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Os materiais e jogos colocados ao alcance das crianças obedecem à própria temática dos
cantos; por exemplo, os livros no espaço, para ouvir e contar histórias; as tintas, os lápis, as colas,
as tesouras, os pincéis nos espaços junto às mesas de trabalho; os brinquedos na casinha de
bonecas; os jogos de montar nos tapetes ou nas mesas. Entre os pesquisadores espanhóis que dão
suporte teórico a esse modo de organizar o espaço, temos Zabalza e Fornero(1998).
Sintetizando o que foi exposto, concluímos que o espaço é algo socialmente construído,
refletindo normas sociais e representações culturais que não o tornam neutro e, como
conseqüência, retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Podemos afirmar que o
lugar da sala de aula está organizado com suas paredes, aberturas, com sua iluminação, com seu
arejamento. Entretanto existe um espaço a ser povoado, com cores, com objetos, com distribuição
de móveis. Ele deve ser definido pelo professor e por seus alunos em uma construção solidária
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Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático.
De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98.
Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – IES Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena
Pós-Graduação Lato Sensu
PROFª Ms: IEDA MARIA BRIGHENTI
fundamentada nas preferências das crianças, nos projetos a serem trabalhados, nas relações
interpessoais, entre outros fatores. O que observamos via de regra é que os professores se
apoderam dos espaços, decorando-os e organizando-os a partir de uma visão centralizadora da
prática pedagógica, excluindo as crianças disso. Na educação infantil, encontramos com freqüência,
paredes com bichinhos da Disney, figuras da Mônica e Cebolinha, “caprichosamente” colados, sem
nenhuma interferência das crianças que habitam o espaço. Entre as conseqüências que isso
acarreta, poderíamos citar uma ”infantilização” do processo de aprendizagem, como se as crianças
não pudessem trabalhar com outros enredos que não esses, e como se elas não pudessem ter
vontade própria.
Por fim, como já afirmamos o espaço nunca é neutro, pois carrega em sua configuração,
como território e lugar, signos e símbolos que o habitam. Na realidade, o espaço é rico em
significados, podendo ser “lido” em suas representações, mostrando cultura em que está inserido
através de ritos sociais, de colocação e de uso de objetos, de relações interpessoais, etc. Por meio
da leitura das “paredes e das organizações dos espaços” das salas de aula de instituições de
educação infantil, é possível depreender que concepção de criança e de educação o educador tem.
Planejar atividades, fazer uma boa organização do trabalho na creche oferece, segurança às
crianças, possibilitando-as desde pequenas, compreenderem a forma como as situações sociais que
vivem são geralmente organizadas. Com isso elas têm mais autonomia, pois percebem
regularidades e mudanças, rotinas e novidades e podem então orientar seus próprios
comportamentos.
Entretanto, devemos considerar a riqueza da dinâmica social típica do ser humano, sempre
em movimento, sempre repensando significações. Daí que, planejar atividades não se refere
propriamente à previsão de uma seqüência de atos que serão obrigatoriamente cumpridos, cabendo
ao educador controlar para que as crianças participem obedientemente da mesma. Tal idéia
contraria a visão de criança ativa, motivada, capaz de decidir, que busca agir com o outro, a interagir
com ele.
Uma proposta para creche envolveria a organização de variadas atividades, com diferentes
materiais e em espaços físicos determinados para grupos de crianças. Nestas atividades o educador
cuidaria de interagir com as crianças e de favorecer a interação entre elas e delas com objetos,
espaços, situações enfim disponíveis. No ambiente organizado, busca-se o equilíbrio entre aquilo
que é novo para a criança, ocasiões para ela explorar e descobrir, e aquilo que é familiar, momentos
em que retoma ações, brincadeiras.
Como organizar o espaço?
Pesquisas têm demonstrado que áreas semi-abertas, criadas por divisórias de pouca altura,
permitem as crianças se certificarem, pelo olhar, que o educador está por perto e possibilitam que
um número reduzido de parceiros se reúna em torno de uma zona estruturadora de atividades. Tais
zonas podem ser um escorregador, uma casinha de bonecas, um canto para guardar carrinhos
maiores como em garagem, cabides com várias roupas, bolsas, chapéus, guarda-chuvas
dependurados, etc.
A organização do espaço físico, portanto pode ser uma boa solução, desde que não haja um
número excessivo de crianças ocupando o espaço. Zonas estruturadas ao redor de certos temas
como: casinha, cabeleireira, vendinha, posto de gasolina, canto de leitura etc., dão oportunidade
para que as crianças se associem em pequenos grupos e desenvolvam atividades em grande parte
sugeridas pelos “cenários” destas zonas de atividades. Peças simples podem servir para estruturar
cantinhos com cenários e enredos mais definidos (por exemplo, grandes caixas onde as crianças
podem fazer de conta que se escondem na floresta, ou que andam de trem etc.).
Brincadeira
Atenção individual
Um ambiente aconchegante, seguro e estimulante
Contato com a natureza
Higiene e saúde
Alimentação sadia
Desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão
Movimentos em espaços amplos
Proteção, afeto e amizade
Expressar seus sentimentos
Uma atenção especial durante seu período de adaptação
Desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa.
Concluindo, queremos lembrar que nada adianta o espaço mudar se a atitude do educador não
mudar também, e que é de fundamental importância o educador planejar pensando na criança e não
só em que é mais cômodo para si.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
HORN, M.G.S. Sabores,cores,sons,aromas: a organização dos espaços na educação infantil.Porto
Alegre : Artmed, 2004.
FOUCAULT,M. Vigiar é punir. Petrópolis, RJ : Vozes , 1989.
OLIVEIRA, Z.M.R.( Org.) Educação infantil: muitos olhares. 5ed. São Paulo: Cortez, 2001.
OLIVEIRA,Z.M.O.;ROSSETI-FERREIRA,M.C.;MELLO, A.M. Creches: crianças, faz de conta & cia.
11ed.Petrópolis, RJ : Vozes, 2002.
Hoje, na grande maioria das creches, as crianças brincam, dormem, fazem atividades,
almoçam tudo na mesma sala, em uma estrutura objetivada no controle, na vigilância do adulto e
numa concepção de criança incapaz de envolver-se e manter-se na mesma atividade sem a
mediação do adulto. Em geral, são orientadas para atender as necessidades dos adultos ou do
grupo como um todo.
Sabemos, portanto, que a maioria das creches atendem famílias de baixa renda onde o número
de crianças é muito grande para poucos profissionais. Há ainda a precariedade de equipamentos,
mobílias, recursos materiais ou quando os tem, geralmente, são usados de forma inadequada
pelos/as profissionais.
O espaço deve ainda promover sensação de segurança e confiança, provocador das diversas
formas de expressão: gráfica, motora, musical, etc, e promover interação criança-criança, criança-
adulto e criança-objeto, promover o bem estar, oportunidades para o contato social, privacidade para
o crescimento e por fim, promover a identidade pessoal. Enfim, os espaços organizados para uma
pedagogia da educação infantil devem ter como objetivo a vivência plena da infância, partindo dos
princípios da educação infantil.
Como organizar os espaços para proporcionar a vivência plena da infância nas creches
Primeiramente, diremos que o espaço tem que mudar juntamente com a atitude do educador,
porque não adianta ter um espaço rico que garanta todos os direitos da criança, se o educador não
mudar a sua prática.
Na hora de planejar o espaço, deve-se ter como apoio os princípios da Educação Infantil, que
são; cuidar e educar de forma indissociável; complementaridade das ações com as da família;
criança como sujeito de direitos e que se expressa por múltiplas linguagens e diversidade.
-->O projeto do/a educador/a deve estar coerente com a organização do espaço, pois o/a bom/o/a
educador/a é aquele/a que também planeja o ambiente;
-->E, para garantir tudo isso, não necessariamente, precisamos excluir ou quebrar com as estruturas
das creches base existentes. Basta termos boa vontade e criatividade e, principalmente,
acreditarmos e nos encorajarmos na construção de uma pedagogia para a infância.
Estamos apresentando aqui, alguns exemplos da creche que hoje existe. Com algumas idéias
simples, acreditamos poder mudar algumas questões importantes no cotidiano das instituições.
Nas salas onde as crianças fazem as atividades poderemos colocar espelhos com prateleiras,
com diversos objetos como: boné, fantasias, chapéus, pinturas...
Nos trocadores, colocar bichinhos nas paredes, móbiles baixos, permitindo que as crianças
brinquem com eles, mas variando para que não fiquem sempre os mesmos;
Pode-se fazer escadas com degraus baixos, e colocar ao redor dos berços colchões para que
as crianças não se machuquem se caírem;
Na entrada da creche ou sala pode-se colocar um túnel com ou sem janelas, feitas com caixas
de geladeira. A criança entrará dentro dele e descobrirá muitas coisas legais, e os pais podem e
devem participar junto com as crianças;
O parque pode proporcionar à criança um ambiente estimulante se for também planejado, eis
algumas dicas:
Podemos criar uma estrutura que aproveite os cantos do parque, com bancadas, pias com
torneiras, pneus para as crianças se sentarem. Assim pode-se utilizar o espaço fazendo oficina de
argila, desenhos, pinturas, brincadeiras de massinha, etc;
Um toco de madeira pintado que servirá de banquinho;
Caixas de madeira podem ser penduradas nos muros (servem de bercinho, fogãozinho);
Fazer um cantinho para a estória do livro com banquinhos para elas se sentarem, e um espaço
para colocar os livros enquanto estiverem brincando no parque;
Nos muros podem ser feitos desenhos pelas próprias crianças para ficar bem mais alegre o
parque;
Deve ter caixa de areia fina, areia de praia, barro, gravetos.
Referências Bibliográficas:
KISHIMOTO, Tizuko Mochida. Jogos Infantis: o jogo, a criança e educação. 5ªed. Petrópolis,RJ:
Vozes,1993.
_________________. Jogo, brinquedo, brincadeira e a Educação. 3ªed. São Paulo; Cortez, 1999.
Quantos cantos?
Uma média de cinco a seis crianças por proposta é um bom número, sendo assim uma sala de 30
crianças poderá ter de cinco a seis cantos com propostas diferentes. Este número é uma sugestão,
cada professor deve decidir na situação qual é o melhor número.
De olho no relógio
O tempo de permanência das crianças nos cantos está ligado à grade de horários da escola. Afinal,
os pequenos precisam experimentar diferentes propostas: momentos mais coletivos, individuais, em
pequenos grupos, em duplas. Deve ser um tempo que permita a exploração e dedicação em
algumas atividades, na medida certa do interesse da criança. É sempre bom terminar uma atividade
com gosto de “quero mais” para o dia seguinte. Ter uma constância de propostas que vão sendo
incrementadas ao longo dos dias ajuda as crianças a aprenderem a aprofundar seus
conhecimentos, tanto no que diz respeito à natureza lúdica das propostas, quanto à natureza de
conhecimento que os objetos e as interações proporcionam.
Em algumas instituições educativas, professores acham que podem substituir um espaço diário
desta proposta por um único dia da semana inteiro com cantos ou ainda utilizando mais tempo em
apenas dois dias da semana. É melhor a constância da proposta e em menor tempo, mesmo porque
há tantas outras atividades necessárias no dia a dia. Vale intercalar momentos nos quais a
condução da sala é realizada pelo professor (quando há uma intencionalidade específica do ensino
e aprendizagem, com propostas mais dirigidas) com outros nos quais crianças e professor
compartilhem as ações.
Saídas criativas
Mais do que material, são necessárias propostas e idéias para compor os cantos. A educadora
Maria do Socorro Feitosa, do CEI da Mina, por exemplo, nos ensina o que podemos fazer com
caixas de papelão. Quem vê hoje os cantos convidativos desta instituição não pode imaginar como
era antes. A diretora e a coordenadora do CEI da Mina assumem que consideravam não ter
condições financeiras para oferecer às crianças propostas instigantes nos cantos. Hoje, O RCNEI é
um documento que se constitui a partir das concepções de criança, infância e educação, e oferece
diretrizes curriculares a todos que atuam na área de Educação Infantil. Volumes disponíveis no site:
www.mec.gov.br
O Copolímero de Etileno-Acetato de Vinila (EVA) é comercializado em formato de placas macias e
sem cheiro e não é um material tóxico. Por ser material leve e de fácil manuseio vem sendo utilizado
na fabricação de brinquedos,artesanatos variados e também na indústria de calçados.
Rosangela e Ana riem desta observação ao verem quanto estão modificando os espaços das salas.
Lembram de quando tiveram formação com a equipe do Instituto Avisa Lá e assistiram ao vídeo “Prá
que Canto eu Vou?”, que trazia ricas situações de atividadesorganizados com diferentes materiais.
Comentaram que achavam que a creche do filme devia ser muito rica, mas quando souberam que a
instituição passava também por dificuldades, se animaram. Novas saídas foram encontradas: idas a
sebos para adquirir livros mais em conta, campanhas para arrecadação de material, oficina de
construção de brinquedos e jogos e, sobretudo, contar com uma formação continuada dos
educadoresque apóia soluções criativas para ampliar as possibilidades de trabalho com as crianças.
Educador atuante
Aprender a gerir o espaço, saber cuidar dos materiais de uso coletivo é um desafio para as crianças.
No início, é o adulto que dá o norte para esta organização, mas deve incluir gradativamente as
crianças neste aprendizado. Nesse sentido, rodas de conversa prévias e posteriores à organização
dos cantos ajudam as crianças a irem construindo autonomia no uso do espaço coletivo.
Observar e registrar estes momentos de cantos diversificados, bem como construir portfolios com as
diferentes propostas que dão certo no dia-a-dia educativo ajudam a construir um olhar mais apurado
para as necessidades das crianças.
O professor precisa tomar cuidado para não escolarizar as propostas na configuração do ambiente.
Lembrar que a disposição das carteiras, por exemplo, deve ser mudada: arrastadas, empilhadas,
mesas cobertas com tecidos viram cabanas ou divisórias de ambientes e assim por diante. Numa
casinha de faz-de-conta, uma simples toalha em cima da mesa já tira o ar de carteira escolar. E por
que não usar mais o chão: pistas de carrinhos, construção, esteiras ou almofadas para leitura?
Sobretudo deve-se olhar para que direção vai a brincadeira das crianças e o interesse nas
atividades,fazendo-as participar, sabendo incluí-las cada vez mais na organização do ambiente, o
que compreende, é claro, montar e desmontar os cantos. Todos ajudam nesta tarefa!
Uma forma de intervenção educativa é pensar na modificação do ambiente, concebendo-o como
parte integrante do currículo, sempre com informações culturais.Quando se oferecem trenas e fita
métricas num canto de faz-de-conta de marcenaria, cria-se um contexto interessante para as
crianças poderem usar estes instrumentos que foram inventados para a medição.
Também vale introduzir novos cantos e incrementar ainda mais os já existentes, pois certamente a
procura pela novidade será intensa, causando disputas. Assim, se um professor leva pela primeira
vez uma casinha de bonecas de papelão com cinco bonecas tipo manequim, é evidente que terá
uma grande procura por este espaço. Sabendo disso de antemão, pode propor atividades que sejam
instigantes: quem sabe numa das mesas deixar massinha com novos apetrechos, propor no canto
Faça Você Mesmo a construção de mobília para a casinha de bonecas, usando para isso tocos de
madeira, cola, tecido, revistas sugerindo a decoração da mobília ou fazer nova casa de bonecas. De
qualquer forma, quando acontece uma “superlotação” num dos cantos é preciso fazer combinados
e ver uma forma de rodízio das crianças. Se há um jogo novo que todos querem jogar, quem sabe
estipular uma partida por grupo? Nada que uma boa conversa não resolva.
Mil cantos
No CEI da Mina, os professores planejam diferentes cantos no decorrer da semana. A
seguir, algumas propostas já desenvolvidas:
��Cantos de Jogos: trilhas, baralho, dados, pega-varetas, bolinha de gude, pião, cinco marias,
jogos de construção tipo monta-tudo, pequeno engenheiro ou retalhos de madeira, super trunfo (jogo
da Grow), jogo da velha na lousa ou qualquer outro jogo gráfico etc.
��Cantos de Faz-de-Conta: casinha, marcenaria, sorveteria, pizzaria, veterinário,lavanderia,
escritório, carreto, navio pirata, nave espacial, uso de diferentes maquetes, tais como: cenários para
dinossauros, fazendinha, casinhas para bonecas miniaturas, ambientes para super heróis, pistas
para carrinhos etc.
��Canto Faça Você Mesmo: aqui o que está em jogo é a construção dos brinquedos: fazer teatro
de sombra e personagens para brincar, confeccionar pipa, fazer massinha caseira, boneca de papel,
iô-iô, aviãozinho, inventar novas formas de brincar de cama-de-gato etc.
��Cantos de Expressão Plástica: modelagem, desenho, pintura, recorte e colagem,impressão com
carimbos, apreciação de livros e imagens de artes, caixas de imagens etc.
��Canto de Leitura: deixar à disposição livros de literatura, jornais, revistas, gibis, etc. A equipe do
CEI da Mina arrumou cantos de leitura com banquetas especiais feitas com caixas de papelão
cheias de jornal; encapadas e decoradas para servirem de uma espécie de sala de estar de leitura.
��Canto da Curiosidade Científica: pode ser recheado com matérias instigantes sobre assuntos
de natureza e sociedade que estão sendo estudadas ou então que digam respeito à curiosidade
infantil. Fichário com coleções de cartões postais de diferentes países e regiões brasileiras, guias
turísticos, revistas de viagens, livros sobre animais, paisagens, globo terrestre, lupas e outros
materiais de pesquisapodem estar à disposição nestes momentos.
Muitas vezes, temos um certo receio da palavra política, porém, ao pensarmos a educação que
pretendemos oferecer para as crianças que irão viver em nosso país nos próximos anos, podemos
constatar que a escrita de um projeto educacional, além de pedagógico, é também uma decisão
profundamente política.
“A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-
las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a
oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso
com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.”
Hannah Arendt
“O campo da política é o do diálogo no plural que surge no espaço da palavra e da ação – o mundo
público – cuja existência permite o aparecimento da liberdade.”
Hannah Arendt
Construir um Projeto Político-Pedagógico de uma escola é poder exercitar a política, pois ela é um
produto da ação/diálogo dos seres humanos no espaço coletivo. Discutir, elaborar, argumentar,
confrontar, decidir são ações que exercitam a criatividade e a tolerância de todos e que colocam as
idéias e a vida em movimento, criando e gestando um novo contexto. A construção de um Projeto
Político-Pedagógico pode fazer avançar e instalar um novo modo de viver a experiência educativa
da instituição.
A nossa Lei de Diretrizes e Bases (LDB n. 9.394/96) define, em seu artigo 12, que os
estabelecimentos de ensino, ao elaborarem uma Proposta Pedagógica, precisam respeitar as leis e
normas comuns do país e, também, estar de acordo com aquelas do seu sistema de ensino. Isto é,
a proposta não pode ferir as leis maiores como a Constituição Federal, a Declaração dos Direitos
das Crianças (ONU), o Estatuto da Criança e do Adolescente, a LDB e as normas dos Sistemas
Estaduais ou Municipais.
Podemos ter, como segundo item, a CONTEXTUALIZAÇÃO, na qual se faz uma apresentação das
características gerais da comunidade, das famílias residentes, do bairro, na qual se analisa a
situação de empregabilidade, o nível de escolarização dos adultos e jovens e as aspirações
educativas da comunidade. Temos muitos modos de realizar este trabalho: trazendo pessoas da
comunidade para informar, organizando pesquisas em que visitamos as famílias e procuramos
conhecer um pouco mais da comunidade, entrevistando lideranças, lendo os dados estatísticos do
perfil do bairro, etc. Conhecemos, assim, as características de identidade da comunidade escolar.
Estes dados brutos, levantados empiricamente, precisam ser interpretados e é também neste
Muitas vezes, neste momento de análise, podemos contar com técnicos que nos auxiliem a
interpretar e compreender a realidade que emerge dos dados e dois campos disciplinares podem
nos ser úteis neste momento: a sociologia e a antropologia.
Agora talvez venha uma das partes mais importantes do PPP, que são os PRINCÍPIOS
EDUCACIONAIS. Os princípios não precisam ser muitos, nem extensos, o importante é que sejam
pontos de vista compartilhados por todos e que possam vir a ser operacionalizados no dia-a-dia da
educação. Creio que, inicialmente, é fundamental ter uma perspectiva mais abrangente sobre a
sociedade e sobre o papel da educação e da escola nesta sociedade, retirando daí os seus
princípios gerais. Numa sociedade que defende a democracia, é importante que valores como a
igualdade, a participação, a solidariedade e a felicidade sempre sejam lembrados. É preciso também
afirmar a especificidade do nosso trabalho educativo, que será realizado com crianças muito
pequenas (de 4 meses até 6 anos). Assim, ter claro uma concepção de infância, dos seus direitos,
de suas identidades pessoais, de suas potencialidades humanas, lembrando que estas concepções
precisam permear todos os integrantes da instituição. Refletir sobre os valores que acreditamos
serem fundamentais para as crianças também nos leva a pensar as práticas pedagógicas para a
construção social destes sujeitos. Se o que pretendemos é formar seres sensíveis, criativos,
brincalhões, não podemos construir uma proposta em que as crianças precisem ficar muito tempo
em atividades dirigidas, disciplinares, em salas cheias de mesas e cadeiras. Isto é, nossas
concepções promovem um tipo de organização do ambiente de trabalho e de interação entre as
crianças que, conseqüentemente, terá efeitos na construção dos sujeitos.
Como as instituições de Educação Infantil têm os seus objetivos visivelmente centrados no cuidar e
educar3, é preciso constituir muita clareza conceitual sobre estes dois aspectos para não torná-los
extremamente simples, pois ambos são conceitos complexos que, além de serem discutidos a partir
do sentido comum para educadores, pais, crianças podem também ser alimentados pela filosofia,
antropologia, pedagogia, psicologia. As visões sobre o cuidar e educar e a sua inter-relação irão
colaborar na elaboração das perspectivas do projeto político-pedagógico e darão elementos de
identidade para a escola. Também as relações educativas entre as crianças como grupo social, as
relações entre as educadoras e as crianças e entre os adultos entre si são temas de importante
discussão.
É preciso que na própria Proposta Político-Pedagógica das instituições, seja explicitado como ela
será implementada e também como serão realizados seu acompanhamento e sua avaliação. Isto é,
é preciso formular uma proposta de acompanhamento da execução desta proposta, verificando
como a mesma se desdobra na prática. Uma Proposta Político-Pedagógica é um documento de
compromisso com as crianças brasileiras e com a sua educação, assim a instituição, como espaço
público, deve constantemente estar abrindo o diálogo e a reflexão coletiva sobre o seu PPP, na
tentativa de não sedimentar apenas a experiência vivida, mas confrontá-la com a prática, com os
seus efeitos, com seus ganhos e perdas e, assim, poder estar em constante reflexão e em
permanente reconstrução.
E o regimento interno?
O Regimento Interno de um centro ou escola de Educação Infantil vai tentar especificar direitos e
deveres das crianças e adultos (os professores, administração e funcionários), também vai dispor
acerca do calendário escolar, dos dias letivos, da forma de organização dos grupos, da classificação
dos alunos, da progressão escolar, da freqüência, do modelo de gestão, da administração das
finanças e pessoal, da supervisão do trabalho docente, da formação em serviço dos educadores, da
integração escola-comunidade, das funções dos diferentes setores, etc.
Alguns Sistemas de Ensino estão solicitando que as escolas ou centros de Educação Infantil
elaborem Planos de Estudos, isto é, que descrevam quais seriam as noções6 que deveriam ser
adquiridas no decorrer de certo tempo de presença na instituição freqüentando por determinado
grupo.
Referências bibliográficas
Brinquedoteca
Espaço criado para atender necessidades lúdicas e afetivas
A sabedoria, que deveria iluminar os processos educacionais, perdeu-se quando
desrespeitou a importância desse momento em que a criança brinca com tranqüilidade, exercendo o
seu direito e seu dever de crescer harmonicamente, desenvolvendo o potencial que Deus lhe deu>
Talvez tenhamos parado poucas vezes para observar crianças brincando, mas se o fizermos, vamos
aprender muito sobre elas, não somente sobre elas mas, principalmente, sobre os caminhos que
levam o ser humano à construção da sua inteligência, do seu conhecimento e da sua felicidade.
As brinquedotecas surgiram para resgatar a infância e proporcionar à criança o
acesso ao mundo mágico de brincar. Elas representam o reconhecimento do direito de brincar e a
valorização do brinquedo como fonte de desenvolvimento e equilíbrio. É importante ressaltar que a
brinquedoteca não é apenas um lugar que tem muitos brinquedos, mas uma instituição baseada
numa proposta educacional voltada para a criatividade e afetividade.
A infância tem que ser respeitada, a criança não é um adulto em miniatura. As
necessidades lúdicas e afetivas da criança tem a mesma importância que as suas necessidades
físicas, se não as atendermos, estaremos desperdiçando as melhores oportunidades de tornar a
criança integrada e capaz de ser feliz. São os desafios encontrados na vivência das diferentes
experiências, que vão provocar a construção do conhecimento da criança. Sentindo, percebendo,
pensando, a criança descobre o mundo e pode ser atraída pelos seus encantos e mistérios.
No jardim da infância tem início um período onde a criança vê o mundo através de forma mágica.
Objetos e cores mudam conforme seu próprio arbítrio.A sala para Educação Infantil dispõe do
espaço e materiais necessários para dar livre curso à fantasia da criança: pedaços de madeira,
sementes, panos, papel, tintas de aquarela, lápis de cera, massinha de modelar, bolas variadas,
bonecas pouco elaboradas, que possibilitem a imaginação da criança, são os utensílios
necessários.Na idade pré-escolar, a atuação da criança, desenvolve-se em grande parte, sob a
simples forma de brinquedo. No brincar a criança tem oportunidade de satisfazer sua curiosidade,
experimentando e descobrindo múltiplos materiais. O modo de brincar da criança é influenciado pela
imitação e pela fantasia.
Com seus colegas estabelece contatos sociais, ampliando seu campo de atuação, vivenciando
diferentes atitudes e avaliando suas possibilidades como participante de um grupo. Importa lembrar
a adequação que os brinquedos devem ter, com relação às diferentes etapas do desenvolvimento
infantil, para que possam contribuir positivamente à realização de cada criança.
Outra ferramenta importante no Jardim da Infância são os contos de fadas. O conteúdo dos contos
sempre se refere às grandes verdades de vida e morte, bem e mal. A criança vivencia diariamente
os conteúdos dos contos de fadas.O Espaço Bem Viver trabalha somente com 20 crianças por
período e conta com duas professoras e uma auxiliar.
As crianças não são separadas por idades, mas por atividades. Circulam e brincam livremente nas
três salas que compõem o Espaço. O ambiente dessas salas é muito importante, há mesas grandes,
para que as crianças tenham uma vivência do social nas refeições ou em algumas atividades. A sala
se compõe também de pequenos ambientes como "o quarto das bonecas", a "venda", ou a
"cozinha". Há cavaletes, pregadores e panos para construção de cabanas. O material oferecido é
variado e natural: como sementes, conchas, pedras, toquinhos, lã de carneiro e panos grandes.
É estimulada a dramatização – que para a criança é real- e oferecido no ambiente capas, saias e
outras fantasias. Para os maiores, tarefas da vida e organizacionais como: cozinhar, arrumar, fazer
pão e geléias, consertar brinquedos, cortar, costurar, lidar com diferentes materiais e texturas etc.
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Para os menores, a importância do desenvolvimento dos sentidos.
O pátio do Espaço Bem Viver é muito arborizado com árvores frutíferas, caixas de areia, água,
balanças, escorregadores, pontes, galinheiro e ovelha. As atividades diárias tem horário definido ,
assim como as atividades semanais tem seu dia certo. Há o horário para brincar dentro da sala e
outro para brincar fora. Busca-se, constantemente, o cultivo dos bons hábitos de higiene, nutrição,
veneração, respeito e socialização.A música é um importante meio de cultivo da arte para as
crianças.Além do canto que povoa não só a parte rítmica, mas todo o tempo e comando de
atividades, usamos alguns instrumentos adequados aos primeiros anos do desenvolvimento:
Kantele, xilofone e em alguns casos a própria flauta doce.
Desses, o principal é a Kântele. Seu som suave e envolvente leva calma às crianças. A maneira de
segurá-lo é através de um gesto envolvente e acolhedor. As cordas são quase acariciadas. As
crianças do Jardim da Infância, de cinco a seis anos de idade experimentam a Kântele uma vez por
semana. Por sua suavidade, educa o ouvir e desenvolve qualidades como atenção, concentração e
veneração.
O Espaço Bem Viver cria um ambiente propício para a formação e não com as informações ou
ensino formal. A criança deve sentir-se como em um prolongamento do lar e não na ante-sala do
ensino escolar.As festas das estações, celebradas no decorrer do ano, ajudam as crianças a entrar
no ritmo do ano. Através de canções, danças, teatros, histórias, artes e comidas, muitas tradições
são vivenciadas. A maneira como é trazida para as crianças no Jardim Waldorf a passagem pelo
tempo, dá forma a sua natural reverência pela natureza e um sentido de continuidade e segurança.
Afinal, é o ritmo que traz às crianças a maior confiança no mundo exterior. Ela sabe o que vai
acontecer e adquire auto confiança
Educação Infantil vem se constituindo enquanto espaço de inúmeras discussões; a cada dia cresce
o número de trabalhos que se propõe a refletir sobre essa fase. Mas infelizmente ainda encontramos
muitas lacunas no modo como essa educação vem sendo desenvolvida na prática. Nesse sentido é
que nos propomos a apresentar algumas sugestões de como podemos explorar essa fase
fundamental na formação das crianças.
Não temos a pretensão de fornecer “receitas”, mas sim de listar algumas alternativas que
possibilitem o professor dar alguns passos em direção a um ensino de qualidade, já que desde a
Educação Infantil podemos auxiliar na formação de cidadãos menos individualistas e mais críticos e
participativos na sociedade.
Para conseguirmos esses objetivos concordamos com Kramer (1994), quando afirma que os
professores devem estar em permanente formação, pois assim terão a oportunidade de “construir” e
“reconstruir” suas práticas pedagógicas.
Algumas idéias...
A Educação Infantil enquanto fase inicial da educação formal tem o poder de despertar na criança o
gosto pela leitura, escrita e matemática entre muitos outros. Isso vai depender da forma como essa
criança é estimulada e incentivada.
• O professor enfeita uma caixa de papel e cola um espelho no fundo. Ela será entregue ao
professor na porta da sala de aula. O mesmo ficará muito feliz ao recebê-la. Depois de abrir a
caixa, o professor relatará sua alegria ao receber aquele presente e instigará os alunos a
descobrirem o que há na caixa. Cada aluno é convidado a ver o que há na caixa. É importante
que a criança não comente com os colegas o que viu. Á medida que as crianças se vêem no
espelho sentem uma grande alegria. O professor deve aproveitar a oportunidade e trabalhar a
auto-estima e o valor de cada um na sala de aula.
• Criar com a turma um cartaz de “combinados” através de discussões sobre o que podemos
ou não fazer na escola. O professor pode aproveitar a oportunidade e refletir com as crianças
sobre algumas questões de boas maneiras, como: cumprimentar, despedir, agradecer, pedir
licença, dizer “por favor”, desculpar-se, ser gentil e elogiar quando necessário.
• Como forma de estimular o valor de cada aluno é importante na Educação Infantil um
trabalho com os nomes. O crachá é um importante recurso e deve conter o primeiro nome,
escrito em letra de imprensa maiúscula. O professor pode explorar várias atividades com o
mesmo, entre elas: crianças organizadas em círculo e os crachás no meio. O professor fala o
nome de uma criança que deve pegar o seu crachá e colocar na sua frente, no chão, de modo
visível a todos. Outra forma é colar os crachás no quadro e pedir que cada aluno reconheça o
seu e busque-o.
• Na área livre da escola o professor desenha várias casinhas no chão, cada uma com uma
letra. Os alunos devem ficar em círculo e de posse com seus crachás. O professor mostra e diz
uma letra. As crianças que possuem aquela letra no início do seu nome devem correr e entrar na
casinha daquela letra. A brincadeira continua com o professor mostrando e “cantando” outras
letras.
• Cada criança receberá uma folha com a primeira letra do seu nome, para fazer um trabalho
artístico. Poderá utilizar palitos de fósforo, brocal, raspas de pontas de lápis de cor, giz de cera,
entre outros. Os trabalhos devem ser expostos para toda escola.
• As crianças gostam de serem úteis, portanto, o professor pode sortear diariamente, no
início das atividades, uma dupla de alunos para serem os ajudantes da sala. Os nomes dessas
crianças podem ser fixados em um cartaz próprio para a função.
• Para explorar a matemática o professor pode contar com a turma diariamente o números de
crianças presentes na sala e questionar: Quantos somos hoje? Há mais, meninos ou meninas?
Quantas crianças estão ausentes?
• A sala de Educação Infantil também não pode deixar de ter um calendário. O professor deve
chamar a atenção de todos para os aniversários da turma, para as datas comemorativas, dias da
semana, meses do ano, numerais, entre outros.
Algumas considerações
Como podemos perceber essas alternativas para a Educação Infantil são simples, mas
quando utilizadas podem conduzir a resultados fantásticos. Através do lúdico as crianças com
certeza serão mais alegres, felizes e motivadas.
Bibliografia
INTRODUÇÃO
Buscando uma perspectiva de sucesso para o desenvolvimento e aprendizagem do educando no
contexto da educação infantil o espaço físico torna-se um elemento indispensável a ser observado.
A organização deste espaço deve ser pensada tendo como principio oferecer um lugar acolhedor e
prazeroso para a criança, isto é, um lugar onde as crianças possam brincar, criar e recriar suas
brincadeiras sentindo-se assim estimuladas e independentes. Diferentes ambientes se constituem
dentro de um espaço. De acordo com Horn (2004, p. 28):
É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas,
transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é
entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa
relação não se constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter
ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se definem
com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço organizado.
O espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo com a faixa etária da criança,
isto é, propondo desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas
potencialidades. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio social em
que a criança está inserida. Gandini (1990, p.150) diz que: “o espaço reflete a cultura das pessoas
que nele vivem de muitas formas e, em um exame cuidadoso, revela até mesmo as camadas
distintas dessa influência cultural”.
Reconhecendo que a criança é fortemente marcada pelo meio social em que se desenvolve, e que
também deixa suas próprias marcas neste meio, que tem a sua família como o seu principal
referencial, apesar de todas as relações que ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil
deve priorizar remeter a história da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de
saberes entre as crianças. Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998,
vol 1, p. 21-22): “as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem
com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da
realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressifignificação”. As
interações que ocorrem dentro dos espaços são de grande influência no desenvolvimento e
aprendizagem da criança.
O educador não deve ser visto como figura central do processo de ensino aprendizagem, mas sim
como alguém mais experiente que aprende e permite ao educando aprender de forma mais lúdica
possível. Devemos destruir a crença de que a criança só aprende se um professor ensinar, e de que
só o professor é responsável pelo desenvolvimento de todas as potencialidades da criança. A
criança através do meio cultural, da suas interações com o meio seja em um trabalho individual ou
coletivo é a verdadeira construtora do seu conhecimento. De acordo com Oliveira (2000, p.158):
Os espaços construídos para criança e com a criança devem ser explorados pela mesma, em uma
relação de interação total, de aprendizagem, de troca de saberes entre os pares, de liberdade de ir e
vir, de prazer, de individualidades, de partilhas, enfim, de se divertir aprendendo.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada baseada em revisão bibliográfica, sendo considerados os seus principais
referenciais teóricos: Vygotsky, Horn, Lima, Oliveira, Z. Oliveira, Referencial Curricular para a
Educação Infantil e Gandini, os quais discutem a importância da interação entre os pares e da
organização dos espaços do brincar, na Educação Infantil.
Segundo Piaget citado por Kramer (2000, p. 29): “o desenvolvimento resulta de combinações entre
aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio [...] e que os esquemas de
assimilação vão se modificando progressivamente, considerando os estágios de desenvolvimento”.
Todo ser humano carrega desde sua concepção conhecimentos e através da interação com o meio
vai desenvolvendo estes conhecimentos. Piaget considera a interação indivíduo / meio apenas sem
considerar as interações entre as crianças e suas diferentes culturas. Vygotsky já enfatiza a troca de
conhecimentos que ocorrem através das interações entre individuo / meio/ individuo.
Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é
essencial ao seu desenvolvimento”. (apud DAVIS e OLIVEIRA, 1993, p. 56). Portanto um ambiente
estimulante para a criança é aquele em que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde
ela sinta o prazer de pertencer a aquele ambiente e se identifique com o mesmo e principalmente
um ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares. Um ambiente que permite que
o educador perceba a maneira como a criança transpõe a sua realidade, seus anseios, suas
fantasias. Os ambientes devem ser planejados de forma a satisfazer as necessidades da criança,
isto é, tudo deverá estar acessível à criança, desde objetos pessoais como também os brinquedos,
pois só assim o desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua
socialização dentro das suas singularidades.
Os espaços devem ser organizados de forma a desafiar a criança nos campos: cognitivo, social e
motor. Oportunizando a criança de andar, subir, descer e pular, através de várias tentativas, assim a
criança estará aprendendo a controlar o próprio corpo, um ambiente que estimule os sentidos das
crianças, que permitam a elas receber estimulação do ambiente externo, como cheiro de flores, de
alimentos sendo preparados. Sentindo a brisa do vento, o calor do sol, o ruído da chuva.
Experimentando também diferentes texturas: liso, áspero, duro, macio, quente, frio. Carvalho &
Rubiano (2001, p.111) dizem que: “a variação da estimulação deve ser procurada em todos os
sentidos: cores e formas; músicas e vozes; aromas e flores e de alimentos sendo feitos;
oportunidades para provar diferentes sabores”.
Todos os ambientes construídos para crianças deveriam atender cinco funções relativas ao
desenvolvimento infantil, no sentido de promover: identidade pessoal, desenvolvimento de
competência, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança, bem como
oportunidades para contato social e privacidade.
Brincar para a criança é principalmente estar presente no ambiente, se constituindo como individuo
e compartilhando significados. Brincar em um ambiente aconchegante, que retrate a identidade da
criança e de livre acesso ao mesmo, é fundamental no seu desenvolvimento, visto que se estará
promovendo a interação entre criança / criança, criança / educador e até mesmo respeitando os
momentos em que a criança prefere brincar sozinha, pois só assim se respeitará a individualidade
da criança. Segundo Carvalho & Rubiano (2001, p.109):
...é altamente recomendável que ambientes institucionais ofereçam oportunidade para as crianças
desenvolverem sua individualidade, permitindo-lhes ter seus próprios objetos, personalizar seu
espaço e, sempre que possível participar nas decisões sobre a organização do mesmo.
De acordo com Horn (2004, p. 71): “o brinquedo satisfaz as necessidades básicas de aprendizagens
das crianças, como, por exemplo as de escolher, imitar, dominar, adquirir competências, enfim de
ser ativo em um ambiente seguro, o qual encoraje e consolide o desenvolvimento de normas e
valores sociais”. Ajuda no desenvolvimento da confiança em si mesmo e em suas capacidades e,
em situações sociais, ajuda-os a julgar as muitas variáveis presentes nas interações sociais e a ser
empático em relação aos outros. As crianças que brincam em diversos ambientes ricos de
informações e demonstram interesse por estar ali brincando, adquirem conhecimentos e transmitem
conhecimentos, através da interação com seus pares. Sendo eles os próprios construtores do seu
conhecimento com a mediação de alguém mais experiente. De acordo com Fantin (2000, p. 53) :
Brincando (e não só) a criança se relaciona, experimenta, investiga e amplia seus conhecimentos
sobre si mesma e sobre o mundo que está ao seu redor. Através da brincadeira podemos saber
como as crianças vêem o mundo e como gostariam que fosse, expressando a forma como pensam,
organizam e entendem esse mundo. Isso acontece porque, quando brinca, a criança cria uma
situação imaginária que surge a partir do conhecimento que possui do mundo em que os adultos
agem e no qual precisa aprender a viver.
Ao brincar a criança expressa seus anseios, sua maneira de como está percebendo o mundo que a
cerca e principalmente está vivendo a sua infância. Tem também suas necessidades satisfeitas que
são: adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos e entendimentos coerentes e lógicos.
Reconhecendo-se em um meio e como parte do mesmo, ela cria sua própria brincadeira interagindo
com todos que a rodeiam. Temos aí então a importância de se oferecer um espaço povoado de
objetos disponíveis e acessíveis à criança.
A INTERVENÇÃO DO EDUCADOR
O brincar é sempre estruturado pelo ambiente, pelos materiais ou contexto em que ocorre. Ao
educador cabe então participar como uma pessoa mais experiente, que deverá intervir quando
necessário e também ter uma participação quando perceber o interesse da criança em tê-lo como
parceiro nas brincadeiras, possibilitando assim, o desenvolvimento da criança, proporcionando
momentos de interação, acesso à cultura, permitindo a criança principalmente viver a sua própria
infância. De acordo com Lima (2001, p.27) :
A criança desde o nascimento necessita da mediação do outro para se desenvolver, portanto o meio
sozinho não dá conta de desenvolvê-lo e é aí que entra o papel do educador e dos colegas através
das relações. Segundo Carvalho (2003, p.154): “ao estruturar e organizar continuamente sua sala, o
educador favorece o envolvimento das crianças em brincadeiras entre elas, sem necessidade de
interferência direta; dessa forma ele fica mais disponível para aquelas crianças que procuram
interagir com ele”.
Podemos dizer então que o educador torna-se o mediador entre crianças e os objetos de
conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os
recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus
conhecimentos prévios. O educador constitui-se portanto, um parceiro mais experiente, cuja função
é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável de experiências educativa e social
variadas.
O que acontece é que muitas vezes o educador, tem a visão de que: proporcionar a criança o
brincar é deixá-la fazer o que quer e onde quer, sem considerar a brincadeira como um processo de
organização, de recíproca, de troca de saberes. Cabe ao educador confiar nas crianças e valorizar o
seu agir contribuindo para ampliação das descobertas e não apenas estar ao seu lado permitindo
toda e qualquer ação. O educador deve considerar a brincadeira segundo o Referencial Curricular
Para a Educação Infantil (1998, vol 1, p. 28): “como um meio de poder observar e constituir uma
visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular,
registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos
recursos afetivos e emocionais que dispõe”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Referencial Curricular Para a Educação Infantil. Vol. 1. Brasília: MEC/SEI, 1998.
CARVALHO, Maria Campos de. Porque as crianças gostam de áreas fechadas? Espaços
circunscritos reduzem as solicitações de atenção do adulto. In: FERREIRA, Maria Clotilde Rosseti.
Os Fazeres na Educação Infantil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003. cap.47.
CARVALHO, Maria Campos de; RUBIANO, Márcia R. Bonagamba. Organização dos Espaços em
Instituições Pré-Escolares. In: OLIVEIRA, Zilma Morais. (org.) Educação Infantil: muitos olhares. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2001.