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Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – IES Instituto Superior de Educação do Vale do Juruena

Pós-Graduação Lato Sensu


PROFª Ms: IEDA MARIA BRIGHENTI

Curso: EDUCAÇÃO INFANTIL


Disciplina: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO EM
EDUCAÇÃO INFANTIL
PROFª Ms: IEDA MARIA BRIGHENTI

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Todos os direitos reservados aos autores dos artigos contidos neste material didático.
De acordo com a Lei dos Direitos Autorais 9610/98.
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Pós-Graduação Lato Sensu
PROFª Ms: IEDA MARIA BRIGHENTI
ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E O ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Gislei Rondom

Para a criança, o espaço é o que sente o que vê o que faz nele.


Portanto, o espaço é sombra e escuridão;é grande, enorme ou, pelo contrário
Pequeno; é poder correr ou ter que ficar quieto, é esse lugar onde
Pode ir olhar ler, pensar.
O espaço é em cima, embaixo, é tocar ou não chegar a tocar; é barulho
Forte, forte demais ou, pelo contrário, silêncio, são tantas cores, todas
Juntas ao mesmo tempo ou uma única cor grande ou nenhuma cor....
O espaço,então,começa quando abrimos os olhos pela manhã em
Cada despertar do sono; desde quando, com a luz, retornamos ao espaço.
(Fornero, apud Zabalza, 1998, p.231)

PASSOS DO ESPAÇO NA TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL


Inicialmente, é importante considerarmos que, no Brasil, a educação infantil percorreu um
longo caminho, o qual, em certos momentos, vinculou-se à saúde em seus pressupostos higienistas;
em outros, à caridade e ao amparo à pobreza e, em outros ainda, à educação. Nessa trajetória, toda
política de educação infantil emanada do poder público se caracterizou, de um lado , por um jogo
“de empurra” e, de outro, por uma visão acintosamente assistencialista.
Como conseqüência da própria trajetória histórica da educação infantil, diferentes momentos
emergiram nas propostas de trabalho desenvolvidas nas instituições de educação infantil no Brasil.
A produção científica foi largamente ampliada, e as pesquisas sobre a infância, em suas diferentes
dimensões, influenciaram em muito o referencial pedagógico para essa etapa de ensino.
Organizar o cotidiano das crianças na Escola Infantil pressupõe pensar que o
estabelecimento de uma seqüência básica de atividades diárias é, antes de tudo, o resultado da
leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É
importante que o educador observe o que as crianças brincam como estas brincadeiras se
desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaço prefere ficar, o que lhes chama mais
atenção, em que momentos do dia estão mais tranqüilos ou mais agitados. Este conhecimento é
fundamental para que a estruturação espaço-tempo tenha significado. É importante, também
considerar o contexto sociocultural no qual insere a proposta pedagógica da instituição, que deverá
lhe dar suporte.
Falar de espaços, no âmbito educacional, implica resgatar, inicialmente, referências teóricas
de autores que contribuem para essa discussão. Pensando em discutir o espaço educacional sob a
perspectiva da arquitetura, a contribuição de Nayme Lima (1989) não pode ser desconsiderada,
sobretudo no destaque que dá a abordagem histórica do espaço escolar: Sua ênfase recai sobre o
modo como o espaço interfere no disciplinamento das crianças e no controle dos movimentos
corporais. Suas considerações acerca desse tema nas décadas de 1950 e 1960, resultado de
estudos realizados nas escolas públicas de São Paulo, mostram que os espaços escolares não
eram muito diferentes dos da França e da Inglaterra do século XIX. Tais espaços impunham ordem
e disciplina em detrimento às necessidades das crianças. A própria planta dos prédios escolares
previa os espaços como modo de controle da disciplina, com salas de aula organizadas com filas de
classes, corredores de circulação estreitos, etc. Nesse sentido, seus estudos evocam os postulados
de Foucault.
Seguindo nesta direção, seria interessante, antes de tudo, refletir a respeito das idéias
Foucoultianas, principalmente no que se refere ao Panóptico de Bentham.
Essas idéias explicitam o Panóptico de Bentham como sendo a figura central de uma
construção em anel que circundava uma torre. Nela, largas janelas se abriam sobre o lado interno
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do anel. A construção periférica era dividida em selas que tinham duas aberturas: uma voltada para
o interior e outra para o exterior.
Dentro dessa estrutura, o vigia vê a todos, mas eles não se vêem. Dessa forma, elimina-se a
possibilidade de ações coletivas, como a organização de complôs pelos prisioneiros, a violência
desencadeada nos loucos, o contágio que podem sofrer os doentes, a dispersão e o barulho que um
grupo de crianças pode fazer. Como se percebe, o princípio é que o coletivo deve ser evitado.
Refletindo sobre alguns espaços de educação infantil, encontramos certa relação com essas
idéias quando verificamos de modo geral, os educadores têm preferências por realizar trabalhos
dirigidos, feitos individualmente, não prevêem espaços para tarefas coletivas e têm dificuldades de
orientar seu trabalho para escolhas feitas pelas crianças sem sua constante vigilância e
ordenamento. Na verdade há uma intencionalidade de quem organiza os espaços, pensados
principalmente para que todas as atividades girem em torno do adulto.
Foucault entende a escola como algo limitado a um espaço fechado, assim como
encontramos em outras instituições disciplinares de controle, como prisões e quartéis. Refere-se
ainda a uma tripla função ( produtiva, simbólica e disciplinar) do trabalho, a qual também poderia ser
aplicada ao espaço escolar, entendendo-o como algo segmentado, no qual ocultamento e
aprisionamento lutam contra visibilidade, abertura e transparência.
Sobre tal assunto, Fischer (1999, p.48) afirma que as construções de diferentes instituições,
como quartéis, hospitais e escolas, inspiravam-se em modelos que evidenciavam a premissa de que
o importante era a possibilidade de o vigilante ver a todos sem ser visto; porém, provocando a
sensação nos observados de estarem sendo vigiados, instalando o controle de cada um.
Na realidade os espaços escolares sempre foram organizados para controlar e vigiar a ação
infantil. É importante considerar que tais considerações não refletem apenas a realidade do Brasil e
não estão distantes de nossa atualidade. Recentemente a mídia divulgou que, em uma localidade
dos Estados Unidos, foram instalados nas escolas sistemas eletrônicos de controle sobre todos os
seus espaços. Isto caracteriza a implantação do que podemos chamar “panóptico tecnológico”.
No entanto, Lima (1989) apontou algumas modificações no modo como as escolas, mais
especificamente as salas de aula, organizam seus espaços. Os estrados foram retirados, e os
cantos de castigo desapareceram; porém na realidade, isso não significou que tenham, de fato, “sido
retirados”. Muitas vezes, o modo de conduzir a prática docente por parte dos professores reflete a
existência do estrado, das classes enfileiradas, etc., mesmo sem a concretude disso.
Em geral, quando o educador organiza a sala de aula fora da rotina das classes enfileiradas,
a simples modificação de tal disposição lhe causa transtornos que o fazem retomar antigas práticas.
Sem dúvida, isso reforça o papel centralizador da professora que se desorganiza ante a
possibilidade do “diferente”.
A dificuldade de alguns educadores em trabalhar “com corpos que se movimentam” é muitas
vezes evidente. Por muito tempo, se afirmou a estratégia de se controlar o pensamento das crianças
por meio do controle dos movimentos.
A maioria das escolas brasileiras ainda oferece um espaço que determina a disciplina, em
uma relação de mão única, na qual a criança é mantida em uma mobilidade artificial. Na educação
infantil, são comuns os arranjos espaciais não permitirem a interação entre as crianças,
impossibilitando sua apropriação dos espaços através de objetos, desenhos e nomes. A própria
prática docente desenvolvida em muitas instituições de educação infantil defende o espaço como
aliado ao controle dos corpos e dos movimentos considerados importantes no que é entendido como
“pré-alfabetização”.
Na maioria das Instituições de educação infantil, percebemos que sempre existe um “lugar
nobre” destinado a mesas e cadeiras, e ao quadro-negro, o que legitima o fato de estar sentado,
estar desenhando, pintando,recortando; cada criança com seu lápis, com suas tintas, com sua
tesoura. Em geral, essa organização do espaço de uma sala de aula quadrada ou retangular, onde
as mesas ocupam o lugar central e, encostados nas paredes, os livros (quando existem), a prateleira
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de jogos, os brinquedos da “casinha”, o local para dependurar trabalhos e mochilas. Paralelamente a
isso, os professores parecem ignorar que o ato de brincar/jogar é algo muito sério para a criança, e
que ela pode aprender interagindo com objetos, explorando e descobrindo o mundo.
É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as
pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções. Essa qualificação do
espaço físico é que transforma em um ambiente.
Forneiro (1998) afirma que um dos critérios que devem ser considerados quando pensamos
em espaços desafiadores e provocadores de interações e aprendizagens na educação infantil é a
possibilidade dessa organização espacial ser transformada. Para isso , os móveis devem ser
flexíveis, os objetos e materiais devem estar diretamente relacionados às situações imprevisíveis
que ocorrem ao longo da jornada de trabalho e que não foram necessariamente planejadas.
Podemos inferir que o espaço e tempo não são esquemas abstratos nos quais desemboca a
prática escolar. Ao contrário disso, a arquitetura escolar é por si só, o que materializa todo um
esquema de valores, de crenças, bem como o marcos da atividade sensorial e motora. Sendo
assim, ela está inserida em uma cultura e a desvela, em suas formas, arranjos e adornos, cujos
estímulos seriam transmitidos por mediação dos adultos e de práticas culturais.
Froebel e Montessori foram os grandes precursores da importância da organização do
espaço na metodologia do trabalho com crianças pequenas. Já legitimavam um espaço organizado
para crianças pequenas, o qual procura integrar princípios de liberdade e harmonia interior com a
natureza, propondo um arranjo espacial em ambientes muito diferentes dos vividos na época deles
por crianças com menos de seis anos. A grande inovação da época foi o fato de adequar os
espaços às necessidades das crianças pequenas.
O modelo educativo de Froebel previa uma educação integral e harmônica que terá
correspondência em um projeto arquitetônico com espaços abertos e fechados. Os chamados
jardins-de-infância deveriam ter diferentes espaços, destacando-se os externos como maiores e
mais significativos. Podemos resumir sua pedagogia em alguns princípios, como o contato da
criança com a natureza, a percepção e a abstração das formas geométricas, a observação desses
objetos. Nesta proposta destaca-se a importância dos jogos que desenvolvem a capacidade criadora
dos alunos, utilizando-se materiais simples, como bolas, cilindros e cubos.
Baseada nas idéias de liberdade, de atividade e de independência, Maria Montessori,
desenvolveu uma metodologia para trabalhar com crianças de três a seis anos, na qual se
destacavam os cuidados físicos e a educação dos sentidos. De acordo com Montessori (1948), uma
das condições essenciais de sua proposta era permitir as manifestações livres das crianças. Um dos
principais objetivos da metodologia Montessoriana era disciplinar pela atividade e pelo trabalho, em
um espaço onde os alunos se movimentassem com liberdade na escolha de tarefas a serem
realizadas. Sob essa ótica, o planejamento considera a criança em sua relação com os objetos. Por
isso, os materiais eram especialmente construídos a fim de desenvolver todos os sentidos e todas
as noções espaciais, os quais refletiam a vida doméstica e foram pontos referenciais da
metodologia. Evidencia-se uma preocupação constante com a organização de um ambiente onde
crianças pudessem descentrar da figura do adulto. Isto é, o controle passa do educador para o
ambiente.
Assim sendo, a beleza do ambiente e o desafio dos objetos, por si só, deveriam estimular as
crianças a agir. Podemos observar, o destaque especial na metodologia montessoriana era o
equipamento, os materiais e o mobiliário. Além de tudo ser adequado ao tamanho da criança,
também permitia que mesas, cadeiras e poltronas de palha ou de madeiras fossem transportadas
por elas. Pias com altura acessível aos alunos, estantes com cortinas coloridas, aquário com peixes
e quadro-de-giz compunham o ambiente.
O significado histórico do método Montessori se traduz também, entre outros aspectos, pela
valorização da arte e estética. Os ambientes infantis eram decorados com obras de arte, o que, de
certo modo, aproximava e introduzia a criança no mundo das artes.

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Atualmente, vem-se acentuando o reconhecimento da importância dos componentes do
ambiente sobre o desenvolvimento infantil e, conseqüentemente, sua influência sobre a prática
pedagógica nas instituições de educação infantil.
A organização dos espaços internos das instituições nos denominados “cantos” é hoje uma
realidade em muitas escolas de educação infantil em diferentes partes do mundo. Em alguns países
europeus, como a Itália, na Região de Reggio Emilia, e a Espanha, nas Escolas Municipais de
Barcelona, houve uma mudança significativa na forma de conceber os espaços internos,
desenvolvendo-se uma proposta pedagógica que visou à descontração da figura do adulto na
prática cotidiana, o que possibilitou mais autonomia por parte das crianças.Esses modelos tem sido
uma referência mundial para educação infantil.
No Brasil, recentes estudos sobre organização de espaços, como os de Campos de Carvalho
(1989), Campos de Carvalho e Rossetti-Ferreira (1993), Campos de Carvalho, Rubiano e Rossetti-
Ferreira (1989), Rubiano (1990), Rubiano e Rossetti-Ferreira (1992), Rubiano e Silva (1993) também
constataram a importância do papel da organização de espaços na prática pedagógica desenvolvida
com crianças de o há três anos pelos educadores. Os espaços considerados mais bem organizados
foram os de organizações semi-abertas, caracterizados por zonas circunscritas. Os pesquisadores
constataram que, quanto mais aberta e indefinida a estruturação do espaço, maior a concentração
de crianças em torno do educador. Os diferente cantos das salas de aula são separados por
estantes, prateleiras, móveis possibilitando à criança visualizar a figura do adulto, mas não precisar
dele para realizar diferentes atividades.Nesse modo de organizar o espaço, existe a possibilidade de
as crianças se descentrarem da figura do adulto, de sentirem segurança e confiança ao explorarem
o ambiente , de terem oportunidades para contato social e momentos de privacidade.
Na realidade espanhola, encontramos em quase todas as escolas infantis municipais, a
organização do espaço em cantos temáticos, limitados por estantes baixas, por móveis, etc. O
registro de uma experiência observada em Barcelona, em uma escola infantil, retrata a organização
espacial em arranjo semi-aberto, onde destacam os diferentes cantos.

A organização da rotina se faz, principalmente, a partir dos horários destina-


Dos à alimentação, à higiene, ao sono e às atividades individuais e coletivas
Das crianças, tendo como referência básica a organização das salas de aula
Em cantos e recantos, o que permite a atuação do adulto, com bastante descontração
De sua figura frente aos alunos. Os cantos considerados fixos são
O de casa de bonecas, o de biblioteca, o da higiene, o da música. Ao lado destes,
Existem os que vão mudando conforme o projeto desenvolvido
Pela professora, ou conforme datas comemorativas importantes, ou de acordo com os
Interesses das crianças. Exemplos de recantos registrados durante o tempo
Que observava a escola foi: o do carnaval, porque está data é bastante
Festejada em Barcelona, o da tartaruga porque as crianças trabalhavam em
torno deste tema.....(Horn, 1998,p.34)

Os materiais e jogos colocados ao alcance das crianças obedecem à própria temática dos
cantos; por exemplo, os livros no espaço, para ouvir e contar histórias; as tintas, os lápis, as colas,
as tesouras, os pincéis nos espaços junto às mesas de trabalho; os brinquedos na casinha de
bonecas; os jogos de montar nos tapetes ou nas mesas. Entre os pesquisadores espanhóis que dão
suporte teórico a esse modo de organizar o espaço, temos Zabalza e Fornero(1998).
Sintetizando o que foi exposto, concluímos que o espaço é algo socialmente construído,
refletindo normas sociais e representações culturais que não o tornam neutro e, como
conseqüência, retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Podemos afirmar que o
lugar da sala de aula está organizado com suas paredes, aberturas, com sua iluminação, com seu
arejamento. Entretanto existe um espaço a ser povoado, com cores, com objetos, com distribuição
de móveis. Ele deve ser definido pelo professor e por seus alunos em uma construção solidária
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fundamentada nas preferências das crianças, nos projetos a serem trabalhados, nas relações
interpessoais, entre outros fatores. O que observamos via de regra é que os professores se
apoderam dos espaços, decorando-os e organizando-os a partir de uma visão centralizadora da
prática pedagógica, excluindo as crianças disso. Na educação infantil, encontramos com freqüência,
paredes com bichinhos da Disney, figuras da Mônica e Cebolinha, “caprichosamente” colados, sem
nenhuma interferência das crianças que habitam o espaço. Entre as conseqüências que isso
acarreta, poderíamos citar uma ”infantilização” do processo de aprendizagem, como se as crianças
não pudessem trabalhar com outros enredos que não esses, e como se elas não pudessem ter
vontade própria.
Por fim, como já afirmamos o espaço nunca é neutro, pois carrega em sua configuração,
como território e lugar, signos e símbolos que o habitam. Na realidade, o espaço é rico em
significados, podendo ser “lido” em suas representações, mostrando cultura em que está inserido
através de ritos sociais, de colocação e de uso de objetos, de relações interpessoais, etc. Por meio
da leitura das “paredes e das organizações dos espaços” das salas de aula de instituições de
educação infantil, é possível depreender que concepção de criança e de educação o educador tem.

A ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DO ESPAÇO DE ATIVIDADES NA CRECHE

Planejar atividades, fazer uma boa organização do trabalho na creche oferece, segurança às
crianças, possibilitando-as desde pequenas, compreenderem a forma como as situações sociais que
vivem são geralmente organizadas. Com isso elas têm mais autonomia, pois percebem
regularidades e mudanças, rotinas e novidades e podem então orientar seus próprios
comportamentos.
Entretanto, devemos considerar a riqueza da dinâmica social típica do ser humano, sempre
em movimento, sempre repensando significações. Daí que, planejar atividades não se refere
propriamente à previsão de uma seqüência de atos que serão obrigatoriamente cumpridos, cabendo
ao educador controlar para que as crianças participem obedientemente da mesma. Tal idéia
contraria a visão de criança ativa, motivada, capaz de decidir, que busca agir com o outro, a interagir
com ele.
Uma proposta para creche envolveria a organização de variadas atividades, com diferentes
materiais e em espaços físicos determinados para grupos de crianças. Nestas atividades o educador
cuidaria de interagir com as crianças e de favorecer a interação entre elas e delas com objetos,
espaços, situações enfim disponíveis. No ambiente organizado, busca-se o equilíbrio entre aquilo
que é novo para a criança, ocasiões para ela explorar e descobrir, e aquilo que é familiar, momentos
em que retoma ações, brincadeiras.
Como organizar o espaço?
Pesquisas têm demonstrado que áreas semi-abertas, criadas por divisórias de pouca altura,
permitem as crianças se certificarem, pelo olhar, que o educador está por perto e possibilitam que
um número reduzido de parceiros se reúna em torno de uma zona estruturadora de atividades. Tais
zonas podem ser um escorregador, uma casinha de bonecas, um canto para guardar carrinhos
maiores como em garagem, cabides com várias roupas, bolsas, chapéus, guarda-chuvas
dependurados, etc.
A organização do espaço físico, portanto pode ser uma boa solução, desde que não haja um
número excessivo de crianças ocupando o espaço. Zonas estruturadas ao redor de certos temas
como: casinha, cabeleireira, vendinha, posto de gasolina, canto de leitura etc., dão oportunidade
para que as crianças se associem em pequenos grupos e desenvolvam atividades em grande parte
sugeridas pelos “cenários” destas zonas de atividades. Peças simples podem servir para estruturar
cantinhos com cenários e enredos mais definidos (por exemplo, grandes caixas onde as crianças
podem fazer de conta que se escondem na floresta, ou que andam de trem etc.).

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As áreas de atividades permitem que cada criança interaja com um pequeno número de
companheiros, o que é uma situação confortável, especialmente para os menores de três anos que
parecem “se perder” diante do grande número de propostas de ação que costumam surgir no grupo
total de crianças de sua turma. O pequeno grupo possibilita melhor coordenação das ações das
crianças, o que leva a criação de um enredo único de brincadeira, aumentando a troca e
aperfeiçoando a linguagem. Desta forma não há necessidade de o educador atrair a atenção de
todas as crianças, ao mesmo tempo, para si. Com isso as crianças esperam menos para serem
atendidas, ou melhor, aproveitam este tempo em outras atividades interessantes.
Na hora de planejar o espaço, deve-se ter como apoio os princípios da Educação Infantil, que
são cuidar e educar de forma indissociável; complementaridade das ações com as da família;
criança como sujeito de direitos e que expressa por múltiplas linguagens e diversidade.
Apresentaremos alguns exemplos da creche que hoje existe. Com algumas idéias simples,
acreditamos poder mudar algumas questões importantes no cotidiano das instituições.
Nas salas onde as crianças fazem as atividades poderemos colocar espelhos com
prateleiras, com diversos objetos como: boné, fantasias, chapéus, pinturas...
Nos trocadores, colocar bichinhos nas paredes, móbiles baixos, permitindo que as crianças
brinquem com eles, mas variando para que não fiquem sempre os mesmos;
O cantinho dos berços pode oferecer momentos de privacidade, com almofadas, fazendo-se
um ambiente aconchegante para se contar histórias e cantar músicas. Não é necessário que todas
as crianças estejam presentes, pois nem todos dormem ao mesmo tempo;
Podem-se fazer escadas com degraus baixos, e colocar ao redor dos berços colchões para
que as crianças não se machuquem se caírem;
Tocas e cortinas fazem um papel importante na delimitação do espaço;
Quanto mais colocarmos objetos estimulantes no ambiente, mais possibilitará a
intencionalidade educativa.
Na entrada da creche ou sala pode-se colocar um túnel com ou sem janelas, feitas com
caixas de geladeira. A criança entrará dentro dele e descobrirá muitas coisas legais, e os pais
podem e devem participar junto com as crianças;
O parque pode proporcionar à criança um ambiente estimulante se for também planejado, eis
algumas dicas:
Podemos criar uma estrutura que aproveite os cantos do parque, com bancadas, pias com
torneiras, pneus para as crianças se sentarem. Assim pode-se utilizar o espaço fazendo oficina de
argila, desenhos, pinturas, brincadeiras de massinha, etc;
Um toco de madeira pintado poderá servir de barquinho; caixas de madeira podem ser
penduradas nos muros (servem de bercinho, fogãozinho).
Fazer um cantinho para a estória do livro com banquinhos para elas se sentarem, e um
espaço para colocar livros enquanto estiverem brincando no parque;
Nos muros podem ser feitos desenhos pelas próprias crianças para ficar bem mais alegre o
parque;
Deve ter caixa de areia fina, areia de praia, barro, gravetos.
Os educadores podem sair com as crianças para conhecer o espaço fora da creche
ou podem trazer pessoas de fora para vir interagir com as crianças na creche, ampliando o
conhecimento destas acerca do mundo. Um homem da comunidade que trabalha em marcenaria
pode ser chamado para construir alguns brinquedos de madeira com as crianças, ou seu José,
bombeiro aposentado morador da vizinhança, pode ser convidado a contar às crianças histórias de
quando ele trabalhava.

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A proposta pedagógica de uma instituição de educação infantil deve estar fundamentada
numa concepção de criança como cidadã, como pessoa em processo de desenvolvimento, como
sujeito ativo da construção do seu conhecimento, como sujeito social e histórico marcado pelo meio
em que se desenvolve e que também o marca.
Para viabilizar a concretização da proposta é preciso que os espaços sejam projetados de
acordo com a mesma a fim de oferecer o desenvolvimento das crianças de zero a seis anos,
respeitadas as suas necessidades e capacidades. Portanto o imóvel deve apresentar condições
adequadas de localização, acesso, segurança, salubridade, saneamento e higiene em total
conformidade com a legislação.
A organização do espaço deve possibilitar as crianças da educação infantil:

 Brincadeira
 Atenção individual
 Um ambiente aconchegante, seguro e estimulante
 Contato com a natureza
 Higiene e saúde
 Alimentação sadia
 Desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão
 Movimentos em espaços amplos
 Proteção, afeto e amizade
 Expressar seus sentimentos
 Uma atenção especial durante seu período de adaptação
 Desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa.

Concluindo, queremos lembrar que nada adianta o espaço mudar se a atitude do educador não
mudar também, e que é de fundamental importância o educador planejar pensando na criança e não
só em que é mais cômodo para si.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
HORN, M.G.S. Sabores,cores,sons,aromas: a organização dos espaços na educação infantil.Porto
Alegre : Artmed, 2004.
FOUCAULT,M. Vigiar é punir. Petrópolis, RJ : Vozes , 1989.
OLIVEIRA, Z.M.R.( Org.) Educação infantil: muitos olhares. 5ed. São Paulo: Cortez, 2001.
OLIVEIRA,Z.M.O.;ROSSETI-FERREIRA,M.C.;MELLO, A.M. Creches: crianças, faz de conta & cia.
11ed.Petrópolis, RJ : Vozes, 2002.

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O ESPAÇO QUE TEMOS E O ESPAÇO QUE QUEREMOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ana Lúcia Majewski

Hoje, na grande maioria das creches, as crianças brincam, dormem, fazem atividades,
almoçam tudo na mesma sala, em uma estrutura objetivada no controle, na vigilância do adulto e
numa concepção de criança incapaz de envolver-se e manter-se na mesma atividade sem a
mediação do adulto. Em geral, são orientadas para atender as necessidades dos adultos ou do
grupo como um todo.

Sabemos, portanto, que a maioria das creches atendem famílias de baixa renda onde o número
de crianças é muito grande para poucos profissionais. Há ainda a precariedade de equipamentos,
mobílias, recursos materiais ou quando os tem, geralmente, são usados de forma inadequada
pelos/as profissionais.

O que temos hoje é a pedagogia escolarizada, e a que queremos é a pedagogia da educação


infantil. Para que isso ocorra é necessário também planejarmos o espaço (ambiente) afim de que se
tornem significativos e prazerosos para as crianças.

O espaço deve ainda promover sensação de segurança e confiança, provocador das diversas
formas de expressão: gráfica, motora, musical, etc, e promover interação criança-criança, criança-
adulto e criança-objeto, promover o bem estar, oportunidades para o contato social, privacidade para
o crescimento e por fim, promover a identidade pessoal. Enfim, os espaços organizados para uma
pedagogia da educação infantil devem ter como objetivo a vivência plena da infância, partindo dos
princípios da educação infantil.

Como organizar os espaços para proporcionar a vivência plena da infância nas creches
Primeiramente, diremos que o espaço tem que mudar juntamente com a atitude do educador,
porque não adianta ter um espaço rico que garanta todos os direitos da criança, se o educador não
mudar a sua prática.

-->Toda a instituição interna tem que se envolver;


-->Tudo tem que ter como referência a criança;

Na hora de planejar o espaço, deve-se ter como apoio os princípios da Educação Infantil, que
são; cuidar e educar de forma indissociável; complementaridade das ações com as da família;
criança como sujeito de direitos e que se expressa por múltiplas linguagens e diversidade.

-->O projeto do/a educador/a deve estar coerente com a organização do espaço, pois o/a bom/o/a
educador/a é aquele/a que também planeja o ambiente;
-->E, para garantir tudo isso, não necessariamente, precisamos excluir ou quebrar com as estruturas
das creches base existentes. Basta termos boa vontade e criatividade e, principalmente,
acreditarmos e nos encorajarmos na construção de uma pedagogia para a infância.

Estamos apresentando aqui, alguns exemplos da creche que hoje existe. Com algumas idéias
simples, acreditamos poder mudar algumas questões importantes no cotidiano das instituições.

Nas salas onde as crianças fazem as atividades poderemos colocar espelhos com prateleiras,
com diversos objetos como: boné, fantasias, chapéus, pinturas...

Nos trocadores, colocar bichinhos nas paredes, móbiles baixos, permitindo que as crianças
brinquem com eles, mas variando para que não fiquem sempre os mesmos;

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O cantinho dos berços, pode oferecer momentos de privacidade, com almofadas, fazendo-se
um ambiente aconchegante para se contar estórias e cantar músicas. Não é necessário que todas
as crianças estejam presentes, pois nem todos dormem ao mesmo tempo;

Pode-se fazer escadas com degraus baixos, e colocar ao redor dos berços colchões para que
as crianças não se machuquem se caírem;

Tocas e cortinas fazem um papel importante na delimitação do espaço;

Quanto mais colocarmos objetos estimulantes no ambiente, mais possibilitará a


intencionalidade educativa.

Na entrada da creche ou sala pode-se colocar um túnel com ou sem janelas, feitas com caixas
de geladeira. A criança entrará dentro dele e descobrirá muitas coisas legais, e os pais podem e
devem participar junto com as crianças;
O parque pode proporcionar à criança um ambiente estimulante se for também planejado, eis
algumas dicas:
Podemos criar uma estrutura que aproveite os cantos do parque, com bancadas, pias com
torneiras, pneus para as crianças se sentarem. Assim pode-se utilizar o espaço fazendo oficina de
argila, desenhos, pinturas, brincadeiras de massinha, etc;
Um toco de madeira pintado que servirá de banquinho;
Caixas de madeira podem ser penduradas nos muros (servem de bercinho, fogãozinho);
Fazer um cantinho para a estória do livro com banquinhos para elas se sentarem, e um espaço
para colocar os livros enquanto estiverem brincando no parque;
Nos muros podem ser feitos desenhos pelas próprias crianças para ficar bem mais alegre o
parque;
Deve ter caixa de areia fina, areia de praia, barro, gravetos.

Essas e outras idéias de


mudanças na creche foram
elaboradas baseadas em
discussões em aula sobre a
organização do espaço.
Acreditamos assim, que a planta
idealizada com nossas idéias
dará ao leitor uma visão de um
aproveitamento de espaço mais
adequado.

Concluindo, queremos lembrar


novamente que nada adianta o
espaço mudar se a atitude do
educador não mudar também, e
que é de fundamental
importância o educador planejar
pensando na criança e não só
em que é mais cômodo para si.

Referências Bibliográficas:

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COUTINHO, Ângela M. S. As crianças no interior da creche: A educação e o cuidado nos momentos
de sono, higiene e alimentação. Dissertação de Mestrado. Ilha de Santa Catarina, UFSC, Fevereiro
de 2002.

KISHIMOTO, Tizuko Mochida. Jogos Infantis: o jogo, a criança e educação. 5ªed. Petrópolis,RJ:
Vozes,1993.

_________________. Jogo, brinquedo, brincadeira e a Educação. 3ªed. São Paulo; Cortez, 1999.

MUITOS MUNDOS NUMA ÚNICA SALA


Adriana Klisys
Poderosa ferramenta de trabalho com as crianças pequenas, a organização de cantos de atividades
diversificadas ainda não é uma prática usual no Brasil, apesar de antiga em outros países.As
Instituições que experimentam a proposta obtém resultados significativos

A proposta de trabalhar em cantos de atividades diversificadas é uma modalidade de organização


do espaço e do trabalho que oferece várias possibilidades de atividades ao mesmo tempo, de modo
que as crianças possam escolher onde estar e o que fazer.
Tais momentos são diários e acontecem por um período delimitado, entre 40 e 60 minutos. Esses
cantos consideram a necessidade de acesso, por exemplo, a brinquedos e atividades de expressão
plástica, sendo seguidos e/ou precedidos de outras formas de organização do tempo didático,
incluindo atividades, tais como roda de história, leitura, lanche, parque, e também projetos e
seqüências que possuem objetivos específicos de aprendizagem.

Espaço para autonomia


O saudável trânsito da turma pela sala, proporcionado por esta modalidade de organização, é um
momento privilegiado de exercício da autonomia infantil. A criança aprende a escolher e tomar
decisões, responsabilizando-se por suas opções, contando consigo própria e tendo amigos - e não
somente o professor - como parceiros de troca.
O interessante deste modelo de organização é a simultaneidade de propostas. Os rumos do
aprendizado ficam mais nas mãos das crianças. Em geral, tudo funciona bem sem a necessidade de
um direcionamento maior do adulto. O trabalho com cantos não constitui apenas um momento de
aprendizagem da criança, mas também do professor, que aprende a segurar seu impulso de sempre
controlar a situação. De toda maneira, o professor não deixa de garantir seu papel de coordenador
do grupo, na medida em que escolhe a forma de constituir o espaço e propõe desafios ao grupo.
A arrumação da sala em cantos de atividades diversificadas proporciona também um importante
aprendizado para as crianças, o da transformação do próprio ambiente e da descoberta de que
muitos mundos cabem numa única sala de aula! As possibilidades são variados e mutantes:
��Virar as mesas ao contrário e enrolar um pano em volta para formar um barco.
��Empilhar uma mesa virada ao contrário sobre outra e passar um barbante circundando os pés da
mesa virados para cima, para fazer uma barraca de feira.
��Colocar almofadas aconchegantes num canto para ler.
��Delimitar um pedaço de chão com caixotes para fazer uma pista para arremessar bolinha de gude
sem deixar que se espalhem pela sala.

Quantos cantos?
Uma média de cinco a seis crianças por proposta é um bom número, sendo assim uma sala de 30
crianças poderá ter de cinco a seis cantos com propostas diferentes. Este número é uma sugestão,
cada professor deve decidir na situação qual é o melhor número.

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Num canto com apenas um jogo para quatro jogadores, já está dado o limite de crianças na área. Se
o canto da massinha, por sua vez, é muito procurado, deve-se propor uma mesa grande com
espaço para 8 a 10 crianças durante um determinado período.
Observar constantemente o interesse das crianças é necessário para replanejar propostas e não
cair numa rotina acomodada sem desafios.
Em algumas escolas, uma vez por semana, são feitos um ou dois grandes cantos em cada sala. Por
exemplo: um canto bem montado de supermercado, com embalagens, sacolas plásticas, caixas de
papelão que servem como carrinhos de supermercado, caixas registradoras e leitores ópticos
improvisados com sucatas. Os professores deixam as crianças circularem entre as salas, havendo
integração entre as crianças de diferentes idades. Neste caso, por serem amplos, os cantos
contemplam um maior número de crianças. Nos outros dias da semana, as ambientações ocorrem
nas próprias salas, sem integração com os demais grupos de diferentes idades. O CEI da Mina
experimentou esta forma de organização e avalia o aprendizado nestas situações como muito
positivo e instigante.

De olho no relógio
O tempo de permanência das crianças nos cantos está ligado à grade de horários da escola. Afinal,
os pequenos precisam experimentar diferentes propostas: momentos mais coletivos, individuais, em
pequenos grupos, em duplas. Deve ser um tempo que permita a exploração e dedicação em
algumas atividades, na medida certa do interesse da criança. É sempre bom terminar uma atividade
com gosto de “quero mais” para o dia seguinte. Ter uma constância de propostas que vão sendo
incrementadas ao longo dos dias ajuda as crianças a aprenderem a aprofundar seus
conhecimentos, tanto no que diz respeito à natureza lúdica das propostas, quanto à natureza de
conhecimento que os objetos e as interações proporcionam.
Em algumas instituições educativas, professores acham que podem substituir um espaço diário
desta proposta por um único dia da semana inteiro com cantos ou ainda utilizando mais tempo em
apenas dois dias da semana. É melhor a constância da proposta e em menor tempo, mesmo porque
há tantas outras atividades necessárias no dia a dia. Vale intercalar momentos nos quais a
condução da sala é realizada pelo professor (quando há uma intencionalidade específica do ensino
e aprendizagem, com propostas mais dirigidas) com outros nos quais crianças e professor
compartilhem as ações.

“O que vão dizer”


Este questionamento é comum quando professores começam a trabalhar com cantos. Aqui há dois
aspectos a serem contemplados. Primeiro: se o professor realmente acredita na proposta, precisa
também cuidar de informar aos pais e à comunidade o porquê de suas ações educativas. Segundo:
precisamos desmistificar a cisão brincar/aprender. Ou se brinca ou se aprende... por que não os
dois? Por que não integrar aspectos formais e informais na escola, considerar tanto o processo,
como produto?
É preciso, com base no Referencial Nacional Curricular de Educação Infantil,lembrar que o brincar
perpassa tanto o conhecimento de mundo quanto à formação pessoal e social.
Há que se trabalhar momentos de planejamento com a equipe para que todos educadores
percebam a potencialidade e a condição das crianças em se apropriar do espaço da sala e aprender
a compartilhar momentos de convivência sem ter unicamente no adulto a condução das ações. Os
professores aprendem a confiar mais na organização das crianças, na sua possibilidade de pensar e
agir. Aprendem, sobretudo, a não subestimar as capacidades infantis.
É importante que o coordenador e o diretor se engajem neste trabalho tanto para levar sua equipe
de educadores a pensar propostas desafiantes, como para incluir os pais. Gravar em vídeo
momentos de cantos ressaltando a autonomia das crianças, fotografá-las nestas atividades, expor
as fotos em um painel com legendas, escrever textos informativos são excelentes formas de incluir
os pais no projeto educativo da escola, inclusive em campanhas para ajudar na montagem dos
cantos. No Canto do Faz-de-Conta, pais pedreiros, por exemplo, podem ajudar a pensar formas de
representar sua profissão na escola. Trena, pá de pedreiro encapada com E.V.A. 3 para não
oferecer perigo. Baldes e muitas caixas de leite envolvidas com jornal para que fiquem rijas. Tudo

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isso pode formar um kit para brincar de pedreiro. Convidar opai em questão para falar de seu
trabalho pode inclusive incrementar o faz-de-conta.

Saídas criativas
Mais do que material, são necessárias propostas e idéias para compor os cantos. A educadora
Maria do Socorro Feitosa, do CEI da Mina, por exemplo, nos ensina o que podemos fazer com
caixas de papelão. Quem vê hoje os cantos convidativos desta instituição não pode imaginar como
era antes. A diretora e a coordenadora do CEI da Mina assumem que consideravam não ter
condições financeiras para oferecer às crianças propostas instigantes nos cantos. Hoje, O RCNEI é
um documento que se constitui a partir das concepções de criança, infância e educação, e oferece
diretrizes curriculares a todos que atuam na área de Educação Infantil. Volumes disponíveis no site:
www.mec.gov.br
O Copolímero de Etileno-Acetato de Vinila (EVA) é comercializado em formato de placas macias e
sem cheiro e não é um material tóxico. Por ser material leve e de fácil manuseio vem sendo utilizado
na fabricação de brinquedos,artesanatos variados e também na indústria de calçados.
Rosangela e Ana riem desta observação ao verem quanto estão modificando os espaços das salas.
Lembram de quando tiveram formação com a equipe do Instituto Avisa Lá e assistiram ao vídeo “Prá
que Canto eu Vou?”, que trazia ricas situações de atividadesorganizados com diferentes materiais.
Comentaram que achavam que a creche do filme devia ser muito rica, mas quando souberam que a
instituição passava também por dificuldades, se animaram. Novas saídas foram encontradas: idas a
sebos para adquirir livros mais em conta, campanhas para arrecadação de material, oficina de
construção de brinquedos e jogos e, sobretudo, contar com uma formação continuada dos
educadoresque apóia soluções criativas para ampliar as possibilidades de trabalho com as crianças.

Educador atuante
Aprender a gerir o espaço, saber cuidar dos materiais de uso coletivo é um desafio para as crianças.
No início, é o adulto que dá o norte para esta organização, mas deve incluir gradativamente as
crianças neste aprendizado. Nesse sentido, rodas de conversa prévias e posteriores à organização
dos cantos ajudam as crianças a irem construindo autonomia no uso do espaço coletivo.
Observar e registrar estes momentos de cantos diversificados, bem como construir portfolios com as
diferentes propostas que dão certo no dia-a-dia educativo ajudam a construir um olhar mais apurado
para as necessidades das crianças.
O professor precisa tomar cuidado para não escolarizar as propostas na configuração do ambiente.
Lembrar que a disposição das carteiras, por exemplo, deve ser mudada: arrastadas, empilhadas,
mesas cobertas com tecidos viram cabanas ou divisórias de ambientes e assim por diante. Numa
casinha de faz-de-conta, uma simples toalha em cima da mesa já tira o ar de carteira escolar. E por
que não usar mais o chão: pistas de carrinhos, construção, esteiras ou almofadas para leitura?
Sobretudo deve-se olhar para que direção vai a brincadeira das crianças e o interesse nas
atividades,fazendo-as participar, sabendo incluí-las cada vez mais na organização do ambiente, o
que compreende, é claro, montar e desmontar os cantos. Todos ajudam nesta tarefa!
Uma forma de intervenção educativa é pensar na modificação do ambiente, concebendo-o como
parte integrante do currículo, sempre com informações culturais.Quando se oferecem trenas e fita
métricas num canto de faz-de-conta de marcenaria, cria-se um contexto interessante para as
crianças poderem usar estes instrumentos que foram inventados para a medição.
Também vale introduzir novos cantos e incrementar ainda mais os já existentes, pois certamente a
procura pela novidade será intensa, causando disputas. Assim, se um professor leva pela primeira
vez uma casinha de bonecas de papelão com cinco bonecas tipo manequim, é evidente que terá
uma grande procura por este espaço. Sabendo disso de antemão, pode propor atividades que sejam
instigantes: quem sabe numa das mesas deixar massinha com novos apetrechos, propor no canto
Faça Você Mesmo a construção de mobília para a casinha de bonecas, usando para isso tocos de
madeira, cola, tecido, revistas sugerindo a decoração da mobília ou fazer nova casa de bonecas. De
qualquer forma, quando acontece uma “superlotação” num dos cantos é preciso fazer combinados
e ver uma forma de rodízio das crianças. Se há um jogo novo que todos querem jogar, quem sabe
estipular uma partida por grupo? Nada que uma boa conversa não resolva.

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Outra dica importante é a delimitação dos espaços para que os materiais não fiquem dispersos ou
espalhados. No CEI da Mina, por exemplo, há caixas para as crianças guardarem os materiais. Um
simples pano no chão para colocar os livros permite o Vídeo produzido por Instituto Avisa lá/ IBM –
Adriana Klisys e Elza Corsi. cuidado com os mesmos e ainda possibilita que as crianças possam se
esticar em almofadas, esteiras, tapetes. No Canto do Faz-de-Conta, esta delimitação é
particularmente importante para que haja a possibilidade de aprofundamento na brincadeira com
espaços que também tragam informações culturais. Não é à toa que chamamos de cantos e não
centros: devem ser espaços mais reservados, onde não haja interrupção ou muita circulação. Um
faz-de-conta organizado no centro da sala ou próximo à porta de entrada tende a se desorganizar
facilmente. Por isso, a necessidadede planejar bem os espaços.

Mil cantos
No CEI da Mina, os professores planejam diferentes cantos no decorrer da semana. A
seguir, algumas propostas já desenvolvidas:
��Cantos de Jogos: trilhas, baralho, dados, pega-varetas, bolinha de gude, pião, cinco marias,
jogos de construção tipo monta-tudo, pequeno engenheiro ou retalhos de madeira, super trunfo (jogo
da Grow), jogo da velha na lousa ou qualquer outro jogo gráfico etc.
��Cantos de Faz-de-Conta: casinha, marcenaria, sorveteria, pizzaria, veterinário,lavanderia,
escritório, carreto, navio pirata, nave espacial, uso de diferentes maquetes, tais como: cenários para
dinossauros, fazendinha, casinhas para bonecas miniaturas, ambientes para super heróis, pistas
para carrinhos etc.
��Canto Faça Você Mesmo: aqui o que está em jogo é a construção dos brinquedos: fazer teatro
de sombra e personagens para brincar, confeccionar pipa, fazer massinha caseira, boneca de papel,
iô-iô, aviãozinho, inventar novas formas de brincar de cama-de-gato etc.
��Cantos de Expressão Plástica: modelagem, desenho, pintura, recorte e colagem,impressão com
carimbos, apreciação de livros e imagens de artes, caixas de imagens etc.
��Canto de Leitura: deixar à disposição livros de literatura, jornais, revistas, gibis, etc. A equipe do
CEI da Mina arrumou cantos de leitura com banquetas especiais feitas com caixas de papelão
cheias de jornal; encapadas e decoradas para servirem de uma espécie de sala de estar de leitura.
��Canto da Curiosidade Científica: pode ser recheado com matérias instigantes sobre assuntos
de natureza e sociedade que estão sendo estudadas ou então que digam respeito à curiosidade
infantil. Fichário com coleções de cartões postais de diferentes países e regiões brasileiras, guias
turísticos, revistas de viagens, livros sobre animais, paisagens, globo terrestre, lupas e outros
materiais de pesquisapodem estar à disposição nestes momentos.

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

Maria Carmem Silveira Barbosa

Por que projeto político-pedagógico?

Muitas vezes, temos um certo receio da palavra política, porém, ao pensarmos a educação que
pretendemos oferecer para as crianças que irão viver em nosso país nos próximos anos, podemos
constatar que a escrita de um projeto educacional, além de pedagógico, é também uma decisão
profundamente política.

“A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-
las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a
oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso
com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.”
Hannah Arendt

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Nós, os seres humanos, somos seres sociais, isto é, não sobrevivemos sem a existência de outros
seres que nos cuidem, eduquem e auxiliem a crescer. A política surge a partir da constatação de
que os seres humanos são dependentes entre si, que se relacionam e, por serem diversos,
precisam formular possibilidades de convivência. A política é a capacidade de conviver com o
pensamento plural, ser capaz de pensar no lugar e na posição do outro. Nossa condição humana
nos faz diferentes em termos de etnias, credos, idades, gênero, porém compartilhamos o mesmo
mundo, e a política é a capacidade de construção do diálogo com os outros com os quais devemos
chegar a um acordo.

“O campo da política é o do diálogo no plural que surge no espaço da palavra e da ação – o mundo
público – cuja existência permite o aparecimento da liberdade.”
Hannah Arendt

Construir um Projeto Político-Pedagógico de uma escola é poder exercitar a política, pois ela é um
produto da ação/diálogo dos seres humanos no espaço coletivo. Discutir, elaborar, argumentar,
confrontar, decidir são ações que exercitam a criatividade e a tolerância de todos e que colocam as
idéias e a vida em movimento, criando e gestando um novo contexto. A construção de um Projeto
Político-Pedagógico pode fazer avançar e instalar um novo modo de viver a experiência educativa
da instituição.

Quem constrói esta proposta político-pedagógica?


Se considerarmos que a escola é um espaço público1, acreditamos que a construção do seu projeto
educativo deve emergir da discussão entre todos aqueles que estão envolvidos em sua composição:
administradores, docentes, funcionários, pais, avós, crianças e a comunidade em geral2 todos
precisam ser ouvidos na elaboração do projeto político-pedagógico da escola. As portas da escola
precisam estar abertas para criar um campo de discussão dos diferentes pontos de vista, das
diversidades de concepções, procurando, através não da coerção, mas sim da argumentação,
chegar a consensos sobre o que é o mais adequado e importante para a educação das suas
crianças.

A nossa Lei de Diretrizes e Bases (LDB n. 9.394/96) define, em seu artigo 12, que os
estabelecimentos de ensino, ao elaborarem uma Proposta Pedagógica, precisam respeitar as leis e
normas comuns do país e, também, estar de acordo com aquelas do seu sistema de ensino. Isto é,
a proposta não pode ferir as leis maiores como a Constituição Federal, a Declaração dos Direitos
das Crianças (ONU), o Estatuto da Criança e do Adolescente, a LDB e as normas dos Sistemas
Estaduais ou Municipais.

Como se constrói um Projeto Político-Pedagógico (PPP)?


Um PPP pode ser construído de diferentes modos e cada instituição deve ter a liberdade para criar
um documento que represente realmente o pensamento da escola. Neste texto, levantamos alguns
aspectos que consideramos essenciais para serem discutidos na proposta final do texto.
Geralmente, os documentos pedagógicos apresentam uma INTRODUÇÃO, na qual são
apresentados os objetivos do documento, sua estrutura, quem elaborou, por quanto tempo será
prevista a sua ação, como será acompanhada e avaliada, etc.

Podemos ter, como segundo item, a CONTEXTUALIZAÇÃO, na qual se faz uma apresentação das
características gerais da comunidade, das famílias residentes, do bairro, na qual se analisa a
situação de empregabilidade, o nível de escolarização dos adultos e jovens e as aspirações
educativas da comunidade. Temos muitos modos de realizar este trabalho: trazendo pessoas da
comunidade para informar, organizando pesquisas em que visitamos as famílias e procuramos
conhecer um pouco mais da comunidade, entrevistando lideranças, lendo os dados estatísticos do
perfil do bairro, etc. Conhecemos, assim, as características de identidade da comunidade escolar.
Estes dados brutos, levantados empiricamente, precisam ser interpretados e é também neste

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momento que a presença de todos é importante para que não façamos análises estereotipadas da
comunidade e de seus valores.

Muitas vezes, neste momento de análise, podemos contar com técnicos que nos auxiliem a
interpretar e compreender a realidade que emerge dos dados e dois campos disciplinares podem
nos ser úteis neste momento: a sociologia e a antropologia.

Além das características da comunidade, também é preciso mostrar as características de identidade


da instituição: quem somos, onde estamos em nosso processo, qual a nossa história, o que
valorizamos...

Agora talvez venha uma das partes mais importantes do PPP, que são os PRINCÍPIOS
EDUCACIONAIS. Os princípios não precisam ser muitos, nem extensos, o importante é que sejam
pontos de vista compartilhados por todos e que possam vir a ser operacionalizados no dia-a-dia da
educação. Creio que, inicialmente, é fundamental ter uma perspectiva mais abrangente sobre a
sociedade e sobre o papel da educação e da escola nesta sociedade, retirando daí os seus
princípios gerais. Numa sociedade que defende a democracia, é importante que valores como a
igualdade, a participação, a solidariedade e a felicidade sempre sejam lembrados. É preciso também
afirmar a especificidade do nosso trabalho educativo, que será realizado com crianças muito
pequenas (de 4 meses até 6 anos). Assim, ter claro uma concepção de infância, dos seus direitos,
de suas identidades pessoais, de suas potencialidades humanas, lembrando que estas concepções
precisam permear todos os integrantes da instituição. Refletir sobre os valores que acreditamos
serem fundamentais para as crianças também nos leva a pensar as práticas pedagógicas para a
construção social destes sujeitos. Se o que pretendemos é formar seres sensíveis, criativos,
brincalhões, não podemos construir uma proposta em que as crianças precisem ficar muito tempo
em atividades dirigidas, disciplinares, em salas cheias de mesas e cadeiras. Isto é, nossas
concepções promovem um tipo de organização do ambiente de trabalho e de interação entre as
crianças que, conseqüentemente, terá efeitos na construção dos sujeitos.

Como as instituições de Educação Infantil têm os seus objetivos visivelmente centrados no cuidar e
educar3, é preciso constituir muita clareza conceitual sobre estes dois aspectos para não torná-los
extremamente simples, pois ambos são conceitos complexos que, além de serem discutidos a partir
do sentido comum para educadores, pais, crianças podem também ser alimentados pela filosofia,
antropologia, pedagogia, psicologia. As visões sobre o cuidar e educar e a sua inter-relação irão
colaborar na elaboração das perspectivas do projeto político-pedagógico e darão elementos de
identidade para a escola. Também as relações educativas entre as crianças como grupo social, as
relações entre as educadoras e as crianças e entre os adultos entre si são temas de importante
discussão.

Os princípios educacionais podem agora, depois de pesquisados, discutidos e sintetizados, serem


transformados em OBJETIVOS GERAIS da instituição. Quanto aos objetivos gerais, é importante
que eles sejam claros, sintéticos e reconhecidos por todos, sendo operacionalizáveis na ação
educativa concreta dos educadores.

Agora é preciso situar melhor a instituição descrevendo a ORGANIZAÇÃO DO CENTRO OU


ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL. Nesta descrição, é preciso estar presente tanto a organização
pedagógica como a administrativa nos aspectos físicos, recursos materiais, equipamentos e material
pedagógico, os recursos humanos, seu papel, formação, etc.

Finalmente, a Proposta Político-Pedagógica deve informar como será a ORGANIZAÇÃO DA AÇÃO


EDUCATIVA, isto é, como ela estabelecerá a relação escola-família (desde a adaptação até a
constante comunicação do acompanhamento da criança), a organização do trabalho pedagógico do
professor, como será realizado o planejamento: a organização das rotinas, da programação5 (quais
os conhecimentos e saberes que serão privilegiados), quais os instrumentos de intervenção
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pedagógica privilegiados (observar, agir, registrar, refletir, propor), como será o registro e o
acompanhamento das aprendizagens, a organização dos grupos de crianças (vertical ou horizontal),
organização do espaço (do ambiente físico e humano), do tempo e dos diferentes tipos de
brinquedos e materiais, quais as propostas para as atividades de alimentação, descanso, higiene, as
propostas de relacionamento com a comunidade, e outras definições.

É preciso que na própria Proposta Político-Pedagógica das instituições, seja explicitado como ela
será implementada e também como serão realizados seu acompanhamento e sua avaliação. Isto é,
é preciso formular uma proposta de acompanhamento da execução desta proposta, verificando
como a mesma se desdobra na prática. Uma Proposta Político-Pedagógica é um documento de
compromisso com as crianças brasileiras e com a sua educação, assim a instituição, como espaço
público, deve constantemente estar abrindo o diálogo e a reflexão coletiva sobre o seu PPP, na
tentativa de não sedimentar apenas a experiência vivida, mas confrontá-la com a prática, com os
seus efeitos, com seus ganhos e perdas e, assim, poder estar em constante reflexão e em
permanente reconstrução.

E o regimento interno?

O regimento interno é um documento escrito na seqüência da elaboração do Projeto Político-


Pedagógico. Ele é um documento com características diferenciadas, muito mais normativas que o
PPP. O regimento é o documento básico que contém as determinações legais e as linhas
norteadoras da organização formal da escola e devendo explicitar como será executada a aplicação
do PPP.

O Regimento Interno de um centro ou escola de Educação Infantil vai tentar especificar direitos e
deveres das crianças e adultos (os professores, administração e funcionários), também vai dispor
acerca do calendário escolar, dos dias letivos, da forma de organização dos grupos, da classificação
dos alunos, da progressão escolar, da freqüência, do modelo de gestão, da administração das
finanças e pessoal, da supervisão do trabalho docente, da formação em serviço dos educadores, da
integração escola-comunidade, das funções dos diferentes setores, etc.

Alguns Sistemas de Ensino estão solicitando que as escolas ou centros de Educação Infantil
elaborem Planos de Estudos, isto é, que descrevam quais seriam as noções6 que deveriam ser
adquiridas no decorrer de certo tempo de presença na instituição freqüentando por determinado
grupo.

Referências bibliográficas

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva, 2003.


ARENDT, Hannah. O que é política. Rio de Janeiro, Editora Bertrand Brasil, 1999.

Importância do espaço na Educação Infantil


Etiane Carlesso
No nascimento existem potencialidades que, para desenvolver-se, não necessitam somente
dos processos orgânicos, mas principalmente da relação que a criança estabelece com outras
pessoas. A qualidade destas relações exerce influências no temperamento e na personalidade deste
indivíduo. Cabe a nós educadores, criar espaços favoráveis para estas vivências que permitirão o
desenvolvimento dessas potencialidades.
As crianças sentem necessidade de movimentarem-se, socializarem-se, brincarem de
faz - de - conta, desenvolverem suas habilidades e terem noções claras de limites e regras. Pois
nessas interações sociais é que se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem
estabelecer com outras crianças e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro
e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para sua própria
felicidade.
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Podemos considerar o espaço da educação infantil como um elemento a mais no
processo educativo, e não somente um local de trabalho, é antes de tudo um recurso, um parceiro
do professor na sua prática educativa. Criar os espaços modificados e aproveitar os objetos variados
e disponíveis no ambiente, proporcionam novas possibilidades para brincar e ao mesmo tempo
desenvolvem as destrezas, o raciocínio da criança, além de aguçar sua curiosidade em explorar,
promovendo dessa forma sua autonomia.
“A criança ao fazer uso do seu espaço, potencializa o movimento,
as sensações e a interpretação de símbolos. Por meio dos sentidos, das
sensações, de posturas e movimentos a criança poderá compreender e
aprender a usar o espaço. Quando ela utiliza o espaço melhora o conhecimento
de seu corpo, seus limites e possibilidades, bem como a organização e a
reorganização de movimentos e habilidades motoras em geral”.(baseada em
Tereza Godall e Anna Hospital)
Proporcionando a criança um amplo campo de ação, que vai desde o conhecimento e
a consciência que a criança possa adquirir de seu próprio corpo até a possibilidade que tem de se
mover com eficiência e expressar-se através desse corpo. Portanto não basta a criança estar em
espaços modificados de modo a desafiar suas competências, é preciso que ela interaja com estes
espaços para vivê-lo intencionalmente. Elas necessitam de espaços para exercerem sua criatividade
e manifestarem seus desaprovamentos, pois se sabe que a criança é manipulada por outros e
através destes e outros que suas atitudes serão assimiladas e incorporadas pelo resto de suas
vidas.
Segundo Forneiro (1998) afirma que um dos critérios que devem ser considerados
quando pensamos em espaços desafiadores e provocadores de interações e aprendizagens na
educação infantil é a possibilidade dessa organização espacial ser transformada .
Entende-se que este ser em desenvolvimento precisa expandir-se, explorando seu
corpo e o se espaço, de forma a terem um crescimento sadio. Através de vivências lúdicas como na
brincadeira e na recreação, e se explora, se expressa com prazer, se relaciona consigo mesma, com
os colegas,com o meio, construindo o esquema corporal, a individualidade, desenvolvendo auto-
confiança e tornando-se independente.

Brinquedoteca
Espaço criado para atender necessidades lúdicas e afetivas
A sabedoria, que deveria iluminar os processos educacionais, perdeu-se quando
desrespeitou a importância desse momento em que a criança brinca com tranqüilidade, exercendo o
seu direito e seu dever de crescer harmonicamente, desenvolvendo o potencial que Deus lhe deu>
Talvez tenhamos parado poucas vezes para observar crianças brincando, mas se o fizermos, vamos
aprender muito sobre elas, não somente sobre elas mas, principalmente, sobre os caminhos que
levam o ser humano à construção da sua inteligência, do seu conhecimento e da sua felicidade.
As brinquedotecas surgiram para resgatar a infância e proporcionar à criança o
acesso ao mundo mágico de brincar. Elas representam o reconhecimento do direito de brincar e a
valorização do brinquedo como fonte de desenvolvimento e equilíbrio. É importante ressaltar que a
brinquedoteca não é apenas um lugar que tem muitos brinquedos, mas uma instituição baseada
numa proposta educacional voltada para a criatividade e afetividade.
A infância tem que ser respeitada, a criança não é um adulto em miniatura. As
necessidades lúdicas e afetivas da criança tem a mesma importância que as suas necessidades
físicas, se não as atendermos, estaremos desperdiçando as melhores oportunidades de tornar a
criança integrada e capaz de ser feliz. São os desafios encontrados na vivência das diferentes
experiências, que vão provocar a construção do conhecimento da criança. Sentindo, percebendo,
pensando, a criança descobre o mundo e pode ser atraída pelos seus encantos e mistérios.

Escola, sociedade e vida


A escola apresenta-se hoje como uma das mais importantes instituições sociais, por
fazer a mediação entre o indivíduo e sociedade. Ao transmitir a cultura, permite que a criança
humanize-se, cultive-se, socialize-se ou, numa palavra eduque-se. A criança, então, vai deixando de

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imitar os comportamentos adultos para aos poucos apropriar-se dos modelos e valores transmitidos
pela escola, aumentando assim sua autonomia e seu pertencimento ao grupo social.
A escola constitui um importante local de troca, de obtenção de informações e de
aprendizado e investigação. É nela que formulamos grande parte das respostas e das perguntas
necessárias à compreensão de nossas vidas, de nossa sociedade e de nosso cotidiano, é o espaço
no qual podemos adquirir a idéia do tempo histórico e da transformação que a humanidade produziu.
Na escola podemos aprender que nem todas as pessoas pensam e agem da mesma forma e que
essa diferença no modo de pensar e agir deve ser valorizada por todos nós. Muito do aprendizado
para o trabalho acontece no ambiente escolar, porém esta não pode ser considerada a única
responsável pela criação da mão de obra submissa e pela reprodução dos valores dominantes, pois
ela participa deste jogo social, mas as transformações sociais ocorrem de forma mais ampla,
abrangendo outras instituições sociais, como a família, os meios de comunicação de massa, entre
outros.
Na verdade, a escola como instituição social, estabelece um vínculo ambíguo com a
sociedade. É parte dela e por isso, trabalha para ela, formando os indivíduos necessários à sua
manutenção. No entanto, é tarefa da escola, zelar pelo desenvolvimento da sociedade e, para isso,
precisa criar indivíduos capazes de produzir riquezas, de criar, inventar, inovar, transformar. Diante
desse desafio, a escola não pode ficar presa ao passado, ao antigo. É preciso ter clareza desta
ambigüidade da escola no trabalho educacional, pois esta ambigüidade ao mesmo tempo nos coloca
a necessidade de estarmos presos à realidade social e de sermos críticos e inovadores. A vida
escolar deve estar articulada com a vida social

Educação Infantil e o Espaço Bem Viver

No jardim da infância tem início um período onde a criança vê o mundo através de forma mágica.
Objetos e cores mudam conforme seu próprio arbítrio.A sala para Educação Infantil dispõe do
espaço e materiais necessários para dar livre curso à fantasia da criança: pedaços de madeira,
sementes, panos, papel, tintas de aquarela, lápis de cera, massinha de modelar, bolas variadas,
bonecas pouco elaboradas, que possibilitem a imaginação da criança, são os utensílios
necessários.Na idade pré-escolar, a atuação da criança, desenvolve-se em grande parte, sob a
simples forma de brinquedo. No brincar a criança tem oportunidade de satisfazer sua curiosidade,
experimentando e descobrindo múltiplos materiais. O modo de brincar da criança é influenciado pela
imitação e pela fantasia.

Com seus colegas estabelece contatos sociais, ampliando seu campo de atuação, vivenciando
diferentes atitudes e avaliando suas possibilidades como participante de um grupo. Importa lembrar
a adequação que os brinquedos devem ter, com relação às diferentes etapas do desenvolvimento
infantil, para que possam contribuir positivamente à realização de cada criança.

Outra ferramenta importante no Jardim da Infância são os contos de fadas. O conteúdo dos contos
sempre se refere às grandes verdades de vida e morte, bem e mal. A criança vivencia diariamente
os conteúdos dos contos de fadas.O Espaço Bem Viver trabalha somente com 20 crianças por
período e conta com duas professoras e uma auxiliar.

As crianças não são separadas por idades, mas por atividades. Circulam e brincam livremente nas
três salas que compõem o Espaço. O ambiente dessas salas é muito importante, há mesas grandes,
para que as crianças tenham uma vivência do social nas refeições ou em algumas atividades. A sala
se compõe também de pequenos ambientes como "o quarto das bonecas", a "venda", ou a
"cozinha". Há cavaletes, pregadores e panos para construção de cabanas. O material oferecido é
variado e natural: como sementes, conchas, pedras, toquinhos, lã de carneiro e panos grandes.

É estimulada a dramatização – que para a criança é real- e oferecido no ambiente capas, saias e
outras fantasias. Para os maiores, tarefas da vida e organizacionais como: cozinhar, arrumar, fazer
pão e geléias, consertar brinquedos, cortar, costurar, lidar com diferentes materiais e texturas etc.
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Para os menores, a importância do desenvolvimento dos sentidos.
O pátio do Espaço Bem Viver é muito arborizado com árvores frutíferas, caixas de areia, água,
balanças, escorregadores, pontes, galinheiro e ovelha. As atividades diárias tem horário definido ,
assim como as atividades semanais tem seu dia certo. Há o horário para brincar dentro da sala e
outro para brincar fora. Busca-se, constantemente, o cultivo dos bons hábitos de higiene, nutrição,
veneração, respeito e socialização.A música é um importante meio de cultivo da arte para as
crianças.Além do canto que povoa não só a parte rítmica, mas todo o tempo e comando de
atividades, usamos alguns instrumentos adequados aos primeiros anos do desenvolvimento:
Kantele, xilofone e em alguns casos a própria flauta doce.
Desses, o principal é a Kântele. Seu som suave e envolvente leva calma às crianças. A maneira de
segurá-lo é através de um gesto envolvente e acolhedor. As cordas são quase acariciadas. As
crianças do Jardim da Infância, de cinco a seis anos de idade experimentam a Kântele uma vez por
semana. Por sua suavidade, educa o ouvir e desenvolve qualidades como atenção, concentração e
veneração.
O Espaço Bem Viver cria um ambiente propício para a formação e não com as informações ou
ensino formal. A criança deve sentir-se como em um prolongamento do lar e não na ante-sala do
ensino escolar.As festas das estações, celebradas no decorrer do ano, ajudam as crianças a entrar
no ritmo do ano. Através de canções, danças, teatros, histórias, artes e comidas, muitas tradições
são vivenciadas. A maneira como é trazida para as crianças no Jardim Waldorf a passagem pelo
tempo, dá forma a sua natural reverência pela natureza e um sentido de continuidade e segurança.
Afinal, é o ritmo que traz às crianças a maior confiança no mundo exterior. Ela sabe o que vai
acontecer e adquire auto confiança

Educação Infantil vem se constituindo enquanto espaço de inúmeras discussões; a cada dia cresce
o número de trabalhos que se propõe a refletir sobre essa fase. Mas infelizmente ainda encontramos
muitas lacunas no modo como essa educação vem sendo desenvolvida na prática. Nesse sentido é
que nos propomos a apresentar algumas sugestões de como podemos explorar essa fase
fundamental na formação das crianças.

Não temos a pretensão de fornecer “receitas”, mas sim de listar algumas alternativas que
possibilitem o professor dar alguns passos em direção a um ensino de qualidade, já que desde a
Educação Infantil podemos auxiliar na formação de cidadãos menos individualistas e mais críticos e
participativos na sociedade.

Para conseguirmos esses objetivos concordamos com Kramer (1994), quando afirma que os
professores devem estar em permanente formação, pois assim terão a oportunidade de “construir” e
“reconstruir” suas práticas pedagógicas.

... é preciso que os profissionais da Educação Infantil tenham acesso ao


conhecimento produzido na área da Educação Infantil e da cultura em geral,
para repensarem suas práticas, se reconstruírem enquanto cidadãos e
atuarem enquanto sujeitos da produção de conhecimento. E para que
possam, mais do que “implantar” currículos ou “aplicar” propostas à realidade
da creche/pré-escola em que atuam, efetivamente participar da sua
concepção, construção e consolidação. (p.19).

Algumas idéias...

A Educação Infantil enquanto fase inicial da educação formal tem o poder de despertar na criança o
gosto pela leitura, escrita e matemática entre muitos outros. Isso vai depender da forma como essa
criança é estimulada e incentivada.

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Nesse sentido, essa fase em que as crianças começam a freqüentar a escola

deve ser marcada com muita alegria.

Vejamos algumas sugestões:

• O professor enfeita uma caixa de papel e cola um espelho no fundo. Ela será entregue ao
professor na porta da sala de aula. O mesmo ficará muito feliz ao recebê-la. Depois de abrir a
caixa, o professor relatará sua alegria ao receber aquele presente e instigará os alunos a
descobrirem o que há na caixa. Cada aluno é convidado a ver o que há na caixa. É importante
que a criança não comente com os colegas o que viu. Á medida que as crianças se vêem no
espelho sentem uma grande alegria. O professor deve aproveitar a oportunidade e trabalhar a
auto-estima e o valor de cada um na sala de aula.
• Criar com a turma um cartaz de “combinados” através de discussões sobre o que podemos
ou não fazer na escola. O professor pode aproveitar a oportunidade e refletir com as crianças
sobre algumas questões de boas maneiras, como: cumprimentar, despedir, agradecer, pedir
licença, dizer “por favor”, desculpar-se, ser gentil e elogiar quando necessário.
• Como forma de estimular o valor de cada aluno é importante na Educação Infantil um
trabalho com os nomes. O crachá é um importante recurso e deve conter o primeiro nome,
escrito em letra de imprensa maiúscula. O professor pode explorar várias atividades com o
mesmo, entre elas: crianças organizadas em círculo e os crachás no meio. O professor fala o
nome de uma criança que deve pegar o seu crachá e colocar na sua frente, no chão, de modo
visível a todos. Outra forma é colar os crachás no quadro e pedir que cada aluno reconheça o
seu e busque-o.
• Na área livre da escola o professor desenha várias casinhas no chão, cada uma com uma
letra. Os alunos devem ficar em círculo e de posse com seus crachás. O professor mostra e diz
uma letra. As crianças que possuem aquela letra no início do seu nome devem correr e entrar na
casinha daquela letra. A brincadeira continua com o professor mostrando e “cantando” outras
letras.
• Cada criança receberá uma folha com a primeira letra do seu nome, para fazer um trabalho
artístico. Poderá utilizar palitos de fósforo, brocal, raspas de pontas de lápis de cor, giz de cera,
entre outros. Os trabalhos devem ser expostos para toda escola.
• As crianças gostam de serem úteis, portanto, o professor pode sortear diariamente, no
início das atividades, uma dupla de alunos para serem os ajudantes da sala. Os nomes dessas
crianças podem ser fixados em um cartaz próprio para a função.
• Para explorar a matemática o professor pode contar com a turma diariamente o números de
crianças presentes na sala e questionar: Quantos somos hoje? Há mais, meninos ou meninas?
Quantas crianças estão ausentes?
• A sala de Educação Infantil também não pode deixar de ter um calendário. O professor deve
chamar a atenção de todos para os aniversários da turma, para as datas comemorativas, dias da
semana, meses do ano, numerais, entre outros.

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• A respeito dos aniversariantes, é importante também um cartaz no qual são fixados os
nomes das crianças que fazem aniversário no presente mês. O professor pode questionar qual é
o nome com mais letras, qual contém menos letras, quem faz aniversário primeiro, entre outros.
• Com intuito de trabalhar também a questão da observação é importante dialogar com os
alunos a questão do tempo. Nesse sentido, o professor pode pedir que as crianças observem e
relatem o aspecto do dia: ensolarado, nublado, chuvoso. Com o uso de fichas que contenham
desenhos, os próprios alunos podem construir um cartaz sobre o tema.
• É importante que os alunos registrem experiências através de desenhos. Em seguida, cada
um pode contar para turma o que desenhou.
• O professor pode registrar no quadro uma história contada por um aluno e deixar que ele a
ilustre.
• É importante criar um ambiente alfabetizador. Os alunos devem ter a oportunidade de
explorar materiais escritos de diversos tipos como: revistas, livros, jornais, rótulo, propagandas,
afinal, muitas dessas crianças não tem acesso a livros em casa, e com esse tipo de trabalho ela
poderá perceber que a escrita está em todos os lugares.
• O cantinho da Leitura é uma alternativa para que a criança possa escolher o livro que mais
lhe interessa. Mesmo que não seja alfabetizada ela já faz a leitura da capa, das ilustrações e
constrói sua própria história. Nesse espaço deve haver o maior número possível de portadores
de texto: literaturas infantis variadas, revistas em quadrinhos, dicionários, jornais, rótulos, caixa
com letrinhas, propagandas, álbuns ilustrados, agendas, entre outros.
• A turma poderá ter também uma “mini-biblioteca”, que permitirá aos alunos levarem para casa
literatura.
• No final de cada semana o professor pode pedir que cada aluno escolha um livro para levar
para casa, para que os pais leiam para as crianças ou vice-versa.
• Para desenvolver a imaginação, a criatividade e a linguagem oral das crianças, professor e
alunos podem com o uso de sucatas construírem um teatro de fantoches e seus personagens.
Os fantoches de varas também são uma excelente alternativa, pois são práticos e divertidos.
• Pedir que as crianças recortem de revistas gravuras de animais, pessoas, objetos, plantas,
flores e montem uma cena. Em seguida pedir que cada um conte uma história sobre a mesma.
• Pedir que cada aluno recorte de uma revista uma foto que se pareça com ela e cole em uma
folha. Em seguida pedir que faça a tentativa de escrita do seu nome. Ao colar os trabalhos da
turma no mural o professor poderá fazer uma votação da gravura mais parecida com a criança
ou levar a classe a comparar as características físicas, cor do cabelo, formato do rosto, entre
outros.
• O professor pode desenvolver em seus alunos noções topológicas através de experiências
concretas, o que as levará a perceber sua posição em relação a tudo que a cerca. Uma forma é
formar fileiras de cinco alunos que imitarão um “trenzinho”. O primeiro da fila é o maquinista. Em
seguida questionar: Quem está na frente de todos? Quem está atrás de todos? Quem está atrás
do maquinista?
• Para trabalhar conceitos como “dentro” e “fora” o professor pode mediante círculos traçados
no chão do pátio, pedir aos alunos que nomeiem objetos que estão dentro ou fora do círculo.
Pode-se também pedir que as crianças relatem o que tem dentro da mochila, da lancheira, entre
outros.
• Desenvolver comparações de “menor” ou “maior” com as crianças utilizando sucatas.
• Para explorar a questão de “direita” e “esquerda” o professor pode utilizar o “banho de
papel”. Com o papel embolado servindo de bucha o professor dirige o banho: esfreguem a
orelha direita, lavem o joelho esquerdo, bucha na mão direita, entre outros.

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• Para trabalhar noções de conjunto, pedir que os alunos tragam de casa rótulos e partes de
embalagens diversas como: biscoitos, sucos, refrigerantes, gelatinas, detergentes, ... Com a sala
dividida em grupos, eles deverão separar as embalagens de acordo com as semelhanças
existentes entre elas, a critério dos alunos: alimentos, materiais de limpeza, bebidas, entre
outros.
• Pedir que as crianças fiquem em pé no pátio da escola. Enquanto o professor conta uma
história elas devem interpretá-la através de movimentos corporais.
• Pedir as crianças para formarem duplas. Um deles deitará sobre uma folha de papel
grande, enquanto o outro fará traçados do seu corpo com giz. Os desenhos poderão se
utilizados para salientar partes do corpo.
• Para trabalhar a questão da atenção, levar as crianças para o pátio e pedir que fiquem em
semicírculo. O professor deve ficar em uma posição destacada para liderar a brincadeira e diz: _
Este é o meu pé. E mostra a cabeça, por exemplo. As crianças deverão estar atentas para seguir
o que o professor diz e não ao seu gesto, e devem então mostrar o pé.

Algumas considerações

Como podemos perceber essas alternativas para a Educação Infantil são simples, mas
quando utilizadas podem conduzir a resultados fantásticos. Através do lúdico as crianças com
certeza serão mais alegres, felizes e motivadas.

O aluno estará inserido em um espaço propício a aprendizagem e aprenderá de forma


interessante o que antes era trabalhado de forma mais cansativa.

Bibliografia

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial


Curricular para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise da Alfabetização. Artes Médicas, 1984.
FRANCO, Ângela. Construtivismo: Uma ajuda ao professor. Belo Horizonte, Editora Lê, 4ª
edição, 1997.
KRAMER, Sonia. Currículo de Educação Infantil e a Formação dos Profissionais de Creche e Pré-
escola: questões teóricas e polêmicas. In: MEC/SEC/COEDI. Por uma política de formação do
profissional de Educação Infantil. Brasília-DF, 1994.
NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento Infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.

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ESPAÇO FÍSICO E SUA RELAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA

Vera Lucia Costa Hank

INTRODUÇÃO
Buscando uma perspectiva de sucesso para o desenvolvimento e aprendizagem do educando no
contexto da educação infantil o espaço físico torna-se um elemento indispensável a ser observado.
A organização deste espaço deve ser pensada tendo como principio oferecer um lugar acolhedor e
prazeroso para a criança, isto é, um lugar onde as crianças possam brincar, criar e recriar suas
brincadeiras sentindo-se assim estimuladas e independentes. Diferentes ambientes se constituem
dentro de um espaço. De acordo com Horn (2004, p. 28):

É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas,
transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é
entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa
relação não se constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter
ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se definem
com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço organizado.

O espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo com a faixa etária da criança,
isto é, propondo desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas
potencialidades. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio social em
que a criança está inserida. Gandini (1990, p.150) diz que: “o espaço reflete a cultura das pessoas
que nele vivem de muitas formas e, em um exame cuidadoso, revela até mesmo as camadas
distintas dessa influência cultural”.

Reconhecendo que a criança é fortemente marcada pelo meio social em que se desenvolve, e que
também deixa suas próprias marcas neste meio, que tem a sua família como o seu principal
referencial, apesar de todas as relações que ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil
deve priorizar remeter a história da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de
saberes entre as crianças. Segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998,
vol 1, p. 21-22): “as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem
com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da
realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressifignificação”. As
interações que ocorrem dentro dos espaços são de grande influência no desenvolvimento e
aprendizagem da criança.

O educador não deve ser visto como figura central do processo de ensino aprendizagem, mas sim
como alguém mais experiente que aprende e permite ao educando aprender de forma mais lúdica
possível. Devemos destruir a crença de que a criança só aprende se um professor ensinar, e de que
só o professor é responsável pelo desenvolvimento de todas as potencialidades da criança. A
criança através do meio cultural, da suas interações com o meio seja em um trabalho individual ou
coletivo é a verdadeira construtora do seu conhecimento. De acordo com Oliveira (2000, p.158):

O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador, envia mensagens e, os que aprendem,


respondem a elas. A influência do meio através da interação possibilitada por seus elementos é
contínua e penetrante. As crianças e ou os usuários dos espaços são os verdadeiros protagonistas
da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e objetos, que possibilita descobertas
pessoais num espaço onde será realizado um trabalho individualmente ou em pequenos grupos.

Os espaços construídos para criança e com a criança devem ser explorados pela mesma, em uma
relação de interação total, de aprendizagem, de troca de saberes entre os pares, de liberdade de ir e
vir, de prazer, de individualidades, de partilhas, enfim, de se divertir aprendendo.

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OBJETIVO
Este estudo tem como finalidade discutir a importância do espaço físico no desenvolvimento e
aprendizagem da criança, bem como as interações entre os pares e o papel do educador nos
espaços oferecidos para a criança.

METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada baseada em revisão bibliográfica, sendo considerados os seus principais
referenciais teóricos: Vygotsky, Horn, Lima, Oliveira, Z. Oliveira, Referencial Curricular para a
Educação Infantil e Gandini, os quais discutem a importância da interação entre os pares e da
organização dos espaços do brincar, na Educação Infantil.

O ESPAÇO FÍSICO E SUA RELAÇÃO COM A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA


Desde que nasce a criança precisa de espaços que ofereçam liberdade de movimentos, segurança
e que acima de tudo possibilitem sua socialização com o mundo e com as pessoas que a rodeiam.
Espaços estes de direito de todas as crianças sejam eles: públicos, privados, institucionais ou
naturais. Segundo Lima (2001, p.16): “o espaço é muito importante para a criança pequena, pois
muitas, das aprendizagens que ela realizará em seus primeiros anos de vida estão ligadas aos
espaços disponíveis e/ou acessíveis a ela”.

Segundo Piaget citado por Kramer (2000, p. 29): “o desenvolvimento resulta de combinações entre
aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio [...] e que os esquemas de
assimilação vão se modificando progressivamente, considerando os estágios de desenvolvimento”.
Todo ser humano carrega desde sua concepção conhecimentos e através da interação com o meio
vai desenvolvendo estes conhecimentos. Piaget considera a interação indivíduo / meio apenas sem
considerar as interações entre as crianças e suas diferentes culturas. Vygotsky já enfatiza a troca de
conhecimentos que ocorrem através das interações entre individuo / meio/ individuo.

Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é
essencial ao seu desenvolvimento”. (apud DAVIS e OLIVEIRA, 1993, p. 56). Portanto um ambiente
estimulante para a criança é aquele em que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde
ela sinta o prazer de pertencer a aquele ambiente e se identifique com o mesmo e principalmente
um ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares. Um ambiente que permite que
o educador perceba a maneira como a criança transpõe a sua realidade, seus anseios, suas
fantasias. Os ambientes devem ser planejados de forma a satisfazer as necessidades da criança,
isto é, tudo deverá estar acessível à criança, desde objetos pessoais como também os brinquedos,
pois só assim o desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua
socialização dentro das suas singularidades.

Os espaços devem ser organizados de forma a desafiar a criança nos campos: cognitivo, social e
motor. Oportunizando a criança de andar, subir, descer e pular, através de várias tentativas, assim a
criança estará aprendendo a controlar o próprio corpo, um ambiente que estimule os sentidos das
crianças, que permitam a elas receber estimulação do ambiente externo, como cheiro de flores, de
alimentos sendo preparados. Sentindo a brisa do vento, o calor do sol, o ruído da chuva.
Experimentando também diferentes texturas: liso, áspero, duro, macio, quente, frio. Carvalho &
Rubiano (2001, p.111) dizem que: “a variação da estimulação deve ser procurada em todos os
sentidos: cores e formas; músicas e vozes; aromas e flores e de alimentos sendo feitos;
oportunidades para provar diferentes sabores”.

Personalizar o ambiente é muito importante para a construção da identidade pessoal da criança,


tornar a criança competente é desenvolver nela a autonomia e a independência. Ao oferecer um
ambiente rico e variado se estimulam os sentidos e os sentidos são essenciais no desenvolvimento
do ser humano. A sensação de segurança e confiança é indispensável visto que mexe com o
aspecto emocional da criança. Oportunizando as crianças de interagirem e em certos momentos que
desejarem ficarem sozinhas brincando. David & Weinstein citados por Carvalho e Rubiano (2001,
p.109) afirmam que:
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Todos os ambientes construídos para crianças deveriam atender cinco funções relativas ao
desenvolvimento infantil, no sentido de promover: identidade pessoal, desenvolvimento de
competência, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança, bem como
oportunidades para contato social e privacidade.

1 ESPAÇOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: SUA RELAÇÃO COM A APRENDIZAGEM DA


CRIANÇA
O Brinquedo faz parte da vida da criança independente do nível social ou cultural a que pertence.
Segundo Horn (2004, p.70): “o brinquedo sempre fez parte da vida das crianças,
independentemente de classe social ou cultural em que está inserida”. É intrínseco da criança o
hábito do brincar. Até mesmo ao se alimentar, a criança brinca com os alimentos. Portanto ao
proporcionar diversos espaços para a criança brincar e agir dentro do espaço, se estará propondo
novos desafios que tornarão a criança um agente da sua própria aprendizagem de forma mais
lúdica.
Vygotsky citado por Rego (2002, p.80): “considera o brinquedo uma importante fonte de promoção
de desenvolvimento. Afirma que, apesar do brinquedo não ser o aspecto predominante da infância,
ele exerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil”. Portanto não devemos conceber a
infância longe do brinquedo visto a importância do mesmo aqui referenciada. E principalmente de
proporcionar o brinquedo em ambientes preparados para que a criança brinque com liberdade de
ação e em total interação com outras crianças.

Brincar para a criança é principalmente estar presente no ambiente, se constituindo como individuo
e compartilhando significados. Brincar em um ambiente aconchegante, que retrate a identidade da
criança e de livre acesso ao mesmo, é fundamental no seu desenvolvimento, visto que se estará
promovendo a interação entre criança / criança, criança / educador e até mesmo respeitando os
momentos em que a criança prefere brincar sozinha, pois só assim se respeitará a individualidade
da criança. Segundo Carvalho & Rubiano (2001, p.109):

...é altamente recomendável que ambientes institucionais ofereçam oportunidade para as crianças
desenvolverem sua individualidade, permitindo-lhes ter seus próprios objetos, personalizar seu
espaço e, sempre que possível participar nas decisões sobre a organização do mesmo.

De acordo com Horn (2004, p. 71): “o brinquedo satisfaz as necessidades básicas de aprendizagens
das crianças, como, por exemplo as de escolher, imitar, dominar, adquirir competências, enfim de
ser ativo em um ambiente seguro, o qual encoraje e consolide o desenvolvimento de normas e
valores sociais”. Ajuda no desenvolvimento da confiança em si mesmo e em suas capacidades e,
em situações sociais, ajuda-os a julgar as muitas variáveis presentes nas interações sociais e a ser
empático em relação aos outros. As crianças que brincam em diversos ambientes ricos de
informações e demonstram interesse por estar ali brincando, adquirem conhecimentos e transmitem
conhecimentos, através da interação com seus pares. Sendo eles os próprios construtores do seu
conhecimento com a mediação de alguém mais experiente. De acordo com Fantin (2000, p. 53) :
Brincando (e não só) a criança se relaciona, experimenta, investiga e amplia seus conhecimentos
sobre si mesma e sobre o mundo que está ao seu redor. Através da brincadeira podemos saber
como as crianças vêem o mundo e como gostariam que fosse, expressando a forma como pensam,
organizam e entendem esse mundo. Isso acontece porque, quando brinca, a criança cria uma
situação imaginária que surge a partir do conhecimento que possui do mundo em que os adultos
agem e no qual precisa aprender a viver.
Ao brincar a criança expressa seus anseios, sua maneira de como está percebendo o mundo que a
cerca e principalmente está vivendo a sua infância. Tem também suas necessidades satisfeitas que
são: adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos e entendimentos coerentes e lógicos.
Reconhecendo-se em um meio e como parte do mesmo, ela cria sua própria brincadeira interagindo
com todos que a rodeiam. Temos aí então a importância de se oferecer um espaço povoado de
objetos disponíveis e acessíveis à criança.

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Brincando nos espaços com seus brinquedos e objetos variados e escolhendo o espaço que deseja
brincar e com quem deseja brincar, é uma atividade enriquecedora visto que, as trocas de saberes
que ocorrerão naturalmente através das diversas linguagens sejam elas:oral, corporal, gestual,
musical retratando a realidade de cada um. A criança ao agir com fantasia é estimulada a usar de
criatividade, usando como parâmetro o seu mundo infantil.

A INTERVENÇÃO DO EDUCADOR
O brincar é sempre estruturado pelo ambiente, pelos materiais ou contexto em que ocorre. Ao
educador cabe então participar como uma pessoa mais experiente, que deverá intervir quando
necessário e também ter uma participação quando perceber o interesse da criança em tê-lo como
parceiro nas brincadeiras, possibilitando assim, o desenvolvimento da criança, proporcionando
momentos de interação, acesso à cultura, permitindo a criança principalmente viver a sua própria
infância. De acordo com Lima (2001, p.27) :

Consciente da importância da ação que realiza, possibilitando mediações de várias naturezas, o


adulto passa a atender os processos da criança com um significado que só pode ser construído
tendo como referencial a criança no período de formação em que ela está e não no adulto feito que
será.
Um ambiente carente de recursos, onde tanto a criança quanto o adulto vêem somente paredes e
espaços vagos é um ambiente sem vida, que não propõe desafios cognitivos à criança e não amplia
o conhecimento. Portanto ao educador cabe planejar os espaços para a criança e com a criança,
visando o meio cultural em que a criança está inserida, promovendo interações em grupos para que
possam assim: criar, trocar saberes, imaginar, construir e principalmente brincar. O educador
também precisa estar atento ao ambiente pois, segundo Horn (2004, p.15) “o olhar de um educador
atento e sensível a todos os elementos que estão postos em uma sala de aula. O modo como
organizamos materiais e móveis, e a forma como as crianças e adultos interagem com eles são
reveladores de uma concepção pedagógica”.

A criança desde o nascimento necessita da mediação do outro para se desenvolver, portanto o meio
sozinho não dá conta de desenvolvê-lo e é aí que entra o papel do educador e dos colegas através
das relações. Segundo Carvalho (2003, p.154): “ao estruturar e organizar continuamente sua sala, o
educador favorece o envolvimento das crianças em brincadeiras entre elas, sem necessidade de
interferência direta; dessa forma ele fica mais disponível para aquelas crianças que procuram
interagir com ele”.

Podemos dizer então que o educador torna-se o mediador entre crianças e os objetos de
conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os
recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus
conhecimentos prévios. O educador constitui-se portanto, um parceiro mais experiente, cuja função
é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável de experiências educativa e social
variadas.
O que acontece é que muitas vezes o educador, tem a visão de que: proporcionar a criança o
brincar é deixá-la fazer o que quer e onde quer, sem considerar a brincadeira como um processo de
organização, de recíproca, de troca de saberes. Cabe ao educador confiar nas crianças e valorizar o
seu agir contribuindo para ampliação das descobertas e não apenas estar ao seu lado permitindo
toda e qualquer ação. O educador deve considerar a brincadeira segundo o Referencial Curricular
Para a Educação Infantil (1998, vol 1, p. 28): “como um meio de poder observar e constituir uma
visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular,
registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos
recursos afetivos e emocionais que dispõe”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A organização dos espaços na educação infantil é fundamental para o desenvolvimento integral da
criança, desenvolvendo suas potencialidades e propondo novas habilidades sejam elas: motoras,
cognitivas ou afetivas. A criança que vive em um ambiente construído para ela e por ela vivência
emoções que a farão expressar sua maneira de pensar, bem como a maneira como vivem e sua
relação com o mundo.
As aprendizagens que ocorrem dentro dos espaços disponíveis e ou acessíveis à criança são
fundamentais na construção da autonomia, tendo a mesma como própria construtora de seu
conhecimento. O conhecimento se constrói a cada momento em que a criança tem a possibilidade
de poder explorar os espaços disponíveis a ela.
O papel do adulto no espaço é o de um parceiro mais experiente que promove as interações, que
planeja e organiza atividades com o objetivo de através das relações dentro do espaço que oferece,
buscar o desenvolvimento integral de todas as potencialidades da criança. O educador deve ter a
sua proposta voltada para o bem estar da criança, buscando sempre melhorar a sua prática
elaborando sempre novas alternativas de construir o conhecimento de um grupo como um todo,
facilitando as interações, promovendo e construindo espaços adequados para as crianças.
Muitas são as propostas apresentadas por vários autores mas que só serão praticadas o dia em que
o educador infantil tomar consciência da importância de oferecer espaços ricos de informações na
vida das crianças, passando a reconhecer a importância das trocas que ocorrem nos espaços
oferecidos como um fator essencial na vida da criança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Referencial Curricular Para a Educação Infantil. Vol. 1. Brasília: MEC/SEI, 1998.
CARVALHO, Maria Campos de. Porque as crianças gostam de áreas fechadas? Espaços
circunscritos reduzem as solicitações de atenção do adulto. In: FERREIRA, Maria Clotilde Rosseti.
Os Fazeres na Educação Infantil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003. cap.47.
CARVALHO, Maria Campos de; RUBIANO, Márcia R. Bonagamba. Organização dos Espaços em
Instituições Pré-Escolares. In: OLIVEIRA, Zilma Morais. (org.) Educação Infantil: muitos olhares. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2001.

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