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Excertos relevante

“Uma sombria tarde de Dezembro, de grande chuva, Afonso da Maia estava no seu escritório
lendo, quando a porta se abriu violentamente, e, alçando os olhos do livro, viu Pedro diante
de si. Vinha todo enlameado, desalinhado, e na sua face lívida, sob os cabelos revoltos, luzia
um olhar de loucura. O velho ergueu-se aterrado. E Pedro sem uma palavra atirou-se aos
braços do pai, rompeu a chorar perdidamente.”
“Então, sem ruído, subiu ao quarto de Pedro. Havia uma fenda clara, entreabriu a porta. O
filho escrevia, à luz de duas velas, com o estojo aberto ao lado. Pareceu espantado de ver o
pai: e na face que ergueu, envelhecida e lívida, dois sulcos negros faziam-lhe os olhos mais
refulgentes e duros.”
“A madrugada clareava, Afonso ia adormecendo - quando de repente um tiro atroou a casa.
Precipitou-se do leito, despido e gritando: um criado acudia também com uma lanterna. Do
quarto de Pedro, ainda entreaberto, vinha um cheiro de pólvora; e aos pés da cama, caído de
bruços, numa poça de sangue que se ensopava no tapete, Afonso encontrou seu filho morto,
apertando uma pistola na mão.
Entre as duas velas que se extinguiam, com fogachos lívidos, deixara-lhe uma carta lacrada
com estas palavras sobre o enve-lope, numa letra firme: «Para o papá.»
Daí a dias fechou-se a casa de Benfica. Afonso da Maia partia com o neto e com todos os
criados para a Quinta de Santa Olávia.”

Estes excertos pertencem ao Capítulo 2 do livro "Os Maias" de Eça de Queiroz e descrevem
o trágico fim de Pedro da Maia, o pai de Carlos da Maia, em um episódio que tem um
impacto significativo na história da família Maia.
No primeiro excerto, Pedro, que aparentemente está a sofrer uma crise emocional, visita o
seu pai, Afonso da Maia, de forma abrupta e desordenada. A cena sugere que Pedro está em
um estado de grande perturbação mental e física.
No segundo excerto, Afonso da Maia entra no quarto de Pedro e encontra-o a escrever com
o estojo aberto. A descrição da face de Pedro sugere que ele está desesperado e
angustiado, quase como se soubesse que algo terrível estava para acontecer.
No terceiro excerto,ocorre o evento mais trágico : Pedro tira a própria vida, com um tiro, em
seu quarto. A carta lacrada com a inscrição "Para o papá" sugere que ele havia deixado uma
mensagem para o pai antes de cometer o ato. A cena é descrita de forma angustiante e
perturbadora, deixando claro o impacto emocional devastador que a morte de Pedro teve
sobre a família.
Estes excertos ilustram como a tragédia e a morte cercam a família Maia desde o início do
livro e estabelecem um tom sombrio e melancólico durante o resto da obra.

os maias
Contextualização:O segundo capítulo de "Os Maias" de Eça de Queiroz é um
momento crucial da obra em termos de desenvolvimento da trama. Ele apresenta
algumas das personagens principais e estabelece o conflito principal que conduzirá
a história.Este capítulo serve para contextualizar a situação da família Maia na
época em que se passa a história, bem como a forma como eles interagem com a
sociedade portuguesa da época.
O capítulo também revela a visão de Eça de Queiroz sobre a alta sociedade
portuguesa do século XIX, expondo sua corrupção, hipocrisia e imoralidade.Em
termos de estrutura da obra, o segundo capítulo funciona como um ponto de virada
para a história. Ele estabelece a relação entre os personagens principais e fornece
uma visão da sociedade portuguesa do final do século XIX. A partir deste ponto, a
história começa a se desenrolar, explorando temas como amor, corrupção,
decadência e desilusão.

SÍNTESE:
  Pedro e Maria casam-se às escondidas, sem o consentimento de Afonso da Maia
e partem para Itália. Porém, a mulher suspirava por Paris, para onde se mudaram
pouco tempo depois, até Maria aparecer grávida. Nessa altura resolveram voltar
para Lisboa, mas não sem antes escreverem a Afonso, pai de Pedro, anunciando a
sua partida e o nascimento do seu primeiro neto, na esperança de que ele os
perdoasse e os recebesse como família. Contudo, quando chegaram a Lisboa,
ficaram a saber que Afonso tinha voltado para Santa Olávia, a sua quinta no norte do
país, no dia anterior. Assim, o tempo passou e Maria Eduarda, filha do casal, nasceu.
Pedro não informou o seu pai do nascimento da filha, por estar ainda magoado com
a atitude dele, mas, quando o seu segundo filho nasce, põe a hipótese de se
conciliar com o pai e resolve ir a Santa Olávia apresentar-lhe os netos.
Contudo, esta visita foi adiada porque Pedro, numa caçada com os amigos, feriu
acidentalmente italiano, Tancredo, que tinha sido condenado à morte e andava
fugido. Por isso, Tancredo ficou a restabelecer-se durante muito tempo em casa de
Pedro e Maria – tempo suficiente para Maria o conhecer, e se apaixonarem sem
ninguém ter conhecimento, até ao dia em que Pedro descobre que ambos fugiram,
levando com eles a sua filha, Maria Eduarda.
  Pedro decide então procurar consolo junto do pai, que o acolheu, assim como ao
seu filho, Carlos, na casa de Benfica, para onde se tinha mudado entretanto. Porém,
nesse mesmo dia, Pedro suicida-se ao saber que a mulher o tinha deixado para ir
viver com o napolitano e Afonso decide fechar a casa de Benfica, vendê-la e
mudar-se com o seu neto, Carlos, para a quinta de Santa Olávia.

Hipérbole: "uma poça de sangue que se ensopava no tapete" - nesta expressão, o


autor exagera a descrição da quantidade de sangue que saía do corpo de Pedro,
usando a hipérbole para enfatizar a cena chocante e trágica.

Antítese: "envelhecida e lívida, dois sulcos negros faziam-lhe os olhos mais


refulgentes e duros". Nessa frase, a antítese é construída através da contraposição
entre "envelhecida e lívida" e "mais refulgentes e duros" para descrever os olhos de
Pedro.

Personificação: "e aos pés da cama, caído de bruços, numa poça de sangue que se
ensopava no tapete, Afonso encontrou seu filho morto, apertando uma pistola na
mão" - a pistola é descrita como sendo "apertada" na mão de Pedro,
personificando-a como se fosse um objeto com vida e vontade próprias, dando uma
conotação de que a pistola foi uma espécie de "cúmplice" na morte de Pedro.

Personagens:
Afonso da Maia é apresentado como um homem idoso, distinto, respeitado e de
grande prestígio social, político e cultural, descendente de uma família de antigos
fidalgos, que se destacou em Portugal desde o século XVII. Ele é descrito como um
homem calmo, ponderado, inteligente, sábio e culto, com grande amor às artes, à
filosofia e à literatura.

Pedro aparece em um momento de desespero, com um olhar de loucura nos olhos,


antes de cometer suicídio. Ele deixa uma carta lacrada para o pai, que se revela ser
um relato de sua vida infeliz e desesperada. O personagem é visto como um
exemplo da decadência da aristocracia portuguesa, que, apesar de possuir riqueza e
cultura, não é capaz de encontrar sentido e felicidade em suas vidas vazias.

Maria Eduarda Monforte é uma personagem fascinante e complexa, cuja beleza,


charme e mistério cativam os personagens masculinos do romance. Ela é uma
mulher inteligente e independente, mas a sua falta de comprometimento e ética
muitas vezes levam-a a tomar decisões questionáveis e a causar dor e sofrimento a
outras pessoas.

Neste capítulo Carlos da Maia não nos é apresentado como uma personagem
central, devido ao facto do tema principal ser os motivos da morte de Pedro da Maia,
seu pai. No entanto, ele aparecerá nos restantes capítulos sendo o protagonista.
Este é nos apresentado como um homem sensível e apaixonado, mas também
indeciso e frequentemente atormentado por dúvidas e conflitos internos.

Linguagem e estilo:
A prosa queirosiana é marcada pelo seu estilo descritivo, detalhado e realista, que
procura retratar fielmente a sociedade portuguesa do século XIX. No capítulo 2 de
"Os Maias", essas características são evidenciadas na descrição minuciosa do
escritório de Afonso da Maia e da sua casa em Benfica, assim como nas
características físicas e psicológicas das personagens.

Por meio da descrição do escritório de Afonso da Maia, o leitor é imerso no


ambiente da alta burguesia portuguesa, com sua decoração requintada e livros em
diversas línguas, que denotam o refinamento cultural da personagem. Já a
descrição da mansão de Benfica é detalhada em seus aspectos arquitetônicos e
decorativos, como o jardim e a tapeçaria francesa, que reforçam a opulência e o
bom gosto dos proprietários.

Além disso, a linguagem queirosiana é utilizada para caracterizar as personagens de


forma precisa e detalhada. A descrição de Pedro da Maia, por exemplo, é marcada
por palavras como "lívido", "revoltos" e "olhar de loucura", que denotam sua
perturbação emocional. Já Maria Eduarda é descrita como "uma beleza alta e
morena", "um sorriso charmoso", "um ar encantador", que retratam sua beleza e
sedução.

Assim, a linguagem e estilo queirosianos contribuem para a construção de uma


narrativa realista e minuciosa, que retrata com precisão tanto os espaços sociais da
época quanto as personalidades e comportamentos das personagens.

O narrador do segundo capítulo de "Os Maias" de Eça de Queirós é um


narrador onisciente, ou seja, ele sabe tudo o que está acontecendo na história
e tem acesso aos pensamentos e sentimentos dos personagens. O narrador é
também um observador crítico e irônico da sociedade portuguesa da época, e
frequentemente comenta sobre as atitudes e comportamentos dos
personagens de uma maneira sutilmente crítica.

Além disso, o narrador de "Os Maias" é bastante descritivo, fornecendo ao


leitor informações detalhadas sobre os cenários e as pessoas que aparecem
na história. Ele usa uma linguagem sofisticada e refinada, características que
estão presentes em toda a obra de Eça de Queirós.

É importante notar também que o narrador de "Os Maias" possui um ponto de


vista crítico em relação aos valores da sociedade portuguesa da época, em
especial em relação à classe aristocrática e à sua falta de perspectiva para o
futuro. Sua visão é influenciada pela corrente literária do Realismo, à qual Eça
de Queirós está associado.

Como Eça de Queirós usa a hipérbole no capítulo 2 de "Os Maias"?

Qual o motivo que levou Afonso da Maia a sair e a vender a casa de Benfica?

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