técnica
Microfones
para sopro
e suas
aplicações
técnica
Eles são indispensáveis
no setup dos músicos que
tocam em teatros, igrejas,
salões ou outros espaços
que os exijam. Saiba qual
o melhor para cada uso
O
s microfones fazem parte do
cotidiano do músico de sopro.
Seja em estúdio, apresenta-
ções menores ou em grandes recintos,
os microfones são os primeiros (e talvez
os mais importantes) equipamentos da
produção do áudio para o ouvinte. A
qualidade sonora depende da escolha do
modelo correto e também do posiciona-
mento adequado junto ao instrumen-
to. Ao contrário de 15 anos atrás, hoje
em dia temos uma grande variedade de
marcas e modelos que podem atender
ao orçamento mais modesto do músico
amador (que os utiliza esporadicamen-
te) até aplicações mais avançadas, como
grandes eventos e trabalhos em estúdio.
O objetivo deste artigo é direcio-
nar o leitor para a aquisição do equipa-
mento em função da sua utilização. Os
modelos citados a seguir servem como
exemplos dos equipamentos mais co-
22 SAX & METAIS
nhecidos, mas é recomendável
uma pesquisa junto ao mercado
de marcas alternativas. Estas servem
para as aplicações mais amadoras, nas
quais a qualidade de captação pode ser
ligeiramente desmerecida em função da
relação custo-benefício, sem prejudicar a
aplicação final. Os microfones de estú-
dio também não serão citados, focando
apenas nas aplicações em que o próprio
músico precisará obter seus equipamen-
tos (performances ao vivo).
TIPOS DE
MICROFONES
Os microfones utilizados atualmente
para instrumentos de sopro podem ser
classificados em dois tipos básicos em
relação à captação do som:
1 Microfones dinâmicos: tam-
bém conhecidos como de pressão
ou magnéticos, possuem uma pequena
Por Josec Neto
membrana acoplada a um imã que, ao
ser atingida por uma onda sonora, mo-
vimenta-se em um campo magnético,
gerando uma corrente elétrica propor-
cional à pressão exposta. Trazem a van-
tagem de serem robustos, além do custo
de aquisição relativamente barato.
2 Microfones condensadores:
também denominados microfones
de capacito. Isso porque geram uma
corrente elétrica proporcional à pressão
sonora incidida em uma ou duas lâmi-
nas de um capacitor. Vantagens: podem
Fotos: Divulgação
ser bem pequenos e possuem resposta de
frequência plana e de grande espectro
(maior sensibilidade).
 Por causa do sistema de capacitor,
o microfone do tipo condensador pre-
cisa de uma alimentação elétrica adicio-
nal (geralmente 48V), que é fornecida
por um dispositivo chamado Phantom
Power. Esse dispositivo está presente
na maioria dos mixers atuais, podendo
também ser fornecido a partir de dispo-
sitivos externos, desde modelos a bate-
ria (por exemplo, os da Cybernet, que
funcionam com duas baterias de 9V),
até os com alimentação convencional
(de tomada, como os da brasileira Ze-
rotron). O modelo S-Phantom, da Sam-
son, possui entrada para dois microfo-
nes, podendo ser uma boa opção para
situações em que você ou outro músico
utilizem mais do que um microfone. Os
dispositivos de Phantom Power podem
ser encontrados em boas lojas de instru-
Microfone de pedestal
mentos ou de eletrônica ao ângulo de 45 graus
da campana (sax, alto,
tenor e soprano curvo)

S-Phantom, da Samson
A maioria dos microfones utiliza-
dos em instrumentos de sopro é do tipo
condensador, já que seu tamanho faci-
lita a fixação no corpo dos instrumen-
tos e também porque a sensibilidade de
resposta é melhor. Apesar de
a maioria das mesas de
som possuir o recurso
de Phantom Power,
recomendo que seja
também adquirida
uma unidade portá-
til dele, pois às vezes o
técnico de som pode mistu-
rar os dois tipos de microfones.
Dessa forma, o Phantom pode queimar
os microfones dinâmicos. Em outras
ocasiões, quando o músico vai utilizar
uma caixa amplificada, por exemplo,
esse recurso pode não estar disponível.
Você encontrará modelos de Phantom
Power dos mais variados tipos, desde os
que utilizam baterias de 9V até os com
alimentação convencional (tomada).
Todos são bons. O que varia é a facili-
dade de uso e o tamanho, entre outros.
A seguir, alguns exemplos de utili-
zação dos microfones em instrumentos
de sopro.
SAXOFONES
Para a microfonação do saxofone, deve-
mos considerar, em primeiro lugar, se o
músico estará se apresentando sem mo-
vimentação (em um lugar fixo no palco,
por exemplo, em bandas ou conjuntos
Shure SM 58
grandes) ou movimentando-se
no palco ou mesmo fora dele (re-
curso muito utilizado por solistas e
em cerimônias de casamentos, forma-
turas e outros).
No caso de o músico estar em po-
sição fixa, a forma mais simples de mi-
crofonação é utilizar um microfone de
pedestal, como os usados por cantores
e demais instrumentistas. O microfone
mais conhecido para essa aplicação é,
sem dúvida, o famoso Shure SM58 e
modelos semelhantes. Para os saxofones
alto, tenor e soprano curvo, o melhor
posicionamento do microfone é acima
da campana, virado para baixo em um
ângulo de 45 graus, pois o som do sa-
xofone é emitido através da campana,
mas também por seus orifícios, e a cap-
tação do registro médio/agudo é feita
no corpo do instrumento. Se você quer
reforçar mais os graves, direcione o mi-
crofone mais para a campana, sem nun-
ca, entretanto, tocar com o microfone
enfiado dentro do sax.
O saxofone soprano reto exige
um pouco mais de refino na capta-
ção do som. Alguns técnicos e ins-
trumentistas colocam um micro-
fone posicionado na altura das

SAX & METAIS

23
 técnica
chaves de são o AKG C419 (que foi substituído pelo
Sol e Sol# do C519) e o ATM350, da Audio Technica.
instrumento, Existem outros fabricantes bem conceitua-
enquanto outros dos lá fora, como Sennheiser e AMT. Além
preferem utilizá-lo dos citados, há outros que fabricam alter-
direcionado à cam- nativas ao C419 com um custo mais baixo,
pana. Outros ainda como o Yoga (EM 715), o JTS (CX-508) e
o Samson (HM40P). Apesar de serem mais
baratos, para mui-
tas aplicações eles
fornecem resultados
bem satisfatórios de res-
posta sonora, compensando
pela relação custo-benefício. Esses
técnica

microfones de baixo custo também são

LCM 89, da SD Systems
optam pelo modelo usado na gra-
vação em estúdio defendido por Da-
vid Liebman, que consiste em utilizar
dois microfones: um direcionado à cam-
pana e outro ao corpo do instrumento.
Agora, se você provavelmente per-
tence aos 98% de saxofonistas que não
conseguem ficar muito tempo parados,
vai precisar de microfones que podem
ser presos ao corpo do instrumento. Isso
irá proporcionar maior mobilidade sem
perder a captação do som.
Existem dois tipos de suporte para
esses microfones de sax: o primeiro é o
utilizado pelo LCM89, da SD Systems,
o preferido do David Sanborn. É cons-
tituído basicamente de um microfone
montado em uma ‘aranha’ que é presa
à campana do sax. Um ótimo micro-
fone, mas se você costuma alternar
entre o sax tenor e alto durante as
apresentações, terá de comprar um
microfone para cada instrumento, já
que é meio complicado ficar mon-
tando a ‘aranha’ na campana.
A alternativa a esse tipo de micro-
fone (e também a mais utilizada pelos
músicos) consiste no sistema em
que o microfone
é preso à cam-
pana por meio
de uma presilha ou
‘clamp’. Os mo-
delos mais
conhecidos
uma opção para o músico profissional que
pode ter um segundo microfone, mais ba-
rato, para usar no lugar daquele mais caro
em apresentações mais simples
ou corriqueiras.
O único inconveniente
do microfone preso à cam-
pana é que ele também
capta o barulho das chaves,
em maior ou menor intensidade,
dependendo do modelo da presilha. Isso
pode ser um problema quando o saxo-
fonista está tocando sem a presença
de demais instrumentos ou
playbacks. Mas,
quando exis-
JTS CX-508
te uma base melódica
acompanhando, dificilmente
o som das chaves é ouvido ou re-
passado para o sistema de som.
O posicionamento desses micro-
fones é semelhante ao utilizado para os
microfones de pedestal, ou seja, para sax
alto e tenor, direcionado de maneira a
captar o som da campana e da região
média; no caso do soprano reto, na
maioria das apresentações ao vivo, o uso
de microfone do tipo clamp na campana
é suficiente, embora exista no mercado
um modelo semelhante ao do clarinete,
que será discutido a seguir.
CLARINETE
O posicionamento do microfone de
pedestal, em relação ao clari-
nete, é semelhante ao
adotado para o sax
soprano reto, ou
seja, direcionado para o meio do cor-
po do instrumento. No caso
dos microfones de
clamp, o resul-
tado obtido não
é muito satisfatório,
pois há uma diferença signi-
ficativa de volume quando o ins-
trumentista toca a região mais grave
do instrumentos em relação às notas
da região média/aguda. Pensando nisso,
alguns fabricantes criaram um sistema
que consiste numa presilha que é afixa-
da no corpo do instrumento contendo
dois microfones: um direcionado para
a campana e outro para o corpo do ins-
trumento. Dessa forma, a diferença de
volume pode ser equilibrada na mesa de
som, deixando a captação mais uniforme.
Um modelo bem conhecido é o WS, da
empresa AMT, mas existem também mo-
delos para sax soprano reto e oboé.
FLAUTA AKG C519
Existem três opções mui-
to utilizadas para a capta-
ção do som da flauta. A
primeira é utilizar o microfone de pedes-
tal, em que deve-se tomar cuidado para
não se posicionar em frente ao bocal,
pois será captado muito ruído de sopro.
Posicione o microfone bem ao lado do
bocal, esquerdo ou direito. A segunda

24 SAX & METAIS

 Microfone de pedestal
posicionado à altura
das chaves de Sol e
Sol# no sax soprano
maneira é utilizar um captador inserido no
interior do bocal, através da ponta da flau-
ta (uma marca muito conhecida é a Barcus
Berry). A terceira opção é semelhante aos
microfones para sax, em que se utiliza o
sistema de presilha no bocal ou corpo da
flauta e o microfone pode ser direcionado
para a melhor captação do som, como nos
modelos da AMT e SD Systems.
Outra opção que vem sendo adotada
pelos flautistas é o uso de microfones do
tipo headset (de cabeça). Eles possuem
um custo relativamente menor do que os
específicos para flauta e o seu captador
pode ser direcionado da mesma
maneira que os modelos de
clamp. Tanto os modelos
mais profissionais (como os
da marca Shure) quanto os
intermediários (LeSon, por
exemplo) servem a essa apli-
cação, podendo ser encon-
trados em modelos sem fio
e tradicional.
TROMPETE E
TROMBONE
De uma maneira geral,
são utilizados modelos
parecidos com os de sa-
xofone, com o posiciona-
mento direto na campana
do instrumento, variando-
se a distância conforme o
gosto do instrumentista.
Microfone duplo AMT Microfone duplo WS, da AMT
SISTEMAS SEM FIO de frequência, caso estejam sendo utili-
(WIRELESS) zados vários microfones sem fio no even-
Imagine situações nas quais o instrumen- to. As marcas mais utilizadas são AKG e
tista precisa se deslocar consideravelmen-
te no palco, ou então eventos como casa- Posição do microfone
mentos, em que o músico vai ‘buscar’ a de pedestal para flauta
noiva, tocando durante toda a extensão
do caminho. Também em shows em que
o músico aparece no meio da plateia, ca-
minha pelo teatro e volta ao palco. Em
situações como essas, a utilização de um
sistema sem fio é indispensável.
Quase todos os microfones de presi-
lha possuem versões sem fio, sendo que
muitos podem ser configurados
para utilização ‘com fio’ e
‘sem fio’. Se você está pen-
sando em adquirir um sistema
wireless, deve considerar as es-
pecificações do transmissor em relação à
frequência (VHF ou UHF, sendo que a
chance de interferência no caso do UHF
é menor), distância de alcance sem corte
do som e possibilidade de vários ajustes
Transmissor Shure PGX14
Audio Technica ATM350
SAX & METAIS
25
 técnica
Microfone Shure Headset
técnica

Shure, sendo que, no caso da segunda, é Leve em conta também que o siste- realmente a necessidade do seu uso em
possível adaptar muitas marcas de micro- ma sem fio é mais uma ‘parafernália’ que cada evento. O ideal é levar o sem fio
fones para utilização com o transmissor. você precisará levar. Assim, considere somente quando necessário.

DICAS PARA UMA BOA COMPRA CONCLUSÕES

Os microfones são a ‘porta de entrada’ para

1 Pesquise bastante o tipo de microfone de que precisa antes de comprar.

Pegue dicas com amigos e músicos mais experientes e descubra os prós e
contras do modelo desejado com quem já o possui.
as captações de som em gravação de shows
e também para o público. A escolha corre-
ta desse equipamento influencia, e muito,

2 Dê preferência a modelos com representação no Brasil (pelo menos

a importadora). Você pode ter o azar de comprar um modelo com
defeito. Assim, será mais fácil substituí-lo, adquirir peças ou consertá-lo
o resultado final para o ouvinte. Conside-
re em primeiro lugar o resultado do seu
trabalho. Muitas vezes você pode estar
quando preciso.
tocando em um instrumento fantástico e

3 Se for comprar modelos sem fio, procure aqueles que permitem as duas
configurações (com e sem fio), assim você não precisa levar o transmissor/
receptor em todos os eventos.
o público estar ouvindo uma ‘equalização
de telefone’, isto é, sem uma boa distinção
das frequências, por causa do microfone

4 Muitos microfones possuem alternativas de custo mais baixo (os utilizado. Procurei passar em linhas gerais
‘genéricos’), que, apesar de apresentarem diferença na qualidade do som, um pouco da minha experiência com os
podem ser melhores na relação custo-benefício, caso você realize eventos microfones, muitas vezes aprendida por
amadores ou menores. Se vai utilizar muito o microfone, vale a pena investir tentativa e erro, para que seja facilitada
num modelo que seja mais robusto, mesmo sendo mais caro. ao leitor a compra do equipamento mais

5 Procure testar o microfone na loja. Leve seu instrumento e teste os vários adequado à sua necessidade musical. Um
modelos, se possível. Assim como no caso dos cantores, você pode achar abraço e até a próxima!
que determinado modelo capta melhor o som do seu instrumento do que
outros. No caso de microfones sem fio, faça um teste de alcance do sistema. autor

6 Se você está comprando um microfone condensador, adquira um Josec Neto é

adaptador de Phantom Power, mesmo que já tenha um mixer com essa multi-instrumentista
e pesquisador de
função. Provavelmente, um dia você precisará utilizá-lo, seja porque vai fazer
instrumentos étnicos de
uma participação especial em um grupo que não possui esse recurso ou ainda
sopro, com trabalhos
por ter de desligar o Phantom de sua mesa para utilizar outros equipamentos voltados para new age e world music.
que não podem ser conectados com o mesmo ligado. Site na Internet: www.josecneto.com

26 SAX & METAIS