História da

Matemática
 Século XIX:
As Geometrias
Não-Euclidianas e
a Libertação do
Real

Prof. Edson Ribeiro. B. Almeida Junior

Até o século XVIII, embora já inteiramente dedutiva, a
Matemática estava particularmente ligada aos algoritmos, e
pouca ou nenhuma preocupação existia quanto à natureza de
seus elementos, ou quanto aos seus fundamentos. Tal não é,
todavia, o panorama do século XIX, considerado o momento
mais revolucionário da História da Matemática, com a
descoberta de um novo mundo na Geometria.
Século XIX: As Geometrias Não-Euclidianas e a Libertação do Real
O que diferencia a Geometria Não-Euclidiana?

O que, porém, seriam as geometrias não-euclidianas?

Euclides de Alexandria, considerado o mais famoso

matemático de todos os tempos, “[...] reuniu e registrou a
herança da antiga geometria, codificando-a e estendendo-a
em seus Elementos por volta de 300 a.C.” (ROONEY,
2012, p. 84).
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O que diferencia a Geometria Não-Euclidiana?

A geometria apresentada na obra de Euclides ficou

conhecida como Geometria Euclidiana. “Euclides apresenta
os cinco axiomas e cinco “noções comuns”, e deduziu
dessas várias centenas de teoremas e provas,
exemplificando o princípio da dedução lógica que perdurou
pelos séculos” (ROONEY, 2012, p. 84).
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Os cinco axiomas de Euclides

1. Quaisquer dois pontos podem ser unidos por uma única

reta.

2. Qualquer linha reta finita pode ser prolongada

indefinidamente, como linha reta, em qualquer direção.

3. Dado qualquer ponto, é possível se traçar um círculo,

com centro neste ponto e com raio qualquer.

4. Todos os ângulos retos são iguais.

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Os cinco axiomas de Euclides

O quinto postulado possui várias formulações:

5. Dada uma linha que cruze duas linhas retas, de modo que
a soma dos ângulos internos do mesmo lado seja menor do
que dois ângulos retos, então, as duas linhas, quando
prolongadas, acabarão por se encontrar (naquele lado da
linha) (MLODINOW, 2004, p. 47).
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O desafio do quinto postulado

O quinto postulado não é autoevidente como os demais e

foi uma criação do próprio Euclides e se parece muito mais
com um teorema do que com um axioma. Mas, se Euclides
o trouxe como postulado, é porque não conseguiu
demonstrar a afirmação. Qual seria a razão para isso? “Por
mais de 2 mil anos a maior parte dos matemáticos estava
convencida de que era porque Euclides não era
suficientemente esperto” (BERLINGOFF; GOUVEIA,
2008, p.198).
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O desafio do quinto postulado

A tentativa de demonstrar o quinto postulado, durante

séculos e por matemáticos de diferentes continentes, foi
infrutífera. O mais famoso enunciado equivalentes foi
formulado por Proclo, no século V, mas difundido pelo
matemático escocês John Playfair, no século XVIII:

Dado uma reta e um ponto fora dela, por este ponto passa
uma única reta paralela à reta dada.
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No começo do século XVIII, de acordo com Berlingoff e

Gouveia (2008), o italiano Girolamo Saccheri se dedica a
demonstrar o quinto axioma de Euclides, a partir do
enunciado equivalente que ficou conhecido como Postulado
de Playfair , e consegue avançar, estabelecendo importantes
resultados, que subsidiarão os estudos que culminam com a
formulação das novas geometrias, que se convencionou
chamar de não-euclidianas, em função de sua oposição
lógica à geometria euclidiana.
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Saccheri, organizou sua abordagem a partir das seguintes considerações:

■ Sabemos que o axioma de Euclides não contém contradição, porque temos no mundo real modelos
do sistema.

■ Acreditamos que o Postulado das Paralelas pode ser demonstrado a partir dos outros axiomas, mas
até agora ninguém conseguiu fazê-lo.

■ Suponha que possa ser demonstrado. Então, se substituirmos o Postulado por sua negação,
estaremos pondo uma contradição no sistema.

■ Portanto, se eu usar a negação do Postulado das Paralelas como axioma e encontrar uma
contradição neste sistema, terei mostrado que o Postulado das Paralelas pode ser demonstrado a partir
dos outros quatro axiomas anteriores, embora eu não tenha uma demonstração direta disso!
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Saccheri debruçou-se, então, nessa tentativa de

demonstração por contradição ou por absurdo, como
conhecemos atualmente. Inicialmente, considerou as duas
possibilidades de negação para o Postulado das Paralelas,
ou seja, para negar que não existe UMA ÚNICA reta
paralela a uma reta dada, passando por um ponto fora dela,
a saber: (1) por um ponto externo a uma reta, NÃO
PASSAM PARALELAS A ESTA RETA, ou (2) por um
ponto externo a uma reta PASSA MAIS DO QUE UMA
RETA PARALELA A ELA
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Carl Friedrich Gauss (1777-1855) era filho de um simples

trabalhador de Brunswick que tentou, por todos os meios,
evitar que seu filho recebesse instrução escolar, ao contrário
da mãe de Gauss, a qual, apesar de jamais ter tido acesso
aos conhecimentos escolares, sempre lutou para que o
pequeno Carl tivesse destino diferente.

Como viveu durante 97 anos, a mãe de Gauss teve tempo e motivos suficientes para se orgulhar de
sua atitude, pois acompanhou, praticamente, toda a carreira do filho.
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Considerado por muitos como o maior matemático de todos

os tempos, Gauss foi o que seria, hoje, designado por
“criança prodígio”, cujo talento foi reconhecido pelo Duque
de Brunswick, que se encarregou da educação do pequeno
gênio e, assim, em 1799, aos 22 anos, Gauss já obtinha o
grau de doutor em Helmstedt e, a partir de 1807, até a sua
morte, trabalhou tranquilamente como diretor do
observatório astronômico e professor da Universidade de
Göttingen, onde havia realizado todos os seus estudos, com
exceção do doutorado.
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Gauss foi, também, um dos “descobridores” das geometrias

não-euclidianas — foi dele esta denominação — como
tentativa de demonstração do postulado V de Euclides, o
qual estabelece que, por um ponto de um plano não
pertencente a uma reta dada, passa uma única paralela à
esta reta, fato que o intrigava desde os 13 anos de idade.

Nas tentativas de demonstração do postulado das paralelas, chegou em conclusões, por exemplo, de
que a soma dos ângulos internos de um triângulo não seria, necessariamente, igual a dois retos
“assustavam” os estudiosos que não consideravam como Geometria o sistema teórico resultante.
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Gauss foi, na verdade, o primeiro que visualizou o fato.

Preocupado com a questão das paralelas desde a sua
adolescência, não publicou nada a princípio, por temer, como
ele próprio diz, a “gritaria dos boécios”, porém, em 1831
decide fazê-lo, todavia, no ano seguinte, inteirado do
trabalho de Bolyai, abandona esse propósito (BABINI, 1969,
p. 117).

A substituição do postulado V por postulados análogos, porém não equivalentes, mesmo mantendo os
quatro primeiros axiomas, resultou em geometrias de características muito diferentes, denominadas, por
Gauss, de geometrias não-euclidianas.
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Esta primeira etapa deu origem à Geometria, hoje,

conhecida por hiperbólica, ou Geometria de Gauss-
Lobachevsky, ou Geometria de Lobachevsky apena, ou,
ainda, embora raramente, Geometria de Bolyai-
Lobachevsky. Sua principal característica é que, por um
ponto exterior a uma reta em um plano, existem duas retas
paralelas à primeira e, então, a soma dos ângulos internos
de um triângulo é sempre menor que dois retos.
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Na geometria euclidiana, é exatamente 180º;

Na geometria de Lobachevsky, é menor que 180º;

Na geometria riemanniana, é maior que 180º.

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A palavra geometria deriva do grego e significa: medida

(metria) da Terra (geo). Como ramo da Matemática, a
geometria estuda a forma, o tamanho e a posição relativa de
figuras e retas. Como, de maneira geral, apenas a geometria
euclidiana é estudada, é comum se acreditar que existe uma
única geometria.

As geometrias não euclidianas e a euclidiana são consideradas

geometrias planas, todavia o que se entende por plano muda
para cada uma delas e, consequentemente, a forma das figuras
e a posição entre retas.
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Mas, principalmente, o quinto

postulado se enuncia de maneira
diferente em cada uma delas. O
matemático alemão Felix Klein as
denominou de elíptica, hiperbólica
e parabólica. No infográfico a
seguir, você pode observar a figura
de um triângulo na superfície plana
respectiva de cada geometria.
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