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Universidade de Brasília – UnB

Faculdade de Educação – FE
Departamento de Métodos e Técnicas – MTC
Currículo

Que Brasil é esse, o de


2023, que está em curso?
Prof. Dr. Francisco Thiago Silva
francisco.thiago@unb.br
Objetivos da aula de hoje:

• Reconhecer a natureza e a
especificidade da educação.
• Compreender a despeito do momento
político atual.
• Estabelecer relações com a política
educacional e com o Currículo.
Referência
• SILVA, Francisco. Thiago. “Pátria amada,
Brasil”:. Revista De Educação ANEC, 45(158),
178-194.,2019.
O QUE A PANDEMIA NOS RE-ENSINOU?
• Que o Brasil ainda é um país muito desigual.
• Que não podemos escapar dos avanços das TIC’S.
– NECESSITAMOS DE FORMAÇÃO.
• Que as “metodologias ativas” são necessárias e
uma boa saída para muitos problemas de ensino e
de aprendizagem.
– Salas de aula invertidas.
– Gameficação.
– PBL.
• Que a parceria escola-professor-família ainda é
ESSENCIAL.
• Que nós (docentes) não seremos substituídos pela
própria tecnologia.
• Informação e conteúdo não são conhecimento.
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Algumas tendências para o ensino
daqui em diante....
• Flexibilização do currículo.
• Uso coerente da tecnologia.
• Incentivo à solidariedade.
• Ampliação dos espaços escolares.
• Exercício de diálogo e de escuta.
• Qualidade na saúde física e psicológica (estudantes e
pofessoras/es).
• A vez dos games.
• Power pupils em ação.
• Metodologias ativas.
• Empreendedorismo (COOPERAÇÃO).

• Fonte: Jornal Correio Braziliense. 9


Características do “currículo de
transição” (SILVA, 2020):
a. Precisaremos de um esforço coletivo e solidário
para adaptar a OTP (currículo, didática e avaliação).
b. Devemos repensar horários e carga horária, além
das metodologias de trabalho que sejam mais
dinâmicas, flexíveis e seguras.
c.Implantar formas de avaliar mais humanas e
eficientes ao mesmo tempo.
d.Não se trata de um “currículo mínimo”: aquele no qual
apenas alguns conteúdos são pinçados e considerados
relevantes, normalmente sem uma ampla discussão.
e. Não é só uma adaptação/adequação do que não
poderá ser trabalhado (ou seja, o currículo precisa
superar essa visão meramente como uma grade
conteudista).
f.Priorizar uma proposta pedagógica que não cause
mais sofrimento do que houve esse ano.
g.Contar com a colaboração de todos os sujeitos
implicados com a prática pedagógica. Isso inclui,
sobretudo, as famílias de nossos estudantes.
h.Uma boa saída é o chamado “trabalho pro projetos”,
por temas, por eixos (integradores/estruturantes) e
transversais.
i. Investir em mídias e tecnologias (desde que o
acesso seja de 100% dos usuários) que a escola
permaneça como um espaço democrático de
acesso ao conhecimento.
j. Enxugar matérias, temas, excesso de tarefas
e otimizar tempo,
espaço, conteúdo e forma.
Primeiras palavras...
• Quais as consequências das ideias
ufanistas/burocratizantes atuais para a
educação brasileira?
• O período de impeachment.
• Mais um vice do antigo PMDB no poder.
• A era “Bolsonaro” (neo-liberal; neo-
fascista; neo-conservador).
• As marcas do “ultranacionalismo”.
• O PROBLEMA DA EXPROPRIAÇÃO DA
AUTONOMIA INTELECTUAL DOS
PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO.
“Criogenia humana” no cenário
político brasileiro
• Nem toda mudança é benéfica.
• Retomada do poder político pela extrema
direita conservadora e liberal.
• Potencialização da participação militar na
arena política.
• Questionamentos religiosos sobre a ciência.
(apropriações equivocadas)
• Criminalização de certas manifestações
culturais.
• É preciso ir além do maniqueísmo.
• Ultrapassar o senso comum.
• “[...] não existe neutralidade em
nenhum processo histórico, mesmo
muitos defendendo tal princípio, e que,
todas as vezes que os elementos de
fervor religioso e de sentimento
nacionalista-ufanista se uniram no
poder político, milhares padeceram,
normalmente os mais pobres, os menos
estudados, as mulheres, as crianças,
entre outros” (SILVA, 2019, p. 181).
A natureza política do campo educacional
• Marx e o modo de produção capitalista.
• Os impactos da Revolução Francesa
para a história da educação e da escola
pública na América Latina.
• A burguesia de lá e a de hoje...
É preciso voltar um pouquinho...
2014
2016
2018
2019
Por que vemos o fascismo ganhando
tant@s adept@s no país?
2022 e o resultado da eleição...
Educar é um ato político...E estamos/somos
sujeitos/pessoas situados/as historicamente...

• “O CAPITALISMO NÃO CONVIVE COM A DEMOCRACIA”. (WOOD)


• “O fascismo é apenas um sintoma do modo de produção e não se
extirpa sem a sua plena problematização, é preciso ser
anticapitalista, para além de ser antifascista” (MASCARO)
O capitalismo sempre lucra...
“Intromissão burocrática” e
currículo
• O medo das múltiplas culturas e a re-invenção do
campo curricular nos EUA do início do século XX.
• As teorias: tradicionais, críticas e pós-críticas.
• Os perigos do “modelo de intromissão burocrática”
(SACRISTÁN, 2000).
• “A peculiaridade contemporânea é o fato de os
posicionamentos religiosos serem um dos maiores
gatilhos para consolidar, na forma de leis, a
opinião de parte de líderes políticos, que também
exercem a função de liderança nos espaços de fé
que frequentam” (SILVA, p. 185).
Legislação, fervor religioso e
“neocon”... (algumas políticas)
• BNCC:
– Engessamento do trabalho docente.
– O que podemos fazer...
– Os erros de fora: EUA, Austrália e África
do Sul.
– Mudanças na OTP (currículo, didática e
avaliação).
– O lugar das Ciências Humanas.
– O “boom” das grandes editoras.
A reforma do EM
• O “poder da caneta”.
• O “inchaço curricular do EM”.
• Como lidar com créditos,
semestralidade e itinerários
formativos já na educação básica?
• O que muda na avaliação? No ENEM?
Escola Sem Partido
• União do “direitismo” conservador.
• Fanatismo religioso e midiático.
• PL 7.180/2014 – “parado” pelo
Supremo.
• “Filmando o doutrinador”...
• Alterar/barrar materiais didáticos
tendenciosos.
• “Currículo da Mordaça”
(BORGES;SILVA, 2016).
“Escolas Aprisionadas...”
(FREITAS)
• Quais as filosofias sociais dão suporte à
“Era Bolsonaro”?
• Quais as consequências para a política
educacional?
• Período de resistência
inteligente/propositiva.
• O liberalismo se volta contra a democracia.
• Associação com o conservadorismo
reacionário.
• Fracasso do socialismo real?
Vamos usar a ciência para refletir...
• “Entendemos o Bolsonarismo como um movimento político
autoritário, de extrema-direita, que promove divisões ou clivagens
(simbólicas, econômicas, culturais, políticas) entre formas de vida
cujo valor e significado é avaliado a partir de rígidos processos de
hierarquização valorativa. Um aspecto central do Bolsonarismo é
distinguir entre as vidas que valem mais, as que valem menos e
as que nada valem. Em sentido amplo, o Bolsonarismo é uma
forma viver, sentir, pensar e se relacionar consigo, com os outros
e com o mundo, é um ethos autoritário e violento, que reafirma e
reforça as posições normativas da ordem, da segurança e da
hierarquia, escorando-se em valores e concepções patriarcais,
heterossexuais, cristãs, empreendedoristas e apegadas à
branquitude, donde seu caráter racista e discriminatório. De
modo geral, o Bolsonarismo é contrário à ciência, ao pensamento
crítico e às políticas educacionais públicas, motivo pelo qual
apoia práticas de censura contra a liberdade de cátedra, ao
mesmo tempo em que agride o financiamento das universidades e
sua autonomia administrativa...
...Enquanto amálgama do conservadorismo e do autoritarismo
brasileiros, o Bolsonarismo encontra sua síntese no ideal
fantasmático do Homem de Bem (Duarte, 2020), ideal normativo
que se compõe de valores e ideais do cristianismo, do
conservadorismo anti-esquerda, do patriotismo nacionalista, do
armamentismo, do machismo, da família tradicional
heterossexual, da meritocracia, do empreendedorismo econômico
sacrificial, que responsabiliza o indivíduo pelo seu sucesso ou
fracasso social, bem como de ideais relativos à plena liberdade de
mercado, da recusa dos serviços e servidores públicos e da
liberdade das maiorias para discriminar as minorias, sobretudo
aquelas organizadas em movimentos políticos e sociais. Em um
sentido político mais restrito, o Bolsonarismo tem como propósito
fortalecer a oposição binária entre nós/eles, amigo/inimigo, por
meio da qual se pretende minimizar e, se possível, neutralizar toda
forma de oposição e dissidência política. O Bolsonarismo orienta-
se por um projeto paradoxal de democracia, de caráter autoritário,
que se propõe a restringir os direitos e liberdades daquelas formas
de vida que não espelham seu modelo ideal normativo de cidadão,
o Homem de Bem (DUARTE, CÉSAR, 2020, p. 02).
• Ruína do “welfare state”, da justiça
econômica e do bem comum.
• Discursos e ações individuais radicais.
• Excessos de falta de qualquer senso de
responsabilidade moral e política.
• Vivemos uma crise da “democracia liberal
representativa”.
• Qual foi a mensagem que a “classe média”
brasileira quis passar nas eleições de 2018?
• Sociais democratas / Socialistas e os
Setores Progressistas são vistos como
inimigos, e não como adversários.
O esgotamento do Liberalismo e
sua tentativa de contra-atacar
• Tivemos três grandes filosofia (séculos XIX e
XX):
– Conservadorismo.
– Liberalismo
– Socialismo.
• A retirada do PT e o fracasso de se implantar
um “Socialismo Democrático”.
• Bolsonaro (combinação entre
conservadorismo e liberalismo)
• Os liberais AGORA também são autoritários
para governar.
Os 3 núcleos do governo Bolsonaro
a. Núcleo CONSERVADOR: próprio Bolsonaro e
aliados mais próximos (familiares).
b. Núcleo LIBERAL: Paulo Guedes.
c. Núcleo AUTORITARISMO SOCIAL: Moro e
Mourão.
• Novos conflitos entre “liberais democráticos” vs.
“liberais autoritários”.
• O neoliberalismo cresceu após 1970 com a
crise do liberalismo clássico e do “estado de
bem estar social”.
• Liberdade SOCIAL E PESSOAL está fundada
na LIBERDADE ECONÔMICA.
Como passa a ser o “cidadão”?
• Indivíduo vira um “vendedor si mesmo”.
• Ou seja, o cidadão tem carta branca para
alcançar o sucesso e ser bem sucedido.
• Eliminação dos direitos sociais, das leis
trabalhistas...
• “A legitimidade do processo democrático
transforma-se em arma contra a própria
democracia”.
• Insegurança jurídica: mecanismos de
censura e ameaça física: “judicialização” da
vida social.
Então...o RESULTADO tem sido...
• A criação de barreiras legais e ilegais
para impedir o poder de organização
social dos menos favorecidos.
• Destruição das possibilidades de
organização dos trabalhadores
(sindicatos/confederações).
• Atuação contra imigrantes e
• Contra a preservação do meio ambiente.
• Privatizar tudo o que for possível.
Repercussões para a Educação
• Um “mar” de contradições: o ESP.
• “Conservadores desconfiam da capacidade dos liberais
para ‘disciplinar’ os costumes e a moral da juventude”.
• O foco não está naquilo que realmente importa para a
educação, nem PISA e nem na emancipação.
• Reformas empresariais da educação (vouchers...).
• O fim da ideia de um sistema público de ensino.
• A vez é das entidades privadas, confessionais e agora
militarizadas.
• A escola é vista como uma microempresa.
• DIDÁTICA: padronização das ações (conteúdo/método).
• E, naturalmente, a cobrança pelo possível fracasso.
Para além da resistência...
• Libertar a escola da agenda conservadora.
• Impedir que a escola seja aprisionada pela
lógica do livre mercado.
• Juventude não pode estar presa a um tipo
de “darwinismo social”: prêmio para os
sobreviventes
• Ir além dos discursos entre pares.
• Hora de um segundo ciclo de Socialismo.
• Fundamental defender a democracia liberal
como mínimo para a civilidade.
• Mas, é preciso superá-la.
Vamos falar um pouco de
Currículo...

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