Você está na página 1de 4

AULA 3: AS 7 TROMBETAS E AS FALSAS NARRATIVAS

Podcast nº 3
O tema da aula de hoje é sobre “as 7 trombetas e as falsas narrativas”.
A interpretação das 7 trombetas têm sido motivo de diversas discussões atuais. Há
adventistas que acreditam, por exemplo, que as trombetas retratam acontecimentos do fim dos
tempos, após o fechamento da porta da graça. Para apoiar essa ideia, uma série de narrativas são
utilizadas. É evidente que nesta aula não é possível analisar todos os pormenores dessas
narrativas. Mas, se olharmos para o quadro geral, vamos poder identificar a verdadeira forma de
se interpretar as trombetas. Primeiro vamos analisar a Bíblia, e depois veremos o que diz o
Espírito de Profecia.
Antes de prosseguir, é importante lembrar que a Igreja Adventista do Sétimo Dia utiliza
apenas um método para interpretação profética, e esse método é o historicismo. E, de acordo com
o historicismo, as 7 trombetas, juntamente com os sete selos e as sete igrejas, são profecias
paralelas, que cobrem toda a era cristã, isso é o tempo de graça e não o tempo após a fechamento
da graça. Dentro dessa visão, nós estaríamos vivendo em algum momento após a sexta trombeta
aguardando o cumprimento da sétima, ou seja, seis trombetas já teriam se cumprido. E detalhe:
como já mencionamos nas aulas anteriores, não existe duplo cumprimento para profecias
apocalípticas. Assim, essas trombetas não terão um outro cumprimento futuro.
Vamos abrir a Bíblia em Apocalipse 8:2-3.
“Então, vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete
trombetas. Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado
muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se
acha diante do trono.”
Uma questão fundamental que você tem que analisar, é que a chave para compreensão do
Apocalipse é o santuário, isso é básico para qualquer estudante. Observe: este anjo está junto ao
altar de incenso. Pergunto: onde ficava o altar de incenso no santuário, em qual compartimento?
Ficava no primeiro compartimento. Percebe? Isso não pode se aplicar para depois do tempo da
graça. Aqui na descrição há orações ainda sendo feitas e recebidas por Deus, portanto essa é uma
descrição do tempo de graça. Jesus ainda está ministrando no santuário. Antes de 1844 Ele estava
no primeiro compartimento, que é o local onde está o altar de incenso, descrito na visão das
trombetas. Isso é básico!
Apocalipse 8:5, 6
“E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve
trovões, vozes, relâmpagos e terremoto. Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas
prepararam-se para tocar.”
Alguns se referem a esse texto dizendo que o ministério de intercessão de Cristo é
encerrado antes das trombetas serem tocadas. Assim, eles entendem que as trombetas serão
tocadas após o fechamento da porta da graça.
Essa é uma falsa narrativa. Sabe por que? Outra questão que você tem que analisar no
Apocalipse é o arranjo literário do livro. No caso em questão, vamos analisar o arranjo literário
que diz respeito às cenas introdutórias.
Se você examinar, por exemplo, as cenas introdutórias da visão das 7 igrejas e da visão
dos 7 selos, você descobrirá algo fascinante. Cada cena introdutória apresenta a conclusão, ou
seja, apresenta o final da história. Somente em seguida, após à introdução, é que a história é
contada passo à passo. Em outras palavras: você tem a introdução, e nessa introdução é mostrado
como termina a história que será contada. Mas, logo em seguida, no arranjo literário, é mostrado
como é o desdobramento da história até á conclusão efetiva.
Outra narrativa, que parece verdadeira, mas é falsa, é a seguinte: pelo fato de haver
paralelos e similaridades entre as 7 trombetas e as 7 pragas, alguns concluem que elas ocorrerão
no mesmo período. Mas, por que esse argumento é falso?
Vamos analisar outro detalhe fundamental. Segundo Kenneth Strand, o livro do
Apocalipse está organizado em uma estrutura quiástica. Teríamos que ter uma aula completa só
para falar disso. Mas, basicamente, o quiasma é caracterizado, segundo Jon Paulien, quando
palavras e ideias são paralelas umas às outras na ordem inversa do início ao fim de um livro. E,
isso é evidente no Apocalipse, porque o livro está dividido em duas seções: a seção histórica e a
seção escatológica. Se você puder, escreva em uma folha de papel a letra V (v de vazio), em um
tamanho grande. Do lado esquerdo você escreve, cada frase embaixo da outra, “7 igrejas, 7 selos
e 7 trombetas”. Esse lado do V é a seção histórica. Do outro lado, o lado direito, você escreve no
mesmo padrão “nova Jerusalém, milênio e queda de Babilônia”. Ok? Agora, abaixo do V você
escreve “O clímax do grande conflito”. Essa é a estrutura quiástica. As 7 igrejas fazem paralelos
com a Nova Jerusalém, de um lado nós temos um tempo de graça aberto e do outro um tempo de
graça encerrado. Os 7 selos fazem paralelos com o milênio, de um lado temos a descrição do povo
de Deus afligido e do outro temos o povo de Deus restaurado. As 7 trombetas fazem paralelos
com as 7 pragas ou a queda de Babilônia. De um lado, as trombetas acontecem antes do dia da
expiação, do outro lado as pragas acontecem depois do dia da expiação. O centro do livro é onde
está o clímax de tudo. Então, os dois lados convergem para o centro. Isso é o quiasma.
As trombetas estão no braço histórico do livro e não no braço escatológico, e essa é uma
das razões porque você não pode descolar as trombetas para o outro lado do quiasma. Se fizer
isso, além de destruir a estrutura, você terá removido Jesus abruptamente do lugar santo para o
santíssimo, porque as trombetas acontecem com Jesus no lugar santo (lembra, altar de incenso,
primeiro compartimento?) ...
Embora as trombetas sejam juízos da parte de Deus assim como as pragas, elas não se
referem aos mesmos eventos. Por exemplo: Os juízos das trombetas acontecem antes do dia da
expiação. As pragas caem depois do dia da expiação. Outro detalhe: você já se perguntou por que
cada uma das trombetas atinge somente a “terça parte” em cada evento? Porque elas não são
definitivas, ainda há espaço para arrependimento, ainda é o tempo da mediação de Cristo.
Diferentemente, as pragas não atingem parcialmente, mas definitivamente. As trombetas são
parciais, as pragas são globais. As trombetas são misturadas com a misericórdia, as pragas são
sem mistura de misericórdia. São eventos distintos!
Mas, existe uma citação de Ellen G. White, que é muito usada para tentar provar que as
trombetas estariam no futuro. Vamos à citação:
“Solenes acontecimentos ainda ocorrerão diante de nós. Soará uma trombeta após a
outra; uma taça após a outra será derramada sucessivamente sobre os habitantes da Terra.
Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 426.”
E agora? Bem, vamos fazer algumas considerações.
Você conhece um pouco sobre figuras de linguagem? Você sabe o que é uma hipérbole
ou uma metonímia? Hipérbole consiste na expressão proposital e evidentemente exagerada de
uma ideia, com o intuito de definir algo de forma dramática. Já a Metonímia é uma figura de
linguagem que consiste na substituição de uma palavra ou expressão por outra, havendo entre elas
algum tipo de ligação. Essa substituição pode ser a parte pelo todo, o autor pela obra, a coisa pela
sua representação, etc.
Ellen G. White, em vários momentos, em seus escritos, utiliza-se de figuras de linguagem
para se expressar. Quando ela fala em trombeta e em praga na citação que lemos, ela não está
dizendo que as 7 trombetas estão no futuro. Isso seria adulterar o texto. Trombeta é símbolo de
juízo, a praga ou flagelo também é símbolo de juízo. Essa é a relação. Quando ela se refere à
“trombeta” nesse texto, ela está usando uma metonímia, ou seja, uma coisa pela sua representação,
que ano caso é juízo de Deus. Ela utilizando a representação do símbolo “trombeta”.
Talvez ainda não tenha ficado claro para você. Vamos a um outro exemplo. Elle G. White
escreveu:
“A luz que Daniel recebeu de Deus foi dada especialmente para estes últimos dias. As
visões que ele viu às margens do Ulai e do Hidéquel, os grandes rios de Sinear, estão agora em
processo de cumprimento, e logo ocorrerão todos os acontecimentos preditos.” Testemunhos
para Ministros e Obreiros Evangélicos, Págs. 112-113.
Ela está se referindo ao capítulo 8 de Daniel, você pode checar isso no verso 2. Ali você
tem, por exemplo, a visão do Carneiro e do Bode, que são representações da medo-pérsia e da
Grécia; você tem a purificação do santuário, que ocorreu em 1844, etc. Praticamente tudo já foi
cumprido do capítulo. Então, por que ela diz que “logo ocorrerão todos os acontecimentos
preditos”? Ela está usando uma hipérbole, um exagero proposital. Ela quer enfatizar que aquilo
que ainda não se cumpriu, logo se cumprirá, ou seja, todos os acontecimentos que ainda não se
cumpriram, logo se cumprirão, pois a palavra profética não falha. Ela está querendo enfatizar uma
questão.
Se você admitir que ela não está usando figura nenhuma de linguagem, então a conclusão
óbvia é dizer que as profecias sobre a medo-pérsia ainda não aconteceu, que a purificação do
santuário também ainda não aconteceu, que o papado ainda não apareceu, etc... O que não faz
nenhum sentido.
Deixe-me lhe contar algo que talvez você não saiba. Nossos pioneiros acreditavam que a
maioria das trombetas já haviam se cumprido seus dias. Um estudioso das profecias, um milerita,
chamado Josias Litch, examinou o assunto das trombetas e chegou à conclusão de que a sexta
trombeta estava prestes a se cumprir em seus dias, em 1840. Ele fez os cálculos disponíveis em
Apocalipse 9, e pôde com precisão dizer o momento que essa profecia se cumpriria.
Por sua vez, Ellen G. White, profetiza de Deus, escreveu o seguinte:
“No ano de 1840 outro notável cumprimento de profecia despertou geral interesse. Dois
anos antes, Josias Litch, um dos principais pastores que pregavam o segundo advento, publicou
uma explicação de Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano. Segundo seus cálculos
esta potência deveria ser subvertida "no ano de 1840, no mês de agosto"; e poucos dias apenas
antes de seu cumprimento escreveu: "Admitindo que o primeiro período, 150 anos, se cumpriu
exatamente antes que Deacozes subisse ao trono com permissão dos turcos, e que os 391 anos,
quinze dias, começaram no final do primeiro período, terminará no dia 11 de agosto de 1840,
quando se pode esperar seja abatido o poderio otomano em Constantinopla. E isto, creio eu,
verificar-se-á ser o caso." Josias Litch, artigo no Signs of the Times, and Expositor of Prophecy,
de 1º de agosto de 1840. E aqui ela cita palavras de Josias Lith. Então ela continua: No mesmo
tempo especificado, a Turquia, por intermédio de seus embaixadores, aceitou a proteção das
potências aliadas da Europa, e assim se pôs sob a direção de nações cristãs. O acontecimento
cumpriu exatamente a predição. Quando isto se tornou conhecido, multidões se convenceram da
exatidão dos princípios de interpretação profética adotados por Miller e seus companheiros, e
maravilhoso impulso foi dado ao movimento do advento. Homens de saber e posição uniram-se
a Miller, tanto para pregar como para publicar suas opiniões, e de 1840 a 1844 a obra estendeu-
se rapidamente. (O Grande Conflito, págs. 334-335).
Ellen G. White diz claramente que “O acontecimento cumpriu exatamente a predição”.
Isto é a sexta trombeta, meus irmãos; se cumpriu em 1840. Hoje nós estamos a um passo da última
trombeta tocar. Esta sim, falta se cumprir, e não as demais.
Aqui, vemos uma harmonia indiscutível entre a Bíblia, a estrutura quiástica do livro do
Apocalipse, a compreensão dos nossos pioneiros, o estudo preciso de Josias Litch e a confirmação
de profetiza de Deus de que a sexta trombeta já se cumpriu.
Para finalizar, quero citar um texto da irmã White, na qual ela faz uma séria advertência.
Preste muito atenção. Deus quer que você ouça isso:
“Deus fez de Sua igreja na Terra um conduto de luz, e, por intermédio dela comunica
Seus desígnios e Sua vontade. Ele não dá a um de Seus servos uma experiência independente da
experiência da própria igreja, ou a ela contrária. Nem dá a um homem um conhecimento de Sua
vontade para toda a igreja, enquanto esta - corpo de Cristo - é deixada em trevas. Em Sua
providência, Ele coloca Seus servos em íntima relação com a igreja, a fim de que tenham menos
confiança em si mesmos, e mais em outros a quem Ele está guiando para levarem avante Sua
obra.
Tem havido sempre na igreja os que estão constantemente inclinados à independência
individual. Parecem incapazes de compreender que a independência de espírito é susceptível de
levar o instrumento humano a ter demasiada confiança em si mesmo e em seu próprio
discernimento, de preferência a respeitar o conselho e estimar altamente a maneira de julgar de
seus irmãos, especialmente os que se acham nos cargos designados por Deus para guia de Seu
povo. Deus investiu Sua igreja de especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e
desprezo ninguém se pode justificar; pois aquele que assim procede, despreza a voz de Deus.
Os que são inclinados a considerar como supremo seu critério individual, acham-se em
grave perigo. É o estudado esforço de Satanás separar a esses dos que são condutos de luz, e por
cujo intermédio Deus tem operado para edificar e estender Sua obra na Terra. Negligenciar ou
desprezar aqueles que Deus designou para arcar com as responsabilidades da administração
ligadas ao progresso da verdade, é rejeitar o meio ordenado por Ele para auxílio, animação e
fortalecimento de Seu povo. Passar qualquer obreiro na causa do Senhor por alto a esses, e
pensar que a luz não lhe deve vir por nenhum outro instrumento mas diretamente de Deus, é
assumir uma atitude em que está sujeito a ser iludido pelo inimigo, e vencido. (Atos dos Apóstolos,
págs. 163-164).
Qual a sua escolha? Se você ficar do lado de pessoas que supondo possuir nova luz, estão
pregando coisas contrárias ao que Deus já estabeleceu por meio de Sua igreja, você está sujeito a
ser iludido e vencido pelo inimigo. Mas, se você escolher seguir a luz que Deus revelou ao Seu
povo, não a indivíduos isolados, você pode contar com a influencia e guia do Espírito Santo.
Que Deus te abençoe.

▪ Canal no Youtube https://bit.ly/2YpabnD


▪ Podcasts https://anchor.fm/descubra
▪ E-mail: teologia.pr@gmail.com

Você também pode gostar