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Prática 1: Medidas e Desvios

0.1 Introdução
O objetivo de uma ciência é entender o mundo no qual vivemos, em relação a algum
aspecto bem determinado. Para isto não basta a simples observação. Poderı́amos fazer uma
analogia entre a natureza e um jogo, ambos com regras complexas e desconhecidas. Cabe,
então, aos pesquisadores descobrirem estas regras, ou leis da natureza. Para descobrir
tais leis, através da pesquisa experimental, faz-se necessária uma combinação de observação,
raciocı́nio e experimentação, que são as etapas do Método Cientı́fico de trabalho.
O Método Cientı́fico pode ser resumido, de forma simples, às seguintes etapas:

i. o primeiro passo é a observação;


ii. realiza-se um conjunto de experiências com o objetivo de isolar o fenômeno que se quer
estudar. Com isso, pode-se observá-lo inúmeras vezes, identificando (separadamente)
os fatores que são responsáveis ou que, de algum modo, interferem no fenômeno;
iii. nesta etapa surgem as hipóteses de trabalho. É neste momento que, com base nas
observações, o pesquisador tenta inferir as leis que regem o fenômeno em estudo, ou as
“regras do jogo”. O pesquisador precisa fazer abstrações, eliminando de sua pesquisa
aqueles fatores não essenciais, de modo a simplificar o problema;
iv. finalmente, as hipóteses elaboradas são testadas com novos experimentos. Uma boa
teoria deve apresentar as seguintes caracterı́sticas:
a) ser capaz de explicar um grande número de fenômenos com o menor número
possı́vel de leis fı́sicas;
b) ter o poder de previsão de novos fenômenos, os quais possam ser observados
(testados).

No estudo de um fenômeno fı́sico é, portanto, fundamental a realização de medidas. A


medida de grandezas fı́sicas nos permite obter informações acerca de como estas podem, ou
não, estar correlacionadas, caracterizando o fenômeno que se quer estudar.
É importante que, qualquer medição que fazemos de uma grandez fı́sica será sujeita a
erros de várias fontes. Uma classificação de erros possı́vel os divide em três tipos:
(1) precisão do instrumento de medição:
(2) erro humano:
(3) erro sistemático.
Nesta experiência a preocupação principal é com os erros (ou desvios) causados pela
precisão finita do instrumento de medição. Qualquer instrumento de medição tem associ-
ado com ele uma precisão. Por exemplo, se estamos utilizando uma régua graduada em
milı́metros (ou seja, com precisão de milı́metros), como mostra a figura 1, para medir um
comprimento provavelmente a melhor que podemos esperar é saber o comprimento para o
milı́metro mais próximo.

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Figura 1: Medida de comprimento usando uma régua graduada em milı́metros.

No exemplo acima, sabemos que a medida é entre 1,3 e 1,4 cm. É razoável, então,
escrever que, qualquer que seja o comprimento “correto”, esse comprimento é 1, 35 ± 0, 05
cm. Esse expressão abrange um intervalo de valores entre 1,3 e 1,4 cm, com 1, 35 cm sendo
o que podemos chamar a melhor estimativa do comprimento.
Os bons fabricantes de instrumentos de medida tomam o cuidado de não marcar mais
subdivisões do que a precisão do instrumento permite. Por isso, podemos considerar, em
geral, que o desvio (ou erro) introduzido pelo instrumento numa leitura é de aproximada-
mente metade da menor divisão da escala do instrumento. A este desvio dá-se o nome
de desvio avaliado ou erro absoluto. Uma única medida deve então ser expressa como
(melhor estimativa ± desvio avaliado) unidade.
Erros e Algorismos Significativos
Um erro absoluto deve apresentar um único algarismo significativo. O motivo é que,
se esse algarismo significativo já joga duvida sobre o dı́gito correspondente na medida, o
próximo algarismo do erro faz com que o próximo dı́gito da medida possa assumir qualquer
valor. Esse digitos, então, não contêm informação útil e podem (devem) ser ignorados.
Assim nunca devemos escrever que uma medida é 13, 56±0, 24 unidades. Arredondamos
o erro para um algarismo significativo (no caso 0, 24 → 0, 2) e arredondamos o dı́gito na casa
correspondente da medida (o primeiro depois da vı́rgula) escrevendo o resultado da medição
como 13, 6 ± 0, 2 unidades.
Arredondamento
Sempre arredonda para o dı́gito mais próximo. Leve em consideração todos os dı́gitos
subseqüentes. Se você tem que arredondar um 5 (seguido somente por zeros), arredonde
para o dı́gito par mais próximo.
Exemplos de arredondamento para a primeira casa decimal.
12, 43 → 12, 4
12, 47 → 12, 5
12, 349999 → 12, 3
12, 350001 → 12, 4
12, 350000 → 12, 4
Operações com erros e desvios
Soma e Subtração com Erros:
Consideramos duas medidas, x com um erro absoluto, ∆x e y com seu erro absoluto ∆y.
Queremos considerar o intervalo de valores possı́veis da soma “x + y”. Não é dificil ver que o
maior valor possı́vel da soma é x + y + ∆x + ∆y e o menor valor possı́vel é x + y − ∆x − ∆y.
Podemos dizer que o resultado da soma, levando em conta os erros, é

x + y ± (∆x + ∆y),

ou seja o erro absoluto da soma é a soma dos erros absolutos de suas componentes.

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Da mesma maneira, o menor valor possı́vel da diferenc,a é x − y − ∆x − ∆y e o maior
x − y + ∆x + ∆y. Outra vez podemos escrever o resultado com

x − y ± (∆x + ∆y),

que abrange todos os valores da diferença consistentes com os erros em x e y.


Devemos lembrar que, ao escrever o resultado de nosso cálculo, o erro absoluto final só
deve conter um algarismo significativo, sendo arredondado se for necessário. A posição do
último algarismo significativo da resposta (antes ou depois da vı́rgula) deve ser a mesma do
algarismo significativo no erro.
Exemplo
Uma balança de padaria tem precisão de 6g (ou seja o peso real é o peso marcado ±6 g).
Nessa balança um bolo “pesa” 306g e uma torta “pesa” 420g. Quais os pesos possı́veis dos
dois juntos?
Bem, sabemos que o peso da bola pode ser qualquer valor entre 300g e 312g. Chamando
o peso do bolo x,
x = (306 ± 6) g
Da mesma maneira, o peso da torta, y, é

y = (420 ± 6) g.

Portanto os dois juntos podem pesar

(306 + 420) ± (6 + 6) = 726 g ± 12 g.

Mas nosso erro só deve ter um algarismo significativo. Portanto o erro que deve ser apre-
sentado com ±10 g. Assim o algarismo significativo do erro é o segundo antes da virgula.
Assim o último algarismo significativo do resultado também deveria ser o segundo antes da
vı́rgula. Olhando a nosso cálculo temos que arredondar 726 para 730. Finalmente o resultado
é apresentado como
730 g ± 10 g.
Erros relativos e percentuais
Às vezes é útil ter uma noção de quão grande é nosso erro em relação à medida. Um
erro de ±1 m pode ser grande quando estamos medindo o comprimento de uma sala, mas
seria considerado um muito pequeno na distância entre Rio e São Paulo. Assim temos o
conceito de erro relativo de uma grandeza, que é simplesmente o razão entre o erro absoluto
na medida dividido por seu valor. Destacamos que, outra vez, nos erros relativos devem
constar somente um algarismo significativo. Assim o erro relativo no peso do bolo acima é
6
= 0, 0196 . . . = 0, 02.
306
O erro percentual é simplesmente o erro relativo vezes 100%. Assim o erro percentual no
peso do bolo é 0, 02 × 100% = ±2%.
Multiplicação e Divisão com Erros
Muitas vezes precisaremos calcular o produto de duas (ou mais) grandezas, cada uma
com seu próprio erro. A regra simples de somar os erros absolutos não funciona neste caso.

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Porém existe uma regra parecida e simples de decorar, que rapidamente fornece o erro correto
na maioria dos casos.
O erro RELATIVO de um produto (ou divisão) é igual à soma dos erros
RELATIVOS das suas componentes.
Esta regra funciona com boa precisão quando os erros relativos das componentes são
“pequenos”. Podemos ver porque ao elaborar o produto de x + ∆x com y + ∆y.

(x + ∆x)(y + ∆y) = xy + y∆x + x∆y + ∆x∆y = xy + erro absoluto.

Ora o erro relativo no produto é a razão entre o erro absoluto e o valor do produto, xy, ou
seja
y∆x + x∆y + ∆x∆y ∆x ∆y ∆x ∆y
erro relativo = = + + .
xy x y x y
Podemos indentificar os três termos dessa soma como
1) o erro relativo em x,
2) o erro relativo em y,
3) o produto dos erros relativo em x e y.
Se os erros relativos das componentes x e y são pequenos, digamos 0,1 e 0,1 respecti-
vamente o produto desses erros é só 0,01 e desprezı́vel. E olha que erros de 10% não são tão
pequenos assim!
Exemplo Medimos o comprimento, c, e a profundidade, p, de uma mesa com um
metro btendo os valores

c = (1, 51 ± 0, 02) m, d = (0, 76 ± 0, 02) m.

Qual é a melhor estimativa da área da mesa, e o erro nesse valor?


A melhor estimativa da área é simplesmente o produto cp ou seja 1, 1476 m2 . Este
valor ainda precisa ser ajustado para levar em conta os erros de medição. O erro relativo em
c é 0, 02/1, 51 = 0, 013245033 e em p é 0, 026315789. Portanto a soma dos erros relativos é
0, 039560823. O erro (absoluto) no produto é, portanto,

0, 039560823 × 1, 1476 = 0, 0454 m2 .

Antes de apresentar nosso resultado na sua forma definitiva, arredondamos o erro para um
algarismo significativo 0, 0454 → 0, 05. Já que o erro está no segunda casa após a vı́rgula,
arredondamos o produto para concordar 1, 1476 → 1, 15 e apresentamos a área como

A = 1, 15 m2 ± 0, 05 m2 .

Experiência 1: Precisão de Instrumentos


Consideremos, por enquanto, a grandeza de comprimento e a sua medição. Medir
um determinado comprimento significa compará-lo com outro, escolhido previamente como
padrão (de medida). Este processo é comum a qualquer medição. Assim, toda medida
pressupõe uma unidade básica a ser escolhida, sendo portanto arbitrária.
Podemos escolher qualquer cromprimento (desde que não mude) como sendo uma
unidade padrão de medida para a grandeza (comprimento).

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1. Tome como unidade de medida a tiras de cartolina distribuı́da. Escolha um nome para
sua unidade de medida.

2. Meça o comprimento, a largura e o diagonal da superfı́cie superior de sua bancada


usando esta tira como instrumento de medida.

3. Quais são sua melhores estimativas das dimensões da bancada em termos da sua
unidade de comprimento, e quais são os erros (absolutos) associados?

4. Calcule o perimetro e a área da superfı́cie da bancada, em termos a unidade de com-


primento utilizada, bem com os erros absolutos das duas grandezas, usando as regras
acima.

5. Defina agora submúltiplos da sua unidade de comprimento, dividindo-a em 10 partes


iguais (utilize 11 pautas da folha de caderno). Cada pedaço corresponderá a um décimo
da unidade original.

6. Meça novamente o comprimento, largura e diagonal da sua bancada. Expresse os


resultados (com erros) em termos da unidade de medida e de décimos desta. Compare
a precisão deste resultado com a precisão do resultado do item (4). Calcule o perimetro
e a área da superfı́cie da bancada, com erros absolutos. Compare os erros absolutos e
relativos com os obtidos no item (4).

7. Calcule o valor esperado para o diagonal usando o comprimento, a largura e o teorema


de Pitagoras. O resultado é igual ao valor que você mediu? Senão, como explicar os
valores diferentes?

8. Se você dividisse cada décimo da sua unidade de comprimento em mais 10 partes iguais
e usasse esse novo instrumento de medida para medir o comprimento da bancada, com
quantos algarismos você expressaria a sua medida? E a área da superfı́cie da bancada,
quantos algarismos seriam necessários para expressá-la?

9. Se voce registrasse essas medidas num relatório que informações deveriam ser incluı́das
para que, no futuro, outra pessoa pudesse conhecer as dimensões da superfı́cie de sua
bancada apenas lendo este relatório?

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