspectiva de um modelo autoritário
de Nação.
Quando apresento essa discussão considerando os direitos constitucionais
implementados pela referida Carta Constituinte Brasileira de 1823, por exemplo,
sinalizo que os povos indígenas e negros foram considerados historicamente como
categoria excluída das sociedades na constituição do Estado-nação, portanto não foram
considerados, em termos dos direitos civis, “povo brasileiro”, como é apontado por
pesquisadores das ciências sociais. A manutenção da escravidão, indígena e negra,
mesmo pós “abolição de 1888” foi, portanto, substituída por um “caráter pedagógico”,
que reforçou a permanência das escolas destinadas à essas populações, vinculadas às
missões catequizadoras para fazer com que os selvagens nascidos no Brasil, ou
advindos da África, perdessem sua atrocidade e rudeza naturais, preparando-os para o
exercício de atividades úteis (mão-de-obra barata) e fazê-los aceitarem sua sujeição às
leis elevando-os à condição de “cidadãos” como nos aponta Paraíso (2010).
Desse modo, o antropólogo alerta que uma noção fundamental para explicar as
táticas metodológicas dos folcloristas e seu fracasso teórico é o da “percepção dos
objetos e costumes populares como restos de uma estrutura social que se apaga,
justificando a sua análise sobre esses assuntos descontextualizando-os” (CANCLINI,
2015, p. 18).
A reformulação conceitual, ao qual Canclini se refere, é a que está também
ocorrendo na autocrítica de pesquisadores e praticantes das danças populares que nos
permite entender de outro modo o lugar da Cultura Popular – a legitimação dessas
danças a partir das perspectivas indígenas e afrorreferenciadas.
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Os acordos produzidos, nos anos 1960, entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC) e a United
States Agency for International Development (USAID) visavam estabelecer convênios de assistência
técnica e cooperação financeira à educação brasileira. Entre junho de 1964 e janeiro de 1968, período de
maior intensidade nos acordos, foram firmados 12, abrangendo desde a educação primária (atual ensino
fundamental) ao ensino superior. Na prática, os MEC-USAID tiveram influência decisiva nas
formulações e orientações que, posteriormente, conduziram o processo de reforma da educação brasileira
na Ditadura Militar. Destacam-se a Comissão Meira Mattos, criada em 1967, e o Grupo de Trabalho da
Reforma Universitária (GTRU), de 1968, ambos decisivos na reforma universitária. Lei nº 5.540/1968 e
na reforma do ensino de 1º e 2º graus – Lei nº 5.692/1971 (ARAPIRACA, 1979, p. 32).
setembro de 1971, Médici entregou ao Congresso Nacional o seu primeiro Plano
Nacional de Desenvolvimento, em que estavam traçadas as bases da integração
nacional, incluindo a conquista da Amazônia e o desenvolvimento do Nordeste. Médici
aceleraria o projeto da Transamazônica, no intuito de receber os flagelados nordestinos.
Em pleno regime militar, em relação à cultura, o Ministro Jarbas Passarinho declarou:
“nós damos total liberdade de criação, acrescentando, só não queremos que ataquem as
nossas crenças” (MORAES, 2000, p. 28). O futebol, o samba e o Folclore foram
chamados para compor um cenário de leveza e otimismo. “Inventando um futuro, as
bases governamentais utilizavam um passado rico de símbolos, evocativo de uma
nacionalidade isenta do que nomeavam de ideologias” (MORAES, 2000, p. 32).
existentes na época, dentro e fora da Universidade, com exceção do Tran-Chan1 se formavam por
identificações unicamente para dançar e realizar espetáculos’. (MOTTA, 2008, p. 12)
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Roberto Sidnei Macedo é Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Paris Vincennes à
Saint-Denis e Professor Adjunto da Universidade Federal da Bahia; leciona as disciplinas Currículo e
Etnopesquisa Crítica nos programas de Pós-Graduação em Educação dessas universidades. É coordenador
da Linha de Pesquisa Currículo e Tecnologia da Informação e da Comunicação do PPGE/UFBA e líder
de Grupos de Pesquisa junto ao CNPq. Coordena o Grupo FORMACCE em Aberto atuando como
Coordenador do GT de Currículo da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação -
ANPED. Tem experiência na área de Educação com ênfase em Currículos Específicos para Níveis e
Tipos de Educação, atuando principalmente nas seguintes áreas: currículo; formação docente; formação;
infância e educação; epistemologia da educação, etnopesquisa crítica e etnopesquisa-formação. (Coletado
do lattes em 30-06-2021)
constitutivas do que chama Currículo Multirreferencial Etnoimplicado6 (FORMACCE -
2004). Nessa perspectiva venho propondo uma discussão complexa sobre a inserção dos
saberes Indígenas, Afro-diaspóricos e Populares nas reinvindicações do atual currículo
de dança da UFBA.
Sabendo que ao longo de décadas o termo Folclore esteve relacionado à uma
“arte menor”, advinda do termo “povo”, portanto uma arte ausente de cientificidade
suficientemente erudita para ser reconhecida como disciplina nos meios acadêmicos, de
início o termo Dança Popular, buscou problematizar o termo Folclore por reconhecer
que esse aglutinador, não abarcar a diversidade das diferentes formas de ser e fazer em
dança, provenientes dos saberes Indígenas e Afro-diaspóricos devidamente
referenciados.
A professora Conceição Castro (2016), já apresentava a necessidade de uma
proposta curricular diferenciada em relação ao estudo dessas danças, sinalizando a
visibilidade de termos provenientes da cultura africana e indígena presentes na trajetória
de vida dos estudantes egressos.
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Para o pesquisador Roberto Sidnei Macedo: MULTIRREFERENCIALIDADE - Se configura numa
epistemologia da pluralidade que, criticando os sistemas que se querem monorreferenciais, convoca
olhares diversos para compreendermos situações e objetos complexos, através de operações dialógicas e
dialéticas. Parte da premissa de que, em realidade, somos seres de linguagem, do âmbito da
heterogeneidade irredutível e que a falta e o inacabamento, marcam de forma ineliminável nossas
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Por definição, Lourenço Cardoso, historiador e sociólogo, autor da obra O branco ante a rebeldia do
desejo: um estudo sobre a branquitude no Brasil, explica que a branquitude enquanto conceito “significa
a pertença étnico-racial atribuída ao branco. Ser branco consiste em ser proprietário de
vantagens/privilégios raciais simbólicos e materiais. Por exemplo, os pesquisadores negros e negras são
aqueles que possuem, a partir dos anos 1990, uma produção quantitativa e qualitativa melhor para tratar
da questão racial. No entanto, os meios de comunicação acabam por optar em convidar o branco tanto
para falar de negritude quanto de branquitude. Isso colabora para invisibilização da produção científica
negra. O irônico é que muitos pesquisadores brancos aprenderam sobre os temas de raça, negritude e
África, em geral, a partir das pesquisas dos seus orientandos negros e negras. E eles também colaboram
de forma não proposital ou proposital para o silenciamento da produção científica negra. Quando isso
acontece de forma planejada, trata-se da efetivação do pacto narcísico, um pacto entre brancos para
manutenção das suas “vantagens raciais”. (Declaração publicada na reportagem Lourenço Cardoso:
“Temos potencial para abolir o racismo e todas as outras formas de opressão”, do El País, de 30 de
novembro de 2019).
pela Escola. Em retrospectiva, pode-se afirmar que nossos cursos de dança
permanecem basicamente inalterados há 27 anos. (PPP - UFBA, 2004, p.4).
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Em relação à Pós-Graduação, foi desenvolvida uma ação de cooperação entre a Escola de Dança da
Universidade Federal da Bahia e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para ampliação do
quadro de professores doutores na unidade por meio do Programa de Qualificação Institucional (PQI),
com apoio da CAPES, na perspectiva de abertura de um Mestrado em Dança. A proposta de criação do
Programa de Pós-Graduação em Dança (PPGDANÇA) foi aprovada pela CAPES em 2005, e teve sua
primeira turma implementada em 2006, se mantendo como único no Brasil até 2019. Atualmente, com
mais de 170 dissertações defendidas em seu banco de dados e um curso de Doutorado recém-
implementado, o programa encontra-se em expansão. (ver: https://prodan.ufba.br/historico)
RESGATE ao se apropriar da cultura popular nos estudos do folclore. Em
relação a essa questão, Gustavo Côrtes, no livro Rituais e Linguagens da
cena, diz: “Na pesquisa artística, os elementos tradicionais podem ser
transformadores ou serem transformados nos processos de criação de uma
obra artística numa dialética que ao mesmo tempo nutre e é nutrida pela
tradição”. Os alunos dos cursos de dança que trazem essas informações,
muitas vezes ancestrais, e seus corpos precisam de espaços para expressar
essa realidade. Daí a importância do estudo dessas danças nos cursos de
graduação, tanto no aspecto técnico, coreográfico, dramático e criativo
(CASTRO, Apud NEVES, 2016, p. 60).
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O concurso de 2016 instituiu como nomenclatura especificamente os “Estudos do Corpo com
referências da diáspora africana, culturas indígenas e danças populares brasileiras”, História da
Dança, Processos Criativos em Dança e Dança e Educação. Dentre os professores concursados, foram
aprovados profissionais com competências para qualificar o atendimento à Lei no 9.795, de 27 de abril de
1999, e ao Decreto no 4.281, de 25 de junho de 2002, que instituem a Política Nacional de Educação para
as Relações Étnico Raciais, Acessibilidade e Educação Ambiental.
Foram seis décadas, desde 1956, sem grandes modificações de indicadores e
nesse processo houveram grandes rupturas políticas, na educação, na cultura e nas artes
brasileiras, o que, ao olhar mais atento, favoreceu o apagamento desses saberes
causando uma desvalorização quase irreparável sobre a inserção dessas danças como
normativa curricular, na referida instituição. Professores implicados nesses processos
ainda continuam discutindo atualmente a inserção desses saberes, agora por meio de
práxis já instituídas no Currículo dos Cursos de Licenciatura, e aqui me debruço
especialmente sobre o Curso Noturno da escola de Dança da UFBA, por estar implicado
nesse processo de implementação.
1 - Pressupostos teóricos:
Compreender a Dança, assim como a Arte de forma geral, como uma tecnologia
educacional significa reconhecer o caráter sistêmico da articulação interdisciplinar dos
conhecimentos (teorias, práticas e princípios) oriundos de campos distintos e
envolvendo diferentes agentes. A experiência artística/estética se torna um eixo de
confluência, um atrator. Por isso a Arte pode ser considerada como elemento estratégico
e estruturante no contexto escolar para o desenvolvimento de processos de ensino-
aprendizagem. A perspectiva da interdisciplinaridade é fundamental para o
desenvolvimento do pensamento complexo. Construída no encontro entre campos do
conhecimento como, por exemplo, linguagens artísticas e teorias pedagógicas, a
interdisciplinaridade demanda flexibilidade e abertura de abordagens (estratégias) e
construções (configurações). Como nos lembra Morin, “é preciso aprender a conhecer,
separar e unir, analisar e sintetizar ao mesmo tempo”. Isso porque a articulação entre os
saberes cria redes de aprendizagem, dialógicas e complementares, que propiciam
relações de colaboração entre professores e estudantes. A compreensão de que um
processo criativo pode se configurar como um processo de ensino-aprendizagem está
ancorada em uma abordagem pedagógica que valoriza a formulação de perguntas, o
incentivo às escolhas, a construção de métodos de aprendizagem, o desenvolvimento de
procedimentos e tecnologias, o exercício da crítica presente na avaliação e o
compartilhamento como compromisso político e social. A Dança se apresenta, portanto,
como uma tecnologia educacional, como uma engrenagem criativa, que mobiliza a
construção de conhecimentos em uma perspectiva investigativa e emancipatória.
2 - Orientações basilares:
Dentre os valores da Instituição, destacamos a indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão; valorização das pessoas, diálogo, transparência e estímulo à
cooperação; pluralismo de ideias, promoção de valores democráticos e de cidadania;
compromisso com a transformação social; e caráter público, gratuito e autônomo da
Universidade. Constituem alicerces do novo Projeto Pedagógico do Curso de
Licenciatura em Dança – Noturno: o reconhecimento de arte como campo do
conhecimento, comprometida com a sociedade em alinhamento à proposta educacional
da Universidade; a investigação e sistematização de novas metodologias do ensino e
estratégias pedagógicas, a exemplo da experiência artística como processo de
aprendizagem; a impossibilidade de dissociar teoria e prática, estimulando o aluno a
articular a produção de conhecimento ao contexto sociocultural; a interdisciplinaridade
como forma de conhecer o mundo; uma formação baseada em princípios éticos e
humanísticos, contribuindo para o comprometimento do profissional com a cidadania e
o pensamento emancipatório.
3 - Realidade regional:
Em 2009, foi aprovada a abertura do Curso de Licenciatura em Dança Noturno, o
que possibilitou atender a um importante segmento da sociedade que não tinha
oportunidade de se dedicar à Educação Superior no turno matutino. Nos anos seguintes,
a oferta de cursos de graduação em Dança da Escola foi ampliada: em 2010 pelo curso
de Bacharelado em Dança Diurno e em 2016 pelo pioneiro Curso de Dança no formato
EAD - Educação a Distância, realizado através da Superintendência de Educação a
Distância da UFBA, o qual possibilitou atender aos polos de Lauro de Freitas, Juazeiro
e Vitória da Conquista. Cada um dos quatro cursos de Graduação em Dança da UFBA
contribuiu para a consolidação do seu próprio perfil, apontando especificidades que
corroboram esta reestruturação curricular. De acordo com o Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI) 2018-2022, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) tem por
missão “produzir e disseminar ciência, tecnologia, arte e cultura, base para a formação
sólida de profissionais, docentes e pesquisadores que atuem dentro de elevados padrões
de desempenho técnico e ético e sejam cidadãos comprometidos com a democracia e a
promoção da justiça social”. Dentre os valores da UFBA estão: a indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão; busca da excelência nas suas atividades-fim; respeito
à diversidade e combate a todas as formas de intolerância e de discriminação;
abertura e rigor intelectual, criatividade e busca de inovações; valorização das pessoas,
diálogo, transparência e estímulo à cooperação; respeito à história e à tradição e abertura
para a contemporaneidade; rigor ético em suas decisões e ações; busca da equidade no
acesso e permanência na Universidade; pluralismo de ideias, promoção de valores
democráticos e de cidadania; compromisso com a transformação social; caráter público,
gratuito e autônomo da Universidade; e sustentabilidade e responsabilidade ambiental.
6 - Programas de Pós-Graduação:
Além das perspectivas provenientes da ecologia dos saberes, aqui citada, como
pressuposto que configura e justifica uma perspectiva de interdisciplinaridade,
apresento, assim, complexidade que indica a constituição de currículos
multirreferenciais e etnoimplicados, especialmente ao me referir à inserção dos saberes
provenientes das culturas Indígenas, Afro-diaspóricas e Populares como perspectivas de
complementariedade na inclusão das diferenças, como vetor central da proposta
pedagógica trabalhada, bem como a identificação dos sujeitos e de seus contextos.
Deste modo, a Arte/Dança de Tecnologia Educacional apresenta-se como
estratégia de contaminação para possível articulação e complementaridade a partir de
vestígios de ensinamentos da arte e da educação, e possibilidade de diálogos com outras
teorias científicas e sociais.
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INSULAR - (O termo insularidade (do latim 'insularis') pode ter o sentido tanto de adjetivo quanto de
substantivo ou de verbo. No primeiro caso, diz-se de quem vive numa ilha ou ínsula, ou do que a ela
pertence. No caso da acepção como verbo (do latim 'insula', ilha +suf.-ar), quer dizer “tornar ou tornar-se
igual ou semelhante a uma ilha”, deixar ou ficar isolado, afastado do grupo, do contato, da comunidade. O
mesmo, portanto, que isolar. Também se aplica no sentido da física “colocar um corpo de forma a não
transmitir a outro a passagem da eletricidade” (DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA
PORTUGUESA, 2021).
criar dinâmicas diversas para o processo de ensino-aprendizagem de escrita da
Dança.
É na Matriz Curricular que equivale aos eixos formativos do Segundo ano do curso
de Licenciatura em Dança Noturno que estão localizados os indicadores e
nomenclaturas que correspondem às disciplinas (obrigatórias e optativas), que dizem
respeito à inserção dos saberes aqui referenciados. Sinalizo que existe ainda uma
perspectiva de complementariedade de inclusão desses saberes como conteúdos
introdutórios transversais a serem inseridos desde o primeiro ano do curso, com
desdobramentos nos estudos propostos pelas oficinas, laboratórios, estágios e TCCs, a
depender dos interesses dos estudantes sobre os estudos referidos, como possibilidade
de continuidades até os semestres finais do curso.
3O SEMESTRE
Módulo Estudos do
OB Teórico- DANA__ Corpo em 102 102 102 15 Dança S/PRE
Prático Dança III
Estudos de
Módulo
Processos
OB Teórico- DANA__ 102 102 102 15 Dança S/PRE
Criativos na
Prático
Dança III
Estudos
Módulo
Críticos
OB Teórico- DANA__ 68 68 68 15 Dança S/PRE
Analíticos na
Prático
Dança III
Dança,
Diversidade,
Atividade
Direitos
OB Seminári DANA__ 34 34 34 15 Dança S/PRE
Humanos e
o
Relações
Étnico-Raciais
Disciplina Fundamentos
Educaçã
OB Teórico- EDCA01 Psicológicos 34 34 68 34 34 30 S/PRE
oI
Prática da Educação
Carga horária por semana: 22 horas Carga horária por semestre: 374 horas
Além dos eixos formativos que correspondem aos Estudos do Corpo, Estudo dos
Processos Criativos e Estudos Críticos e Analíticos, que já se debruçam sobre os
estudos dessas referidas danças, foi inserido um novo indicador formativo proposto
como “Atividades Seminários”, que se refere à “Dança, Diversidades, Direitos
Humanos e Relações Étnico-Raciais”, obrigatório. Em relação à inserção do estudo das
culturas Indígenas e Afro-brasileiras, houve um avanço bastante significativo por meio
da implementação de à implementação de novas disciplinas obrigatórias dentro dos
eixos formativos. A criação dessas disciplinas inclui epistemologias sobre esses saberes
presente em todos os cursos, desde a graduação às linhas de pesquisa implementadas no
recente Curso de Doutorado em Dança, iniciado em 2019.
EMENTA: Estudos de princípios de transdução das Danças das Poéticas dos Orixás e
suas relações com os elementos da natureza na perspectiva da ancestralidade e da
multirreferencialidade, abrangendo conhecimentos referentes aos estudos de corpo, de
processos de criação e críticos-analíticos, reivindicando, eticamente, o diálogo com o
campo da educação das relações étnico-raciais no Brasil, essencial para o processo de
formação identitárias e de libertação.
Breves Conclusões.
Para Macedo (2002), as ideias de Edgar Morin e Jacques Ardoino, esse último
mais interessado em fazer operar a multiplicidade crítica e a pluralidade do pensamento
complexo no lidar com as referências das ciências da educação e da educação e avatares
– falo da multirreferencialidade – carecem ainda de uma melhor visibilidade, de
conjugações mais fecundas e de uma operacionalidade mais densa no campo do
currículo para que as potencialidades heurísticas e generativas do pensamento complexo
e multirreferencial criem nesse campo raízes e flores (MACEDO, 2002, p. 17). O
conceito de multirreferencialidade é um conceito crítico, portanto, seletivo, avaliativo;
nasce de uma postura ético-política identificada com a justiça social e a democracia nas
práticas e situações educativas. Assim, não é possível adotar uma atitude
multirreferencial de fora do pensamento crítico, da teoria crítica em ciências
antropossociais e em ciências da educação, principalmente.
Reflito sobre esse tema com intuito de promover, por meio do estudo dessas
referidas danças, uma discussão sobre a ação político-filosófica-educacional que
influenciou a constituição dos currículos oficiais nas universidades, especialmente pós
Reforma Universitária de 1971. Sendo assim, a questão sobre os termos se configura na
crítica aos objetos em ação, abertos e contraditórios ligados ao passado e continuamente
adaptados ao presente. Ao buscar compreender a crítica sobre o termo folclore e popular
no currículo de dança da UFBA, é importante compreender de onde surgem estes
conceitos e como o termo “dança folclórica” ou “dança popular” foi forjado por meio
dessa narrativa. Se no passado o termo folclore foi considerado um fracasso, nas
perspectivas da sua inserção como disciplina científica, esse mesmo fator alerta
professores e curriculistas “desavisados” que ainda tentam invisibilizar o que
atualmente vimos reivindicando, por força das mudanças de paradigmáticas, os quais o
ensino superior em Dança vem apontando, que entram na cena os conceitos de saberes
Indígenas, danças Afro-diaspóricas e o Popular permanece com as devidas revisões
crítico-epistemológicas sobre o termo.
O “fracasso dos folcloristas” não justifica nem corrobora para que essas Danças
continuem debaixo do esnobismo de pseudo-conceitos curriculares hegemônicos,
excludentes e racistas provenientes de uma perspectiva curricular eurocêntrica, aliadas à
perversa construção conceitual da branquitude. Afinal de contas para os Mestres e
Mestras da Cultura Popular a “Dança é um Brinquedo de Gente Grande”. Saravá!
REFERÊNCIAS