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São Paulo
2020
CLAUDIO MARCELLO GIL IGREJA
Versão Original
São Paulo
2020
1
Resumo
2
Sobre o autor:
Claudio Marcello Gil Igreja, nascido em 1971, iniciou seus estudos musicais aos 11
anos na Fanfarra da Escola Estadual Prof. Rômulo Pero, em 1982, na zona norte de São
Paulo. Em 1985 ingressou como trompetista na Banda do Colégio Jardim São Paulo
(1985-1995) e como bolsista no Conservatório Musical Brooklin Paulista (1987-1989).
Em 1989 ingressou Universidade Livre de Música – ULM (1989-1991) e como
trompetista na Banda da Escola Municipal Professor Noé Azevedo (1989-2000). Foi
trompetista chefe de naipe na Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo
(1991-2000). Como Maestro, fundou a Orquestra Filarmônica do Colégio Padre Moye
(1995-2018). Formou-se pedagogo pela Universidade Sant’Anna (1998), integrou o
Departamento de Música da Prefeitura Do Município de São Paulo (1999-2018).
Atualmente é estudante do curso de Regência Orquestral da Universidade do Estado
de São Paulo “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Diretor da Escola de música MCM,
Maestro da Orquestra Filarmônica de São Paulo e pesquisador do curso de Pós
Graduação em Gestão de Projetos Culturais do Centro de Estudos Latino-Americanos
sobre Cultura e Comunicação – CELLAC, na Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo – ECA/USP.
3
Introdução
4
adotada não somente em grande número de países europeus e asiáticos, mas também
na América, em países como Canadá, EUA e Venezuela.
No entanto, embora leis federais como a lei 11.769 de 18 de agosto de 2008,
tenham sido elaboradas com este intuito e promulgadas, não foi incluído o ensino da
música instrumental no currículo da educação básica brasileira.
Questionada, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo responde com a
seguinte nota:
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alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à
diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para sua inserção
e participação crítica e ativa na sociedade (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Base
Nacional Comum Curricular – BNCC, p. 196, 2019).
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retrocessos estabelecidos, com foco específico na cidade de São Paulo, para
contextualização e embasamento da pesquisa empírica.
• Pesquisa de campo, de natureza qualitativa1, com adoção de 10 (dez) entrevistas,
junto ao grupo focal, constituído por professores e maestros de Orquestras,
Bandas e Fanfarras escolares atuantes na Cidade de São Paulo, realizadas por
vídeo conferência, com aproximadamente 1h30min de duração, no formato de
roteiro estruturado2 (vide Apêndice A), com questões abertas3 e foco na obtenção
de informações sobre a “persona” do profissional: seu perfil social, grau de
formação, tempo de carreira, média de horas trabalhadas semanalmente,
quantidade de alunos atingidos, utilização de recursos físicos, utilização de
mecanismos de financiamento da cultura, quantidade de escolas trabalhadas,
formato de contratação, além de suas percepções sobre o mercado de trabalho
atual, maiores dificuldades enfrentadas e perspectivas futuras
• Pesquisa de campo junto às duas principais Universidades Públicas presentes na
Cidade de São Paulo, USP e UNESP, ambas reconhecidas como polos de alto
padrão de excelência na formação musical no país. Realizada com base em
entrevistas com os coordenadores dos cursos de música (vide Apêndice B) e
informações documentais fornecidas pelas instituições.
Optamos por apresentar os resultados encontrados dentro da estrutura
argumentativa do texto, agrupados em três grandes tópicos, de forma a facilitar sua
compreensão dentro do contexto em que se encontram.
No primeiro tópico, procuramos estabelecer uma “linha do tempo”,
demonstrando como se deu a prática da música instrumental no País, desde o período
colonial até os dias atuais, identificando os principais fatos históricos e políticos que
determinaram os rumos do seu desenvolvimento.
No tópico 2 apresentamos as intrínsecas relações econômicas, sociais, políticas
e institucionais que permeiam a sociedade paulistana, impulsionadas pelo ensino de
música instrumental coletiva, através das orquestras bandas e fanfarras escolares.
1
Método que busca compreender certos “fenômenos” comportamentais através da coleta de dados
narrativos e estudando as preferências individuais de cada entrevistado (SEVERINO, 2013).
2
Questionário de perguntas pré-definidas, roteirizadas para coletar e comparar dados (SEVERINO,
2013).
3
Modelo no qual o entrevistador interage pouco, deixando o entrevistado falar livremente sobre o
assunto abordado (SEVERINO, 2013).
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Suas influências na educação, no mercado de trabalho, nas relações de consumo e na
abordagem acadêmica sobre o tema.
No tópico 3 buscamos identificar a persona do profissional da cultura, que
dedica seus esforços para o ensino da música instrumental coletiva, por meio do
trabalho junto às orquestras, bandas e fanfarras. Qual sua formação, suas
experiências, suas expectativas, sua faixa de atuação, sua forma de contratação, seu
público alvo, suas necessidades estruturais, dificuldades enfrentadas e percepções de
futuro.
Por fim, após elencarmos os atores, buscamos identificar quais são as principais
ações e omissões que desequilibram o campo cultural e determinam o processo de
retração destas atividades, causando a extinção dos grupos.
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1. Contextualização Histórica
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Normalmente eram compostos por escravos e índios catequizados, dirigidos por um
“Mestre de Música” contratado. (BINDER, 2002)
O ciclo do ouro em Minas Gerais (1690-1790) e o consequente aumento da
população de imigrantes, principalmente portugueses e africanos escravos (Ouro
Preto, então conhecida como Vila Rica chegou a ter 350.000 habitantes, número muito
significativo para a época) intensificou este movimento com a chegada de mais
músicos e maior diversidade de instrumentos, multiplicando-se ao ponto de em 1770
ser inaugurado o primeiro teatro da colônia e de toda a América Latina, a “Casa da
Ópera”. O espaço oferecia ampla programação cultural de Bandas e Orquestras,
executando músicas eruditas e populares, obras produzidas por compositores locais
(um decreto anterior, implantado pela coroa portuguesa em 1750 impedia a
importação de obras de fora da colônia). Este crescimento se estendeu para os demais
territórios e as “Bandas de Música”, civis, religiosas e militares se disseminaram em
larga escala. (ALGE, 2017)
A chegada do Imperador D. João e sua corte ao Brasil em 1808, fugindo das
investidas de Napoleão em terras europeias, trouxe junto, embarcados na esquadra,
os músicos componentes da Banda da Brigada Real da Marinha que, ao desembarcar
fez uma apresentação musical grandiosa nas festividades de chegada da Família Real.
A partir de então grandes mudanças ocorreram. Novos repertórios, novos estilos,
músicas populares, óperas e uma transformação no status dos músicos, agora vistos
como profissionais de prestígio, patrocinados pelo Estado. As aulas de música foram
estabelecidas na Capela Real, sob a orientação do Padre José Maurício Nunes Garcia,
mais brilhante compositor brasileiro da época e replicada em todos os quartéis,
melhorando muito a qualidade dos grupos e disseminando as novas práticas pela
colônia. Músicos receberam acesso aos instrumentos mais aprimorados, compositores
e regentes puderam então importar partituras vindas de Lisboa e outros pontos da
Europa.
Eram cada vez mais frequentes as apresentações de orquestras e bandas nas
festas e eventos da corte, nas festas reais, nos eventos religiosos e nas celebrações dos
senhores de terras, sua presença era um símbolo de posição social, sinal de riqueza e
poder político. O conflito de interesses econômicos na disputa pelos músicos foi de tal
monta, que forçou o Supremo Conselho Militar a promulgar o primeiro documento
10
histórico brasileiro sobre Bandas e Orquestras, o decreto de 27 de março de 1810, que
tinha por objetivo proibir o financiamento particular da “Música”(termo jurídico
adotado à época, para tratar da atividade como um todo), organizar regras de
fardamento, instrução, disciplina e definir verbas específicas para o pagamento de
salários e gratificações aos músicos para que estes permanecessem nos quartéis. Mas
a julgar pelos outros 130 documentos, decretos, leis, portarias, alvarás que se
seguiram, tratando do assunto, podemos avaliar que as tentativas de manter as
práticas musicais sob controle e domínio das forças armadas foram em vão. (BINDER,
2004)
Em 1831, com a criação da Guarda Nacional (Criada por Lei, mas mantida pelos
grandes proprietários de terras), já no período conhecido com “Segundo Império”,
iniciou-se a organização de concertos públicos, sem vinculação com as festas oficiais,
cujos repertórios incluíam, além dos temas eruditos e hinos religiosos, também
músicas populares e dançantes, como valsas, polcas, maxixes, mazurcas e quadrilhas.
Esta ação, conhecida como “Retreta”, rapidamente alcançou grande sucesso de
público e permitiu que centenas de músicos de origem popular pudessem
profissionalizar seu talento e sua arte. Não demorou para que agremiações civis,
inspiradas nos grupos militares adotassem as mesmas práticas, inclusive no que se
refere ao visual estético, com trajes que lembravam os uniformes dos grupos militares,
incluindo os pomposos “quepes”, (prática ainda vigente na atualidade). Contudo, não
havia o mesmo suporte financeiro. Constituíam-se como organizações privadas, não
remuneradas, compostas por pessoas das camadas mais baixas da sociedade,
escravos, alforriados, trabalhadores rurais, militares reformados, idosos e jovens que
tinham interesse pelo aprendizado musical, sem possuir recursos para custear os
estudos “oficiais”. Adotavam práticas de ensino coletivo e colaborativo, onde os
músicos mais novos aprendiam com os mais experientes e eram mantidas e
administradas por pessoas proeminentes na sociedade, principalmente políticos e
irmandades religiosas. Este formato gerou rápida expansão da cultura musical e já no
fim do séc. XIX, início do séc. XX já se contavam milhares de grupos. Tornando-se assim
a principal e mais acessível estrutura para a prática e o aprendizado da música
instrumental no País. (FIDALGO, 1996)
11
O Conservatório de Música do Rio de Janeiro, também conhecido como
Imperial Conservatório de Música, foi fundado por decreto em 1841, iniciando suas
atividades somente em 1848. Foi a primeira instituição do gênero criada no Brasil e
serviu de modelo para os que o sucederam, como o Conservatório Carlos Gomes de
Belém do Pará (1895) e o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo (1904), este
último tornou-se a primeira escola superior de música de São Paulo.
O ensino musical por meio de “práticas conservatoriais” possuía poucas vagas,
era estruturado para atender à burguesia e aos nobres da Corte, sendo de alto custo,
lento e individualizado. Mas para se afirmar e apresentar resultados em volume visível,
apropriava-se do trabalho desenvolvido fora de seus muros, oferecendo cerca de 30%
de “Bolsas de Estudo” a músicos provenientes de classes menos abastadas, iniciados
nas Bandas, justificando que estes apresentavam “talento nato”. Apesar disto, estudar
em um conservatório tornou-se um símbolo de posição social e ganhou espaço de
destaque nas cidades. As bandas de música, embora em número muito superior e
fortemente ligadas às tradições culturais, regionais e religiosas, passaram a
representar uma espécie de formação musical de “segunda classe”, uma “Cultura
Popular” dedicada ao entretenimento das camadas sociais mais simples.
As disputas econômicas, sociais e políticas acirradas no fim do séc. XIX
conduziram o País ao processo de abolição da escravatura em 1888 e posteriormente à
Proclamação da República em 1889, alterando consideravelmente o funcionamento da
sociedade e acentuando profundamente o distanciamento e os conflitos entre as
classes sociais.
A partir de então, os próximos 41 anos da História do Brasil, conhecido como
“República Velha” (1889-1930), já adentrando o séc. XX, foram marcados por grandes
disputas pelo poder, alternando governos militares e civis, regimes ditatoriais e
democráticos. Ainda em 1922 tivemos a “Semana de Arte Moderna”, trazendo um
exuberante conceito novo sobre as artes, contudo, sem desenvolver e modernizar as
estruturas econômicas que possibilitariam aos artistas sobreviver somente através de
sua arte. (GARCÍA CANCLINI, 1998).
Isto trouxe fortes impactos para o funcionamento de todos os grupos musicais
civis, trazendo a necessidade de aumentar os modos de captação de recursos para sua
manutenção. Assim, ganharam nova força as chamadas “Associações Musicais” ou
12
“Corporações Musicais”, grupos que se autofinanciavam, por meio de contribuições
mensais dos próprios músicos que eram então os “associados”.
É importante salientar que durante todo este período histórico, desde o início
da colonização até o fim da mencionada “República Velha”, passaram-se 430 anos sem
que se pudesse caracterizar a construção de políticas públicas voltadas
especificamente para ao desenvolvimento da área da Cultura de forma abrangente. É
somente após a chamada “Revolução de 30” já no período do “Estado Novo”, início do
Governo Vargas, que podemos identificar uma ação política nesta direção, com a
implantação do Ministério da Educação e Saúde e principalmente na gestão Antonio
Capanema (1934-1945) à frente deste Ministério, paralelamente com a gestão Mario
de Andrade à frente do Departamento de Cultura da Prefeitura da Cidade de São Paulo
(1935-1938). Sistematizou-se pela primeira vez no País mecanismos de financiamento
estatal, de incentivo à conservação de Patrimônios Históricos, definindo a Cultura
como um Direito de todos e em uma abordagem mais ampla, antropológica,
extrapolando o conceito das Belas Artes.
Em 1934 surge a Universidade de São Paulo – USP e, em 1940, foi fundada a
Orquestra Sinfônica Brasileira, a primeira Orquestra Sinfônica “oficial” do País, pelo
Maestro José Siqueira, com sede no Rio de Janeiro, foi também o primeiro conjunto
sinfônico a realizar turnês pelo Brasil e exterior, com apresentações e projetos visando
à formação de plateia.
É neste mesmo período em que Heitor Villa Lobos, então diretor da
Superintendência de Educação Musical e Artística – SEMA conseguiu instituir a
obrigatoriedade do ensino de Canto Orfeônico em todos os estabelecimentos de
ensino do território nacional, com a publicação do Decreto n° 24.794, de 14 de julho
de 1934.
Segundo as análises de Rubim (2007), esta longa ausência de ação, juntamente
com o autoritarismo posterior dos governos, instrumentalizaram as políticas públicas
para implementar ideologias hegemônicas e a instabilidade gerada pela alternância de
governos que de tempos em tempos alteraram as diretrizes políticas e, por
consequência, também as leis e mecanismos que regem as políticas culturais,
configuraram três enormes barreiras para o desenvolvimento do campo cultural e
marcaram fortemente a História brasileira.
13
Em 1953 ocorreu o primeiro concerto a “Orquestra Sinfônica Estadual” de São
Paulo, sendo instituída por lei somente em 1954 e tendo como Regente o Maestro
João de Souza Lima. Apesar da legalização, a orquestra ficou inativa por 10 anos, sendo
retomadas as atividades somente em 1964, sob a batuta do maestro Italiano Bruno
Roccella. Este período também teve curta duração, encerrando em 1968, após 22
apresentações somente, sendo seguido por outro recesso de mais cinco anos. Apenas
em 1973 a orquestra realmente se firmou, sob a direção do Maestro Eleazar de
Carvalho, músico nascido no Ceará, que iniciou seus estudos como tubista da Banda do
Batalhão Naval no Rio de Janeiro e posteriormente construiu brilhante carreira como
regente internacional.
O nome atual “Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo - OSESP”, foi
adotado em 1978 a pedido do Maestro, para distingui-la de outras orquestras
estaduais que foram surgindo.
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governamentais para que as escolas criassem seus próprios grupos musicais, surgindo
assim as Bandas e Fanfarras escolares.
O Estado de São Paulo, então visto como a “locomotiva econômica do País” foi
um dos mais afetados neste processo. A Prefeitura de São Paulo criou o
“Departamento de Bandas e Fanfarras” o Governo do Estado incentivava
financeiramente as Associações de Pais e Mestres – APM das escolas estaduais para
que contratassem “instrutores de fanfarras” e ambos os governos enviavam os
chamados “Kits de Fanfarra” (Módulos contendo 20 instrumentos de sopro e
percussão) para que os ensaios começassem. Por vezes, políticos e comerciantes
favoráveis ao regime também financiavam a compra destes instrumentos. Muitos
donos de colégios particulares aderiram ao movimento em troca de “favores” por
parte do regime militar. Além disso, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos –
CMTC fornecia ônibus para transportar os grupos musicais aos diversos eventos sem
custos para os colégios.
Como o objetivo político principal era o de levar as escolas aos desfiles de rua
rapidamente, não existiram preocupações com parâmetros pedagógicos ou conteúdos
educacionais na “formação” destes grupos, muito menos ainda com relação à
qualidade dos instrumentos utilizados. Razão principal pela qual o formato “Fanfarra”
(Grupo formado por instrumentos de percussão e instrumentos de sopro
rudimentares, de uma única série harmônica) foi o mais difundido. A música não era
considerada como fator essencial. Bastava que houvesse “jovens portando
instrumentos”. Se estes fossem capazes de executar ritmos simples para “padronizar a
marcha” já seria considerado um “excelente trabalho”.
Também foram criados e estimulados os “Concursos de Fanfarras e Bandas”
para motivar as competições no formato de desfiles de rua entre os grupos e assim
mobilizar mais participantes. Neste período surgiu e se notabilizou o “Concurso de
Fanfarras e Bandas da Rádio Record” que transmitia as diversas etapas da competição
pelo rádio e na chamada “Grande Final” transmitia ao vivo também pela televisão.
Tratava-se de um evento de longo trajeto e com mais de 10 horas ininterruptas, onde
centenas de grupos e milhares de jovens vinham do País inteiro “competir” desfilando
no centro da cidade.
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O desfile começava na Avenida 9 de julho, perto do túnel e seguia
marchando, descendo até o vale do Anhangabaú, onde passava na frente
das câmeras e pela avaliação dos jurados. Era ali que a fanfarra precisava
“dar um gás”, tocar mais forte, depois seguia pela Av. Prestes Maia e
terminava na Av. Tiradentes. (LELIS, 2019) – conhecido como “Maestro
Chocolate” (Depoimento)
Eram comuns os casos em que o “instrutor” não possuía nenhum
conhecimento técnico musical ou apenas sabia algumas músicas “decoradas” na
memória, no entanto dava “aulas” em várias escolas diferentes. Muitos eram
professores de educação física, militares reformados ou mesmo policiais militares em
busca de algum “ganho extra”.
O repertório musical adotado, também não contribuía para as “intenções
nacionalistas”, abrangendo basicamente, marchas, ritmos e melodias norte-
americanas ou europeias, em detrimento da música brasileira. Em resumo, mostrou-se
primeiramente como um processo de apropriação cultural por parte do governo
ditatorial militar, seguido por um forte processo de aculturação.
Embora durante o período da ditadura militar o chamado “Movimento Bandas
e Fanfarras” tenha crescido consideravelmente e movimentado milhares de jovens,
evidentemente os resultados destas ações inconsequentes foram catastróficos do
ponto de vista estrutural no campo cultural. Muitas famílias passaram a repelir a ideia
de aprendizado musical de seus filhos através da Fanfarra ou Banda por não quererem
apoiar os desmandos do governo, outros, porque não consideravam que realmente se
apreendia a fazer música de fato. Músicos profissionais passaram a boicotar estas
práticas, por considerar prejudicial associar seu nome à baixa qualidade técnica.
Compositores passaram a dirigir suas obras a outras formações. Diversas gerações de
aprendizes desistiram do estudo da música, pois devido à falta de orientação
especializada, não conseguiam vencer as dificuldades técnicas e acreditaram “não
possuir talento”. Bandas, Fanfarras e Orquestras escolares foram então
estigmatizadas, passando a ser marginalizadas frente ao ensino formal acadêmico.
16
1.2 O Período Pós Ditadura
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Na Cidade de São Paulo, no entanto, ao contrário do resto do País, o número de
Orquestras, Bandas e Fanfarras escolares caiu vertiginosamente nas últimas décadas.
Diversos fatores podem ser elencados como corresponsáveis por este processo:
Inicialmente, já em 1986, o Governo do Estado de São Paulo suspendeu a verba
que as Associações de Pais e Mestres (APM) das escolas estaduais utilizavam para o
pagamento dos instrutores contratados, mudou as regras para organização de festas e
proibiu a venda de uniformes nas próprias escolas. Isso extinguiu completamente as
atividades que “financiavam” as bandas e fanfarras no âmbito das escolas estaduais e
estes grupos foram encerrados. Restaram assim, somente cerca de 50% dos grupos da
cidade de São Paulo, aqueles mantidos pela Prefeitura e pelas escolas particulares.
A partir de 1987 iniciou-se uma onda de tentativas de “crescimento de
qualidade” por parte das fanfarras, com a introdução de um recurso técnico a mais nos
instrumentos. O chamado “Gatilho”, era uma adaptação de baixo custo que ampliava o
tamanho dos tubos e consequentemente a quantidade de notas emitidas pelos
instrumentos de sopro, abrindo uma “Nova Era” nas escolhas de repertório, pois
possibilitava a execução de músicas conhecidas pelo público, principalmente temas de
filmes e músicas populares. As fanfarras podiam então a partir deste momento tocar
as mesmas músicas das bandas. Esse crescimento também possibilitou que muitos
músicos formados nas bandas se interessassem em criar novas Fanfarras.
O “sucesso” alcançado frente ao público rapidamente estimulou os grupos a
investirem na aquisição de outros instrumentos, antes restritos ao formato Banda.
Baixos, Bombardinos, Fluguelhorns foram então incorporados aos grupos e acabaram
pondo fim às duas principais vantagens da fanfarra em relação à banda: A simplicidade
e o baixo custo. Logo, as chamadas “corporações tradicionais” que resistiam em adotar
as novas práticas foram perdendo seu espaço em eventos e competições.
A nova onda de modernização chegou aos instrumentos de percussão,
introduzindo peças de alto custo tanto, nas bandas quanto nas fanfarras, dificultando
assim cada vez mais a criação e manutenção de novos grupos. Tornou-se então mais
caro criar uma nova fanfarra que uma banda, pois era preciso comprar o instrumento
tradicional e investir cerca de 30% a mais para “adaptá-lo para fanfarra”. A partir deste
momento o número de grupos nesta configuração passou a cair rapidamente. Muitos
optaram por assumir o formato de banda definitivamente, não somente com base na
18
evolução técnica, mas também devido à falta de eventos voltados à sua categoria
tradicional.
Neste momento da história paulista acontecia concomitantemente, uma
grande alteração no formato administrativo dos colégios particulares, que
influenciados pelas políticas neoliberalistas, passaram a tratar as atividades
extracurriculares, como Dança, Natação, Artes Marciais, treinos esportivos de Futebol,
Vôlei e Basquete como serviços terceirizados e, portanto, devendo ser pagos à parte
das mensalidades. Isto diminuiu os “custos trabalhistas e administrativos” dos colégios,
permitindo que estes mantivessem as mensalidades em valores competitivos,
contudo, sem deixarem de oferecer estes serviços a quem estivesse interessado a
pagá-los. Infelizmente, este processo de conversão não foi aplicado ao ensino da
música instrumental. Esta diferença de tratamento ocorreu principalmente pela
tradição dos colégios em incorporar aos grupos musicais, grandes quantidades de ex-
alunos e alunos provenientes de escolas públicas que possuíam vocação musical,
porém sem condições financeiras, ou que não poderiam ser substituídos rapidamente,
devido ao tempo necessário para formação musical. Tais perdas tornariam inviáveis os
compromissos do calendário de eventos e competições dos grupos.
A partir de 1990, com o aprofundamento da crise econômica, durante o
governo Collor, tornaram-se muito raros os eventos voltados às orquestras, bandas e
fanfarras que possuíam cachê artístico ou premiação em dinheiro. Sendo este um fator
importante no equilíbrio financeiro dos grupos, muitos foram encerrados ou
diminuíram suas atividades a níveis mínimos.
Em 1995, a Prefeitura de São Paulo extinguiu a Companhia Municipal de
Transportes – CMTC e com isso as escolas particulares deixaram de receber o
transporte gratuito para os desfiles cívicos, eventos comemorativos e esportivos em
que tradicionalmente participavam e, em 1997 o Campeonato Estadual de Bandas e
Fanfarras, mantido pela Secretaria de Estado de Esportes e Turismo – SEET realizou seu
último evento, extinto pelo Governador Geraldo Alckimin (PSDB). Encerrou-se assim o
mais grandioso evento destinado à música instrumental, um símbolo de prestígio e
status para os colégios finalistas.
19
1.3 As mudanças do Século XXI
20
• Não existem mais eventos com valor simbólico forte o suficiente para
justificar investimentos altos e contínuos por parte das empresas
mantenedoras.
• Com poucas opções de eventos públicos, o “Marketing Agregado”,
considerado fator importante para os colégios é muito baixo.
• Não existem políticas públicas voltadas ao estímulo desta atividade
cultural.
A classe dominante paulistana, além de não possuir a tradição de mecenato,
só aceita a ‘parceria’ se esta lhe traz dividendos econômicos ou de prestígio
e reforço de seus privilégios (CHAUÍ, 2006, p. 75).
O resultado foi a quase completa extinção dos grupos formados e mantidos por
escolas particulares, restando aproximadamente 5% do total existente na cidade em
1998 (estimado em 100 grupos). Entre os remanescentes, outras alterações estruturais
ocorreram, na tentativa de conseguir sobreviver a tantas dificuldades. Muitos
assumiram o formato Orquestra, devido a fatores como maior valor simbólico, custo
financeiro mais baixo dos instrumentos da família das cordas, possibilidade de
incorporar instrumentos mais “comerciais”, como o teclado e o violão, entre outros
fatores.
O poder público paulista, não só, não reconheceu o valor e a importância desta
atividade em nenhuma esfera, seja ela pedagógica, artística, cultural, social ou
econômica, como agiu para aprofundar a crise em amplo aspecto, desmontando as
estruturas de ensino oficial e desenvolvimento profissional no campo musical. Em
2017 o governador Geraldo Alckimin (PSDB) encerrou as atividades da Banda Sinfônica
do Estado de São Paulo, demitindo 82 músicos e o Maestro de um dos mais
tradicionais grupos da cidade, considerado um dos ”corpos estáveis” de maior
visibilidade do município. Além disto, também diminuiu a verba dos demais grupos
musicais da esfera profissional e em janeiro de 2018 o prefeito João Dória (PSDB)
demitiu todos os “Professores de Bandas e Fanfarras” do Departamento de Música da
Prefeitura de São Paulo, deixando 9000 alunos da rede pública municipal de ensino
sem as aulas continuadas de música. Além disso, reformulou as diretrizes de ação,
passando a operar com contratos de trabalho de “oficineiros” (sem a necessidade de
21
formação acadêmica) e em regime de serviços precários (sem vínculos empregatícios
com a Prefeitura e com durabilidade de apenas 6 meses ao ano).
Em 2019, houveram profundos cortes orçamentários, na Escola Municipal de
Música – EMMSP, na Escola de Música do Estado de São Paulo – EMESP e no Projeto
Guri, levando estas estruturas públicas quase à extinção de suas atividades.
Em 2020, devido à pandemia de covid-19, todas as atividades presenciais foram
suspensas pelo poder público, interrompendo completamente toda e qualquer
atividade pedagógica, artística e cultural.
22
2. A indústria cultural e o ensino musical
23
Com a visibilidade, amplia-se o interesse do público pela atividade artística e
cultural, criando assim mais procura por cursos de formação e aprimoramento por
conservatórios e pelas chamadas “escolas livres de música”, o que gera demanda por
livros especializados e partituras comercializadas pelo mercado editorial. Tal demanda
também abre novas frentes de trabalho para professores especialistas, compositores e
autores na área musical, estimulando o desenvolvimento de novos estudos na área. A
Academia passa a ser então o objetivo de muitos músicos para assim desenvolverem
seus estudos e aprimorarem seus conhecimentos técnicos musicais, buscando um
maior nível profissional e melhores colocações no mercado de trabalho.
24
Destas, apenas duas mantém cursos voltados para a área de música
instrumental, cujo número de vagas oferecido anualmente é distribuído da seguinte
forma:
USP – 50 vagas distribuídas entre: Licenciatura em música (10 vagas),
composição ou regência (10 vagas), canto (03 vagas), violão (03 vagas), percussão (03
vagas), piano ou órgão (04 vagas), cordas friccionadas (07 vagas disputadas entre
violino, viola, violoncelo e contrabaixo) e instrumentos de sopro (10 vagas, disputadas
entre flauta, oboé, clarinete, clarone, fagote, trompa, trombone, trompete e tuba) –
(Fuvest, Manual do Candidato, 2021)
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econômico, que passa somente indivíduos privilegiados que tiveram acesso à
formação musical de alto nível, paga e elitista.
Ambas as universidades oferecem juntas, 135 vagas/ano para os alunos
interessados na área de música. Estatisticamente, formam-se anualmente, apenas 40%
dos alunos por turma, isto significa que apenas 54 pessoas são graduadas ao final de
uma jornada média de 6 anos de curso (12 semestres). Esta elevada evasão se deve em
grande parte ao fato de os cursos possuírem horário integral, impossibilitando os
alunos de trabalharem durante o período acadêmico, constituindo assim mais um
enorme filtro socioeconômico, elitista e conservador. Estes mesmos 54 graduados/ano
nas duas mais conceituadas universidades públicas da cidade, correspondem a
0,00044% da população paulistana. Mantida esta relação, levaríamos 2.282 anos para
atingir 1% da população atual da metrópole. Aos candidatos que não conseguem vagas
nas universidades públicas, restam apenas as vagas nas instituições particulares, com
alto custo financeiro e cursos de menor duração (em média 6 semestres) e menor
credibilidade.
Além destes fatos relevantes, ainda existem outras questões de igual
importância: nos cursos oferecidos, mesmo os de Licenciatura em Música, em nenhum
momento é abordado o ensino coletivo de música para a formação de Orquestras,
Bandas e Fanfarras escolares. As universidades focam seus currículos na formação de
excelência técnica instrumental e acadêmica, ignorando a formação técnica para o
ensino coletivo. Logo, o aluno graduado não é preparado para atuar neste nicho do
mercado, encontrando dificuldades básicas, como lecionar para mais de uma família
de instrumentos, por exemplo. Também não são contemplados no currículo
acadêmico, assuntos como leis de financiamento à cultura, elaboração de projetos
culturais, captação de recursos, criação e administração de grupos musicais.
Além disto, é nítido o “ranço acadêmico” com relação ao trabalho desenvolvido
pelas Orquestras, Bandas e Fanfarras escolares, mesmo após 35 anos do fim da
ditadura militar, ao ponto de professores, ao descobrirem um aluno que é proveniente
de um destes grupos, imediatamente orientá-lo a abandonar essa prática.
A resultante de todos estes problemas elencados é que o campo cultural da
música instrumental é prejudicado por completo, criando um processo vicioso que se
retroalimenta sempre negativamente. Se a universidade pública não abordar políticas
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e ações práticas capazes de incentivar o ensino coletivo para a educação básica temos
então instalado o que podemos chamar de o “ciclo do menos”:
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• Orquestra Jazz Sinfônica;
• Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo.
Cada um destes grupos possui em seu quadro, aproximadamente 70 músicos,
perfazendo cerca de 490 vagas de trabalho. Existem ainda grupos menores, mantidos
pela iniciativa privada, Universidades ou organizações não governamentais, caso da
Orquestra Bachiana Sesi, a Orquestra de Heliópolis, A Orquestra Sinfônica da USP e a
Orquestra Acadêmica da UNESP. Estes grupos oportunizam aproximadamente outras
150 vagas de trabalho. Isto faz de São Paulo a cidade com maior número de Orquestras
do Brasil, ainda assim, o número de vagas para jovens músicos ingressarem no
mercado é praticamente inexistente, pois, uma vez preenchidos os postos de trabalho,
eles permanecerão ocupados por muitos anos.
Não existem estatísticas seguras sobre o número de escolas particulares de
música na cidade de São Paulo. Isto se deve ao fato de a maioria dos conservatórios
oficiais terem fechado suas portas em função da diminuição do número de alunos, das
frequentes crises econômicas, aumento dos impostos e exigências burocráticas para
regulamentar esta atividade fim (a legislação brasileira equipara os conservatórios
oficiais ao ensino técnico profissionalizante de nível médio). Em seu lugar surgiram
incontáveis “Escolas Livres” de música, principalmente a partir da década de 90,
muitas destas nem são cadastradas como estabelecimento comercial.
Esta modificação trouxe profundas alterações ao mercado de trabalho e na
qualidade do ensino oferecido, pois ao contrário do ensino regulamentado, as
chamadas “Escolas Livres” não possuem reconhecimento de diploma, não possuem
currículo mínimo, não sofrem fiscalização por parte dos órgãos de educação, não
precisam ser conduzidas por um profissional graduado na área de música e muitas
sequer registram seus professores segundo a legislação trabalhista. É comum a prática
da “terceirização de serviços”, ou seja, o professor é um mero prestador de serviços,
sem vínculos empregatícios. Também não é exigida qualquer formação acadêmica do
professor para o trabalho nestas escolas, bastando que demonstre conhecimento
musical, mesmo que empírico, tocando algum instrumento.
Tal precariedade é muito prejudicial ao profissional de música, impedindo seu
reconhecimento como trabalhador remunerado perante os órgãos governamentais de
previdência social e forçando-o a colocar-se na condição de contribuinte autônomo.
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Logo, direitos trabalhistas básicos, tais como férias remuneradas e 13° salário ficam
inviabilizados.
As escolas de música instrumental oficiais mantidas pelo poder público
resumem-se atualmente a apenas duas opções, ambas com reconhecimento de cursos
em nível médio, caracterizadas como de ensino técnico:
• Escola Municipal de Música – EMMSP (que hoje incorpora também o antigo
“Conservatório Dramático e Musical de São Paulo”);
• Escola Técnica de Artes – ETEC.
Além destas, a cidade conta ainda com outras duas iniciativas do Governo do
Estado, contudo, sem possuir nenhum reconhecimento ou validação acadêmica.
• Escola de Música do Estado de São Paulo – EMESP;
• Projeto Guri.
Nos dois primeiros casos os professores são funcionários públicos concursados
e nos casos da EMESP e Guri, são contratados em regime CLT por Organizações Sociais
(OS) conveniadas pelo poder público para gerenciar estes serviços.
O mercado de trabalho já saturado, com número restrito de vagas, não
comporta os profissionais formados anualmente pelas universidades públicas,
particulares e pelas escolas técnicas, voltados para a prática orquestral e para atuar no
ensino conservatorial.
Talvez a solução mais próxima seja novamente olharmos para as orquestras,
bandas e fanfarras escolares. Na cidade de São Paulo existem, segundo dados do
último censo escolar, realizado pela Secretaria Estadual de Educação – SEESP (2019),
3.729 estabelecimentos de educação voltados aos anos finais do ensino fundamental e
médio. Deste total, 1.334 pertencem à Rede Estadual de Ensino (35,8%), 581
pertencem à Rede Municipal (15,6%) e 1.814 pertencem à Rede Privada (48,6%). As
redes públicas dependem das políticas governamentais voltadas à educação, contudo
a rede particular apresenta-se como um enorme mercado de trabalho a ser explorado,
seja por meio de parcerias, projetos culturais, regime CLT ou prestação de serviços.
Embora os números sejam promissores, identificamos apenas 5 colégios
particulares com trabalhos de ensino coletivo reconhecidos como orquestras, bandas e
Fanfarras atualmente em atividade. Quantidade assustadoramente pequena,
considerando o tamanho da cidade e o fato de, na década de 1980, este número ser
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estimado em aproximadamente 300 grupos musicais, somente na rede particular
paulistana.
30
eventuais como free-lancers, tocando em festas e casamentos. 40% possuem
experiência de trabalho junto às orquestras sinfônicas.
31
equipamentos. Dos respondentes, 40% utilizam instrumentos de sua propriedade em
seus conjuntos de trabalho, além dos instrumentos da mantenedora.
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Para o período pós pandemia, todos foram bastante incisivos ao afirmar que os
formatos de aulas/ensaio deverão ser modificados e protocolos de segurança serão
implementados. Dentre as medidas mais mencionadas estão a diminuição das turmas
para possibilitar maior distanciamento entre os músicos, uso de máscaras de forma
contínua, com exceção dos instrumentistas de sopro, coletores de água individuais
para os metais, não compartilhamento de estantes de partituras, uso individual dos
instrumentos de percussão, protocolos de limpeza com álcool em gel, tapetes
sanitários e busca por locais mais amplos e arejados para as atividades.
4. Considerações finais
33
ser considerado como despesa de alto custo, sustentado apenas por seu valor
simbólico. Tal situação torna a atividade extremamente vulnerável à toda e qualquer
crise econômica que venha a ocorrer.
O terceiro fator identificado, porém não menos importante é o não
engajamento na construção de um maior “valor simbólico”, na valorização da cultura
brasileira, na construção de um repertório musical nacional e permanentemente
renovado. Perdem-se assim muitas das funções pedagógicas, da difusão da música, da
formação de novos músicos e de novos públicos.
Diante dos problemas e adversidades elencadas, a busca por soluções viáveis
precisa antes de tudo, retomar o raciocínio e os ideais anteriores ao terrível Golpe
Militar de 1964, quando as principais funções dos grupos musicais eram poucas e
bastante objetivas: fazer boa música, aproximar a cultura musical do público e formar
novos músicos.
Segundo a Constituição de 1988, o acesso à Cultura é um direito do cidadão e é
um dever do Estado ser garantidor destas práticas. É nítida a necessidade da criação de
políticas públicas capazes de fomentar os grupos musicais escolares, tão tradicionais
na história brasileira e tão maltratados na cidade de São Paulo. Também é claro o
protagonismo da Universidade na reconstrução desta atividade e na elaboração de
estudos e de ações práticas capazes de estimular o surgimento de novos trabalhos,
voltados à iniciação musical de qualidade e ao desenvolvimento sustentável.
Faz-se urgente e importante repensar formatos, conceitos e prioridades,
objetivando derrubar os preconceitos estabelecidos e construir um futuro capaz de
promover a cultura nacional, gerar novos postos de trabalho para regentes,
compositores e formar novas gerações de músicos instrumentistas.
Parafraseando o físico Stephen Hawking (1942-2018): “É preciso aproximar a
cultura da população, para que assim a população possa se aproximar da Cultura.”
Orquestras, Bandas e Fanfarras escolares são ferramentas pedagógicas
importantes, possuem funções sociais de grande impacto e movimentam uma cadeia
relevante na Indústria Cultural, portanto devem ser vistas como parte da nossa
Cultura, da nossa Educação e da nossa Economia. Sem este conceito amplo, multi
setorial estaremos fadados a não reconhecer suas forças e permanecer em forte
retração.
34
Referências
ALGE, B. Música nos tempos coloniais: um olhar a partir da prática musical em Minas
Gerais hoje. Música em Contexto, Brasília, n. 1, p. 143-171, 2017.
BINDER, F.P. Novas fontes para o estudo das bandas de música brasileiras. In:
ENCONTRO DE MUSICOLOGIA HISTÓRICA, 5., 2002, Juiz de Fora. Anais [...]. Juiz de
Fora, p. 198-206, 2002.
CHAUÍ, M. Cidadania Cultural: o direito à cultura. São Paulo: Perseu Abramo, 2006.
JORDÃO, G. Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2017/2018. São Paulo: Alluci &
Associados Comunicações, 2018.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2013.
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TINHORÃO, J.R. Música Popular de Índios, Negros e Mestiços. 2. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1975.
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Apêndice A
Dados socioeconômicos:
Nome:
Idade: Estado civil:
Possui Filhos? Quantos?
Moradia:
Casa própria ( ) Aluguel ( )
Quantas pessoas moram com você?
Mora com sua família, com seus pais, sozinho (a)?
Formação Acadêmica e Musical
1. Qual sua formação musical e pedagógica?
• Quando se formou?
• Além da formação regular, fez cursos complementares e/ou pós-graduação?
• Como iniciou seus estudos musicais?
• Tocou em algum grupo de ensino musical coletivo (Orquestra, Banda ou
Fanfarra)?
• Estudou em conservatório ou aula particular?
• Estudou no grupo da igreja?
• Qual seu instrumento musical de formação?
Experiências Profissionais Atuais:
2. Qual sua Ocupação Principal? (A educação musical é sua profissão ou
complemento de renda?)
3. Qual sua esfera de atuação? (Prefeituras, Escolas Públicas, Escolas Privadas,
Conservatórios, Escolas Livres, Associações/Instituições Culturais, ONGs)
4. Atualmente está trabalhando com educação musical coletiva? Onde?
5. Essa instituição possui algum cunho religioso?
6. Como é denominado seu cargo nesta instituição?
7. Dentro da estrutura escolar, como suas atividades pedagógicas são
reconhecidas? (Curso livre, Atividade extra Curricular, Optativa ou parte da grade
curricular regular)
8. Seus alunos atualmente participam gratuitamente ou pagam pelas aulas?
9. Os instrumentos musicais utilizados são da instituição, seus próprios ou
propriedade dos alunos?
10. Além de você, quantas pessoas compõem sua equipe de trabalho?
11. Em média, quantas horas/aula/ensaio você trabalha por semana?
12. Participa de algum grupo de organização de classe? Associação, Federação,
Confederação?
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13. Atua em alguma forma de Rede Cultural?
Experiências profissionais anteriores:
14. Sempre trabalhou com música?
15. Em quantos colégios /escolas já trabalhou? Quais? Quanto tempo?
16. Quantos desses grupos foram fundados/ criados por você?
17. Estes grupos continuam ativos?
18. Nos seus trabalhos, além de você, existiam monitores ou outros professores
auxiliares?
19. Ao longo da sua carreira, quantos alunos você estima ter musicalizado? Desse
total, a maioria fez seu aprendizado gratuitamente ou pagou pelas aulas?
20. Esses grupos operavam visando lucro financeiro?
21. Existia a preocupação com uma efetiva formação musical, com aulas de técnica
e teoria aos participantes ou apenas ensaios técnicos para manutenção do repertório
do grupo musical?
Estratégias de Captação Financeira, Promoção e Manutenção do trabalho:
22. Atualmente, como seu grupo se sustenta financeiramente?
23. Existe orçamento específico na sua estrutura mantenedora destinado a itens
como: Manutenção, Aquisição de Instrumentos, Transporte para eventos externos,
salários do professor, salários para monitores e/ou auxiliares?
24. Qual seu maior custo na planilha de gastos?
25. Seu(s) grupo(s) opera(m) com lucro ou o trabalho é deficitário?
26. Utiliza outras estratégias de captação para diminuir seus custos? (Venda de
CD’s, Festas beneficentes, venda de camisetas, apoie-se, outras) Com qual
regularidade?
27. Qual sua experiência com projetos culturais ou programas de renúncia fiscal?
(Funarte, Funcad, Vai, Proac, Promac, Rouanet)? Já participou de algum projeto como
proponente, parte de equipe ou convidado?
28. Costuma fazer apresentações/ concertos em contratos com equipamentos
culturais? (Casas de Cultura, Centros Culturais, Sesc, Sesi, Itaú Cultural, Fabricas de
Cultura) Com qual regularidade?
29. Costuma participar de Festivais e Concursos musicais com remuneração? Com
Qual regularidade?
30. Costuma fazer cachês (apresentações externas contratadas) para eventos
particulares? Com qual regularidade?
31. Costuma fazer concertos/apresentações com entrada paga? Com qual
regularidade?
32. Possui algum Patrocinador além da sua instituição Sede para financiar a
realização de alguma das suas atividades?
33. Quantas apresentações/ Concertos, em média, você e seu grupo realizam por
ano?
34. Essa média tem sido regular nos últimos cinco anos?
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35. Qual a média de público presente nas Apresentações/ Concertos?
36. Seu grupo mantém uma estrutura de escola de música para seus membros e
para a captação de recursos financeiros?
37. Possui quais estratégias para divulgação e registro do trabalho? (Sites,
Facebook, Instagram, Youtube, outros) Existe uma equipe dedicada a essa função?
38. Possui alguma estrutura contratada para captação de eventos externos e
elaboração de projetos?
39. Em suas apresentações, além dos Instrumentos musicais, você utiliza outros
elementos estruturais, tais como Iluminação, cenários, projeção de imagens,
montagem/desmontagem de palco? Existe uma equipe dedicada a essa função?
Percepções e Perspectivas:
40. Qual seu estilo de repertório? Toca músicas nacionais?
41. Qual faixa etária você prefere trabalhar? Porquê? Como faz a captação de
novos alunos?
42. Falando de forma geral, como você avalia o desempenho do segmento
Orquestras, Bandas e Fanfarras escolares na iniciação musical dos alunos? Existe
formação efetiva?
43. Como você enxerga o campo de trabalho para esta atividade? Estamos
crescendo?
44. Na sua opinião, quais são as principais barreiras para o desenvolvimento do
segmento de Orquestras, Bandas e Fanfarras no ensino coletivo de música nas escolas
atualmente?
45. Como você percebe atualmente o mercado de trabalho para o segmento de
música instrumental no Brasil?
46. Com o advento da nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), quais suas
perspectivas para as escolas públicas e para o desenvolvimento do ensino coletivo da
música instrumental para alunos do Ensino Fundamental e Médio?
47. E para as escolas privadas?
48. Com as alterações das leis trabalhistas, qual sua opinião sobre perspectivas
profissionais para professores de música instrumental no segmento de ensino coletivo
para os próximos anos?
49. No seu caso específico, pretende buscar a criação de novos grupos de ensino
coletivo de música nas escolas? Esses novos projetos serão em formato CLT ou
contrato terceirizado?
50. Como pensa em ampliar sua atuação no mercado de eventos?
51. Pretende buscar novas formações/ atualizações para aprimorar seu
desempenho profissional? (Tais como cursos em áreas de marketing cultural,
administração financeira, gestão cultural, Redes Culturais, economia Criativa)
52. Como pensa realizar aulas, ensaios, apresentações e concertos na era Pós
Pandemia? Quais protocolos de segurança pretende implementar?
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Apêndice B
Dados da Instituição:
Nome da Instituição:
Ano de Fundação:
Quantos alunos possui no Campus na área de Música?
Dados socioeconômicos:
Nome:
Idade: Sexo: Estado civil:
Possui Filhos? Quantos?
Moradia:
Casa própria ( ) Aluguel ( )
Mora com sua família, com seus pais, sozinho(a)?
Quantas pessoas moram com você?
Formação Acadêmica:
Qual sua formação acadêmica?
• Como iniciou seus estudos musicais?
• Qual seu instrumento musical de formação?
• Quando se formou?
• Possui outros cursos complementares e/ou pós-graduação? Quais?
• Quais as os temas das suas pesquisas no Mestrado e Doutorado?
• Tocou em algum grupo de ensino musical coletivo (Orquestra, Banda ou
Fanfarra escolar)?
• E fora do âmbito escolar, participa ou já participou de algum grupo musical?
Informações Institucionais:
1. No momento do vestibular, a oferta de vagas para instrumentistas é totalmente
preenchida?
2. Como é feito o preenchimento das eventuais vagas remanescentes?
3. Quais cursos possuem maior procura? Como você percebe a demanda por
candidatos ao curso?
4. Na sua opinião, o que impulsiona este grande número de interessados nestas
áreas?
5. Quais os cursos com menor procura?
6. No seu entendimento, o que provoca essa baixa procura por estas áreas?
7. Quais ações estão sendo tomadas pela instituição para aumentar a procura
nestas áreas?
8. Na matriz curricular da universidade, existe a formação específica para o ensino
coletivo de música instrumental?
9. Existem estudos da área de educação musical coletiva nas escolas no formato
Bandas, fanfarras e orquestras?
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10. Existe formação para estudo de mercado, planejamento estratégico, financeiro
e técnico para a formação de grupos escolares?
11. Existe formação para a elaboração de projetos culturais voltados à criação e
manutenção de grupos musicais?
12. A Universidade possui conjuntos voltados aos alunos de instrumentos de sopro
metálicos, madeiras e percussão? Big bands, Jazz ou Blues bands? E para o estudo do
Dobrado Musical? (Estilo de composição característico das marchas brasileiras)
13. Existe algum incentivo para criação destes grupos?
14. Qual o perfil médio do estudante que ingressa nos cursos de música
instrumental?
• Qual sua faixa etária média?
• Qual sua classe social?
• Trabalha?
• Possui carro ou moto?
• Qual seu principal meio de transporte?
• Em qual zona territorial a maioria reside?
• Quanto ao gênero, qual a porcentagem de homens e mulheres?
• Onde iniciaram seus estudos musicais? Escolas públicas, privadas,
conservatórios, igrejas, espaços culturais?
• Quanto tempo leva em média para se graduar?
15. Em média, quantos alunos se formam por semestre?
Percepção de mercado:
16. Na sua experiência, quais as principais características do público consumidor de
música instrumental no Brasil?
17. Na sua opinião, qual a situação do mercado de trabalho brasileiro para o
músico instrumentista atualmente?
18. Como a Universidade trabalha para auxiliar os formandos a entrar no mercado?
19. Como a universidade enxerga a indústria da música na cidade de São Paulo?
20. Na sua opinião, como se encontra o ensino coletivo de música instrumental nas
escolas de nível fundamental e médio na cidade de São Paulo e Região?
Especificamente os grupos de Orquestras, Bandas e Fanfarras?
21. Colégios particulares são um nicho do mercado de trabalho na visão da
universidade?
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