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EDMUNDO DE OLIVEIRA GAUDENCIO SOCIOLOGIA DA MALDADE & MALDADE DA SOCIOLOGIA: arqueologia do bandido A. Aaispe “le axa, Bee ve Canis £9 Cty Ar oe Guia: Tese apresentada a Coorderiago do Programa de Pés-Graduagao em Sociologia da Universidade Federal da Paraiba, como pré-requisto & obtengéo do titulo de Doutor. Si fon je oot Orientado of. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Junior Campina Grand: 2004 je ~ Paraiba GAUDENCIO, Edmundo de Oliveira. Sociologia da Maldade & Maldade da Sociologia: erqueotogia do bandido, 434 pp., 2004, Tese. Universidade Federal de Campina Grande, Doutorado em Sociologia. RESUMO Investigar @ génese © 08 usos sociais da palavra bandido, este o objetivo de meu trabalho. Para tanto, lango méo de {18s conceitos operacionais: arqueoiogia, de Foucault, dobra, de Deleuze; @ rizoma, de Deleuze e Guster. Analisar um vocébulo, orém, remete ao esludo dos seus entornos, colacados nas palavras que ele agencia & ‘nos termos que aquele se associam, Dessa forma, na rede dos vocabulos agenciados, Pela palavra bande ou a ela associados, um termo sindrimo ganha destaque, eriminoso. Entretanto, sinénimos sao faldcias, pois nenhuma palavra dz outra, Pensado assim, ponho a descoberto 0 percurso histérico destes dois termos, criminoso & ‘bandidc, analisando, na primeira parte, 0s usos sociais do vocdbulo ciminoso ©, na Segunda, 0s usos socials da palavra bandido, tendo-se que criminoso, no século XIX, @ Categoria geral designativa do delinguente, entre os quais se inciul o criminoso palitico ou bandido. Gradativamente, porém, o ‘bandido, que era categoria particular de criminoso, criminoso politico, passa a categoria geral, a partir do final do século XIX € inicio do’ séoulo XX, designando, no jomnalismo, toda e qualquer modalidads de delingtiente. Termo nuclear na primeira parte, inttulada “Sociologia da Maldade & Maldade da Sociologia", 0 vocabuio criminoso enseja analisar a maldade que, de acordo com os discursos da fisiognomonia, da frenologia, da craniometia € da criminoiogia, ganha visibiidade no corco do criminoso, Tals dzibildades formaiam um discurso de exclusdo, calcado no medo social, na denegagdo dessa emogao e na sua lransformarao em édio. Assim sendo, uma Sociologia da Maldade deve analisar os falores sociais alocados na transformacao daquele medo nesse édio, disculindo uma e outra emogdes, enquanto fatos histéricos possibiitantes da invencéo da viglancia e do controle socials. Malcade de. sociologia, por outro lado, nada mais & que a ullizago estratégica da Sociologia por parle do Poder, que dela se serve como forma de racionaizagao para a vigilancia, o controle, a exclusdo, em nome da seguranca social diante da suposta periculosidade de certos grupos sociais, assinalados como Suspeiios @/ou criminosos. Na segunda parte, onde espectficamente ¢ investigada a Arqueoiogia do Bandido, a quisa de reconstituir 0 percurso histérico do termo bandido, elaboro uma analise biogréfica sabre Antonio Vicente Mendes Maciel, 0 Conselheifo, 0 bandido Uipico dos primeiros anos da Repiblca Brasileira, enquanto analiso 2 guerra de Canudas como exemplo de excluséo social, pela via dos ritos sacriiciais envolvides nos embates entre o Mesmo e 0 Outro. 0 caso Conselheiro tanto serve para demanstrar 0 {uso social do termo bandido, importado do settecenio francés, quanto 0 uso nacional dos saberes produzidos na Europa ao final do século XIX, quando ¢ inventado 0 Goncelto de criminoso, recapitulados entre nés por Raimundo Nina Rodrigues e Euclydes da Cunha, Nas Inconclusdes que enceram o trabalho, partindo dos conceitos, Seciais de criminoso @ de bandido, remeio a ciscussdo sobre as nocdes de controle, ir eH Vigiéncia @ exclus4o, colocadas entre 2 crenga’da igualdade © 0 desrespeito & diferenca e mediadoras de certas relagdes entre o Mesmo € 0 Outro," # Palavras-Chave: Maldade, Sociologia, Bandido, Crime, Criminologia. SUMARIO Prélogo... sit Cartografia Geral e Estratégias Particulares, Primeira Parte: Sociologia da Maldade e Maldade da Sociologia... Segunda Parte: Arqueologia do bandido, 245 Inconclusées. 364 Epilogo. Referéncias Prélogo: Onde se diz da arqueologia, do rizoma e do eterno-retorno enquanto alicerces de conteudo e forma deste ensaio e andaimes do paradigma do fractal. “Por mais que se diga o que se vé, o que'se vé néo se aloja nunca no que se diz" (FOUCAULT, 8.4; p25). Fago das palavras daquele autor, mais que epigrafe, um ponto de partida e'um porto de chegada, tomando por preambulo alguns apontamentos, Por causa da crenga de que hé mais sapiéncia na explicagfo que na compreensdo das coisas, 0s saberes sobre o homem sofrem 0 mal-estar de uma ferida narcisica. Para esses saberes, explicar 0 mundo, como o fazem os saberes sobre a natureza, é ideal inalcangavel, pois impossivel extrair leis gerais de fatos singulares, at Porque, ali, nao existem fatos, mas apenas leituras de acorridos, interpretagoes de ocorréncias.* & A guisa, entéo, de denegar essa falha, é que as “ciéncias do homem" exigem um discurso sério, ou seja, um discurso de certeza fundamentado nos argumentos da Tazo, baseado na crenga do distanciamento, calcado na idéia de objetividade. A razdo, entretanto, & permeada das insensatezes ditadas pelos afetos; 0 distanciamento ideal do objeto estudado & uma faldcia, pois o objeto de estudos dos saberes sobre os homens @ 0 homem dentro do homem, inescapavel, a objetividade & uma quimera, pois toda objetividade esta sempre porejada'de subjetividades: ao escolhermos um objeto, na verdade nos escolhemos e quando o analisamos, dele dizemos menos que de nés mesmos. Quando muito, podemos, camo sugere Weber (1995a), esclarecer e esclarecermo-nos quanto aos valores que estejamos pondo em ago, naquela escolhe ena andlise daquele dito objeto. " Sobre eyleng, verans compreenso, vide TURATO (2008) Tomando esses idéias como parémetros, advito: Sendo-me impossivel expurgar 8 gmogao, exilar a subjetividade © abolir @ proximidade com o objeto analisado, uno.me a elas na construgso deste enszio que, em sua arqultetura, tem por andaimes trés nogSes operacionais: arqueciogia, rizoma e eterna retomo? Arqueologia, rizoma e etemo-retomo prestam-se, para mim, na andlise de Palavras © coisas, a invengao de um paradigma, 0 paradigma do fractal: toda coisa ‘ragmento de, coisa que, estinagando'se continuamente, remete @ ous infritos fragmentos, simuttaneamente iguais e diferentes. Para 0 caso das palavras, lidas como fractals, tem-se que cada uma delas remete a inmeras outras, sendo uma palavra a spiral da qual se desdobra um numero infindo de palavras, uma palavra puxando outra ® alrés dessa outras tantas, num somatério sem fim de palavras sinénimas @ anténimas # 8a associadas, ora de sentido quase 0 masind, ofa totalmente diferente, pois no existe 0 sindnimo, nenhuma’ palavra diz outra e toda palavra mente, inclusive estas Palavras, pois todo relato @ sempre parcial, jamais contando a verdade por inteiro, Uma ‘6 palavra, como que por entra letras, profera, na verdad, um discurso, 0 dscurso das Palavras que ela escande e esconde: os termos sinénimas, os termos anlénimos, os fermos associados & palevra proferida, Por causa dessa trama vocabular formativa de Giscursos, 6 que é possivel fazer no apenas ume sociologle de palavra, mas também {uma inlerminavel socioiogia de cada palavra, escondida na histéria © nos usos socials Ge cada um dos vocdbulos que compéem uma Lingua, Devo esclarecer, entratanto. que, em matéria de Lingua me interassa apenas o concsito de discurso, € este 0 significado que atibuo a esse termo: & toda texto escrito, tomado no sentido de ee O90) DECeRNPYO! de aueatogia, dobra.c rizomn, vide, empesivmente FOUCAULT (W986): DELEUTE (990) DELEUZE ° QUATAR (1995), NIETZSCHE (19836 9850) © MACHADOGSeH documenta, E, bem eniendido, ndo tomo do documente como intocével monumento & verdade, mas como invengae datada e Consiruida com palavras qué, quidndo dizem, dizam também o que no dizer Na verdlade, todo 0 meu trabelho respelta exelusivamente a uma palavra, 0 terme bandido, tide &'iuz da arqueolégia. Assim, como para todd voodbulo, a palayra bandido, Para ser apreendido seu senido, ha que ser lida arqueslogicamente, buscando entender os seus sentides, no plural, compreendendo 0 que hoje ela diz, a partir

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