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Sugestão de Atividade
Esta atividade deve ser desenvolvida antes do estudo deste capítulo, de preferência em grupos de 2
a 3 alunos.
Um país fictício possui 10 cidades (rotuladas por a, b, c,...,j) cujas distâncias relativas (em linha
reta) são dadas na tabela abaixo (unidades de distância fictícias).
b c d e f g h i j
a 3.6 2.0 6.3 7.2 4.1 2.0 3.2 6.0 6.1
b 2.2 3.2 4.5 3.6 3.2 4.5 5.8 5.0
c 3.2 6.0 6.4 5.8 7.2 8.6 2.2
d 3.2 5.4 6.0 7.1 7.2 4.1
e 4.1 5.8 6.3 5.1 7.3
f 2.2 2.2 2.2 8.5
g 1.4 4.0 8.1
h 3.2 9.4
i 10.6
Tente reconstruir o mapa deste país a partir destes dados1. Assuma que no nosso país exemplo não
existam nem montanhas e nem vales.
Introdução
A teoria de David Ausubel, do mesmo modo que a teoria de Jean Piaget, é uma teoria de caráter
cognitivista e construtivista. É cognitivista ao tentar explicar o processo de cognição e
construtivista ao assumir que o processo de apreensão do conhecimento é evolutivo, um processo
no qual o conhecimento atual é construído em cima de etapas prévias já acabadas.
Para Ausubel, o termo estrutura cognitiva tem o significado de uma estrutura hierárquica de
conceitos. Da mesma forma que em Piaget, Ausubel trabalha com o conceito de Organização de
certas entidades. No entanto, enquanto estas entidades em Piaget eram os Esquemas (que
englobam conceitos mais operações) em Ausubel estas entidades são apenas os conceitos.
Poderíamos dizer que enquanto em Piaget os elementos que compõem a estrutura cognitiva
incorporam o aspecto dinâmico em Ausubel estes elementos têm um aspecto estático.
Outro ponto de divergência entre as duas teorias reside na origem, enquanto problema e
programa de pesquisa: enquanto a Epistemologia Genética de Jean Piaget se preocupa com
aspectos gerais da cognição, sem preocupações com a sala de aula, a teoria de David Ausubel tem,
desde a sua gênese, preocupação explícita com a situação de sala de aula, estando muito mais
próxima neste sentido de uma teoria de ensino do que de uma teoria psicológica.
Por subsunçores, Ausubel entende um ou mais conceitos, já existentes na estrutura cognitiva aos
quais os novos conceitos vão ligar-se em um primeiro momento antes de serem incorporados à
estrutura cognitiva de forma mais completa.
O que isto quer dizer? Para Ausubel, relacionar-se de maneira significativa quer dizer que o
conceito possui ligações de caráter psicológico e epistemológico com algum(s) conceito(s) da
estrutura cognitiva, partilhando com o conceito já presente algum significado comum, ligando-se
à estrutura cognitiva através da associação (no sentido de formar agrupamentos) a estes
conceitos.
2 Como bem aponta Moreira (1983) não há em português uma palavra adequada para o termo em
inglês subsunsor. Uma tentativa, que não engloba a totalidade do conceito, é a palavra âncora.
Como a palavra subsunçor se popularizou no meio acadêmico a mantemos aqui.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS
e-mail: rosa@dfi.ufms.br
A teoria cognitivista de David Ausubel - Capítulo 4 4
C S1
C C C
Novo
C C S2 Conceito
Figura 1 Esquema para o conceito de aprendizagem significativa na teoria de David Ausubel. Nos
círculos com a letra C temos conceitos preexistentes na estrutura cognitiva enquanto S1 e S2
representam conceitos subsunçores.
Por outro lado, quando indivíduo incorpora um ou mais conceitos, sem que estes se liguem a
algum conceito da estrutura cognitiva na forma descrita acima, então diz-se que está havendo
C C
C C C
Novo
C C C Conceito
Figura 2 Esquema para o conceito de aprendizagem mecânica na teoria de David Ausubel. Nos
círculos com a letra C temos conceitos preexistentes na estrutura cognitiva.
Conceito geral
A
pré-existente A
a
Momento 4 - O conceito
mais geral se modifica
A’ após a incorporação do
conceito menos geral.
a’ Momento 3 - O conceito
A’a’ menos inclusivo foi
absorvido pelo conceito
mais geral
Para explicar os processos de aquisição e organização da informação, é proposta por Ausubel sua
Teoria da Assimilação3, que pode ser representada esquematicamente como mostrado na Figura
4.
Durante certo período existe a possibilidade de dissociação de A’a’ em A’+ a’. Entretanto com o
passar do tempo, ocorre o que Ausubel chama assimilação obliteradora, que consiste em não mais
ser possível a dissociação entre os conceitos, restando apenas A’ o novo conceito subsunçor. Isto
3Este termo não deve ter seu uso aqui confundido com o seu uso na teoria de Piaget. Apesar da
palavra ser a mesma o significado é completamente diferente.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS
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A teoria cognitivista de David Ausubel - Capítulo 4 7
O primeiro deles é o que vimos discutindo até aqui. Ocorre quando um conceito é incorporado a
uma estrutura maior segundo o processo descrito anteriormente (ver Figura 3).
Já a aprendizagem combinatória existe quando proposições e/ou conceitos são adquiridos sem
que exista uma relação de subordinação ou de superordenação com determinados conceitos
especificamente relevantes, mas sim com um fundo conceitual mais amplo, que o indivíduo já
adquiriu (ver Figura 6).
C1 C2 C3 Cn
Momento 1 -
Conceitos de mesmo
nível
Momento 2 -
Conceito C formado pela
união dos conceitos
anteriores
C2
C1
C3 Cn
C2
C1
C3 Cn
CONCEITOS MAIS
GERAIS OU
INCLUSIVOS
Mapas Conceituais4
Um dos princípios das teorias cognitivistas é a suposição de que os conceitos são organizados em
um tipo de estrutura ordenada. A esta estrutura é dado o nome de Estrutura Cognitiva.
Conceitos
periféricos
Conceitos
periféricos Conceitos
periféricos
Conceitos Conceito
periféricos central
Conceitos
Conceitos periféricos
periféricos
Conceitos
periféricos
4Uma excelente introdução ao uso de mapas conceituais pode ser encontrada em Gobara 1984. A
aplicação de mapas conceituais ao ambiente de sala de aula pode ser encontrada em Rosa &
Moreira, 1986.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS
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A teoria cognitivista de David Ausubel - Capítulo 4 12
As várias teorias cognitivistas se diferenciam pelos modelos adotados para descrever como se dá a
construção desta estrutura e de como a nova informação é incorporada a ela e a informação nela
contida é recuperada pelo sujeito para uso na interpretação dos fenômenos que acontecem no
cotidiano.
É importante salientar, desde já, que um mapa conceitual não é nem certo e nem errado. Ele deve
ser sempre entendido como uma fotografia instantânea da estrutura cognitiva do sujeito, ou seja,
da forma como ele organiza os conceitos que compõem a sua estrutura cognitiva.
Da mesma forma que podemos usar o mapa conceitual como uma ferramenta de sondagem da
estrutura cognitiva de determinado sujeito, podemos usar o mapa como uma ferramenta de
análise do currículo de certo material instrucional. Nesse caso, estamos interessados na
explicitação dos conceitos contidos naquele material instrucional e nas relações subjacentes entre
os conceitos que compõem o material instrucional, estabelecidas de forma explícita ou implícita
por quem elaborou o material. Esse tipo de análise se mostra particularmente útil ao planejarmos
um curso ou analisarmos um livro didático, por exemplo.
A última forma de mapa, tridimensionais, é menos comum, pois demanda uma produção gráfica
mais elaborada. Os mapas bidimensionais são muito úteis quando queremos mapear o conteúdo
de uma unidade, ou de pequenas porções de conteúdo. No entanto, quando queremos mapear um
curso inteiro os mapas tridimensionais são os mais adequados, embora de mais difícil elaboração.
Neste tipo de mapa, cada corte, ou plano, pode representar uma série e as ligações entre os vários
planos indicarem as ligações entre conceitos ao longo dos várias séries.
Como os mapas conceituais são construídos? Bem, não existe uma padronização de como eles
devam ser feitos. O que apresentaremos a seguir são algumas sugestões que, derivadas da nossa
experiência e da de outros pesquisadores encontradas na literatura de pesquisa em Ensino de
Ciências (Física particularmente), podem vir a ser úteis àqueles que se propuserem a fazer mapas
conceituais.
5Esta é apenas uma questão de convenção. Poderíamos ter uma estrutura tipo árvore comum com
os conceitos mais inclusivos ou gerais na posição de raiz e os menos inclusivos no topo.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS
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A teoria cognitivista de David Ausubel - Capítulo 4 13
Comece com aqueles que você acha mais gerais e vá listando até aqueles que você acha
menos gerais, exemplos dos primeiros. Se dois ou mais conceitos estão para você no
mesmo nível, liste-os lado a lado. Os conceitos que se ligam a eles devem vir listados
abaixo de cada um.
Elas serão os elementos identificadores das linhas que ligarão os conceitos no mapa6.
Coloque cada conceito em uma elipse. Teorias e Leis devem vir dentro de um retângulo7.
Siga a ordenação que você estipulou no item anterior.
Planejamento:
Uma possível aplicação de mapas conceituais é durante a fase de planejamento de um curso, uma
aula expositiva, um experimento, etc. Nesse momento, o professor pode usar o mapa conceitual
como uma forma de explicitar relações e esclarecer como os conceitos e leis a serem ensinados se
ligam e explicitar relações de dependência entre as várias partes do currículo.
Outra possível aplicação dos mapas conceituais é na análise da estrutura dos materiais
instrucionais como, por exemplo, na escolha do livro didático. É um instrumento muito útil
quando se trata de explicitar a estrutura do material instrucional contido nos livros sob análise e,
a partir daí, decidir qual livro adotar com aquela turma específica.
6 Fazendo um analogia com um mapa comum, as distâncias entre cidades exercem nesses mapas o
papel que essas definições exercem em um mapa conceitual.
7 Essa regra não é muito rígida. Ela apenas facilita a leitura do mapa.
8 Estas são basicamente as mesmas do V epistemológico de Gowin que veremos quando
Instrumento de ensino
Esta é outra aplicação potencial dos mapas conceituais. Como o mapa traz a informação contida
no currículo do material instrucional em uma forma compacta ele pode ser usado como forma de
apresentar o conteúdo do material instrucional antes ou após o seu desenvolvimento.
Forma de Avaliação
Ao invés de realizarmos testes com os estudantes podemos solicitar aos alunos que construam um
mapa conceitual do conteúdo; da mesma forma, ao invés de solicitar que os estudantes respondam
a um questionário sobre determinado capítulo de um livro porque não solicitar a construção de
um mapa conceitual daquela unidade?
Enfim, estas são apenas algumas possíveis aplicações dos mapas conceituais no cotidiano do
professor. Seguramente, o professor será capaz de imaginar outras aplicações e adaptar o uso do
mapa conceitual à sua situação concreta.
Organizadores Prévios
Um aspecto básico da Teoria de Ausubel como uma teoria de ensino é a ênfase que é dada ao que
o aluno já sabe, os chamados subsunçores. Entretanto, de onde vêm os primeiros subsunçores? A
esta questão a teoria responde dizendo que eles são em parte inatos e em parte construídos a
partir dos relacionamentos que se estabelecem entre o organismo e o meio a medida que o
primeiro se desenvolve.
No entanto, no processo educacional, o professor não pode esperar pela formação espontânea
desses elementos da estrutura cognitiva de modo a realizar o ensino. Isso até porque é bem
provável que eles nunca se formem espontaneamente. O que fazer então?
Uma saída para esse impasse consiste na utilização dos Organizadores Prévios. Estas
ferramentas são uma tentativa de prover a ponte necessária entre a estrutura cognitiva atual e a
estrutura do material instrucional que se está querendo ensinar.
Para que certo material instrucional possa ser chamado de um Organizador Prévio certas
propriedades devem ser apresentadas por ele (Moreira 1980):
2. O material deve dar uma visão geral do assunto em um nível mais alto de
abstração, salientando as relações importantes.
1. Os sujeitos envolvidos não têm, em sua estrutura cognitiva, a maioria das idéias
relevantes para a aprendizagem subseqüente. Isto é, os organizadores prévios facilitam
realmente a aprendizagem quando o material não é familiar ao aprendiz. Caso
contrário, seu efeito será minimizado (Ausubel, 1980; Graber, Means e Johnsten, 1972;
Lawton e Wanska, 1977; Mayer, 1979).
3. A situação de aprendizagem não requer domínio do conteúdo, por parte dos sujeitos,
para passar de uma unidade de conteúdo para outra como, por exemplo, no método
Keller (Kahle e Nordland, 1975).
Conclusão
Neste capítulo analisamos a teoria de aprendizagem proposta por David Ausubel. Ao contrário do
trabalho de Piaget visto no capítulo anterior, a preocupação de Ausubel é com a sala de aula,
mais especificamente com a transmissão de um corpo de conhecimentos pronto. Por vezes, a
proposta de Ausubel é vista como centrada na aula expositiva. Isto não é verdade no entanto. A
mensagem de Ausubel é que devemos partir do que o aluno já sabe, descobrir pontos de
ancoragem neste conhecimento, onde a nova informação possa ser fixada, e ensiná-lo partindo de
conceitos mais gerais em direção de conceitos mais específicos ou particulares. E isto é válido não
somente para a aula expositiva mas também para o ensino de laboratório ou a elaboração de um
roteiro de um filme de divulgação científica.
Entretanto, falta em Ausubel, como também falta em Piaget, a resposta à pergunta: qual o papel
da cultura na formação dos conceitos e na apreensão de um corpo de conhecimentos pronto por
parte do aprendiz? Esta é a resposta procurada pelo trabalho do psicólogo russo Vygotsky que
analisaremos no próximo capítulo.
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1
2 j
3 d
4 c e
5
6 b
7
8 f
9 a g i
10 h