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Domingos Ormonde Como allguém se tora cristo? Uma pergunta importante para as eomunidades em qualquer parte do Brasil e do mundo, Quando a gen- te conversa sobre Go cristal, a gente tenta resp te a essa pergunta feita desde 0 co- mego da Igreja, Por isso, o tema desta nova coluna da revista certa- mente é de interesse para as comu- nidades, cmbora a expressicr ingen crist” seje wind poucn use di na pastoral Respondendo a essa perpurta, alguns irmaos vito dizer logo que¢ pelo batismo que alguém se toma cristio. Outros vo frisar a impor tincia de uma boa “caminhada” como se diz. Os catecismos anti- ‘f0s ensinam que é pela graga de Deus que u gente se toma cristo. “Todas essus respostas estiio na di- regia certa. A tradigao da Tgrqja poste nos responder de forma mais integral Desde o tempo dos apéetolos, tormar-se cristiio ¢ algo que sc rea- liza por um processa cam varias etapas, percorriclas vom rapidec uu lentamente. Ele compara sempre © anincia da palavra de Deus, 0 acolhimento do evangelho trazen- do consigo a conversa, a profis- sin de fé, 0 hati fiw do Fypitilo Santa, » acesso a comu. nhfio eucaristica (cf. Catecismo.da 16REVISTA DE LITURGIA - 34 INICIAg AO CRISTA DE JOVENS F ADULTOS A iniciagao e 0 rito do catecumenato em etapas Iereja Catética, 1. 1229), Varios trechos do Novo Testamento, mes. mo scm usar a expresso, falam dese processo. Podemos comnegar pelo manda- to do Senhor Jesus antes de subir a0 céu: “... vo e fagam eom que todos 03 povos se tomem meus dis- eipules, batizando-os em nome do Pai, edo Fitho, e der Espirito San io, © ensinando-as a uliervar | ‘© que ordenei a vocés. Fis que eu ‘estarei com vaeds todos 0s dias, ane © firm do mundo” (Mt 28,19-20), Assim vem acontecendo. Des- de pentccnstes, muitas ouvem o andincio do mistério da vidamor- ve-ressurreigio de Jesus, t€m.0 co- ragdo aberto por Deus (cf. At 16,14) ¢ penguntam: “Irmiios, o que devemos fazer?” (At 2,37). A res- posta. vem do mesmo mandate do Senihor: “Arrependamese, © cola um de vocts seja batizado em nome de Jesus Cristo, para © per- dia dos peeados; depois vocts re- ceberfia do Pai a dem der Expirite Saniv., Pois « promesse Gem favor de vores e de seus tithos, e para todos aqueles que 0 Senhor nosso ‘Deus chamar™ (At 2, 37-39). Na passagem de Emaiis, 0 ca- rminho ala iniciago leva & FE 1a pate lavra do Senhor, & mesa da eucs ristia eA migeao, “Seatou-ce (Je- sus) a mesa com os dois, lomo a po e abengoou, depois o partiu e deu a eles. Niseo os ols dos dis- cipulos se abriram, ¢ eles reconhe- ceram Jesus (..). Entdo um disse an utr, ‘Nig estava nosso cora- gio ardendo quando ele nos falava pelo eaminho e nos explicava as Esorituras?’ Na mesma hora, eles se levantaram ¢ voltaram para Je- musalém..” (ef Le 2413-35). s vida inicingio cristi: “Ruy, 1-14) Jo 34-5) BFL 13- 14;At1-2;8,14.17; 19,17, Hb 64-6... Diante de todas egsas referén- ceias, os irmBos talvez-achem que a inicingdo cst diga respeito dque- les que ainda ndo foram batizades Sem divida, mas nla somente a eles. A iniviaghu die respeito: tame bém a todos os que foram batiza. dos na infincia ¢ sie chamados a prosseguir o caminho da iniiagio cist até chegarem a sua plenitu- ade, Prevaleceu ma Tyree o batisn de criangas, mas permaneceu a ne- cessidade da iniciagio. ‘Nas comunidades encontramos: as seguintes situagdes: 1. Os que ako foram hatizades (peuiens ¢ re ccentes na comunidiade). 2. Os bat zados que nio receberam nem a Janeiro/Favercira ~ 2001 confirmagéo nem a eucaristia. 3. Os hatizados que receberam a eu caristia, may nko foram comfirmar nham para a plona comunhio. Esta, por sinal, 6a meta. de todos no sen tide de um tnaior inconporagiona vida Linigica, no testenvnibe do evangelho, nos servigos eclesiais « ‘ng soladaniedade com os excluidos, Pastas quatro situagiics de iniciagao- cris seria a referéncia desta co- luna. © enfoque & a iniviagio exist de jovens ¢ adultos porque € me~ ‘nos trabathada @ vem-se tomando um desafio cada vez maior em nosso mein. Por um lado, eresee © ingress de juwensc adultos nas comunidades; uns retornande a0 satolicismo, outros vindos de au fas religides ou Iprejas. Percebe- sc também nos membros das o- munidades falhas na vivéncia. ena compreensiv da fé, mesme naque- les que celebraram os tré sara mentos. Tudo isso gem falar ni massa dos batizados que raramen- te se apwoximam da. comunidade. Par autre lado, o “mundo” mu dou: aumenia # cxclusiio social ¢ a concentra de renda, sem pers pectivas de mudanca estrutural; his ‘confusiio ¢ relativizagio de valo- ‘res; 08 meios de comunicagio in- flucncinm a visio de mundo; as familias tém dificuldade de passar af para as novas geruydes, varias sions propostas religiosas, e 0 pro- sclitismo ¢ agressive; 0 catolicis~ mo € fortemente contestado pela maior perie das. Igrejas evangelt- cas, Noseo contexts social, cultu- ral © religiogo “exige” iniviayiv const, Come fazer miciagao crista? A Igreja oferece algum caminho de iniciagdo? Sim, « Igreja propdc o . * come paradigma ‘da iniciagto cristl. Este foi crinds ¢ desenvolvidhy nes quatro primei- ros séeulog da Igreja. Con pene- ralizagdo do batisme infantil foi deixado de lado e 56 restaurado a pedicle da Coneilio Vaticano TT. ‘Trata-se do Riw da Iniviagdea Cris- ta dos Aduitos (o RICA), ainda pouco conhecido em noko meio. A CNDB esta lancando uma edi- io nova desse ritual, ao mesmo tempo que anima uma grande re- MexSo sobre 0 itimerdrin de f& dos ‘sdultos. Tudo indica que esta uns boa oportunidade de nos aproxi- ‘marmos dele. ‘Nesia coluna vamos estudar a atte principal dessse ritual: “O rite ‘mos conhect-lo passo a passa. Fle tem musto anos ensinar, Por exem- plo: a iniciagio cristd pode se rea~ lizar com diferentes “etmpas™ e di ferenies “tempos”. As etapas sio come portas a sereim nfravessadas ‘ou como degraus 2 serem sulsidas ‘Conduzem a tempos de informa- io ¢ amadureeimento progressi- vo. Pava cada etapa hi uma o8le bragie livdiyica © rites proprios, ‘Ninguém entra diselnpara.o ca- tecumenato, também nos cnsina & nto. Ha um tempo prévio de rela ionamento com 0 catequista, com # comunidade ¢, de modo especi al, com u “introdutor™, wea minis- Kerio muito original © importante que conheceremos em breve. Niu ha periodos de inscrigdo; sempre do acothidos 03 que buscam ini- viagio; sempre ha alguém para acompanhi-los. 0 vito suptic igual- mente que a inicia;ay ade termine no dia da colebragio dos sacramen- tos. Para cada tempo, 0 rite nos apresenia as metas a serem atingi. das © 05 mecius # serem valoriza- dos. As celebragtiev du jealavia de Deus tém uma grande imporsincin no processo, sem deixar de Lado os ‘encomtrercatequéticos, Us contet dos doutrinais devem ser divididos ‘em blaces, A passagem de um blo- co dautrinal para o outro ¢ marca- da por um rite litiegica, Por sinal, toda a catequese é entremeada de orugdes de béngia de libertaci. © catequista, além da tarefa de * aniincio © explicagao, ¢ um inter cessor para aqueles que fazem 0 caminho da fé. Ele também ajuda hos primeitos passos da orayi pessoal ¢ leva, pouod a pouco, a participagto lturgica. Aqui extio seado apenas indi cados os varius clementos ofereci- dos pelo rito. Server de estinmulo para os irmiios leitores. Quanta coi- 50 boa tem esse ritual. Os nimeros seguintes da revista vao focalizar ec detalhar cada elemento ¢ cada Passo do rifo do catccumenate cm etapas. Oobjetivod failitar seu co- nhecimento ¢ colaborar para que scja usado de imediato, Algumas adaptacics ¢ complementagoes se- rie sugeridas ou lembendas, outras somente catha realictarle poderd de- Terminar, Vamos também conver- sar sobre o sentido teoldgico, as ini- cistivas de Deus e da Igreja e os lestinatérios ou sujeites da inicia- gu cristi, Os interessados no tema ficam, assini, comvidados a fazer este estudo com 2 gente: BIBLIOGRAFIA ROROBIO, D. Pastoral doo sacramen yor Petrtiputis, Vozes, 200M) p. 122- 185. CONFERENCIA EPISCOPAL ES- PAROLA. La iniciacién eristiana:re- _Rexiones y orventaciones, Madn, [99% RITUAL ROMANO. Rito dat imiciagdéio enista das adbalias 3 ci. Sbo Palo, ‘Paulinas, 1973. TENA, PF: & BUROBIO, D, Sacramen- tos de inseingio; batismo ¢ confirma. cia. In. BORODIO. D. (org,) 4 cote Ibragito me igrna. Sika Paulo, Loyola, 1993, «2, p 23-141 T6VREVISTA DE LITURGIA ~ 35 Domingos Grmonde 6 artigo anterior foram lembradas as raizes: da Nl iagao cristii no Novo Testamento ¢ a situs- ‘po puastoral cha, Foram lembrados também elementos do “Ritu do calecumenaly em elapas™, cont ‘estimulo para.o sewesmdo que agora estames comers do’. Nele esti o modelo proposta por nossa Igreja para a iniotagiio na vida crista, Ele cobre todo 0 processo: des- de © primeire contate da comunidade com o¢ jovens & adultes interessados até-o tempo que-segue & eclebragio sina das comunidades, ‘tornando mais acessiveis as urieniegiies puostowais cs Stbe estes liningicas do rito. Com boa vontade, canfiarge & “jgitinbo brasileiro”, qualquer comunidade pode adotar 0 modelo eatecumenal, A propria eomunidade ¢ o prinei- pal ponto de partida para organizar um catecumenato. N50 importa se € grands ov pequena, rural ou urbana. O Espi. Santo realiza a iniciagSo através da comunidade, a panwula varias vezes" © mmasremo Da comunpape O ritual considera a comunidade como 0 primeiro ministério do catecumenato em diversos eentidos. Em. primeire lugar, 0 catecumenato esti sempre unido ones. nicamente a uina comunidades do #8, uma comumidade come as nossas: com seus encontros fratemos, vida Tittngics de oragiio, cclcbragio da palavra de Deus ¢ da ‘eucatistin, eunibes de deri¢io c encaminhamentos, pro pos de espiritualiclade & agus pastoral, se s0- lidariedade... Ela 6a referéncia comereta da Tygrejin de Je= sus pata of que fazem @ caminho da fé (Us membros da comunidade em particular também tém uma coninbuigéo fundamental, segunde o ritual: anunciam com palavras € com a vida a mensagem de Cristo © amunciam sua graca; difundem a f& nas varies circurstdncias da viela cotidiana; auxiliam os que procu- rams Crista ¢devern scolhilus nas tennis comuni ras © em stas préprias familias. ‘O ritual propde ainda uma participayo dos membros da comunidade na dindmica do catecumenato; eompare- MarcolAbril - 2004 INICIACAO CRISTA DE IOVENS F ADULTOS. Pontos de partida para um catecumenato em etapas condo nas celebrates interns, cxilaberanda naavaliagio da caminhada individual, participande das ritos celehra- ‘doe em piblico, demonstrande na quaresma renowagiin do espirito de peniténcis, f ¢ caridade, fazendo questtio ide renovar ag promessis batismais na vigilia pascal. Mes- mo depois da eclebracéo dos sacrumentos pascais, deve estar presentes nas celebrages cspeciais ¢ procurar cerca Js de afc e ajuc-los “a se sentirem felizes na comu- nidade cristi" Bonito, nia i Para que esse ministérin acomtega & previsux qui ‘comunidades tome consel@ncla dele e-seja freqientemente ‘motivada. Padres ¢ dkiconos, ¢ tobretséo os animadores da comunidade-¢ 03 catequistas, podem colaborar nesse sentido.. jacdo é algo-do povo de Deus e interessa a todas as batizadas (RICA, n. 41), De dentro da eomunt- hue, wssirn despertada, sairao ainda inmaos ¢ inmas para co ministériy dos intrdulores, » segunda ponto de partie da de um catecumenato, ese? ‘0 miwsrimo pos ivrroputones Embora scja um. ministério cspecitice da imeiagio, poco se fala nele. Espontaneamente ele acontece nas co- rmumidades mestous unale nity hi catecumenato. Na tradi~ ho antiga foram chamados de “Finch eorreeponde 36 que diz-o ritual: "Oe: tw rye sali a admigean entre o¢ catecimenos ¢ acompanhado por ‘um mtredutor, homem ou mulher, que -conheoe, ajuda e testemunha de seus costumes, té e desejo"" (i. 42). DDe fain, quandoé celebrada a entrada nocatocumenato, ‘cade umn tern se ‘e catequistas, da avaliagio das disposigtes do ca (n. 16}, Na eolebragao quem preside perguata aos introdutores ¢4 comunidade se estao “dispostos a ajud- los a encontrar ¢ seguir 0 Cristo” (n. 77), Depois de se compremetcrem, fazem sobre cles 0 sinal da cruz (n. #3), Fase ministéxin, portanto, no se limita 80 momento lc “ajuela”, semethante 0 dog padrinhos. Comega antes do c reat, &ati- vo.em todo 0 seu desenrolar e é substituida pelo padri- 1G4/REVISTA DE LITURGIA - 27

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