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LIVROS POÉTICOS

NOS CINCO LIVROS POÉTICOS, A IDÉIA CENTRAL DE CADA


LIVRO PODE SER RESUMIDA NUMA ÚNICA FRASE.

Jó — a bênção por meio do sofrimento


Salmos — o louvor por meio da oração
Provérbios — a prudência por meio do preceito
Eclesiastes — a verdade por meio da vaidade
Cantares de Salomão — a bem-aventurança por meio da

união
POESIA HEBRAICA

Na poesia hebraica, não existe


nem o paralelismo sonoro da rima
nem o do ritmo, mas existe um
paralelismo de ideias.
ESTE PODE SER DE TRÊS TIPOS:

COMPLETIVO

CONTRASTANTE

CONSTRUTIVO
Paralelos completivos se diz sobre os versos em
que o segundo constituinte coincide com o
primeiro e o desenvolve até um ponto adiante
pretendido

EXEMPLOS:
O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro no Líbano.
(SI 92.12)

Deus é o nosso refúgio e fortaleza,


socorro bem presente nas
tribulações.
(SI 46.1)
A lei do SENHOR é perfeita,
e restaura a alma;
o testemunho do SENHOR é fiel,
e dá sabedoria aos símplices.
(SI 19.7)
Em todas essas parelhas de versos, vê-
se imediatamente que o sentido do
segundo segmento do paralelismo tem
estrita semelhança com o do primeiro.

Todavia, essa semelhança não


representa verdadeira identidade.

Mais do que vã repetição, o segundo


elemento dá colorido, enriquece,
desenvolve, completa o primeiro.
Veja o seguinte exemplo de paralelismo
ternário, tirado do versículo inicial do
primeiro salmo:

Bem-aventurado o homem que


não anda no conselho dos ímpios,
não se detém no caminho dos pecadores,
nem se assenta na roda dos escarnecedores.
O segmento inicial nesse caso
relaciona-se com cada linha do terceto
que segue.

Em cada uma das três linhas que


formam o terceto existem três
constituintes vocabulares
correspondentes entre si e indicadores
de um progresso completivo, a saber:
Anda conselho ímpios

(se) detém caminho pecadores

(se) assenta roda escarnecedores


O desenvolvimento aqui é praticamente
óbvio demais para exigir comentários.

O andar, no primeiro verso, indica o


travar relações de amizade,
dá lugar ao deter-se, no segundo verso,
que implica uma maior intimidade,
e este, por sua vez, dá lugar ao assentar-
se, no terceiro verso, que fala de uma
ligação permanente.
Da mesma forma, no primeiro verso, conselho
significa simplesmente recomendações em
geral,

enquanto caminho, no segundo verso, indica


uma linha de procedimento adotada e

roda, no terceiro verso, implica um estado


mental específico.
Assim também, no primeiro verso, ímpios designa os
perversos “passivos”,

ao passo que, no segundo verso, pecadores indica os


“ativos” e,

no terceiro verso, escarnecedores refere-se aos


“insolentes”.
PARALELOS CONTRASTANTES
O Livro de Provérbios contém muitos
deles

Vejamos agora alguns exemplos


Confia no SENHOR de todo o teu coração, e não te estribes
no teu próprio entendimento. (Pv 3.5)

Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de


quem odeia são enganosos. (Pv 27.6)

Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela


manhã. (SI 30.5)

A casa dos perversos será destruída, mas a tenda dos retos


florescerá. (Pv 14.11)

Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no


SENHOR, a misericórdia o assistirá. (SI 32.10)
Em cada um dos paralelos acima, vê-se
imediatamente que o segundo elemento
contrasta com o primeiro.

Às vezes, esses paralelos não são


estritamente antitéticos — como no
primeiro exemplo acima, onde o segundo
verso é na verdade simplesmente a
negação do primeiro,
mas o segundo termo sempre contrasta
com o primeiro.

Pode-se observar também que em alguns


desses paralelos contrastantes existe
uma progressão de pensamento, como
acontece nos paralelos completivos.
Veja, por exemplo, o quarto exemplo acima.

No primeiro verso temos a palavra “casa”, significando


que a solidíssima construção dos perversos perecerá;
enquanto no segundo encontramos a palavra “tenda”,
afirmando que a fragilíssima construção dos retos
permanecerá.

Existe em cada paralelo uma escolha cuidadosa de


palavras.

Note a seguinte estrofe de quatro versos, na qual temos


não apenas um paralelo contrastante entre dois únicos
versos, como nos exemplos acima, mas sim entre dois
paralelos completivos.
Mais um pouco de tempo e já não existirá o ímpio;
procurarás o seu lugar, e não o acharás.
Mas os mansos herdarão a terra,
e se deleitarão na abundância de paz.
(SI 37.10, 11)

Novamente, no exemplo que se segue há uma sucessão


de paralelos contrastantes.

...Eis que os meus servos comerão, mas vós padecereis


fome; os meus servos beberão, mas vós tereis sede; os
meus servos se alegrarão, mas vós vos envergonhareis...
(Is 65.13)
PARALELISMO CONSTRUTIVO
Em que sucessivos paralelos unem-se
de forma estrutural até expressarem
conjuntamente uma ideia completa.
Os olhos de quem zomba do pai,
ou de quem despreza a obediência à sua mãe,
corvos no ribeiro os arrancarão
e pelos pintãos da águia serão comidos.
(Pv 30.17)
Nesses quatro versos o tema central é
“olhos”, e cada par de versos (os quatro
versos apresentam-se em dois pares —
dois paralelos completivos) faz-se
necessário para expressar a ideia central
O salmo 21 é outro exemplo

Nesse caso a estrofe de quatro linhas também


é formada de dois paralelos completivos
reunidos para expressar a ideia central.

Na tua força, SENHOR, o rei se alegra!


e como exulta com o teu salvamento!
Satisfizeste-lhe ao desejo do coração,
e não lhe negaste as súplicas dos seus lábios.
(SI 21.1,2)
O belíssimo desenvolvimento dos versos
é facilmente perceptível.

A palavra força, no primeiro verso, passa


a salvamento no segundo, e alegra,
também no primeiro, dá lugar a “exulta”
no segundo.
O desejo do coração, no terceiro verso, torna-
se as súplicas dos seus lábios no quarto, e a
oração satisfizeste-lhe, no terceiro verso,
transforma-se em não lhe negaste, no quarto.

(a última expressão sendo uma forma


acentuada de ênfase, no uso hebraico, assim
como as palavras o SENHOR não [o] terá por
inocente são na verdade uma maneira
enfática de dizer que o Senhor certamente
considerará a pessoa culpada).
Vejamos agora um outro
exemplo desse paralelismo
construtivo, em que há
juntas duas parelhas de
versos contrastantes.
Uns confiam em carros, outros em cavalos;
nós, porém, nos gloriaremos em o nome.
do SENHOR nosso Deus.
Eles se encurvam e caem;
nós, porém, nos levantamos e nos mantemos
de pé.
(SI 20.7, 8)
Deixando um pouco de lado os livros
poéticos, observe o seguinte exemplo de
paralelismo construtivo em uma
conhecida passagem de Isaías.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto.
Deixe o perverso o seu caminho,
o iníquo os seus pensamentos;
converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele,
e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.
(Is 55.6,7)
Eis três paralelos completivos agrupados para formar um
todo. Note a progressão de cada paralelo completivo e o
desenvolvimento que percorre toda a estrutura.

No primeiro verso, os homens são simplesmente exortados a


buscar, e é-lhes dito apenas que o Senhor pode ser achado.
No segundo verso, os homens recebem a ordem de invocar,
e, da mesma forma, é-lhes assegurado que o Senhor está
realmente perto.
No terceiro verso, é o perverso (o que comete de verdade
um erro) que é exortado a deixar seu caminho (ou
comportamento habitual).
No quarto verso, é o iníquo (o que omite ativamente a
justiça) que é exortado a abandonar o próprio pensamento
No quinto verso, os homens são exortados
a voltar para o Senhor, e é-lhes prometida
misericórdia.

No sexto verso, os homens são ainda mais


incentivados a voltar porque o Senhor é
nosso Deus o perdoará ricamente.
Sem dúvida, esse é um belíssimo
desenvolvimento que não pode deixar de
prender a atenção de nossas mentes.

Naturalmente, ainda tratando dos paralelos


construtivos, devemos observar que existem
variedades deles.
Por exemplo, temos o paralelismo
introvertido.
Um exemplo marcante desse tipo de
estrutura é encontrado no salmo 135, de
15 a 18:
Os ídolos das nações são prata e ouro,
obra das mãos dos homem.
Têm boca, e não falam;
têm olhos, e não vêem;
têm ouvidos, e não ouvem;
pois não há alento de vida em sua boca.
Como eles se tornam os que os fazem,
e todos os que neles confiam.
Vemos aqui que o primeiro verso corresponde
ao último, pois no primeiro lemos os ídolos das
nações e no último aparece simplesmente um
outro nome para as nações, a saber, os que
neles [ídolos] confiam.

A seguir, observamos que o segundo verso


corresponde ao penúltimo, pois ambos falam
da feitura de ídolos (num caso, a obra; no
outro, os obradores)
Além disso, nota-se que o terceiro verso e o
antepenúltimo estão em correspondência,
pois um diz que os ídolos têm boca e não
falam e o outro, que não há alento de vida
em sua boca.

Concluindo, os dois versos intermediários


concordam: num é dito que os ídolos têm
olhos sem a capacidade de ver; no outro,
que têm ouvidos sem a capacidade de ouvir.
Em Oséias 13.14 existe um exemplo mais
simples desse paralelismo introvertido:

Eu os remirei do poder do inferno,


e os resgatarei da morte:
onde estão, ó morte, as tuas pragas?
Onde está, ó inferno, a tua destruição?
Aqui, o primeiro e o último verso estão
em correspondência, assim como os dois
do meio.
Talvez devamos dizer que esses três
tipos de paralelismo — completivo,
contrastante e construtivo

em geral têm sido chamados de


“sinônimos”, “antitéticos” e “sintéticos”.
Esses nomes, estão sujeitos a objeções.

Os paralelos chamados “sinônimos”


quase nunca realmente o são, já que o
segundo elemento do paralelo muitas
vezes amplia ou altera o primeiro;
enquanto em alguns dos chamados
“antitéticos”, o segundo constituinte não
está na verdade em oposição ao primeiro
quanto ao conteúdo, ainda que com
termos mutuamente contrastantes.
Assim, é preferível chamar os três tipos
principais de paralelismo da poesia
hebraica pelos termos mais exatos —
“completivo”, “contrastante” e
“construtivo” — os quais devem ser
cuidadosamente lembrados.
A compreensão desse paralelismo
hebraico não é apenas poeticamente
interessante, mas muito importante para a
interpretação das Escrituras.

Os elementos correspondentes em cada


paralelo esclarecem uns aos outros.

Com frequência as palavras obscuras são


explicadas desse modo, pois a mesma
ideia geralmente se encontra na base de
ambos os termos do paralelo.
Algumas vezes, um elemento expressa a
ideia figuradamente, enquanto o outro a
expressa literalmente.

Outras vezes, um elemento a expressa


positivamente e o outro, negativamente.

É possível também que um membro exprima


o pensamento de um modo que a nós soa
como fraseologia obscura, enquanto o outro
o faz em palavras bastante claras, não
deixando qualquer dúvida.
Por exemplo, quando lemos “O SENHOR
está no seu santo templo”, talvez nos
perguntemos:

“Que templo — o terreno ou o celestial?”

Mas quando interpretamos essa


declaração em seu paralelo poético
vemos que está indicando o templo
celestial:
O Senhor está no seu santo templo;

nos céus tem o SENHOR seu trono...


(SI 11.4)
Neste caso, podemos determinar com base
histórica que a referência se faz à
habitação celestial de Deus, pois é
praticamente certo que o templo terreno
em Jerusalém não tinha sido construído
ainda quando essas palavras foram
escritas.

Não obstante, esse exemplo ilustra o que


se diz sobre o valor interpretativo do
paralelismo.
uma coisa sobre esta poesia hebraica de ideias
paralelas. Sua índole estranha torna-a incrivelmente
adequada à tradução para qualquer língua.

Nada é mais difícil do que traduzir tipos distintos de


poesia de um idioma para outro, mas a poesia
hebraica pode ser reescrita em qualquer língua sem
necessidade de diminuir sua beleza ou força.

Quando tentamos transpor a rima ou o ritmo de


um idioma para outro, enfrentamos obstáculos
quase intransponíveis.
Se, por exemplo, eu quiser traduzir dois
versos rimados de oito sílabas cada, do inglês
para o grego, um verso terminando com a
palavra “God” (Deus)

e o outro com “trod” (pisou), descubro que


o vocábulo grego para Deus é Theos, que
tem duas sílabas, ao contrário da palavra
inglesa “God”,
e o termo grego para “trod” é
períêpatêsen, com nada menos de seis
sílabas em vez de uma e, portanto,
irremediavelmente distinta da palavra
inglesa “trod”

de maneira que, de uma vez só, com


essas duas palavras, minha rima e minha
métrica ficam arruinadas.
Com sua sabedoria graciosa, portanto, o
Espírito de inspiração ordenou-o de tal forma
que o tipo de poesia a revestir essas orações e
louvores fosse uma poesia universal.

Devemos agradecer a Deus essa sábia


previsão e rica provisão e, além disso,
podemos discernir aí mais uma evidência da
divina inspiração das Escrituras.

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