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PORTUGUÊS

Sonetos Completos – Antero de Quental


 Soneto: poema de forma fixa, composto por 14 versos, distribuídos por 2 quadras e 2 tercetos, que na poesia
anteriana expressaria a unidade em relação ao conteúdo - uma só ideia desenvolvida em partes e resumida
num final (o último terceto – chave de ouro)
Configurações do Ideal

 O sujeito poético procura um sentido para a existência e aspira ao Ideal: o bem, a justiça, a beleza e a verdade
 Na sua vertente otimista, luminosa e racional, o eu sonha a realização plena desse ideal em si e no mundo
que o rodeia
 O Ideal pode assumir configurações distintas:
o no plano ético, individual e coletivo
o no amor que se sonha em contornos idealizados
o na construção de uma realidade social justa e humana
 O Ideal, que o eu busca ora pela racionalidade ora pela espiritualidade e pelo misticismo, pode associar-se às
noções de Deus ou de Absoluto.
A angústia existencial

 A expressão do drama interior de um sujeito poético atormentado e de um grande desalento, que lhe mina a
existência
 Profunda insatisfação decorrente da imperfeição do real e do Homem, bem como da impossibilidade de viver
o ideal
 A desilusão é vivida em estado de grande abatimento, inquietação e desespero, em que as ideias de
desistência e de morte estão presentes
 Emerge deste modo, a faceta noturna, atormentada, de sentimentos negros
Linguagem, estilo e estrutura
 Discurso conceptual
 Paralelamente a sonetos de estrutura narrativa e imagens concretas, estão aqueles em que o sujeito poético
reflete, em linguagem abstrata, sobre temas como a divindade, o sofrimento, o ideal e a angústia
 Antero exprime um pensamento filosófico, que encontra na linguagem poética um modo admirável da
expressão.
 Discurso dialogado com personagens alegóricas (Ideia, Razão, Noite, Morte)

 Linguagem e Estilo
 Recursos expressivos: alegoria, metáfora, personificação, apóstrofe, …
 Utilização da maiúscula com o objetivo de materializar a palavra em conceito – alegoria e personificação
 Emparelhamento de vocábulos e temáticos contrastivos
 Apelo aos sentidos
 Vocabulário de cunho classicizante
 Apresentação retórica (diálogos, interrogações, interjeições)
Os Maias – Eça de Queirós
Estrutura da obra

 Estrutura externa – 18 capítulos


 Estrutura interna – intrigas e críticas de costumes

Intriga principal Intriga secundária Críticas de costumes


Carlos da Maia e Mª Eduarda Pedro da Maia e Mª Monforte  Jantar do Hotel Central
Tem Carlos da Maia e Maria Eduarda Prepara e condiciona a ação  Corridas no Hipódromo de
como protagonistas de uma história principal e consiste na história Belém
de amores trágicos e incestuosos, trágica dos amores de Pedro da  Jantar em casa dos
cujo desenvolvimento acontece de Maia e de Maria Monforte Gouvarinho
forma autónoma e em alternância
com a crítica de costumes
 1ª visão de Maria Monforte  A Corneta do Diabo e o jornal
 Namoro e casamento de A Tarde – jornalismo
Pedro com Maria Monforte, português do séc. XIX
contra a vontade do pai
 Viagem de Pedro e Maria  Sarau do Teatro da Trindade
Monforte por Itália e Paris
 Nascimento da primeira filha  Passeio final por Lisboa
- Maria Eduarda
 Regresso a Portugal - vida de
luxo no Palácio de Arroios
 Nascimento do segundo filho
- Carlos Eduardo
 Fuga de Maria Monforte para
Itália com a filha
 Reconciliação entre Pedro e
Afonso
 Suicídio de Pedro na casa de
Benfica, depois de confiar
Carlos ao avô
O título e o subtítulo
Os Maias, episódio da vida romântica

Crítica de costumes da sociedade portuguesa,


A história da família Maia, ao longo de 3
sobretudo da alta burguesia lisboeta no
gerações: Afonso, Pedro e Carlos da Maia
último quartel do século XIX.
Personagens
 Carlos da Maia
 Jovem aristocrata belo e elegante
 Diletante: apresenta interesses dispersos (medicina, literatura, cavalos), o que se irá traduzir na não
concretização de nenhum projeto
 Dândi: cultiva a sua imagem, ostentador
 Nobre de caráter com valores bem definidos
 Maria Eduarda
 Jovem bela e extraordinariamente atraente
 Digna, sensata, solidária, culta, idealista progressiva e pragmática
 Afonso da Maia
 Patriarca da família: alia a robustez física à força moral
 Representante do Liberalismo e associado ao passado glorioso, Afonso não consegue adaptar-se às
mudanças, simbolizando a incapacidade de regeneração nacional
 Maria Eduarda Runa
 Fidalga devota; nervosa, melancólica e frágil, atributos que transmite ao filho Pedro, sobre quem exerce um
enorme ascendente, sobretudo através da educação beata e tradicional que lhe incute
 Pedro da Maia
 Herdeiro das características da mãe – débil, melancólico, nervoso e passivo
 Romântico - vida de excessos, boémio, paixão intensa por Maria Monforte; o suicídio é a saída para a
frustração amorosa
 Maria Monforte
 Bela e sedutora, provém de uma família cujo dinheiro resulta do tráfico de escravos, pelo que é olhada com
desdém por Afonso e pela sociedade lisboeta
 Seduz e casa com Pedro, contra a vontade de Afonso; o seu gosto pelo luxo e a sua capacidade de ser o
centro das atenções trazem ao casal uma vida social intensa
 Insatisfeita e volátil, foge com Tancredo e a filha; acaba por ingressar numa vida desregrada e de boémia,
com consequências nefastas para si e para toda a família
 João da Ega
 Amigo inseparável de Carlos é, como ele, um diletante e um dândi
 Irreverente, provocador, revolucionário, é considerado um alter-ego de Eça de Queirós
 Romântico na vida, contraditoriamente defende o naturalismo literário e a regeneração social; acaba por
reconhecer o fracasso da sua vida e da do amigo
Linguagem e estilo

 A prosa revela-se admiravelmente versátil e maleável. Por um lado, atinge rasgos de grande beleza com
construção frásica elegante e cuidada. Ainda por outro lado, sobretudo na reprodução das falas das
personagens, recorre-se aos registos de uma fala familiar e corrente, ocasionalmente ao calão
 Ainda no que diz respeito à “reprodução do discurso no discurso”, o discurso direto dos diálogos e o discurso
indireto livre (técnica em que a voz de uma personagem e a do narrador se sobrepõem) revelam as
estratégias, ao gosto da literatura realista, na medida em que se colocam as personagens em interação, de
forma a exporem-se através do que dizem e a denunciarem o seu caráter num processo de caracterização
indireta em que a personagem mostra o que é pelo que afirma e pela forma como afirma
Características trágicas dos personagens

Carlos da Maia Maria Eduarda Afonso da Maia


 destaca-se pelo caráter firme,  é descendente da família Maia  sobressai pela nobreza do seu
pela finura do trato e pela e tem sangue fidalgo nas veias caráter e pelos seus valores
elevação intelectual  destaca-se pela dignidade e elevados
 tem um percurso de vida pela elevação ética e intelectual  tem um percurso de vida
marcado por presságios que  cruza-se com Carlos, por quem marcado pela fatalidade de ter
anunciam um final trágico, se apaixona sem saber que é perdido o filho e, no final, por
como o suicídio do pai, a sorte seu irmão saber que Carlos amava a irmã
ao jogo e a semelhança entre o  é vítima inocente desta  ridiculariza os agouros que
seu nome e o de Maria Eduarda coincidência, e uma imensa sugerem um novo final trágico
 comete um erro trágico de se desolação abate sobre ela na família, por ser um homem
apaixonar pela irmã e de ter quando sabe que o homem que racional e esclarecido
persistido no incesto quando ama é seu irmão, também ela  morre também como resultado
sabia o laço familiar que os morre sentimentalmente do grande desgosto de saber
ligava que os netos eram amantes e
 sente uma profunda desolação acaba por ser outra vítima
ao separar-se de Maria deste infortúnio
Eduarda, facto que representa a
sua morte sentimental, pois
será incapaz de voltar a amar
As marcas trágicas n’Os Maias

 Hybris
o Desafio de Carlos aos valores sociais e morais ao cortejar Maria Eduarda, aparentemente casada, e
depois ao cometer o incesto (inconsciente/conscientemente)
 Ágon
o Conflito interior de Carlos, que se sente dividido entre ser feliz com Maria Eduarda e não trazer
desgosto ao avô
 Ananké
o Fatalidade que persegue a família desde que Pedro se casou com Maria Monforte. A mão do destino
manifesta-se pela chegada do Sr. Guimarães, mensageiro da desgraça
 Pathos
o O sofrimento que atinge os 3 protagonistas trágicos, sobretudo após a revelação do parentesco entre
Carlos e Maria Eduarda
 Anagnórise
o Reconhecimento de que Carlos e Maria Eduarda são irmãos
 Peripécia
o Implicação na vida de Carlos e de Maria Eduarda das revelações do Sr. Guimarães e da entrega do
cofre de Maria Monforte a Ega
 Clímax
o Consumação consciente do incesto por parte de Carlos
 Catástrofe
o Morte de Afonso
o Separação de Carlos e Maria Eduarda (morte sentimental dos personagens); fim anunciado dos Maias

Presságios da narrativa

 Quando Afonso vê Maria Monforte pela primeira vez; a mancha de sangue é indício da consanguinidade entre
Carlos e Maria Eduarda, isto é, da relação incestuosa
 Vilaça tentando demover a vontade de Afonso de ir instalar-se no Ramalhete “aludia (…) a uma lenda,
segundo o qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete”
 Maria Monforte dá o nome do último Stuart, Carlos Eduardo, ao filho – marcado pelo estigma da extinção de
uma família
 Em casa de Maria Eduarda 3 lírios brancos murchavam dentro de um vaso do Japão – símbolo da destruição
dos 3 membros que restavam da família
 A semelhança dos nomes de Carlos e Maria Eduarda - indica a concordância dos seus destinos
 Semelhança de Maria Eduarda com o avô (na perspetiva de Carlos) e Carlos parecido com sua mãe (na
perspetiva de Maria Eduarda)
 Na “Toca”, há uma tapeçaria que representa os amores de Vénus e Marte (relação incestuosa) e um quadro
com “uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue” (indício de morte)
Espaços e o seu valor simbólico e emotivo
 Espaços exteriores

Espaços Personagens Valor simbólico e emotivo


Vida e regeneração
 Local de refúgio em momentos
Afonso da Maia
Santa Olávia (Resende) difíceis
Carlos da Maia
 Espaço de infância de Carlos
(educação e afetos)
Formação académica e amizade
Carlos da Maia
Coimbra  Local de juventude e da vida
João da Ega
boémia

Paraíso romântico
Carlos da Maia  Local de passeio dos lisboetas
Sintra
Amigos  Espaço de encontros sociais e
amorosos
Lisboa Todas Centralidade politico-cultural do
país
 Espaço de vivência e convívio
social
 Espaços interiores

Espaços Personagens Valor simbólico e emotivo


Afonso da Maia Desgostos domésticos e tragédia
Palacete de Benfica Maria Eduarda Runa  Residência familiar, vendida após
Pedro da Maia o suicídio de Pedro no palacete
 Portugal Velho
Carlos da Maia  As expectativas, os projetos, os
Ramalhete Afonso da Maia sucessos
Amigos  A catástrofe e a decadência
familiar
Diletantismo de Carlos
 Espaço de concretização dos seus
projetos e do seu entusiasmo
Consultório Carlos da Maia
passageiro, que culminam no seu
falhanço profissional

Carlos da Maia  Local onde ocorre o incesto


Toca
Maria Eduarda
João da Ega  Local dos encontros adúlteros
Vila Balzac
Raquel Cohen entre João e Raquel Cohen
 Espaços sociais e crítica de costumes em Os Maias

Espaços Crítica de costumes


 Ega organizou um jantar no Hotel Central, durante o qual irrompe uma
acesa discussão literária em que se confrontam as ideias do
Ultrarromantismo e do Realismo/Naturalismo, servindo o
Hotel Central desentendimento de exame crítico destas correntes artísticas
 Os convivas refletem também, de forma trocista, sobre a decadência
económica, social e moral de Portugal, revelando a indiferença das elites
perante a situação preocupante em que o país se encontra
 As corridas de cavalos: trata-se de um evento com pretensões sociais,
que copia as corridas da Inglaterra e de França
 Censura-se a imitação de comportamentos sociais estrangeiros e a
presunção da sociedade burguesa e fidalga portuguesa, que cultiva uma
Hipódromo de Belém
aparência altiva de elegância, mas que se revela postiça e ridícula
 Os comportamentos, os vestuários e as decorações são artificiais,
revelando o provincianismo português e a falta de civismo, quando se
desencadeia uma violenta discussão que chega à agressão física.
 Carlos e Ega jantam em casa do Conde de Gouvarinho, onde se discutem
questões como a educação das mulheres e a literatura
Casa dos Gouvarinho  A conversa dos 2 amigos com o Conde de Gouvarinho (politico) e Sousa
Neto expõem a falta de cultura, a mediocridade das ideias e a falta de
visão sobre os problemas do país
 Os 2 episódios que decorrem nas redações de jornais A Corneta do
Diabo e A Tarde expõem os vícios do jornalismo, assim como a falta de
Redações dos jornais
ética dos seus profissionais, a fraca qualidade dos textos publicados e as
relações condenáveis entre essa atividade e a política
 No sarau artístico no teatro da Trindade, critica se a futilidade da alta
Teatro da Trindade sociedade lisboeta: a reação do Público à atuação de maus oradores e de
um bom músico (Cruges) expõe a falta de cultura das classes favorecidas
Resumo da história

 A ação de “Os Maias” passa-se em Lisboa, na segunda metade do século XIX. No outono de 1875, Afonso da
Maia instala-se no Ramalhete Do matrimónio com Maria Eduarda Runa, nasce o único filho do casal, Pedro da
Maia.
 Muito ligado à mãe, que o criou com enorme apego e devoção, Pedro vê-se inconsolável após a morte desta,
mas consegue recuperar quando conhece uma bela mulher chamada Maria Monforte, filha de um traficante
de escravos.
 Afonso da Maia rejeita o relacionamento do seu filho com Maria Monforte, todavia, os jovens casam-se
mesmo a contragosto do patriarca.
 Deste casamento nascem duas crianças, Maria Eduarda e Carlos Eduardo; não obstante, pouco depois do
nascimento de Carlos, Maria Monforte enamora-se por Tancredo, um príncipe italiano, com o qual foge,
levando embora consigo a filha. Ao chegar a casa, Pedro descobre a fuga e, desesperado, refugia-se na casa
do seu pai, levando o filho, ainda bebé. Nessa mesma noite, redige uma longa carta destinada ao pai e, por
não suportar o abandono, comete suicídio.
 Aos cuidados do avô, Carlos Eduardo recebe uma educação forte e austera; passados alguns anos, contra a
vontade de todos, exceto do seu avô Afonso, o jovem transfere-se para Coimbra, para estudar medicina. Após
se formar, regressa ao Ramalhete e monta um consultório, mas sem prescindir de uma vida de aventuras
burguesas ao lado dos seus amigos intelectuais João da Ega, Alencar, Eusebiozinho, o maestro Cruges, entre
outros.
 Um dia, Carlos conhece uma mulher chamada Maria Eduarda e apaixona-se por ela, mesmo acreditando ser
esta senhora casada com um cavalheiro brasileiro de nome Castro Gomes. A despeito da sua condição, o
jovem tenta-se aproximar dela, sem obter êxito, até que recebe o chamado de Maria Eduarda, que
necessitava dos seus serviços médicos, visto que a sua filha, Rosa, se encontrava doente. Em razão das
frequentes visitas de Carlos à casa de Maria Eduarda, ambos começam a envolver-se e decidem viver um
romance.
 Amantes, encontram-se às escondidas numa casa na quinta dos Olivais. Ao descobrir o envolvimento do
casal, Castro Gomes, o brasileiro com quem Carlos julgava que Maria Eduarda era casada, decide procurar o
jovem médico para lhe contar que ela não é sua esposa, mas sim uma dama de companhia, revelação que
põe fim ao romance proibido.
 Embora livre para se casar com Maria Eduarda, outra tragédia irá se abater na família dos Maias. Chega de
viagem o senhor Guimarães, trazendo consigo um pequeno cofre que havia recebido de Maria Monforte, que
morrera em Paris. No cofre, a revelação: Maria Monforte havia sido a esposa que levara o marido, Pedro da
Maia, pai de Carlos, ao suicídio. Descobre-se, assim, que os dois amantes – Carlos e Maria Eduarda — eram
irmãos.
 Apesar da aterradora constatação, Carlos ignora o facto e, sem revelar a sua descoberta para Maria Eduarda,
decide continuar com a relação incestuosa. O seu avô, Afonso da Maia, descobre toda a verdade e morre de
desgosto. Quando Maria Eduarda finalmente descobre ser irmã do próprio amante, parte rumo a Paris, onde
tempos depois se casa. Para esquecer a sua triste sina, Carlos resolve viajar pelo mundo, regressando dez
anos depois a Portugal, onde reencontra os seus velhos amigos, particularmente João da Ega, seu grande
amigo desde os tempos de Coimbra. Juntos recordam o passado, com ironia e desesperança.

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