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2008-2009
Os Maias – análise de textos in Antologia 11º ( chave de correcção)
Profª: Fernanda R. Afonso Turma: 11º A/C/D
Texto : «No Verão Pedro partiu para Sintra» ( Antologia, pp. 178-179)
Questionário - soluções
1. Pedro da Maia apaixonou-se perdidamente por uma jovem desconhecida, de inexcedível beleza:
Maria Monforte. Não o escondeu da sociedade lisboeta - que criticava a origem social da jovem ,
considerada pouco digna , pois o pai tinha feito fortuna com o tráfico de escravos, o que valeu à
jovem o epíteto de «negreira» -, antes lhe fez a corte abertamente e à antiga portuguesa. Amando de
forma romântica, Pedro frequentava os locais públicos, como o teatro, a que Maria ia, escrevia-lhe
versos, colocava-se diante da casa da amada, etc.
Este excerto dá conta do período de intenso enamoramento de Pedro da Maia por Maria Monforte, no
momento em que esta já aceitara o seu amor e existe um compromisso amoroso entre eles. Para além
disso, é a primeira vez que Afonso vê Maria Monforte e fica apreensivo. Apercebendo-se da extrema
beleza desta e do modo como o filho está inteiramente subjugado por ela, toma consciência da
impossibilidade de impedir este relacionamento, pressentindo, ainda, que o mesmo será funesto para
Pedro.
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Posteriormente, Pedro que nunca fora capaz de tomar decisões, enfrenta com firmeza tanto a
maledicência social, como a oposição do pai ao casamento com Maria, casando com esta,
apesar da ruptura que se instaura entre ele e o seu pai , afastando-os irreversivelmente.
Já casado, e depois da viagem de núpcias, Pedro e a mulher instalam-se em Arroios,
acedendo ele a todos os caprichos de Maria ( recebem , mais frequentemente do que Pedro
quereria, a fina sociedade lisboeta; assiste enciumado à corte que os homens faziam à mulher).
Durante este período nascem os seus dois filhos - uma menina e um menino, ao qual a mãe
pôs o nome de Carlos Eduardo porque ela lera um romance de amor, que a encantara, cuja
personagem assim se chamava.
Pouco tempo depois do nascimento do rapaz, Maria trai Pedro e foge com o italiano,
levando a menina consigo, mas deixando o menino, um bebé de meses (isto é Carlos Eduardo
da Maia). Não suportando a humilhação e a perda da honra, Pedro, com o filho, regressa à
casa paterna ( em Benfica), onde é bem acolhido por seu pai, agora muito preocupado com o
que pudesse acontecer.
Contudo, a fraqueza de carácter da personagem, a sua incapacidade de ser racional, a sua
tendência para comportamentos excessivos ditados pelos sentimentos exacerbados, leva-o a
cometer o suicídio, ficando Carlos à guarda de seu avô, agora também com a função de pai e
de educador. Por isso, Afonso decide fechar as portas do palacete de Benfica e partir para o
campo, para a quinta de Santa Olávia, onde pretende viver e educar o neto no contacto sadio
com a natureza.
1
vida de alguém, conjugam-se negativamente na vida de Pedro, tornando inevitável que o seu
percurso biográfico culmine numa tragédia ( traído pela mulher, Pedro suicida-se).
- oposição clara e violenta entre Ega, defensor da «Ideia Nova», do Naturalismo ( a literatura deve
dissecar os males da sociedade, mostrar a «lesão», fazer «rudes análises», ascender ao estatuto de
ciência), e de Alencar defensor do Romantismo ( das histórias de amores impossíveis; da descrição
de heróis e heroínas ideais, belos, vivendo amores intensos e dramáticos; um estilo fantasioso, etc)
que não aceita a literatura do naturalismo, esse «excremento»;
- contestação, por Ega, do realismo por considerar que esta corrente ainda pouco científica que se
deixa «enredar por fantasias literárias;
- contestação, por parte de Carlos e de Craft, dos excessos de Ega quanto ao conceito de Literatura.
Para Carlos, é necessário um enredo pois as personagens «só se podem manifestar pela acção»;
Também Craft acentua o papel fundamental do estilo na obra literária.
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2. O texto organiza-se em duas partes lógicas. A primeira ( de «No Verão» até « tranquilizar Vilaça»)
corresponde ao conhecimento que Afonso tem da partida de Pedro para Sintra, indo ao encontro dos
Monforte, e à conversa que tem com Vilaça que o informa sobre o facto de Pedro ter reclamado a
«legítima da mamã» (herança, por parte da mãe). À preocupação de Vilaça, Afonso responde com
descontracção, não valorizando aquela situação. Quanto à segunda parte ( de «Daí a dias» até «tristes
ramas»), esta dá conta do momento em que Afonso, na companhia de Sequeira, vê pela primeira vez
Maria Monforte, salientando-se o impacto que lhe causa a beleza de Maria ( exaltada por Sequeira),
mas, sobretudo, a impressão negativa que tem dela relativamente à sua influência na vida do filho.
3. As expressões salientam o facto da personagem ter um lado oculto. Deste modo, a seriedade e pureza
( «grave e pura») da sua expressão perfeita « como um mármore grego» contrastam com um olhar
escurecido, nada transparente («azul sombrio»), evidenciando, com uma nota negativa, o lado
obscuro da personagem. Este aspecto é amplificado e intensificado através da «sombrinha escarlate»
comparada, por Afonso, a uma «larga mancha de sangue» que «alastrando» cobre «a caleche»,
indiciando simbolicamente - e de modo intenso - o perigo, a morte, o pressentimento da tragédia
que se abaterá sobre Pedro. Daí que a natureza ( aqui personificada) seja também ela objecto da
percepção negativa de Afonso ( «o verde triste das ramas»), este sim entristecido ( «cabisbaixo»)
temendo pelo futuro do seu filho, fatalmente associado àquela mulher que ele vislumbra como
negativa.
.4.1. (cf. 2 e 3)
2
- uma mulher que oculta um lado menos claro e transparente como indica o «olhar «azul» mas
«sombrio» a iluminar-lhe a face;
- muito elegante, vestindo-se requintadamente, de acordo com os ditames da moda (vestido, fitas do
chapéu numa mesma tonalidade – o cor-de-rosa – e uma sombrinha numa tonalidade complementar
mas mais intensa - «escarlate»);;
- dispendiosa, gastando bastante dinheiro no que se refere à moda como provam os «cartões de
modista» que ocupavam «quase todo» o «assento defronte» ;
- dominadora , o que é visível na forma como o espaço da caleche é praticamente todo ocupado por
ela, pela sua toilette e pelas suas compras ( Pedro quase desaparece, sob a sua sombrinha, e o papá
Monforte vai «encolhido», segurando o «mantelete» da filha).
4.3. A exuberância e elegância do vestuário de Maria contrastam com a roupa deselegante do pai
(«chapéu de panamá, calça de ganga»), bem como com a sua a atitude. Este surge «encolhido»,
como se ali não estivesse por direito próprio, reservando o lugar que lhe cabia aos «cartões de
modista», pertença da filha. Esta tem, evidentemente, uma posição dominadora relativamente ao pai,
vendo-o até como alguém inferior: os seus objectos não só ocupam a quase na totalidade do banco
onde está sentado o pai (que vai «encolhido»), como é ainda ele que leva, no braço, o «mantelete da
filha». Dá-se, pois, uma inversão de papéis sociais já que o Monforte submete-se aos caprichos da
filha, não desempenhando a função de pai de família enquanto a figura que protege e domina.
1. Neste momento da acção narrativa, Vilaça, o procurador da família, desloca-se a Santa Olávia
para pôr Afonso ao corrente de assuntos da família no plano económico, e receber instruções do
velho patriarca relativamente à gestão do seu património.
2. Neste episódio há personagens que estão em sintonia com a natureza, que sentem o prazer da
vida saudável no campo, nomeadamente o Carlinhos, o seu preceptor, Mister Brown e o avô.
Contudo, há outras personagens que não estão em harmonia com a paz, o ambiente primaveril
dos campos. São elas Eusebiosinho, as Silveira, o abade, personagens que vivendo num
ambiente rural, preferem a clausura das casas ao ar livre que nunca saborearam. Por outro lado, o
citadino Vilaça, nada habituado à temperatura campestre, vem agasalhado e fica “arrepiado” ao
sentir a «frescura » do ambiente.
O diálogo entre Vilaça e o Teixeira é a estratégia fundamentalmente utilizada pelo narrador para informar
o leitor sobre o essencial da educação de Carlos. Assim, o comentário de Vilaça a respeito do carácter
eventualmente mimado de Carlos, tem como consequência uma longa exposição, por parte de Teixeira,
sobre os rigores da educação a que Carlos está sujeito.
Os princípios que orientam a educação de Carlos são os seguintes:
- rigor ( «Coitadinho dele, que tinha sido educado com uma vara de ferro!»);
- desenvolvimento da autonomia e da superação de medos, como o do escuro ( aos «cinco anos
já dormia num quarto só, sem lamparina»);
- fortalecimento da vontade e treino da resistência ( « todas as manhãs, zás, para dentro de uma
tina de água fria, às vezes a gear lá fora»);
- adopção dos «sistema inglês» na educação;
- estímulo de uma vivência activa em brincadeiras de criança ( «Deixava-o correr, cair, trepar às
árvores, molhar-se, apanhar soalheiras»);
- inflexibilidade e «dureza» com os horários e a alimentação («E depois o rigor com as comidas!
Só a certas horas e de certas coisas»);
- fortalecimento da saúde do corpo pelo exercício físico ( o remo, o trapézio, …).
3
4.1. Afonso da Maia adopta, para educar Carlos, o modelo inglês ( recuperando o princípio
clássico de mente sã em corpo são) pois tem uma visão mais moderna da educação: esta deve
desenvolver o indivíduo integralmente, deve ser útil, deve estimular as suas capacidades
intelectuais e físicas, desenvolver o seu espírito crítico, fortalecer o carácter e a vontade.
Segundo Afonso, uma criança, um jovem assim educado, tornar-se-á culto, poderá ser útil ao seu
país, exercendo uma profissão, será um homem do seu tempo, de uma Europa em franco
progresso. Assim sendo, rejeita a educação portuguesa que privilegia a memorização ( do latim,
da cartilha, do catecismo), não contempla o desenvolvimento do intelecto que promove a
mediocridade cultural, moral e social ( de que Eusebiozinho é representativo).
As posições de Afonso são contestadas pelo(a)
- abade Custódio ( «Bela coisa a ginástica! – exclamou Afonso da Maia (…). E o abade, depois
de dar um sorvo no café, , soltou a sua bela frase (…) – Esta educação faz atletas mas não faz
cristãos (…)»).;
- Vilaça ( «(…) já ouvira que [ a ginástica] enfraquecia muito o peito»);
- D. Ana Silveira ( «Era à inglesa, segundo diziam (…) mas ela ou estava enganada, ou Santa
Olávia era no reino de Portugal» ; «(…) o Carlinhos, coitadinho não sabe uma palavra de
doutrina…»; «-Sem contar que o pequeno [ Carlinhos] está muito atrasado. A não ser o seu
bocado de inglês não sabe nada … Não tem prenda nenhuma!»).
Para justificar as suas afirmações, a senhora demonstra o que é uma criança prendada,
correctamente educada, solicitando a Eusebiosinho que diga «aqueles lindos versos » que
«sabe», pois se o fizesse dormiria nessa «noite com ela». Esta chantagem decidiu o «menino»
que,«molengão e tristonho», recitou os versos sem entusiasmo, revelando uma total
incompreensão dos mesmos ( «(…) abriu a boca, e como de uma torneira lassa veio de lá
escorrendo, num fio de voz, um recitativo lento e babujado».)
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- a comparação («como uma torneira lassa») acentua o ritmo sempre monocórdico, destituído de
vivacidade, da recitação dos versos, comparando a boca da criança a uma torneira que uma vez
aberta não deixa de verter líquido até que este se esgote ou alguém interrompa o fluxo.
Eusebiosinho recita o que decorou até ao final, apenas porque decorou, sem saber o que diz e
sem vontade própria ;
4
Síntese dos dois modelos de educação postos em confronto – análise comparativa
através de esquema
5
Paralelismo e diferença entre a história de vida de Pedro e de Carlos
Pedro Carlos
Maledicência da sociedade lisboeta , Maria Eduarda leva uma vida discreta em Lisboa;
particularmente a feminina, sobre os amores
de Pedro e da «negreira» Dâmaso Salcede insiste numa relação próxima com
Admiração por parte dos homens, da beleza Maria que esta não incentiva.
deslumbrante de Maria
Namoro; encontros
Casamento com a oposição de Afonso Encontros; início de um relacionamento amoroso;
oposição latente de Afonso.
Viagem ao estrangeiro; vida conjugal; vida
social em Arroios; nascimento dos filhos Vida conjugal e social na Toca; projectos de viagens e
casamento adiados por causa da idade avançada do avô,
Tentativa de conciliação, gorada, com Afonso
para não lhe dar um desgosto.
da Maia
Presença do napolitano na casa de Arroios –
desencadeador do drama Castro Gomes surge como um primeiro elemento de
Infidelidade de Maria e sua fuga com o instabilidade no relacionamento Carlos/Maria – o
napolitano Tancredo drama desponta; a verdade sobre o passado de Maria;
as explicações dela e o perdão de Carlos.
6
racionalidade.