Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
21 - 2008 221
RESUMO
Este artigo procura revelar a questão da habitação popular à luz da com-
preensão do processo de industrialização/urbanização que marcou as pri-
meiras décadas do século XX no Brasil. Tivemos como referência inicial
às habitações populares às habitações populares e insalubres, acompan-
hadas por outros tipos de moradia, na ótica do poder público e privado,
procurando demonstrar que no processo de modernização brasileira a
moradia popular sempre se apresentou como um problema social difícil
e complexo.
PALAVRAS-CHAVE: Habitação Popular; Políticas Sociais; Brasil.
RESUMÉ
Cet article essaie de révéler la question de l’ habitation populaire à la
lumière de la compréhension du processus d’ industrialisation/urbaniza-
tion qui a marque lês preniéres décénies du XXe. siècle au Brésil. Nous
avons eu, comme repère initiale les maisons populaires et insalubres et
d’ autres types similaires d’habitation sous l’optique du pouvoir public et
privé, cherchant a démonstrer que dans lê processus de modernisation
brésilienne, les maisons se sont toujours présenrées comme um problemé
!"#$%&'#()"#%*&*+&"!,-%*.*/&
MOTS-CIÉ: Habitación Populaire; Politiques Sociales; Brésil.
222 Programa de Pós-Graduação em História - UFES
Introdução
I
ndicadores sociais mais recentes expressam a grave crise de mo-
radia no Brasil, principalmente para os segmentos populacionais
menos privilegiados economicamente. Essa realidade revela
preocupações por parte de diferentes setores da sociedade, que discutem
$ &(!0,$ &-!%1+#"$ &'*&,*%2!0&!-*0$"#!3$%#'$'*&'!&'4)"#+&2$5#+$"#!3$%&3!&
universo social brasileiro. Entretanto, a falta de moradia para a população
carente no Brasil não é algo novo na pauta de preocupações de nossa época.
6$0"$3'!&* -*"#)"#'$'* &2# +70#"$ &+*,-!0$# &'# +#3+$ 8&$&9:* +;!&
2$5#+$"#!3$%&*3"!3+0$< *&-0* *3+*&'* '*&!&)3$%&'!& 4":%!&=>=8&-0#3"#-$%-
mente no centro econômico mais dinâmico do país, estendendo-se, com
mais gravidade, no decorrer do século XX, acompanhando o processo de
desenvolvimento urbano.
Nas primeiras décadas do Brasil Republicano, um lento processo de
industrialização no sudeste brasileiro, mais precisamente no eixo Rio de
Janeiro/São Paulo, vai provocando, nas principais capitais desta região, a
concentração da mão-de-obra operária. A população das cidades aumenta
e iniciam-se também alterações na composição social: no mesmo tempo
9:*&$&5:0?:* #$& *&'* *3@!%@*&*& *&'#@*0 #)"$&*,&* +0$+! &'#(*0*3"#$'! 8&
uma classe operária começa a emergir.
Para as necessidades de habitação das classes mais favorecidas, a
produção privada encontrava mecanismos próprios. Mas, da habitação das
classes chamadas laboriosas, não existia mecanismo de amparo social.
Acompanhando o movimento das transformações ocorridas no es-
paço urbano e na habitação, delineia-se um quadro de formas de habitação
-!-:%$0&"%$0$,*3+*&'*)3#'$ &3$&2# +70#$&:05$3!A#3': +0#$%&50$ #%*#0$8&9:*&
se inicia com as estalagens, os cortiços e a vilas operárias. Paralelamente,
foram se estabelecendo as favelas, assinalando de forma mais acentuada
as desigualdades sociais no espaço urbano.
Nessa perspectiva centramos nosso objeto de estudos na análise das
origens da habitação popular no Brasil, mais precisamente no sudeste, e
nas iniciativas de intervenção pública no quadro de soluções de moradia
para a classe trabalhadora até 1960, situando a partir de 1930 a cidade do
populismo e a nova postura do Estado brasileiro na questão da habitação.
DIMENSÕES . Vol. 21 - 2008 223
ocupavam um terço do espaço, e o cubículo não tinha luz nem ventilação: su-
perlotado, à noite era hermeticamente fechado. O pátio principal fornecia às
moradias uma torneira, um lugar para lavar roupa e um banheiro mal instalado.
!"#$%&'%'()*!"#+&,#-*"#./%&0&'%)1"*2#!&!%2*#*!
3%4!*$05#.60!&74#*!
A reconstrução histórica mostra como, no processo de modernização,
delineia-se uma série de aspectos na moradia, bem como melhoramentos
de ordem higiênica e espacial que foram sendo incorporados pela ação
do mercado e ou do Estado. Dentre os vários tipos de alternativas para as
chamadas habitações populares, no nosso processo de desenvolvimento,
seja de ordem privada ou pública, assinalam as desigualdades sociais no
espaço urbano brasileiro.
Várias posturas públicas vão marcar essa trajetória no universo
sócio-urbano das cidades, principalmente em função do crescimento do
processo de industrialização, de urbanização e do mercado de trabalho. A
modernidade passa a se expressar nas novas exigências feitas pelas ativi-
dades econômicas, nos novos estilos de vida urbana e na nova organização
sócio-espacial. Desta forma, as cidades materializam um estilo de vida
pleno de diversidade. A moradia ilustra a evolução deste processo de
desenvolvimento, com seus diferentes padrões, marcados pelas habitações
insalubres e coletivas, moradias populares, moradias das classes médias e
mais nobres, e as moradias de autoconstrução das camadas mais pobres,
que caracterizam as favelas, despontando como um contraponto a esse
processo de modernização.
238 Programa de Pós-Graduação em História - UFES
Notas
Artigo submetido à avaliação em 2 de outubro de 2008 e aprovado para publicação
em 10 de novembro de 2008.
Referências
AZEVEDO, Sérgio de, e ANDRADE, Luis Aureliano Gama de. Habitação
e poder. Da fundação da casa popular ao Banco Nacional de Habitação.
Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho onde morar. Vilas operárias na cidade
de São Paulo. São Paulo: Nobel, 1985.
BONDUKI, Georges. Origens da habitação popular no Brasil. Análise
Social, Lisboa, v.24, nº 127, 1994.
CAMPOS, Carlos Teixeira. A experiência de construção habitacional
do IBES. !"#$%&'()*(+,%&$&-&*(.$%&/0$1*("(2"*30451*()*(6%780$&*(9',&*.
Vitória, n. 54, 2000.
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na corte impe-
rial. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
FOOT, Francisco & LEONARDI,Victor. História da indústria e do tra-
balho no Brasil: das origens aos anos 20. São Paulo: Global, 1982.
IANNI, Octávio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1986.
KOWARICK, Lúcio & ANT, Clara. Cortiços: cem anos de promiscuidade.
Novos Estudos, CEBRAP, v. 1, nº 2, 1982.
MONTEIRO, Hamilton de Mattos. O aprofundamento do regionalismo
e a crise do modelo liberal. In: História Geral do Brasil. Linhares, Maria
DIMENSÕES . Vol. 21 - 2008 239