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OS PROFETAS COMO POETAS

“A prosa poética às vezes empregada pelos profetas é um


estilo especial, formal, que emprega essas mesmas
características, embora de modo menos consistente. Por
ser bem mais regular e estilizada do que a linguagem
falada comum (a prosa coloquial), ela também é melhor
lembrada. Por conveniência, falemos também acerca
dela, referindo-nos ao termo geral ‘poesia’”.

Entendes o que lês?, Gordon Fee & Douglas Stuart, Vida Nova, 1984,p.167
Por que a poesia? Ela prima pela linguagem concisa, o uso de imagens
vívidas, colocados na forma adequada. Segundo Robert Alter, poesia é isto: "as
melhores palavras na ordem exata".
Isso pode ser observado em todos os livros proféticos, os quais contêm
uma quantidade substancial de poesia, e vários são exclusivamente poéticos.

Os profetas-poetas também fazem uso de trocadilhos, como em Am 8.12 e


Is 5.7.

Nesta passagem, o profeta escreve: "Esperava juízo (mishpat) e eis


derramamento de sangue (mispach); justiça (tsedhaqah), e eis clamor
(tse'aqah)".
Os profetas e os paralelismos hebraicos

O que é o paralelismo?

É um recurso da poesia hebraica com objetivo mnemônico, a fim de ajudar o


processo de memorização do texto. É um auxílio aos ouvintes, pois a mesma ideia é
apresentada duas vezes, com pequenas variações. Além disso, o paralelismo favorece
a meditação. Pela repetição, o poeta, sem muita pressa, dá realce a uma ideia, o que
aumenta seu efeito retórico. É uma das características marcantes da poesia hebraica,
cuja rima é de ideias ou pensamentos e não da coincidência de final de versos. O
conceito de paralelismo foi desenvolvido por Robert Lowth, em 1753, que identificou
três tipos de paralelismo: sinonímico, antitético e sintético.
1. O paralelismo sinonímico - A segunda linha, ou a linha subsequente,
repete ou reforça o sentido da primeira linha, como em Isaías 44.22:

“Apaguei as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados, como a


nuvem”.

2. O paralelismo antitético - A segunda linha, ou a linha subsequente,


contrasta o pensamento da primeira, como em Oseias 7.14:

“Não clamam a mim com sinceridade, mas gemem no leito”.

3. O paralelismo sintético - A segunda linha, ou a linha subsequente,


acrescenta à primeira algo que, de qualquer maneira, forneça mais
informações, como em Obadias 21:

“Os vencedores subirão ao monte de Sião para julgar o monte de Esaú; e o


reino será do Senhor ” .
Figuras de linguagem nos livros proféticos
Para entendermos melhor os textos das Escrituras, é necessário que
saibamos diferenciar o que denominamos linguagem figurada (ou
conotativa) e linguagem literal (ou denotativa).
As duas modalidades de linguagem, que também utilizamos hoje, eram
usadas nos tempos antigos e as vemos nos textos bíblicos.
Nem tudo na Bíblia devemos entender literalmente, assim como
devemos saber quando a palavra ou frase tem sentido figurado. É literal
quando dizemos: “Vi um leão no zoológico”, mas a linguagem é figurada
quando digo: “Meu pai quando não gosta vira um leão”.
É incrível como leão pode ter significados diversos. Na Bíblia, leão
figuradamente pode significar ao mesmo tempo Cristo (Ap 5.5) e diabo (1ª
Pe 5.8). Estudemos hoje algumas figuras de linguagem que ocorrem
frequentemente nas páginas das Escrituras, notadamente nos textos
proféticos.
Símile e metáfora
O símile (literalmente, "semelhança") é a comparação de uma coisa com
outra, geralmente através de um "como" ou "assim como".
O exemplo clássico vem de Aristóteles: "Aquiles avançou como um leão".
"como o faminto que sonha que está a comer" (Is 29.8).
"como descem a chuva e a neve" (Is 55.10,11).
"a filha de Sião é deixada.... como palhoça no pepinal" (Is 1.8)
O profeta Isaías em 1:18, mediante dois símiles familiares, dá a conhecer
as promessas de Deus relativas ao perdão e à limpeza. "Ainda que os vossos
pecados são como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda
que são vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã."
O profeta Isaías também nos diz também: "Os perversos são como o mar
agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo."
O mesmo profeta compara os justos a um jardim regado e um manancial
inesgotável. (57:20 e 58:11).
A metáfora (literalmente, "transferência") é, de certa forma,
uma comparação abreviada, em que a palavra ou locução que
expressa a semelhança (o "como") é omitida.
Em outras palavras, no símile a comparação é explícita, o que
não é o caso da metáfora. Entre os exemplos bíblicos clássicos
estão: "vós sois o sal da terra" (Mt 5.13); "não temais, ó
pequenino rebanho" (Lc 12.32); "ide dizer a essa raposa" (Lc
13.32).
Outros exemplos de figura: Lm 3.56; Zc 14.4; Obadias 18.

Uma metáfora pode também ser ampliada, transformando-se,


então, numa alegoria. Umas das alegorias mais marcantes do AT é
Pv 5.15-23, onde se compara fidelidade matrimonial com a prática
de beber água do próprio poço.
Metonímia é, portanto, o ato de
designar ou dar um nome a algo com
base, não em semelhança, mas num
relacionamento ou associação. Esse
relacionamento pode ser de causa
pelo efeito ("ferir com a língua", Jr
18.18)
Em Is 22.22, “a chave da casa de
Davi” transmite a idéia de controle
sobre a casa real.

Outros exemplos interessantes


ocorrem em Am 5.18,19; Ml 3.2; Ap
1.10.
Perguntas retóricas
Estas são perguntas que nunca são respondidas, porque dispensam
resposta. Um exemplo é Jr 32.27: "acaso, haveria coisa demasiadamente
maravilhosa para mim"?

A litote afirma algo pela negação do oposto. Assim, o salmista canta:


“coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus” (SI 51.17). E lsaías
diz: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega” (ls
42.3).
Ironia - Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se
quer dizer, porém sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido
verdadeiro.

Vale-se da mesma figura o profeta Elias quando no Carmelo disse aos


sacerdotes do falso deus Baal: "Clamai em altas vozes . . . e despertará",
dando-lhes a compreender, por sua vez, que era de todo inútil gritarem. (1 Reis
18:27.)
Quiasmo
O termo vem do grego, chiázein, "marcar com duas
linhas como que traçando um x". Consiste em fazer um
arranjo diagonal, em que o primeiro termo se relaciona
com o quarto e o segundo, com o terceiro num esquema
do tipo ABB'A' ou ABCB'A'.

Um exemplo é Is 11.13:
a: Efraim
b: ter inveja
c: de Judá;
c': Judá
b': oprimir
a': Efraim.
A alegoria, que é meramente uma metáfora ampliada e deve ser interpretada
pelos mesmos princípios gerais. Encontramos exemplos no SI 80.8-15 e em Jo
10.1 -18.
Terry faz a seguinte distinção entre a alegoria e a parábola:
“A alegoria é um uso figurado e aplicação de algum fato presumível ou
história, ao passo que a parábola é, ela mesma, o fato presumível ou a
história. A parábola usa palavras no seu sentido literal e sua narrativa nunca
ultrapassa os limites do que poderia ter sido fato real. A alegoria
continuamente usa as palavras num sentido metafórico e sua narrativa,
embora presumível em si mesma, é manifestamente fictícia”
Ainda outra alegoria nos apresenta o povo israelita sob as figuras de uma
vinha em lugar fértil, a qual, apesar dos melhores cuidados, não dá mais que
uvas silvestres, etc. Também esta alegoria está acompanhada de sua
explicação correspondente – "Porque, a vinha do Senhor dos Exércitos é a
casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do Senhor", etc. (Isa.
5:1-7).
APÓSTROFE – É uma figura usada pelo orador, no discurso, ou escritor para se dirigir a alguém
como se estivesse presente ou a alguma coisa como se tivesse ouvidos para ouvir. A apóstrofe
consiste em interromper subitamente para se dirigir ou invocar alguém ou coisa, presente,
ausente, real ou imaginária. Em 1ª Coríntios 15.55, Paulo se dirige à morte como se ela fosse
uma pessoa e pudesse ouvir. Veja mais: Is 14:12,13; 52.9; Ap 6.16.
"Ah, Espada do Senhor, até quando deixarás de repousar? Volta para a tua bainha, descansa, e
aquieta-te" (Jeremias 47:6).
As palavras dirigidas ao caído monarca da Babilônia (Isaías 14:9-32) constituem uma das
apóstrofes mais vigorosas da literatura.
A apóstrofe, empregada por oradores hábeis, é na maioria dos casos a forma mais
eficiente e persuasiva da retórica.
"Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca" (Deut. 32:1).
Estas palavras nos fazem lembrar de Jeremias que disse: "Ó terra, terra, terral ouve a palavra
do Senhor" (Jeremias 22:29). Constitui uma forma mui enfática de reclamar atenção e realçar a
importância do que se fala.

PROSOPOPÉIA – É a figura de linguagem em que se atribuem qualidades e ações humanas a


coisas inanimadas. É também chamada de personificação: Is 55:12;
SÍMBOLOS –Estes oferecem dificuldade ao ler as Escrituras. Porém, a
familiaridade com eles pode ajudar na leitura e compreensão dos símbolos:

Abelha, símbolo dos reis da Assíria (Is 7:18), os quais em seus escritos
profanos (hieróglifos) também são representados por esta figura; às vezes
simboliza também, de um modo geral, um poder invasor e cruel. (Dt 1:44; Sl
118:12.)

Adultério, infidelidade, infração do pacto estabelecido e consequente


símbolo da idolatria, especialmente entre o povo que tem conhecido a
verdade. (Jr 3:8,9; Ez 23:37; Ap 2:22.)

Arco, símbolo de batalha e de vitória (Ap 6:2); às vezes também de engano,


porquanto se pode quebrar ou atirar o falso. (Os 7:16; Jr 9:3.)

Árvores, as altas, símbolo de governantes. (Ez 31:5-9); as baixas, símbolo do


povo comum. (Ap 7:1; 8:7.)
Babilônia, símbolo de um poder idólatra que persegue as
igrejas de Cristo, referindo-se de um modo particular ao
poder romano, pagão e papal. (Is 47:12; Ap 17:13; 18:24.)

Balança, símbolo de trato integro e justo. (Jó 31:6.) Tratando-


se da compra de viveres, simboliza a escassez. (Lv 26:26; Ez
4:16; Ap 6:5.)

Berilo, prosperidade, magnificência. (Ez 1:16; 28:13.)

Besta, símbolo de um poder tirano e usurpador, porém às


vezes só de um poder temporal qualquer. (Dn 7:3,17; Ez
34:28.)

Bosque, símbolo de cidade ou reino, representando suas


árvores altas os regentes ou governadores. (Is 10:17-34;
32:19; Jr 21:14; Ez 20:46).
Braço, símbolo de força e poder; braço nu e
estendido significa o poder em exercício. (Sl 10:15;
Is 52:10; Ex 6:6.)
Casamento, símbolo de união e fidelidade no pacto
ou aliança com Deus e por conseguinte da
perfeição. (Is 54:1-6; Ap 19:7; Ef 5:23-32.)

Cavalo, símbolo de equipamento de guerra e de


conquista (Zc 10:3); símbolo também da rapidez (Jl
2:4); ir a cavalo ou "subir sobre as alturas", designa
domínio (Dt 32:13; Is 58:14.)

Chave, símbolo de autoridade, do direito de abrir e


fechar. (Is 22:22; Ap 1.18; 3:7; 20:1.)
Crocodilo ou dragão, símbolo do Egito, e em geral
de todo poder anticristão. (Is 27:1; 51:9; Ez 29:3; Ap
12:3; 13:1.)
O sol, a lua e as estrelas simbolizam as autoridades superiores
e secundárias. (Is 24:21,23; Jl 2:10; Ap 12:1.)

Embriaguez, símbolo da loucura do pecado (Jr 51:7); e da


estupidez produzida pelos juízos divinos. (Is 29:9.)

Fogo, símbolo da Palavra de Deus (Jr 23:29; Hb 3:5); símbolo


também de destruição (Is 42:25; Zc 13:9); de purificação (Ml
3:2); de perseguição (1 Pe 1:7); de castigo e sofrimento

Leão, símbolo de um poder enérgico e dominador. Am 3:8; Dn


7:.4; Ap 5:5.)

Leopardo (tigre), símbolo de um inimigo cruel e enganoso. (Ap


13:2; Dn 7:6; Is 11:6; Jr 5:6; Hb 1:8.)

Medir (partir, dividir), símbolo de conquista e possessão. (Is


53.12; Zc 2:2; Am 7:17.)
Montanha, símbolo de grandeza e estabilidade. (Is 2:2; Dn 2:35.)

Sega, época da destruição. (Jr 5:33; Is 17:5; Ap 14:14-18).

Terremoto, símbolo de agitação violenta no mundo político e social. (Jl


2:10; Ag 2:21; Ap 6:12.)

Uvas, as maduras, símbolo de gente madura para o castigo (Ap 14:18); as


recolhidas, símbolo de gente levada em cativeiro. (Jr 52:28-32.)

Vento, impetuoso, símbolo de conturbação; detido, símbolo de


tranqüilidade. (Ap 7:1; Jr 25:31, 33.)

Vinha, símbolo de grande fecundidade; vindima, símbolo de destruição.


(Jr 2:21; Os 14:7; Ap 14:18, 19.)
Antropopatismos e antropomorfismos
- textos em que Deus é apresentado
como se tivesse sentimentos
humanos (ira, "arrependimento", etc.)
e forma humana (braço, mão, etc.),
são, na verdade, metáforas.
Exemplos disso podem ser vistos
em Gn 6.6 (ver ISm 15.29);
Is 65.2; Is 30.30; Is 49.16; Is 59.15-16;
Na 1.3.

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