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AS FIGURAS DE LINGUAGEM

FITA VERDE NO CABELO

novembro 16, 2018


Guimarães Rosa não foi apenas o autor que expandiu o sertão para caber nele o homem universal. Se em seus contos e
romances a paisagem sertaneja e a linguagem em mutação servem de palco e fala para os dramas humanos, ele também
soube aproveitar ideias súbitas que lhe surgiam. Foi assim, por exemplo, com “A terceira margem do rio”, um de seus
mais famosos contos, cuja ideia veio toda inteira enquanto subia num ônibus.

Algo que também parece ter acontecido com “Fita verde no cabelo”, publicada no livro Ave, palavra, sendo uma história
de evocação do conto Chapeuzinho Vermelho, mas com uma inversão e subversão, como se, ao mesmo tempo, fosse a
mesma, mas fosse outra. Mais humana, mais consciente, mais triste. E o estilo rosiano, por certo, cria lances de
linguagem que fornecem ao leitor novos jogos e surpresas. Há de se ler como se fosse em voz alta, como se contasse a
outro essa nova velha história.

Sem mais, vamos a ele:


FITA VERDE NO CABELO – Nova velha história

(João Guimarães Rosa)


Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres
que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma
meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo. Sua mãe
mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu,
sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para
buscar framboesas.

Daí que indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem
peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então, ela mesma, era quem se dizia: Vou à vovó, com cesto e pote, e a
fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou. A aldeia e a casa esperando-a, acolá, depois daquele moinho, que a
gente pensa que vê, e das horas, que a gente vê que não são. E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e
longo, e não o outro, encurtoso[1]. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra, também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-
se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se
cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. Vinha
sobejadamente[2]. Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela toque, toque, toque, bateu:
– Quem é?
– Sou eu… – e Fita-Verde descansou a voz. – Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com fita verde do cabelo, que a mamãe
me mandou.
Vai, a avó, difícil disse:
– Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe.
Fita-Verde assim fez, e entrou e olhou. A avó estava na cama, rebuçada[3] e só. Devia, para falar agagado[4] e fraco e
rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo:
– Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo.
Mas agora Fita-Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo
atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
– Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!
– É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta – a avó murmurou.
– Vovozinha, mas que lábios, ai, tão arroxeados!
– É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta… – a avó suspirou.
– Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado e pálido?
– É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha… – a avó ainda gemeu.
Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez.
Gritou:
– Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!

Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

[1] menor (variação de encurtado); [2] em demasia, muito; [3] coberta; [4] com gagueira;
Metáfora é uma figura de linguagem que consiste no uso de uma palavra ou expressão com o sentido de outra
com a qual é possível estabelecer uma relação de analogia.

Para que a analogia possa ocorrer, devem existir elementos semânticos semelhantes entre as palavras ou expressões
em questão.

A relação de semelhança entre dois termos ocasiona uma transferência de significados, estabelecida através de uma
comparação implícita.

Exemplo de metáfora:

Minha prima é uma gata.

A palavra metáfora, do grego metaphorá (mudança; transposição), pelo latim metaphŏra- (metáfora), permite a
substituição de um termo por outro.
Exemplos de metáforas

Veja abaixo alguns exemplos de frases que vão ajudar você a entender o que é metáfora.

Dar murro em ponta de faca.

“Dar murro em ponta de faca” é um metáfora utilizada para fazer referência a uma situação onde alguém insiste em
fazer algo que não traz resultados e que pode causar danos a si próprio.
Carregar o mundo nas costas.

Trata-se de uma metáfora baseada na mitologia grega: Atlas foi castigado por Zeus e condenado a sustentar as
colunas do céu, daí ser representado com a esfera celeste nos ombros.

O uso dessa metáfora estabelece uma comparação com pessoas que possuem muitas responsabilidades sobre si e
que, eventualmente, aparentem um ar cansado e/ou transtornado como o de Atlas, que é sempre retratado com o
rosto voltado para baixo.
A rosa de Hiroshima.

Rosa de Hiroshima é um poema escrito por Vinícius de Moraes, onde o autor estabelece uma metáfora entre o
aspecto de uma rosa e o aspecto da bomba de Hiroshima quando ela explodiu.
Ela tem um coração de gelo.

A linguagem metafórica da frase acima estabelece uma comparação entre o gelo os sentimentos de uma pessoa
insensível.

A relação análoga indica que a mesma frieza do gelo está presente no coração de pessoas que não demonstram
seus sentimentos ou que são secas, duras e/ou desprovidas de afeto.
Metáfora do Iceberg
A metáfora do iceberg baseia-se no fato de que muitas vezes a parte visível de um iceberg é muito pequena quando
comparada com a parte que está submersa.

Essa metáfora tem sido muito usada para explicar vários fenômenos sociais, deixando subentendido que existe muito mais
do que aquilo que se vê.

Também é frequente o uso dessa metáfora para descrever a mente humana: a parte que fica à superfície é a parte consciente,
e a maior e submersa, é a parte relativa ao subconsciente do ser humano.

Esta expressão metafórica é comumente usada para fazer referência a um problema, deixando claro que ele pode ser bem
mais complexo do que se imagina.

Exemplo de metáfora:

O desentendimento entre eles é apenas a ponta do iceberg.

A metáfora do iceberg pretende fazer com que as pessoas entendam que muitas vezes há mais verdade além do que os
nossos olhos conseguem ver.

Através dela também podemos aprender que há muita coisa além do superficial e que muitas vezes essas coisas são mais
importantes do que aquilo que está à superfície e é visível para todos.

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