Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Pátios e Vilas de Lisboa, 1870-1930: A Promoção Privada Do Alojamento Operário
Pátios e Vilas de Lisboa, 1870-1930: A Promoção Privada Do Alojamento Operário
INTRODUO
A questo de se encontrarem solues para as graves situaes de alojamento
das ento chamadas classes laboriosas foi objecto de um debate que se foi pouco
a pouco alargando no ltimo quartel do sculo xix e nos primeiros anos deste
sculo. O Inqurito Industrial de 1881 chamou a ateno para o assunto, pois
revelou a misria das condies de habitao do operariado nos principais centros industriais do pas, com relevo para Lisboa, Porto, Covilh e Setbal. O
crescente afluxo de populaes a estes centros, provocado por um surto industrial
que se desenvolveu com o fontismo, no encontrou correspondncia nas condies de habitao para este aumento demogrfico.
Higienistas como Ricardo Jorge, que denunciava a miservel situao das ilhas
do Porto, lanavam o alarme: no era apenas a sade das famlias que a se
albergavam que oferecia situaes de risco, mas o perigo alargava-se a toda a
populao, que se via ameaada de contaminao, devido propagao das
bactrias infecciosas. A tuberculose comeava a atingir as vrias classes sociais.
Daqui que o combate ao flagelo se tornasse uma questo de sobrevivncia para
o conjunto da sociedade.
Para alm de Ricardo Jorge, que foi encarregado de uma misso em Lisboa
para estudar a epidemia de 1894, o conselheiro Augusto Fuschini, que vrias
vezes levantou a questo no parlamento, os engenheiros Oliveira Simes e
Augusto Montenegro, que dirigiu os primeiros inquritos habitao em Lisboa,
o romancista Fialho de Almeida e Guilherme de Santa-Rita so os principais
arautos desse debate. A questo da casa barata e salubre torna-se, assim, em
poucas dcadas, um tema da actualidade nacional.
J no incio do sculo, o engenheiro Jos Maria Melo de Matos, um tcnico
informado do que se fazia l fora, prope solues para o problema.
* Arquitecto.
**O texto desta comunicao foi baseado no estudo Evoluo das formas de habitao pluri-
familiar na cidade de Lisboa, efectuado pelo autor com o apoio da Fundao Calouste Gulbenkian.
509
510
511
512
Com a intensificao da industrializao, as carncias habitacionais tornam-se mais prementes, de tal modo que, na sequncia do Inqurito Industrial de
1881, que pe a claro a situao, o governo de Fontes cria uma comisso com
a incumbncia de a solucionar , o que, evidentemente, no faz.
A persistncia do fenmeno faz surgir, entretanto, uma nova modalidade de
alojamento: os edifcios ou conjuntos expressamente construdos para habitao
de famlias operrias, que comearam a tomar a designao de vilas, algumas
vezes com a de ptio. essa a finalidade expressa, presente desde a promoo,
embora cobrindo tipologias muito variadas, que distingue em rigor uma designao da outra. O regulamento camarrio de 1930, que, alis, probe a construo
de novas vilas, define estas como grupos de edificaes destinadas a uma ou
mais moradias construdas em recintos que tenham comunicao, quer directa,
quer indirecta, com a via pblica por meio de serventia. Trata-se, portanto, de
espaos margem dos arruamentos, construdos muitas vezes no interior dos
quarteires. A analogia com as chamadas ilhas do Porto muito clara: s que
estas correspondem a padres pouco variados, que se encontram, alis, tambm
presentes nas vilas lisboetas.
Dentro desta variedade, um dos tipos mais frequentes escapa, pelo menos em
parte, definio camarria: trata-se dos casos em que a construo acompanha a
via pblica, como qualquer prdio corrente, mas que mesmo nos casos, alis
frequentes, em que a designao no utilizada recobrem uma realidade que
contm o essencial da vila: edificao multifamiliar intensiva, construda pela
514
575
516
517
518
519
520
521
522
-1910, policopiado.
523
524