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PROCESSOS DE

ENVELHECIMENTO
DO CORPO À LUZ DA
PSICANÁLISE
CONVERSA PÚBLICA:
PSIC. VALÉRIA LUCARELLI MOCELIN
PARA COMEÇAR

“Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por conta desta mudança tão simples, tão certa, tão fácil - Em que espelho ficou perdida
a minha face?”

CECILIA MEIRELLES “Retrato”


• "O Mal-estar da civilização" aponta três fontes de sofrimento
humano, entre elas: (1) fragilidade de nossos corpos e o
SIGMUND processo de envelhecimento, (2) as forças da natureza
FREUD (catástrofes) e (3) as relações humanas (relações interpessoais).
(1930/1996) • Freud acreditava que o tratamento psicanalítico não poderia ser
aplicado aos idosos

• A pandemia do novo coronavírus: os idosos mais fragilizados e


segregados
“ é uma surpresa, um assombro, perceber-se velho.
O espelho mostra o que os outros percebem, mas
SER VELHO... a pessoa reluta em aceitar a mudança em sim
própria. Dessa forma...velho é sempre o outro.”
(Beauvoir, 1990)
DUAS DIMENSÕES

Tempo Corpo
TEMPO E CORPO

• A personagem presa no passado, vivendo de um outro tempo, um tempo carregado de significado.


• Corpo manifesto ocultando um latente
“se ela sou...o que guardo dela ainda.”
“Um solo devastado de maus entendidos”
“Meu rosto é um museu de veias e crateras em exposição”
(fala das personagem)
“Se o envelhecimento é o tempo da idade que
avança, a velhice é o da idade avançada, entenda-se,
em direção à morte” (MESSY, 1993, p. 55)

“O inconsciente é atemporal. O sujeito não envelhece”


SOCIEDADE E A VELHICE

Nas sociedades tradicionais a figura do velho


representava a sabedoria, a paciência, e
transmitia os valores da ancestralidade: detinha
a memória coletiva
Século XVIII- sociedade individualista. O velho,
por não ser reprodutor de vida nem produtor de
riqueza, nada vale; o valor social da velhice é
associado à inutilidade e decrepitude. (cena da
sobrinha Valquiria)

Uso dos eufemismos e o substantivo velho deu lugar a “um


senhor de terceira idade” ou “uma senhora de idade avançada”,
“Passa assim a ocupar um lugar marginalizado da existência humana,
transformasse numa espécie de sujeito em “suspensão” , sujeito sem
projetos. Sem futuro, será então sujeitado pelo passado, que na forma de
uma reminiscência repetitiva, produzirá um discurso que perderá
significação social se ninguém o escutar. É assim lançado a uma vida sem
sentido, sem futuro, numa violenta marginalização do circuito do desejo.”
(GOLDFARB, 1998, p. 14)
AS VIOLÊNCIAS QUE CERCAM O
ENVELHECIMENTO
• Envelhecimento ativo e exaltação da juventude
• Desenvolvimento de técnicas estéticas como dispositivos de negação
• Perder a beleza física, a saúde plena, o trabalho, os colegas de tantos
anos, os amigos, a família, o bem estar econômico, estreitamento do
futuro e a convivência com sentimento de finitude que
inexoravelmente se instala.
• A certeza de habitar um único corpo, sempre o mesmo, quaisquer que
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sejam suas modificações, é a garantia de uma identidade e de uma
permanência na relação com o outro.
• Questão do gênero: mulheres e homens
A PERSONAGEM

• O conflito entre o desejo e a proibição


• A perda do filho
• Os lutos e despejos vivenciados durante
a vida
• As reminiscências... Viver de outros
tempos
• “O anjo do corredor” que não a protegeu
de si própria.
Recordo ainda (e nada mais me importa)
Aqueles dias de uma luz tão mansa
MARIO Que me deixavam, sempre, de lembrança,
QUINTANA Algum brinquedo novo à minha porta…
Mas veio um vento de desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança…
Estrada afora após segui… Mas, ai!
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino – acreditai –
Que envelheceu, um dia, de repente…
REFERÊNCIAS

• BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, v. 3, p. 19, 1990.
• FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização (Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 21). Rio Janeiro: Imago.(Originalmente
publicado em 1930), 1996.
• GOLDFARB, Delia Catullo. Corpo, tempo e envelhecimento. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1998.

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