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Estudo do

Édipo Rei de
Sófocles

Módulo 2: Poesia dramática; 2.2.


Exemplares da poesia dramática antiga

Imagem: Édipo e a Esfinge. Interior de


kylix, c. 470 a. C.. Museo Gregoriano
Estrusco, Vaticano.
1. Vida e obra de Sófocles

• Sófocles nasceu em Colono, localidade próxima a


Atenas, c. 496 a. C.. Morreu em Atenas em 406 a. C;
• Há relatos de que exerceu atividade militar,
política e poética/religiosa na cidade;
• Mais de 120 peças e mais de 20 vitórias em
concursos trágicos lhe são atribuídas.
• Sete peças foram preservadas integralmente: Ájax,
Antígona, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes
e Édipo em Colono.

(Imagem: cópia romana em mármore, encontrada no Lácio, feita a partir de


um modelo grego do século IV a. C. – British Museum).
2. O mito de Édipo antes de Sófocles

• Ilíada XXIII, 675-680:


Contexto: a preparação para uma disputa de pugilato, no âmbito das homenagens
fúnebres dirigidas a Pátroclo.

“... Só se opôs / a Epeio, Euríolo, símile divino, filho / de Mecisteu, o


rei Telaiôneo, que a Tebas, / uma vez, fora à tumba de Édipo,
tombado / em batalha, e nos jogos bateu os Cadmeus, / a todos...”

• Odisseia XI, 271-280:


Contexto: Odisseu se depara com as almas dos mortos na entrada do Hades.
• Édipo na trilogia tebana de Ésquilo

Em 467 a. C., Ésquilo apresentou, no concurso da grande festa de Dioniso em Atenas, três tragédias
relacionadas à casa dos Labdácidas: Laio, Édipo e Sete contra Tebas. Foram seguidas ainda do drama
satírico A Esfinge. Das quatro peças, apenas Sete contra Tebas foi preservada integralmente. Eis alguns
elementos que ressaltam dos fragmentos das peças perdidas e do texto da peça preservada:

• Uma maldição, que recai sobre a família, é lançada por Pélops, cujo filho, Crisipo, fora seduzido por
Laio. A maldição atinge não apenas Édipo, mas também seus filhos, Etéocles e Polinices, que
morrem, um pela mão do outro, em batalha pelo trono de Tebas, conforme se lê em Sete contra Tebas;

• O cegamento de Édipo já se encontra em Ésquilo;

• Não há menção a uma peste que se abate sobre a cidade;

• O oráculo dado a Laio, em Sete contra Tebas, tem tom de advertência. É condicionado: se Laio não
tiver um filho, a cidade estará salva (v. 740 e ss.);

• Não há menção ao oráculo recebido por Édipo, quando, ainda habitante de Corinto, vai a Delfos
perguntar sobre sua origem.
2. Leituras recomendadas

• FOUCAULT, M. “Conferência 2”. In: A Verdade e as Formas Jurídicas. Rio de Janeiro:


Nau Editora. 1999.

• KNOX, B. “Herói”. In: Édipo em Tebas. São Paulo: Perspectiva, 2002.

• VERNANT, J-P. “Édipo sem complexo”. In: VERNANT, J-P &VIDAL-NAQUET, P.


Mito e tragédia na Grécia antiga. São Paulo: Perspectiva, 1999.

• VERNANT, J-P. “Ambigüidade e reviravolta. Sobre a estrutura enigmática de Édipo-


Rei”. In: VERNANT, J-P &VIDAL-NAQUET, P. Mito e tragédia na Grécia antiga. São
Paulo: Perspectiva, 1999.
3. Divisões na extensão do Édipo Rei de Sófocles de acordo
com os critérios aristotélicos
• Prólogo: vv. 1- 150. Estão presentes Édipo, o sacerdote de Zeus e
suplicantes. Creonte entra em cena, vindo de Delfos.

• Primeiro coral (párodo): vv. 151-215. O canto confere relevo emocional


à situação que se conhece a partir do prólogo. Invoca divindades,
aponta os males, inculpa Ares e pede auxílio a Apolo.

• Primeiro episódio: vv. 216-462. Édipo ameaça o assassino. Discute com


o coro sobre as medidas a serem tomadas. Chega Tirésias. Ocorre uma
dura discussão entre o rei e o adivinho.
• Segundo coral (primeiro estásimo): vv. 463-512. No primeiro par de estrofes, o
canto se dirige ao assassino. No segundo par de estrofes, o coro comenta as
acusações feitas por Tirésias. Na verdade, comenta apenas o que diz respeito
ao assassinato. Mantém-se ao lado de Édipo e não menciona a outra parte da
acusação feita por Tirésias.

• Segundo episódio e primeiro Kommós: vv. 513-696 (Kommós: 650-696). De


início, há Creonte na cena. Édipo parece chegar depois e se surpreender com a
presença do cunhado. É o que defende Knox, que conjectura que Édipo teria
saído pouco antes das últimas acusações feitas por Tirésias (vv.446-462). Diz
que assim o coro poderia ter falado mais francamente, sem a presença do rei.
Ao chegar, Édipo discute com Creonte, suspeita de tentativa de golpe: um
conluio entre Creonte e Tirésias. A discussão culmina na acusação direta a
Creonte e em seu sentenciamento à morte. O coro se alarma. Chega Jocasta.
Dá-se o Kommós; Édipo cede, mesmo contra sua vontade.
• Terceiro episódio: vv. 697-862. Depois da saída de Creonte, a conversa se dá
entre Édipo e Jocasta. Jocasta busca tranquilizar o rei. Ouve o que ele tem a
dizer sobre os oráculos e desdenha da arte da profecia. Para tranquilizar o rei,
menciona o oráculo recebido por Laio, supostamente desmentido, por conta
das circunstâncias até então conhecidas de sua morte. A revelação traz
perturbação a Édipo. O rei então exige a presença da testemunha do crime,
para verificar as versões. (Interessante que a testemunha seja chamada agora…
Torna verossímil a sua rápida chegada no momento em que é requisitada
como testemunha do abandono do filho de Laio). No final do episódio, Jocasta
e Édipo saem da cena.

• Terceiro coral (segundo estásimo): vv. 863-910. Estrutura: Estrofe A:


expressão de reverência e piedade às leis divinas / antístrofe A: os perigos da
impiedade (irreverência religiosa) para os que detêm o poder. Estrofe B: prece
por uma punição que recaia sobre os ímpios / antístrofe B: reforço da prece,
agora circunstanciada ao caso de Laio e às previsões atribuídas a Apolo.
• Quarto episódio: vv. 911-1085. Jocasta dirige prece a Apolo, pedindo uma
solução para as aflições do rei. Chega o mensageiro de Corinto. [Para Trajano
Vieira, é uma personagem com traços cômicos]. Édipo é chamado, para ouvir as
novas (v. 950): Políbio, seu suposto pai, morreu... E não foi por sua mão. Édipo
desdenha da predição délfica. Teme ainda a segunda parte da profecia: dormir
com a mãe. Para tranquilizá-lo, o mensageiro informa que ele não era filho
natural de Mérope e Políbio. O mensageiro declara que tinha boas intenções (vv.
1002-1003). Em v. 1050, as personagens reconhecem que a testemunha que sabe
do abandono é o mesmo que sabe das circunstâncias do crime. Em v. 1072,
Jocasta sai de cena.

• Quarto coral (terceiro estásimo): vv. 1086-1109. Canto otimista. Trata-se de um


otimismo infundado, se observarmos o desenvolvimento da ação até aqui.
Conforme pensa Dawe, parece designado a assaltar de frente nossa
incredulidade natural. Tem também a função de erguer Édipo ao máximo,
conferindo-lhe até a possibilidade de uma origem divina, para preparar
dramaticamente a queda.
• Quinto episódio: vv. 1110 – 1185. Com Édipo em cena (ao lado do mensageiro de
Corinto), chega o ex-servo de Laio. Há o interrogatório, conduzido energicamente por
Édipo, que avança em direção à terrível verdade. Ao final, o rei descobre a própria
identidade e os crimes cometidos no passado.

• Quinto coral (quarto estásimo): vv. 1186-1222. Canto que expressa comiseração pela
terrível condição humana. Diante do poder e do conhecimento divinos, o homem é
igualado ao nada.

• Sexto episódio: vv. 1223-1296. Morte e mutilação. A notícia das desgraças. Um arauto
traz um relato do que houve no palácio: a morte de Jocasta e a automutilação imposta
por Édipo.

• Segundo Kommós: vv. 1297-1366. Lamento de Édipo e do coro diante dos


acontecimentos.

• Êxodo: vv: 1367-1530. Édipo permanece em cena. Chega Creonte. Há menção à


presença das filhas de Édipo. O poder agora cabe a Creonte. Discute-se o destino de
Édipo. Será exilado.

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