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Moysés Gonsalez Tessler Michel Michaelovitch de Mahiques ply ee Te ee) jum nio se lembra da primeira vez em que Jesteve em contato com 0 mar, com 0 gosto salgado de suas aguas € os movimentos de vai das ondas? Com € possivel esquecer a forma como associa- mos o mar ao desconhecido, descobrindo que, quanto. mais ne fastivamos da praia, mais profundo cle fi- cava, € os movimentos de suas dguas nos expunham mais e mais perigo? Seti que o mar se aprofunda sempre? Como seri que cle € li no meio? A busea do desconhecido © 0 fascinio por um ambiente tio distinto daquele domi- nado pel: impulsionado a exploragio e conhecimento do meio marinho. humanidade tem, desde a Antiguidade, Muito embora o ciclo das Grandes Navegacécs, XV e XVI, tenha possibilitado descorts a imensidao dos mares, e nos séculos r as correntes superticiais ham sido aproveitadas pelas frigeis de madeira que conduziram o homem ao encontro de novos continentes, foi apenas no ano de 1872 que foi lancado ao mar um navio com a missio de, pela primeira vez, estuchar cientificamente os mares ¢ siste a 8 animais € plantas marinhas, embareagdes tizar todo o conhecimento até entio existente sobre 4 quimica da égua do mar e a profundidade dos oceanos. Durante os qua- tro anos que durou a viagem de circunavegacio do H.MS. Challenger, o volume de conhecimentos foi tal que permitiu a publicacio de 50 volumosos os resultados das observagdes, coletas ¢ andlises exe livros com cutadas, Devem-se ii expedigio Challenger, por exemplo, as primeiras informagdes sobre o relevo da Cordi- Ihcita Meso-Adlintica, uma elevada e extensa cadcia de montanhas, de origem vulednica, submersa no meio do Oceano Atlintico, bem como sobre a existéncia de areas profundas pl nas, presentes no fundo de tod s os oceanos, além de montanhas, morros isole dos € vuledes submarinos. Passadlo pouco mais de um século da expedigio pi- oneina, o desenvolvimento da tecnologia de exploragio do meio marinho permitiu aos navios de pesquisa ocea- nogrifica, com suas eqquipes multidisciplinares, mapear ‘5 fundos marinhos, subdividi-los em grandes provinei- Fsiogrificas, detalhar sua composicio ¢, prineipalmente, compreender origem € evolugio de seu relevo extre- mamente variado, associando-o aos grandes processos tectonicos atuantes na crost cerrestre St Arrebeniacae de onda na praia, Foto: Stock Photos, Contam-se aos milhares as vezes em que livros di daticos € cientificos bombardeiam 0 leitor com a informacio de que os oceanos cobrem cerca de 70% da superficie d cera. Mas, que importincia tém os ‘oceans além da imensidio de sna irea? Frere propriedacles, sabemos que 08 oceanos constituem um imenso reservatbrio de sais € gases, atuando como ele mento regulador na ciclagem de um grande mimero, de elementos no planeta. Sabemos 1 nbém que os processos ocednicos figuram entre os maiores agentes transportadores de calor do planeta, controlando 0 clima € contribuindo para a distsibuicao espacial dos processos intempéricos € erosivos. E sob 0 ponto de vista dos processos geoliygicos? Qual a importincia dos fundos ocefnicos no conheci mento da histéria evolutiva do planeta? Qual o papel menos ocednicos na recepgio € redistribuigio das particulas sedimentares? do: Neste capitulo, pretendemos introduzir ao leitor alguns aspectos relacionados aos processos oceano: gtaficos eos fundos marinhos, principalmente quanto A sua morfologia ¢ aos Pretendemos, ainda, analisar as dos oceinicos em funcio aos grandes movimes teristicas dos fun. da crosta terrestre, Finalmente, discutiremos a impor- tincia dos matetiais que recobrem os fundos marinhos nos recursos minerais, bem como na reconstituigio dia historia geol6giea da Terra 13.1 O Relevo dos Oceanos pelos oceanos fepresente cerca de 7 sendo que 0 Oceano Pacifico constitui o maior corpo aquoso, com sirea aproximada de 180 milhoes de km’, ou seja, 53% da area oceiinica, seguido pelo Oceano Indico (24% em area) € 0 Addintico, com cer ca de 23% da area total (Fig. 13.1) fo da superficie A profundidade média dos oceanos € estimada em 3,870 metros, sendo as maiores profundidades local zadas n0 “Challenger Deep” (11.037 metros) das Marianas, no Oceano Pacifico, que entre todos os oceanos & 0 que possui também a maior peofundida de médlia (4.282 metros), com cerca de $7! as Fossas de seus a 30M) fundos localizados a profundidades superiores metros (Tabela 13.1). As maiores profundidades do Oceano Atlintico esto localizadas junto as fossas de Porto Rico (9.220 metros) ¢ proximas js ilhas de Sandwich do Sul (8.264 metros), em um oceano cuja profundidade média nao ultrapassa os 3,600 metros. © Oceano Indico possui uma profundidade média de cerca de 4.000) metros ¢ sua maior profundidade localiza-se na Fossa do Almirante (9.4400) metros) Uma anilise da configuragio atual do relevo da ccrosta terrestre presente sob a coluna de figua que cons. titui os oeeanos tem possibilitado a compartimentagio dos fundos marinhos atuais em grandes unidades de relevo, moldadas tanto pelos processos tectdnico: bais como pelos eventos relacionados 4 dinimica sedimentar atuante nos dlkimos milhares de anos, Margeando os continentes predominam relevos planos de natureza essencialmente sedimentar que cons: titueny « Plataforma Continental (Fig.13.2) As plataformas continentais constituem extensdes submersas dos continentes, apresentando pequena declividade rumo ao alto mar (1:1,000). Sia continuas ec langas em oceans do tipo Adlintico, como margens passivas (ver Cap. 6), a exemplo do encontrado no jtoral sudeste brasileiro, onde a plataforma continen tal apresenta largura de mais de 160) km, Plataformas ElovocGo ou sope continental Fig. 13.2 Perfil das unidades do relevo submarine WC RM eter ae CU mee Lod Fig. 13.1 Mapa fisiogrdlico dos fundos ocednicos Fanos hansfomartes Panicle obissct | Mootes pl te TY continentais do tipo Pacifico, ocorrentes em margens tectonicamente ativa apresentam larguras reduzidas ¢ sio ladeadas por fossas submarinas, como é observa do nas plataformas continentais do Peru ¢ do Chile Ao longo do Tempo Geolégico, os eventos de oxcilacio relativa do nivel do mar tem exposto, total mente ou em parte, as plataformas continentais, transformando-as em planicies eosteiras onde se esta nn lIha vuleanica orlada por um recife costeiro Recife-barreira e laguna: 0 vulcdo afundou * retencéo de agua ‘vasa caloara \ recta (© hums) Atol e a sua laguna: © vulcdo desapareceu beleceram profongamentos da drenagem continental Durante esses periods, as linbas de costa foram cons tantemente deslocadas, resultando na consteucdo ¢ destruigio de intimeros ambientes costeiros, forma dos pela interacio dos fendmenos de dinamiea marinha (ondas, marés, correntes), com 08 processos cos atuantes sobre os continentes. Em algumas areas do planeta, prineipalmente na quelas submetidas, no presente ou no pasado recente, 1 alteracdes decorrentes dos fendmenos de glaciacivo, as plataformas continentais apresentam relevos irre gulares, com amplitudes de dezenas de metros, recortadas por vales profundos, Uma anilise mais detalbada das plataformas eon tinentais evidencia « ocorréncia de interrupgdes topograficas neste relevo plano, dadas pela presenca de feigdes de construcio biogenica (recifes, atdis), alm de deformagdes erustais, geradas por atividades. vul Cinicas ou outros eventos tectonics (Figs. 13.3) Uma mudanga acentuada na declividade do relevo marca o limite externo da plataforma continental. Esta transicio, denominada Quebra da Plataforma, marca 1 passagem para o Talude Continental (Hig 13.2 © Talude Continental constitui uma unidade de relevo, também de construgio sedimentar, que se in: clina acentuadamente (1:40) rumo aos fundos oceinicos, até profundidades da ordem de 3,000 metros, O relevo do talude continental nto & homo: géneo, ocorrendo quebras de declividade © também, freqiientemente, cénions e vales submersos. Os cinions submarinos sio vales profundos, erodidos sobre a plataforma continental externa ¢ o talude continental, atingindo, por vezes, até a clevacao continental, Fig. 13.3 o)Formagao de um atol segundo a tearia de Darwin; b) Atol das Rocas . Foto: Corlos Sechin.

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