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AGR 03023 – Introdução à Ciência do

Solo
MORFOLOGIA DO SOLO
Elvio Giasson; Paulo César do Nascimento

Semestre 01-2023

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• Solos: diferenças perceptíveis em uma série de aspectos; reflexos da
sua formação e de possíveis intervenções antrópicas;

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• Importância: facilidade de percepção, muitas das características
identificáveis a olho nú, ou pelo tato;
• Resultado de influência direta da formação do solo, dos fatores de
formação (relação solo-paisagem);
• Inferências sobre capacidade e potencial de uso, de execução de alguns
papéis ecossistêmicos; resposta a determinadas formas de uso e manejo;
• Características do solo e sua ocorrência: contínuo, com alterações graduais
ou claras que levam a identificação de outras unidades. Assim, como
representar?
• - Pedon;
• - Polipedon;
• - Perfil

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• O que é um “Pedon”?
• Menor unidade representativa do solo, mostrando suas características e
variações morfológicas perceptíveis. Os limites são estabelecidos por áreas de 1 a
10 m2; e um limite vertical máximo de 2m, ou contato com material de origem.
• Polipedon: um conjunto de Pedons semelhantes, contínuos, permitindo delinear
determinado segmento de área, ocupado por um tipo de solo, dentro da área
estudada.

(a) Perfil; (b) Pedon; (c) Polipedon

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• Os Pedons têm “faces”, que podem representar o solo para efeitos
de estudos. Uma feição bidimensional mas que se aprofunda no
sentido perpendicular a esta face, assumindo caráter tridimensional.
É o Perfil do solo.
• Observação do perfil do solo: ocorrência de seções relativamente
paralelas á superfície, com espessuras variáveis, características
diferentes entre si; formação e diferenciação a partir dos processos
pedognéticos (formação do solo): Horizontes do Perfil do solo.

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Sequência de horizontes, denominados
por meio de letras maiúsculas (sistema
“ABC”);

- R: camada, não está presente por meio


de processos de formação do solo
(adições, perdas, transformações,
translocações).

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• Horizontes O e H

• Horizontes superficiais,
Formados a partir de material
orgânico em maiores teores, em
condição de boa drenagem (O)
ou saturação por água, levando
a condições anaeróbias (H).
• Restos vegetais, em estágios
variáveis de decomposição.

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• Horizonte A
• Horizonte mineral, superficial,
pode ocorrer, em alguns casos,
abaixo do O. Acúmulo de
matéria orgânica humificada,
resultando em influência em cor,
agregação, etc. Passível de
sofrer revolvimento e
uniformização.
A

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A
• Horizonte E
E
• Horizonte presente
normalmente entre A e B,
de caráter eluvial. Perda Bt
acentuada de material
orgânico, óxidos e/ou
argila; reflexo em cores A
claras e pálidas, estrutura
menos desenvolvida E

Bt
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• Horizonte B
• Seção de alteração mais intensa
nas características do material
de origem. Perdas, adições,
transformações, translocações.
Coloração mais cromática,
perda de carbonatos, acúmulo
A
de materiais coloidais ou MO
(frações mais móveis),
desenvolvimento de estrutura. AB
Máxima expressão dos
processos de formação do solo.
B

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A

• Horizonte C
• Horizonte subjacente a A ou Bi
B, que apresenta
características herdadas do
material de origem,
especialmente químicas e
mineralógicas. Alteração C
inicial em relação material de
origem, predomínio de
intemperismo físico

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• Horizonte F
• Horizonte subjacente, formado a partir de intensa
precipitação de óxidos de Fe, adquirindo
coloração e consistência diferenciadas. Apresenta
baixos teores de matéria orgânica, altos teores
de argila e óxidos de Fe. Ocorrência ocasional, sob
condições específicas.

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• Camada R
• Subsuperficial, representa a
rocha consolidada.
Ocorrência em profundidade
variável, em situações de
solos formados “in situ”
(autóctones).

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A definição e o estudo dos horizontes, devido a suas características,
contempla algumas especificidades:
•- subdivisão: pequenas alterações nas características morfológicas em um
mesmo horizonte, mas que não altera sua natureza. Ex: B1, B2, B3.
•- mistura ou intercalação dos horizontes, com seções que apresentem feições de
dois horizontes adjacentes – horizontes transicionais miscigenados (mistura,
fusão); mesclados (intercalação). Ex: AB; BC; B/C; B/A.
•- características específicas designados por sufixos (letras minúsculas). Ex: Bt
(acúmulo de argila); Ck (presença de carbonatos); Bn (acúmulo de sódio trocável);
Ap (horizonte alterado por revolvimento artificial).

•- horizontes formados por materiais diferentes entre si: descontinuidade


litológica: representada por números diferentes antes de cada horizonte.

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• Como podemos distinguir e
denominar os horizontes?
• Quais os critérios?
• A princípio, observações e
análises sensoriais a campo,
determinando seu comportamento
em relação às características
morfológicas.
• Algumas observações iniciais:
localização, espessura, transição. A
• Características observadas: cor,
AB
textura, estrutura, consistência,
cerosidade, porosidade, outros.. Diferentes tipos de
Bt1
transição: abrupta,
gradual

Bt2

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• Cor:
• Atributo de grande facilidade de percepção e distinção; necessidade
de sistematização (“expressão”)
• indicador de importantes características e propriedades do solo
• Teor de matéria orgânica; teor e tipo de óxidos de ferro; regime hídrico do
solo, etc.

• Componentes
• Matiz: tipo de pigmentação presente no solo, resultando em tonalidades que
podem se aproximar mais do vermelho ou amarelo. Resultante da reflexão de
diferentes comprimentos de onda, dentro do espectro do visível.

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• Valor: diz respeito ao grau de absorção ou reflexão do solos às ondas
do visível, de forma geral. Isso resulta nas cores mais claras (valores
maiores) ou escuras (valores menores). Representação nas linhas de
cada página da carta de Munsell;

• Croma: diz respeito ao grau de pigmentação do solo, que proporciona


cores mais “vivas” ou mais pálidas, acinzentadas. Representação nas
colunas de cada página da carta de Munsell;

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Escalas de Valor e Croma, carta de cores de
Munsell.

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Carta de Cores de Munsell,
definindo os parâmetros
matiz (página), valor (linhas)
e croma(colunas)

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• Mosqueados e variegados
• Condições que expressam presença de mais de uma cor naquele horizonte.
• Mosqueados: “manchas” ou pontuações de coloração diferenciada em relação
a matriz, pode variar quanto ao contraste, tamanho das unidades (grande,
médio, pequeno) e frequência de ocorrência (pouco, comum, abundante)
• Variegados: presença de duas ou mais cores diferenciadas no horizonte, sem
que se defina a dominância de alguma delas.

• O que podem significar?


• Diferentes estágios de desenvolvimento ou intemperismo, e de estados químicos de
oxidação ou redução.

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• Textura:
• Representa uma sensação ao tato, a partir do contato com as mãos,
na análise de campo. Esta sensação pode ser dominada pela
aspereza, abrasão (areia), suavidade ou sedosidade (silte,
eventualmente MOS), pegajosidade, aderência (argila). Relação direta
com a distribuição granulométrica;
• Enquadramento inicial em uma das classes texturas estabelecidas no
triângulo textural, passível de correção a partir de resultados
laboratoriais.

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Qual a influência da textura no
solo?
- porosidade e
armazenamento de água;
- agregação;
- CTC;
- interação com MOS;
- ........

Teores de cascalho: avaliação feita


a campo e no laboratório, para
além da TFSA.

PORCENTAGEM DE AREIA
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• Estrutura
• Arranjamento das partículas unitárias no solo, formando a sua expansão
volumétrica (“corpo” ou volume do solo). Resultante de fenômenos de
floculação e cimentação, por meio de ligações que vão desde o nível
coloidal até a cimentação de partículas maiores e agregados (os níveis
hierárquicos). Distinção a partir de superfícies de fraqueza (menor
intensidade ou energia nas ligações).
• grau (resistência ou consolidação); classe (tamanho); tipo (forma das
unidades estruturais)

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Associação entre classe e
tipo.

Outro componente: grau


(resistência a
desestruturação,
proporção que permanece
agregada em unidades
estruturais).

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Influência da estrutura:
-porosidade;
-Armazenamento de
água;
-Desenvolvimento de
raízes;
-Aeração;
-...
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• Consistência:

• Reação às forças externas que atuam no solo: pressão,


cisalhamento..;
• Expressão de forças de interação entre as partículas do solo (coesão),
em solo seco; e interação entre superfícies de partículas e lâminas de
água do solo (adesão), em solos molhados;

• Como é o comportamento em cada situação, em termos de umidade?

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• Solos secos:
• Forças de coesão, resultantes das ligações entre
partículas, às vezes com pequenos meniscos de
água. As diferentes categorias (intensidades): solo
solto, macio; ligeiramente duro, duro, muito duro,
extremamente duro

• Solos úmidos:
• Atenuação das forças de coesão, início do
revestimento do espaço entre partículas com
películas de água. Solta, muito friável, friável,
firme, muito firme, extremamente firme.
Testes de campo para solo seco e úmido

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• Solos molhados: recobrimento das partículas por películas de água (adesão),
conferindo uma moldabilidade (plasticidade) e aderência (pegajosidade).
• não plástico, ligeiramente plástico, plástico, muito plástico
• ....pegajosa...

• Relação muito estreita com teores e tipos de argila, matéria orgânica. Maior
expressão de dureza, firmeza e pegajosidade em solos mais argilosos,
principalmente com participação expressiva de argila 2:1 (os solos de “meia
hora”).

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- Cerosidade:
Ocorrência de películas de brilho acentuado, na superfície dos agregados
do solo. Resultante da translocação de acúmulo de argilas no horizonte B;
ou de pressão sobre superfícies mais ricas em argila (argilãs).
- Superfícies de fricção (“Slickensides”):
Estrias presentes nas superfícies laterais de agregados; pressão de contato
ocasionada por expansão das argilas, no caso de presença significativa de
2:1

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A reunião de todas estas características, mais componentes da paisagem (ressaltando a interação solo-
paisagem): Descrição Morfológica do Perfil do Solo

• Projeto- Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado do Rio Grande do Sul.


• Perfil- (IGRA-1)
• Classificação- ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico
• Unidade- Camaquã
• Localização- Município de Camaquã-RS, a 8,7 km da cidade, na Vila Aurora.
• Situação e Declive- Corte de estrada, na meia encosta de uma elevação, com 5% de declive.
• Altitude- 85 metros.
• Litologia e Formação Geológica- Rochas graníticas da Formação Cambaí.
• Material Originário- Produto da intemperização de rochas graníticas.
• Relevo- Ondulado, formado por elevações arredondadas com pendentes de dezenas e centenas de metros.
• Erosão- Laminar ligeira.
• Drenagem- Bem drenado.
• Vegetação- Campo modificado pelo uso agrícola. Gramíneas dos gêneros Paspalum sp., Axonopus sp., Piptechaetium sp., Brisa sp. e
Aristida sp. Ocorrem alguns arbustos esparsos e mata de galeria.
• Uso Atual- Pastagem natural.

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A 0-30; bruno escuro (10YR 3/3, úmido), bruno amarelado escuro (10YR 3/4, seco); franco
arenosa; fraca pequena granular; muito poroso e poros médios; ligeiramente dura, friável,
ligeiramente plástica e não pegajosa; transição gradual e plana.
AB 30-42; bruno (10YR 4/3, úmido); franco arenosa; fraca pequena blocos subangulares; poroso e
poros médios; ligeiramente dura, friável, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa; transição
clara e plana.
BA 42-58; bruno avermelhado (5YR 4/4, úmido), mosqueado grande e comum, bruno (10YR 4/3,
úmido) e grande pouco, bruno forte (7,5YR 5/6, úmido); franco argilosa; fraca pequena e média
subangulares; poroso e poros pequenos; ligeiramente dura, friável, plástica e pegajosa; transição
clara e plana.
Bt1 58-90; vermelho amarelado (5YR 4/6, úmido); argila; moderada média blocos subangulares;
cerosidade forte e pouca; dura, plástica e pegajosa; transição difusa e plana.
Bt2 90-120; vermelho amarelado (5YR 4/8, úmido); argila; moderada média blocos subangulares;
cerosidade forte e pouca; pouco poroso; dura, firme, plástica e pegajosa; transição gradual e plana.
BC 120-150+; vermelho amarelado (5YR 4/8, úmido); argilo arenosa ; moderada grande blocos
subangulares; grande quantidade de grãos de quartzo; pouco poroso; dura, firme, ligeiramente
plástica.

Raízes- Abundantes no A e AB; raras no BA, Bt1 e Bt2 e ausentes no BC.


Observações- Presença de minerais primários intemperizados.
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