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ELEMENTOS DA TEORIA DE ERROS

Embora a Física seja considerada uma "ciência exata", os instrumentos que utilizamos na
medida de grandezas físicas nunca nos permitem obter o valor exato dessas mesmas
grandezas; todas as medidas são afetadas de um certo grau de inexatidão.

É, no entanto, razoável admitir que o valor exato existe e embora ele não seja conhecido,
podemos estimar os limites do intervalo em que ele se encontra. O cálculo da incerteza
associada a uma medição permite avaliar o grau de confiança nos resultados obtidos.

Em Física lidamos constantemente com números que representam, direta ou


indiretamente o resultado de medições experimentais. No entanto, os resultados
experimentais não são uma representação exata do valor da grandeza medida. Com
efeito cometem-se sempre imprecisões, e se repetirmos a medição da grandeza várias
vezes, sempre nas mesmas condições, obteremos em geral valores diferentes. Só por um
acaso, algum destes valores coincidirá com o "verdadeiro valor" da grandeza.

Contudo, o resultado de uma ou várias medições da grandeza é toda a informação que


podemos obter sobre o verdadeiro valor da grandeza. Se as medições forem feitas com
bastante cuidado, é provável que os resultados obtidos sejam próximos entre si e não se
afastem muito do verdadeiro valor.

O afastamento entre si dos vários valores obtidos para a mesma grandeza pode dar-nos
uma idéia da precisão com que é feita a medição.

A medição de uma grandeza deve ter como objetivos adotar um valor como melhor
estimativa do verdadeiro valor da grandeza e ter alguma indicação sobre a
imprecisão da medida.

Os erros de observação, normalmente, não obedecem a regras simples e podem ter


várias causas. Geralmente são enquadrados em dois grupos: erros acidentais e erros
sistemáticos. Por vezes os dois tipos de erro ocorrem combinados, sendo difícil distinguir
entre uns e outros.

Os erros sistemáticos podem ser devidos ao observador ou ao instrumento utilizado,


são inerentes ao método escolhido, ao processo de medida ou ao próprio instrumento.
Este tipo de erros afeta sempre o resultado no mesmo sentido e tem sempre a mesma
magnitude sendo por isso muito difíceis de detectar. Não existem princípios gerais para
tratar este tipo de erros e a sua detecção e correção exige grande experiência da parte do
observador (por exemplo, a utilização de uma régua mal graduada introduz um erro
sistemático na medição).

Os erros acidentais podem ter diversas causas, mas são na sua grande maioria erros de
leitura. Têm uma incidência desordenada, influenciando os resultados ora num sentido
ora noutro. Este tipo de erros é inevitável, podem no entanto ser detectados aumentando
o número de experiências efetuadas, ou seja, diminuindo a probabilidade de ocorrência
de um "mesmo acidente". São normalmente tratados de forma estatística.

Um erro sistemático não impede uma medida de grande precisão (os valores obtidos
podem ser próximos entre si) no entanto conduz sempre a uma medida de baixo rigor (o
valor obtido é bastante diferente do valor real).

Medidas diretas e indiretas


O valor de uma dada grandeza pode ser obtido de uma forma direta, quando o valor é
dado pela leitura direta de um instrumento de medida (régua, amperímetro, cronómetro,
etc.) ou de uma forma indireta, quando o valor é obtido por cálculos a partir de outras
grandezas medidas diretamente.

Exemplo: O valor de uma resistência pode ser determinado diretamente, utilizando um


ohmímetro, ou indiretamente através do quociente entre a diferença de potencial entre
os seus terminais e a intensidade de corrente que a percorre ( R = V / I )

Estimativa da incerteza associada a medições diretas


A medição repetida de uma grandeza, cujo valor exato é x o, permite minorar os efeitos
dos erros acidentais, se todas as medidas forem independentes e feitas nas mesmas
condições.

Assim se fizerem n medidas, x1 , x2 , x3 , .......xn , o valor mais provável de x seria a média


0

aritmética dos valores x1 , x2 , x3 , .......xn :

n
 xi
x  x 2  x 3  ....  x i i 1 1 n
x 1    xi
n n n i 1

mas
x i  x0  ei (em que ei é o desvio da medida xi em relação ao valor exato x ) o

assim teremos para x :

( x0  e1 )  ( x0  e2 )  ( x0  e3 )  ....  ( x0  ei )  ei
x  x0   x 0  e0
n n

Como alguns dos desvios, ei , são positivos e outros negativos, o valor e0, é sempre
menor que o maior dos desvios ei. Assim geralmente x está "muito próximo" de xo, sendo
tomado como "o melhor" valor para a grandeza medida, obtido nessa experiência.

É necessário notar que o valor exato da grandeza, xo, e conseqüêntemente os valores


e1 ,e2 ,e3 ,...,en não são conhecidos. Assim apenas podemos determinar a incerteza

associada a uma medição, através da análise dos desvios,  , (  i  x i  x0 ), em relação


i

ao valor médio, x , e não a partir da análise dos desvios ei em relação ao valor exato xo ,
uma vez que estes são desconhecidos. Toma-se como limite superior do erro de
observação associado a uma medição o valor, x, sendo x o maior dos desvios i
associados a essa medição.

Pode-se concluir que:

x0  x   x , x   x

x0  x   x
Geralmente a expressão anterior é substituída pela expressão mais simples
, atribuindo-se a esta última o mesmo significado da anterior.

Quanto maior for o número de experiências realizadas, mais próximo de x o se encontra x ,


ou seja menor é o erro cometido ao considerar x como o melhor valor para a grandeza
xo .

Se o número de experiências for bastante elevado (n > 30 ), os resultados devem ser


tratados de forma estatística. Neste caso o erro cometido na medição é, devido ao
elevado número de experiências realizadas, bastante inferior ao limite superior do erro de
observação. A incerteza associada ao valor da grandeza é, nestes casos, normalmente

x , x 
estimada através do cálculo do desvio padrão ( ) das várias medições realizadas.

  xi  x 
 
n 1
O desvio padrão é uma medida da dispersão dos valores medidos em torno da média. O

x , x 
significado de é o seguinte: se o número de medições for suficientemente elevado (n >

x , x 
30), cerca de 68% dos resultados situam-se no intervalo .

Precisão do instrumento de medida


A precisão de cada uma das medidas efetuadas depende sempre das limitações técnicas
do instrumento utilizado. A maioria das vezes a precisão dos aparelhos é indicada, pelos
fabricantes, no próprio aparelho ou no seu manual. O valor da precisão de uma medida
nunca pode ser menor que a precisão do instrumento utilizado nessa medida.

Assim, quando são feitas n medidas de uma grandeza, o limite do erro de


observação deve ser comparado com a precisão do aparelho: o limite do erro
cometido nessa medição é o maior dos dois.

Erro absoluto e erro relativo


Erro absoluto: o erro absoluto tem a mesma unidade que a grandeza medida.

Erro relativo: o erro relativo é dado normalmente como percentagem do valor medido.

Exemplo: Se o resultado da medição de uma resistência foi h = (48.5 ± 0.7 )

h
 r (h)   0.014  1.4%
o erro absoluto é h = 0.7 e o erro relativo é h .

Estimativa da incerteza associada a medições indiretas


Dado que numa medição indireta se fazem cálculos envolvendo valores de outras
grandezas medidas diretamente, a incerteza do resultado é função das incertezas dos
vários valores medidos diretamente.

Sendo X a grandeza cujo limite queremos determinar, e a, b, c,... os valores das


grandezas de que X depende, e cada uma com um limite de erro a, b,
c,....respectivamente, e conhecida a relação

X = f (a, b, c,...)

o limite do erro da grandeza X, X , é dado por:

X X
X   a   b  .......
a b

Exemplo:
Suponhamos que queremos medir o volume de um dado cilindro. Podemos obter um valor
para o volume, V, fazendo a medição do raio, r, e da altura h do cilindro e aplicando a
expressão:

V =  r2 h

Neste caso estamos a fazer uma medida indireta do volume do cilindro. A medida diferirá
em princípio do verdadeiro valor do volume, pois o mesmo acontece aos valores
determinados para o raio e para a altura. A imprecisão no valor obtido para o volume será
função das imprecisões nas medidas de r e h. Aplicando a expressão de propagação de
erros, teremos:

V V
X   r   h
r h

Admitindo: h = (18.4 ±0.9) cm e r = (3.6 ± 0.2) cm


V =  r2 h = 3.14 x (3.6) x 18.4 = 749.16 cm
médio
2 3

V
r = 2 r h = 2 x 3.14 x 3.6 x 18.4 = 416.20 cm 2

V
h =  r2 = 3.14 x (3.6) = 40.69 cm
2 2

V = 416.20 x 0.2 + 40.69 x 0.9 = 119.9 cm ( 16%) 3

V = (749.2 ± 119.9) cm , 3

Da análise deste resultado verifica-se que o primeiro algarismo ( 7 ), já está afetado de

erro. Assim o resultado deve ser apresentado na forma:

V = (7 ± 1) x 10 2
cm 3

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