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FACULDADE DE MÚSICA CARLOS GOMES

CARINA PRATES BARBOSA

ENSINO DA MÚSICA NO BRASIL:

CONTEXTUALIZAÇÃO E DESDOBRAMENTO HISTÓRICO

SÃO PAULO
2020
CARINA PRATES BARBOSA

ENSINO DA MÚSICA NO BRASIL:


CONTEXTUALIZAÇÃO E DESDOBRAMENTO HISTÓRICO

O presente trabalho é apresentado à Faculdade de Música Carlos


Gomes, pertencente à União das Instituições Educacionais de São
Paulo, como resultado dos estudos desenvolvidos nas Atividades
Práticas Supervisionadas.

ORIENTADOR: PAULO CALAREZO

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO


FINAL DA APS DE
CARINA PRATES BARBOSA E ORIENTADA PELO
PROF. PAULO CALAREZO.

São Paulo

2020
RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar o contexto histórico e contemporâneo


da educação musical no Brasil, com ênfase na educação básica e formal,
apresentando suas conquistas, falhas e desafios.

ABSTRACT

This article aims to analyze the historical and contemporary context of music
education in Brazil, with an emphasis on basic and formal education, presenting its
achievements, failures and challenges.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................5
2. OBJETIVOS...................................................................................5
3. METODOLOGIA............................................................................5
4. DISCUSSÃO..................................................................................5
5. CONCLUSÃO................................................................................8
6. REFERÊNCIAS............................................................................10
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1. INTRODUÇÃO

A história do ensino musical no Brasil tem sido construída ao longo dos


séculos com altos e baixos, de forma não tão linear e definida. Houve períodos
na história brasileira em que aprender música era um fator importante na
formação do aluno, como na década de 30 do século XX, a qual a disciplina de
música passou a fazer parte do currículo escolar do ensino básico, juntamente
com outras matérias importantes. Atualmente, apesar da lei n. 11.769 do ano
de 2008, que regulamenta a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas
de educação básica, não há sucesso na implementação e fiscalização da lei,
por motivos que serão expostos ao longo do artigo. O ensino de música nas
escolas do Brasil, ainda parece um cenário distante, principalmente nas
escolas públicas, que enfrentam desafios que vão além dessa disciplina,
fazendo parte de um cenário incerto no campo educacional e no contexto social
atual.

2. OBJETIVOS

O objetivo do presente artigo é contribuir para a contextualização do


ensino de música no Brasil, buscando o entendimento dos motivos que fazem a
matéria da educação musical ser ainda distante para a maioria da população
brasileira.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a construção do artigo foi a leitura de textos


acadêmicos, com análises aprofundadas sobre a história do ensino musical no
Brasil, bem como de seus desdobramentos históricos, pesquisas relacionadas,
revistas especializadas, apresentando o contexto atual do tema e discussões
com o orientador Paulo Calarezo. Toda essa metodologia está sendo aplicada
na dissertação deste artigo, como resultado.

4. DISCUSSÃO

A música sempre foi um elemento marcante na cultura brasileira. Desde


quando nos compreendemos como nação, a música já fazia parte da vida e do
cotidiano do brasileiro. Na verdade, desde antes do Brasil ser uma república, a
música já era um elemento cultural dos habitantes do território que, hoje,
entendemos como território brasileiro.
Os povos indígenas, até então os habitantes desse território, utilizavam
a música como parte das manifestações importantes dos elementos culturais
do seu cotidiano, como os cantos de trabalho, incitação às guerras, de forma
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ritualística e como elemento de integração social, como um evento coletivo


(BARROS, 2006).
Porém, apesar de toda essa importância que a música tinha no cotidiano
dos povos indígenas, a música indígena, em si, teve pouca expressão no que
hoje entendemos como música popular brasileira (BARBOSA, 2016).
Se hoje o que conhecemos como música indígena no período colonial
sobreviveu timidamente através de relatos literários e os elementos e
instrumentos musicais por estudos arqueológicos e etnomusicológicos
(BARROS, 2015), tampouco há registros do que seria a educação musical
indígena nesse período.
Falar de estudo formal da música na educação brasileira, requer que se
compreenda o papel da cultura e da música europeia, devido à colonização
portuguesa no país. Na época da colonização do Brasil pelos portugueses, no
século XVI, a Igreja Católica estava no auge do seu poder, como a grande
instituição religiosa do período.
Com o objetivo de catequizar os índios, a igreja católica, com o aval da
coroa portuguesa (FUCCI-AMATO, 2012) enviou os padres jesuítas, que
faziam parte da Companhia de Jesus, uma ordem da igreja que tinha o objetivo
de converter os povos à fé cristã. Muitos elementos eram utilizados para
educar os povos indígenas ao cristianismo. Um deles eram os “autos”, uma
espécie de composição teatral. A música fazia parte desse processo de
conversão.
Não havia, como podemos ver, o objetivo de se ensinar música aos
índios, mas sim um processo de aculturação e conversão à religiosidade
europeia do período através, entre outros elementos, da música.
A música que os povos indígenas aprenderam, posteriormente, era uma
música já de origem europeia, com forte influência do mestre de capela, o
responsável pela música da paróquia.
O mesmo ocorreu com os negros da diáspora africana no Brasil. Apesar
da riqueza cultural do continente de que vieram e dos ritmos africanos terem
influenciado a criação de gêneros musicais posteriores no continente
americano, sua influência ficou ainda muito restrita ao âmbito da informalidade.
Nesse sentido, é quase impossível evitar a análise eurocêntrica da
história da música no Brasil. Foi com a chegada da corte portuguesa no país
que se começou a formalizar o estudo e o ensino da música no país. Como um
país colônia, a cultura predominante a ser ensinada e difundida foi a de seus
colonizadores e do que estava em voga no continente europeu no período
analisado.
Dom João VI foi uma figura importante na elevação do patamar da
educação musical no Brasil. Foi na vinda do mesmo a reorganização da Capela
Real pelo padre José Maurício Nunes Garcia (FUCCI-AMATO, 2012). Esse fato
é importante de ser ressaltado, porque a música passou a ter um novo
tratamento. O padre José Maurício era músico e compositor. Criou um curso de
música no Rio de Janeiro que durou quase trinta anos. Orientou musicalmente
Dom Pedro I e o criador do Hino Nacional, Francisco Manuel da Silva. Essa foi
a semente da criação do Conservatório do Rio de Janeiro, futuramente, em
1841, sendo, então, esse curso a primeira manifestação da educação musical
formal e a profissionalização do músico no país.
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A música e o modelo do conservatório seguiam os padrões musicais


europeus e já não estavam mais intrincados à sacralização da igreja.
Tanto o aprendizado musical formal nos conservatórios como as aulas
particulares de música, em especial o piano no século XIX, estavam
associados às elites, como uma forma de refinamento e status social. Para as
moças da elite, era uma forma de aumentar seus “dotes” matrimoniais.
É interessante observar que, apesar do atrelamento ao status social e a
elitização do estudo da música, desde a independência do Brasil, em 1822, a
Constituição já previa a educação musical, apontando que houve um esforço
antigo para que o ensino da música fosse implementado, apesar da falta de
estrutura o suficiente, que já havia desde esse tempo e ainda hoje
permanecem os resquícios.
Em 1854, com a reforma Porto Ferraz, houve a inclusão da figura do
professor de música na escola pública brasileira. O ensino não era
aprofundado, basicamente era constituído por leitura musical e canto. De
qualquer forma, foi um ano importante, porque decretou-se a regulamentação
do ensino de música no país e, posteriormente, a contratação de professores
de música por meio de concurso público (FUCCI-AMATO, 2006).
Expor alguns desses fatores mais importantes sobre o ensino da música
no Brasil, especialmente após a chegada da corte portuguesa, período do
século XIX, que teve influências ao menos até a primeira metade do século XX,
é interessante para avaliarmos, posteriormente, como está a educação musical
no Brasil hoje, no século XXI, se foram feitos avanços ou retrocessos nesse
objeto de análise.
No início do século XX, houve um movimento de valorização em relação
à educação no país. As primeiras universidades públicas estavam despontando
e, juntamente a isso, o movimento da Escola Nova estava buscando a
modernização da escola e reformas otimistas na educação.
Em 1928, instituiu-se uma lei federal de musicalização infantil
especializada, no jardim de infância. Na década de 30, a implantação do ensino
de música nas escolas, em âmbito nacional, com planejamento e coordenação
do conceituado compositor, maestro e músico instrumentista, Heitor Villa-
Lobos, foi um marco na educação musical brasileira.
Foi implementado o Canto Orfeônico, o maior programa de ensino
musical no Brasil. Muitos jovens se tornaram músicos ou, ao menos, tiveram
um contato genuíno com o aprendizado musical. O programa utilizava melodias
infantis e cantos patrióticos, o que condizia com padrão de governo e do
discurso da Era Vargas.
A formação dos professores de música, desafio constante e atual na
questão do ensino musical, era uma das principais preocupações do programa.
Tanto o Conservatório Brasileiro de Canto Orfeônico, em 1942, quanto o
curso de formação de professores de música, instituído pela Comissão
Estadual de Música, em São Paulo, na década de 60, foram iniciativas
louváveis para a regulamentação do ensino de música nas escolas, já que sem
o professor, o aluno não tem a formação adequada e especializada no
aprendizado musical.
Porém, o que considero o início da derrocada do ensino musical no país,
foi a iniciativa do Conselho Federal de Educação, na década de 70, instituir o
curso da licenciatura em educação artística. O problema aqui não é “o que”,
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mas o “como”. O currículo da licenciatura em educação artística, abrangendo


quatro áreas artísticas diferentes (a saber: música, artes plásticas, artes
cênicas e desenho), sendo instituída a disciplina no ensino fundamental e
médio (FUCCI-AMATO, 2006), ocorreu em detrimento da formação específica
em educação musical. Muitos dos professores que lecionavam a matéria de
educação artística, não tinham (e ainda não tem) formação e conhecimento o
suficiente no âmbito da arte musical.
As artes em geral, desta forma, acabam também sendo desvalorizadas,
colocadas dentro de um “guarda-chuva”, ignorando-se a complexidade e os
conhecimentos específicos, teóricos e práticos, necessários a cada uma
dessas manifestações artísticas.

5. CONCLUSÃO

Doze anos após a implementação da lei n. 11.769, de 2008, que


determina a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica, ainda
estamos num cenário distante do ideal.
Hoje, como desde a década de 70 do século passado, o ensino da
música na rede municipal é ministrado nas aulas de arte. Os alunos não saem
da escola pública sabendo o básico da leitura musical ou tocando algum
instrumento.
Os desafios da escola pública ainda são muitos: falta de estrutura e
investimento, tentativas de desmonte da educação como, por exemplo, a
proposta recente (2018) de tirar do currículo escolar disciplinas voltadas para o
senso crítico, Filosofia e Sociologia. Isso me faz questionar: haveria algum
interesse político de, naturalmente, fazer valer a lei do ensino musical e colocar
uma manifestação artística no mesmo patamar de importância, no currículo
escolar, de disciplinas com viés “mais prático”, como a matemática e a
gramática?
Pessoas ligadas à música (estudantes, professores, músicos etc.)
sabem os benefícios práticos do seu aprendizado, a música desenvolve a
mente e o raciocínio, facilita a concentração, a lógica matemática e melhora o
desempenho do aluno na escola como um todo (CAIADO, sem data), mesmo
assim, não é tecnicista o suficiente, para os padrões da sociedade atual, na
qual muito do ensino tem o objetivo de, teoricamente, preparar o aluno para o
mercado de trabalho (ou, na melhor das hipóteses, para o vestibular).
Como pudemos observar nesse artigo, ao longo dos séculos da história
musical no Brasil, muitas vezes o ensino da música não tinha como foco a
música em si. Os jesuítas ensinavam aos índios as músicas que facilitassem a
conversão à sua fé. As próprias práticas musicais dos povos indígenas pré-
colombianos, eram muito voltadas aos fatores práticos ou ritualísticos da vida.
Após a chegada da corte portuguesa, aconteceram boas tentativas de
implementar o ensino da música no Brasil, mas muitas das iniciativas ficavam
restritas a uma elite, como símbolo de status social. No caso das moças que
aprendiam piano para aumentar seu status como “boas moças”, também não
era a música o condutor do aprendizado. Poderia ser alguma outra coisa que
conferisse a mesma imagem.
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Atualmente, o desafio da valorização da música como uma manifestação


importante do conhecimento ou até mesmo como uma ferramenta de
aprendizado, permanece.
Não estou aferindo que nas tentativas anteriores de implementar o
ensino musical, a música não tinha um papel importante e era apenas um
acessório. Porém, o que quero apontar e ressaltar, é que a tentativa mais bem
sucedida de implementação do ensino da música no país, o Canto Orfeônico,
foi iniciativa de um músico, compositor e maestro, digamos que “um de nós”
(pessoas relacionadas à música, de alguma forma), não de uma autoridade
que, magicamente, enxergou a importância do ensino da música e de seus
profissionais, mesmo que haja uma lei que deveria estar sendo cumprida.
Cabe a nós, pessoas ligadas à música, de alguma forma, começarmos a
analisar o nosso papel em tudo isso. Existe a Ordem dos Músicos do Brasil
desde 1960, qual papel essa entidade vem desempenhando para cobrar as
autoridades, auxiliar pessoas que queiram ser instruídas musicalmente e, até
mesmo, conscientizar a população a respeito da importância da música?
No século em que vivemos, a música está presente no nosso cotidiano o
tempo todo: no lazer, na propaganda, no ambiente do consultório médico, nas
reuniões sociais. A música tem sido tão onipresente que pouco temos dado a
devida atenção.
Durante esses séculos, desde o apagamento indígena e afro-brasileiro
até a música produzida nas comunidades, o aprendizado formal da música
pouco tem dialogado com a população. A música que emerge das massas não
tem respaldo acadêmico relevante (no sentido de quantidade), essa interação
vem sendo construída aos poucos e, ainda, muito timidamente. Por exemplo,
são poucas as faculdades públicas no país que tem foco no ensino da música
popular.
Um dos maiores desafios da implementação do ensino de música nas
escolas é quantidade insuficiente de professores especializados para ministrar
as aulas.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2016, o Brasil tinha, até
então, 128 cursos específicos para a formação de professores de música. O
total de vagas eram de 8.384. Formandos em música foram um total de 2.246.
Segundo o INEP, em 2018 foram registradas 181,9 mil escolas de
educação básica no Brasil.
Esses números mostram uma disparidade entre a quantidade de
profissionais aptos ao ensino de música e o total de escolas no país, é uma
demanda difícil de ser suprida e que, apenas com a formação de mais
professores licenciados em música poderá ser cumprida ou, ao menos,
alcançada.
Programas do Governo, como o PROUNI, o FIES, o SISU, entre outros,
podem ser grandes facilitadores para o vestibulando no ingresso de licenciatura
em música e a formação de novos professores para atender as demandas do
ensino básico. Devemos lutar para que esses programas continuem, para que
seu alcance atenda cada vez mais à população e cobrar as autoridades que
sejam criados (ou ampliados, como no caso do projeto Guri e da EMESP, que
também sofreram desmontes) programas de ensino e incentivo ao estudo da
música, bem como para o cumprimento da lei já existente. Os desafios para o
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ensino da música ainda existem, mas devemos assumir o nosso papel como
protagonistas da luta por melhorias.

6. REFERÊNCIAS

BARBOSA, WARLLISON. Práticas musicais indígenas: do esquecimento às


contribuições para educação musical. Anais do XXVI CONFAEB - Boa Vista,
novembro de 2016.

BARROS, J. D’ A. Música Indígena Brasileira – Filtragens e Apropriações


Históricas. Projeto História, São Paulo, 2006.

BARROS, Liliam. Música ameríndia no Brasil pré-colonial: uma aproximação


com os casos dos Tupinambá e Tapajó. Revista Opus. Disponível em:
<http://www.anppom.com.br/revista/index.php/opus/article/view/272> Acesso
em: 18/06/2020.

BENTO, Luciana. Ensino de música nas escolas: ontem e hoje. Brasil de Tuhu.
Disponível em: <http://brasildetuhu.com.br/revista/ensino-de-musica-nas-
escolas-ontem-e-hoje/> Acesso em: 08/06/2020.
CAIADO, Elen Campos. A importância da música no processo de ensino-
aprendizagem. Brasil Escola. Disponível em:
<https://educador.brasilescola.uol.com.br/sugestoes-pais-professores/a-
importancia-musica-no-processo-ensinoaprendizagem.htm> Acesso em:
24/06/2020.

FAJARDO, Vanessa. Lei que torna o ensino de música obrigatório na rede


pública completa dez anos, mas não é implementada. G1. Disponível em: <
https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/2018/10/13/lei-que-
torna-o-ensino-de-musica-obrigatorio-na-rede-publica-completa-dez-anos-mas-
nao-e-implementada.ghtml> Acesso em: 22/06/2020.

FUCCI-AMATO, Rita de Cássia. Breve retrospectiva histórica e desafios do


ensino de música na educação básica brasileira. Revista Opus. Disponível em:
<http://www.anppom.com.br/revista/index.php/opus/article/view/319> Acesso
em: 18/06/2020.
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FUCCI-AMATO, Rita de Cássia. Escola e educação musical – Descaminhos


históricos. 1. ed. Papirus, 2012.

INEP. Censo escolar 2018. Inep. Disponível em:


<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatistica
s/2018/notas_estatisticas_censo_escolar_2018.pdf> Acesso em: 24/06/2020.

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