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BLOCOS-PADRÃO:

CARACTERÍSTICAS E NORMALIZAÇÃO

GAUGE BLOCKS:
FEATURE AND STANDARDIZATION

SÉRGIO EDUARDO CRISTOFOLETTI


Laboratório de Metrologia Dimensional – LaroyLab
Starrett Ind. e Com. Ltda.
Av. Laroy S. Starrett, 1880 – Itu – S.P.
Email: starrett.laroylab@starrett.com.br

ALVARO JOSÉ ABACKERLI


Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP
Santa Bárbara d’Oeste – S.P
E-mail: abackerli@unimep.br

ABSTRACT

This paper describes a comparison between gage blocks standards in use around the world trying to make clear
some concepts related to it (size definition, methods of calibrations, metrological features, material, hardness,
dimensional stability, expanded thermal coefficients, linear accuracy, variation in length, flatness, wringability,
roughness, traceability, uncertainty of measurement and calibration report). Doing so, the importance of gauge
blocks and its calibration are ported out, allowing users the best choice for their manufacturing context.

Keywords: gage block, standardization, calibration, length

RESUMO

Este artigo descreve de uma forma simplificada uma comparação de normas de blocos-padrão atualmente em uso no
mundo e tenta elucidar alguns conceitos como a definição de comprimento, métodos empregados para calibração de
blocos padrão, características construtivas e metrológicas como: material, dureza, estabilidade dimensional,
coeficientes de expansão térmica, exatidão linear, variação do comprimento, planeza, aderências entre superfícies,
rugosidade, rastreabilidade, incerteza de medição e certificado de calibração. Deste modo, a importância dos blocos-
padrão é destacada, permitindo aos usuários a melhor escolha para seu contexto de manufatura.

Palavras-chave: bloco-padrão, normalização, calibração, comprimento

1. INTRODUÇÃO limites de controle (tolerâncias) do que se está produzindo,


Com a permanente corrida pela excelência de seus e necessariamente possuir meios que garantam o êxito no
produtos, a indústria manufatureira, principalmente as processo produtivo, ou seja, máquinas eficientes e capazes
metais mecânicas, tem exigido dos processos produtivos para a fabricação e principalmente, instrumentos de
níveis crescentes de exatidão. Esta corrida foi intensificada medição que sejam compatíveis com a exatidão requerida
ainda no final do século XIX, quando a necessidade de pelo produto.
intercambiabilidade de peças foi crucial e latente, Para que este instrumento de medição seja compatível
principalmente na indústria bélica. metrologicamente, é necessário que se faça uma avaliação
Em cenários mais recentes, a intercambiabilidade pode ser minuciosa das características que o define, ou seja, erros e
facilmente percebida em produtos comercializados a nível incertezas intrínsecos ao seu uso, obtidos através de uma
mundial, a exemplo disto podemos citar um veículo calibração.
automotor que tem parte das suas peças produzidas em Esta calibração é executada utilizando-se padrões que
diferentes unidades fabris dispersas pelo mundo. Na linha garantam a qualidade metrológica necessária ao
de montagem, elas se encaixam perfeitamente, compondo instrumento que será utilizado no processo produtivo.
o produto final, e a qualquer instante ou circunstância Entretanto para que haja homogeneidade das informações
permitem ser trocadas por outras novas. são criadas normas técnicas com o objetivo de padronizar
Porém, para a indústria atingir completamente o objetivo suas formas construtivas e possibilitar um melhor
da intercambiabilidade, é necessário que ela estreite os entendimento entre fabricante e consumidor.
Dada a diversidade de normas técnicas sobre um único comprimentos de blocos-padrão com laser interferométrico
assunto e devido à complexidade relativa aos padrões de no Case School of Applied Science in Cleveland. Estes
comprimento, bloco-padrão, este artigo técnico traz de ensaios foram desenvolvidos por George D. Webber com
forma simplificada um comparativo dos critérios técnicos um interferômetro desenvolvido por Albert A. Michelson
especificados nas normas com maior representatividade em 1.881 (WEBBER, 1984)
no mercado brasileiro. Em 1.940 foi publicada a primeira norma Britânica, BS
888 e em 1.950 foi revisada. Nesta revisão, foi incluída,
uma classe de referência juntamente das três classes
2. DEFINIÇÃO E PADRONIZAÇÃO originais: de calibração, inspeção e de trabalho. Ambas
Poderíamos definir o bloco-padrão como: tratavam dos dois sistemas de medidas, o imperial e o
"Uma medida de comprimento materializada. Isto é, métrico, além da padronização de acessórios.
corpo rígido em aço, metal sinterizado ou cerâmico Em 1.959, a norma DIN 861 passou por revisões e
resistente ao desgaste, com comprimento definido por alterações significativas, pelas quais foram incluídos dados
duas superfícies planas e paralelas entre si. Estas referentes aos materiais utilizados e sobre as superfícies
superfícies são lapidadas com grau de acabamento laterais.
espelhado, permitindo que ele seja aderido ao outros Em 1.964, o Bureau Nacional de Padronização (NBS)
blocos com acabamento similar. Os blocos possuem juntamente com as Forças Armadas publicou uma norma
comprimentos na ordem de fração de uma unidade de técnica (GGG-G-15) com conceitos sobre a incerteza de
medida padrão, por exemplo o metro (Sistema medição na calibração dependendo da classe de exatidão
Internacional de Unidades (SI)), Por convenção, o dos blocos, sobre blocos de proteção para prevenção de
comprimento do bloco é definido como sendo um ponto desgaste, preocupações quanto à temperatura de calibração,
particular da superfície de medição perpendicularmente a coeficientes de expansão térmica dos diferentes materiais
uma superfície plana rígida de mesmo material e utilizados para a fabricação dos blocos, e acessórios para
acabamento onde ele foi aderido." (ISO 3.650, 1998; medições.
NBR NM 215, 2000). Em 1.968, a norma britânica, BS 888 que tratava de
O bloco-padrão pode ser fornecido com secção transversal diferentes unidades, imperial e métrico, passou por uma
retangular ou quadrada e em várias classes de exatidão revisão geral, e cada uma das unidades ganhou numerações
para satisfazer os mais variados tipos de aplicação, distintas. O Sistema Imperial permaneceu com o nº BS 888
conforme a qualidade dos resultados requeridos. O e o Sistema Métrico recebeu o nº BS 4.311 Part1, que não
conhecimento de seu comprimento através da calibração, era necessariamente idêntica às demais normas publicadas
com uma incerteza na medição estimada associada ao seu nos países europeus. Desde então, elas identificam e
valor verdadeiro convencional é a base para a aplicação de quantificam os efeitos de incerteza de medição e os
blocos-padrão como referência de comprimento. definem sem ambigüidade.
Com o intuito de facilitar o entendimento entre fabricantes Em 1.978, a ISO publica a norma ISO 3.650 com uma
e usuários, foram elaboradas normas técnicas que série de acréscimos técnicos tais como: propriedades
regulamentam e normalizam os parâmetros de fabricação e físicas dos materiais (constantes elásticas), desvios
avaliação de conformidade, como secção transversal, máximos para o comprimento central, variação de
material, dureza, acabamento, tolerâncias para o comprimento, tolerâncias simétricas (forma e posição)
comprimento e paralelismo entre as superfícies lapidadas. entre outras, contrariando as colocações prévias propostas
A normalização de blocos-padrão teve início em meados pela Alemanha.
do século XX, em julho de 1.927 na Alemanha. O Devido a estes pontos de discordância entre o órgão
documento, DIN 861, já definia o comprimento de um alemão de padronização (DIN) com relação à norma ISO
bloco-padrão como a distância de um ponto particular, 3.650-1978, em 1.980 a norma DIN 861 foi revisada e
perpendicular a uma superfície auxiliar. Para que houvesse reeditada.
esta definição, a metodologia sugerida para medição Em 1.993, a norma britânica foi revisada sobre o pretexto
deveria ser através de laser. Desta forma, pode-se concluir de que os blocos em uso não poderiam ser classificados
que nesta época já havia uma corrente de pensamento em sob as mesmas condições de blocos novos, pois com o uso
padronizar a medição de comprimento com base no eles deveriam ser reclassificados nas classes de exatidão
comprimento de onda da luz, o que somente foi inferior, a partir de então a norma para blocos usados
reconhecido pelo Bureau Internacional de Pesos e Medidas recebeu o nº BS 4.311 Part. 3
no ano de 1.960 (INMETRO, 2000). Já no Brasil, em função de um acordo comercial dos países
Tem-se indícios da medição de blocos-padrão com do Cone Sul, que recebeu o nome de Mercosul, foi editada
interferência de onda da luz por volta de 1.919 pelo Sr. em 2.000, a norma NBR NM 215: 2.000 para blocos-
C.G. Peters da divisão de óptica do Bureau of Standards padrão no âmbito do comitê mercosul de padronização. A
dos Estados Unidos. (KEUREN, 1919) Tabela 2.1. mostra algumas normas técnicas para blocos-
Por volta do final da década de 30, foi desenvolvida uma padrão com reconhecimento internacional e a data da
técnica para minimização de erros na medição de última revisão.
Tabela 2.1. - Normas internacionais atualmente recuperadas e avaliadas.
Órgão País de origem Nº da Norma Ano revisão
Mercosul / ABNT Brasil NBR NM 215 2.000
International Organization for Standardization (ISO) Suíça ISO 3650 1.998
Japanese Industrial Standard (JIS) Japão JIS B 7.506 1.997
British Standard Institution (BSI) Reino Unido BS 4.311 Part. 1 e 3 1.993
Deutsches Institut für Normung (DIN) Alemanha DIN 861 Part. 1 1980
Federal Agency EUA GGG-G-15c 1.976

3. CARACTERÍSTICAS DA PADRONIZAÇÃO transformação. Como resultados deste desenvolvimento,


materiais como a liga de Aço SAE 52100, sinterizados de
Apesar da grande variedade de normas técnicas carboneto de tungstênio e carboneto de cromo, além de
encontradas no mercado, todas, sem exceção, enfatizam 3 materiais com técnicas de tratamento superficial avançado,
pontos básicos quanto às propriedades mecânicas dos como Aço Inoxidável Nitretado, era uma realidade entre os
materiais empregados na fabricação de blocos-padrão, que fabricantes de blocos-padrão na década de 60 (WEBBER,
são: dureza, estabilidade dimensional ao longo do tempo e 1965) (QUALITY ASSURANCE, 1963).
coeficiente de expansão térmica favorável. Além destes Com a evolução das técnicas metalúrgicas e com o
fatores, um outro tem sido busca constante dos fabricantes, surgimento do tratamento térmico no século passado, foi
a resistência ao desgaste e uso. possível controlar melhor as composições das ligas
Quanto à parte metrológica pode ser observado que todas metálicas partindo de um aço base, e melhorar
as normas buscam uma padronização quanto às consideravelmente as condições de produção e as
características geométricas, que são: comprimento central, características de resistência ao desgaste, estabilidade
variação de comprimento, planeza das superfícies de dimensional e homogeneidade do material.
medição, perpendicularidade entre as superfícies, Atualmente podemos contar também com materiais
dimensões típicas da secção transversal, aderência, cerâmicos, que tem como base o Óxido de Zircônio para a
rugosidade das superfícies lapidadas, rastreabilidade a produção de blocos-padrão, tendo o coeficiente de
padrões nacionais, certificado de calibração e uma expansão térmica próximo ao do aço. Desde então o
incerteza de medição associada ao seu comprimento. desenvolvimento da matéria-prima foi o fator de primeira
A seguir, as propriedades mecânicas e metrológicas, serão ordem para atingir a qualidade satisfatória, uma vez que ela
discutidas em detalhes. Pretende-se contextualizar cada é responsável diretamente pela condição ótima de
uma das normas mencionadas na Tabela 2.1. operacionalidade dos blocos-padrão.
Como diretriz de conduta para os fabricantes nortearem
seus processos produtivos, atendendo aos requisitos das
3.1. Propriedades mecânicas: propriedades físicas-mecânicas dos materiais, os comitês
de normalização padronizaram no formato de uma norma
Nos primeiros anos do desenvolvimento do bloco-padrão, técnica os parâmetros como segue:
por volta de 1.896, seu idealizador, Johanson, com seus
conhecimentos metalúrgicos da época, manufaturava os
blocos em aços com as mesmas características daqueles a) Dureza
utilizados em rolamentos de esferas. Porém, este material Através de uma têmpera homogênea, controlada e de alta
era um tanto vulnerável ao uso ou a corrosão e causava tecnologia é desejado que se tenham garantias na dureza
uma instabilidade dimensional em pouco tempo. que conferirão aos blocos-padrão maior resistência ao
(WEBBER, 1984). Anos mais tarde, nos Estados Unidos, desgaste por atrito com outras partes, sejam através de
tentou-se utilizar para sua confecção materiais como: a montagens (composição de medidas) ou em qualquer outra
ágata, o quartzo, stellite, invar, aço e aço ferramenta, forma onde os blocos entrarão em contato com partes
porém os quatros primeiros foram desconsiderados pois rígidas.
seus coeficientes de expansão térmica diferenciavam Pode-se observar de uma maneira genérica que as normas
muito dos coeficientes do aço, o que dificultava a sua ditam parâmetros de controle para a dureza e são baseadas
utilização uma vez que todas as partes produzidas eram nas escalas Vickers e Rockwell. Tem-se, como regra geral,
medidas em temperatura ambiente e as dilatações não se que a dureza não deve ser menor que 62HRC (62 pontos
assemelhavam a estes materiais (KEUREN, 1919). Rockwell na escala C) para aços ligados, 68HRC para aço
Tendo em vista o problema térmico, as pesquisas de ao cromo e 70HRC para metal duro (sinterizados) (GGG-
matérias-prima inclinaram-se para os materiais que G-15c, 1976) enquanto que se pode observar 800HV0,5
tivessem seus coeficientes de expansão térmica mais (800 pontos Vickers com massa de 0,5kg),
próximos do que se produzia na indústria de aproximadamente 64HRC, para qualquer material utilizado
na fabricação de blocos-padrão (ISO 3650, 1.998)(DIN A estabilidade pode ser vista sob dois aspectos distintos. A
861 Part. 1, 1980)(JIS B 7506, 1997)(NBR NM 215, primeira, e a causa mais provável, é a decomposição de
2000). uma fase instável como a martensita para uma mais estável
Apesar de não ser previsto inicialmente e mencionado na como a ferrita e a cementita. A outra causa considerada é
literatura normatizada, os materiais cerâmicos ganham uma redistribuição gradual das tensões internas e da
espaço dia a dia devido às qualidades mecânicas e a dureza superfície (MEYERSON et. al., 1968).
deste material é estimada em torno de 74 a 76 HRC Devido a estes fatores, a estabilidade (também conhecida
(WEBBER GAGE, 2000). como deriva) é um parâmetro estabelecido pelas normas e
buscado pelos fabricantes com o intuito de minimizar as
mutações metrológicas de planeza e exatidão no
b) Estabilidade comprimento.
Os blocos idealmente deveriam conservar seus Todavia, a estabilidade dimensional é dada em função da
comprimentos originais eternamente, enquanto não classe de exatidão com os valores expressos em unidades
submetidos a esforços mecânicos. Todavia muitos fatores de comprimento por tempo (como regra geral em µm/ano)
contribuem para que o comprimento não permaneça o e levando em consideração o comprimento nominal do
mesmo durante a vida útil do bloco, mesmo que ele não bloco-padrão.
tenha sido utilizado. A estabilidade é diretamente Para exemplificar o enunciado acima, na Tabela 3.1. são
influenciada por acomodações microestruturais e pela mencionados os dados observados em cada uma das
dureza do bloco-padrão (MEYERSON et. al., 1968). normas, quanto a estabilidade dimensional ao longo do
tempo.

Tabela 3.1. Estabilidade dimensional


Variação permissível
Norma Classe de Exatidão Unidade Planeza
no comprimento / ano
ISO 3650: 1.998 Ke0 ± (0,02 + 0,25 x 10-6 l) -
NBR NM 215: 2.000 1e2 ± (0,05 + 0,5 x 10-6 l) -
00, 0 e K ± (0,02 + 0,0005 x l) -
DIN 861: 1.980
1e2 ± (0,05 + 0,001x l) µm/ano -
BS 4311 Part. 1 Todas* ± (0,02 + 0,0005 x l)* -
Ke0 ± (0,02 + 0,000 25 x l) -
JIS B 7506: 1.997
1e2 ± (0,05 + 0,000 5 x l) -
0.5 0,02 µm/25mm/ano 0,03
GGG-G-15c 1e2 0,03 µm/25mm/ano 0,05
3 0,05 µm/25mm/ano 0,07
* se mantido a uma temperatura entre 10° a 30°C
Onde l é o comprimento nominal em mm.

Os dados da Tabela 3.1. somente são aplicáveis nos casos não se garante durante o processo produtivo da matéria
em que os blocos não tenham sofrido nenhuma influência prima este valor constante e com o intuito em dar uma
externa e condições anormais de temperatura, vibração, diretriz este coeficiente possui uma tolerância de ± 1,0 x
choques mecânicos, campos magnéticos ou forças 10-6 µm/m/°C (ISO 3.650, 1998)(DIN 861 Part. 1,
mecânicas. 1980)(JIS B 7.506, 1997)(NBR NM 215, 2000).
Outros materiais, como: carboneto de cromo (8,5 x 10-6
µm/m/°C) e o carboneto de tungstênio (6,5 x 10-6
c) Coeficiente de expansão térmica favorável µm/m/°C) também são contemplados como materiais
Como mencionado, em função de grande parte do que se plausíveis de serem utilizados (GGG-G-15c: 1976).
produz na indústria manufatureira ser composto Uma outra categoria de material que vem ganhando
basicamente de ligas de aço, intensificou-se o destaque na produção blocos-padrão é o sinterizado
desenvolvimento de matérias primas para confecção dos cerâmico, em particular o óxido de zircônio, que possui
blocos que possuíssem coeficientes de expansão térmica características de expansão térmica (9,9 x 10-6 µm/m/°C)
muito próximos aos do aço. próximas à do aço (STARRETT, 1996).
Após intenso desenvolvimento de pesquisa e Recomenda-se que o fornecedor informe ao usuário o
aperfeiçoamento dos materiais, o aço recebe destaque em coeficiente de expansão térmica do bloco-padrão, uma vez
todas as normas analisadas, sendo que seu coeficiente de que se pretenda compensar as dilatações ou contrações
expansão térmica estimado em 11,5 x 10-6 µm/m/°C para quando este bloco for utilizado em ambiente com
uma temperatura controlada entre 10° e 30°C. Todavia, temperatura diferente de 20ºC
3.2. Propriedades metrológicas:

Como definido, os blocos-padrão possuem características


físico-geométricas e propriedades metrológicas que o torna
um padrão de referência para medição de comprimentos.
Além de atenderem todas as características físico-
geométricas e propriedades metrológicas, outras variáveis
devem ser alvo de análise para garantir a reprodutibilidade
do seu comprimento, como por exemplo: temperatura de
20ºC e pressão atmosférica padrão de 101325Pa =
1,01325bar (ISO 3.650, 1998)(DIN 861 Part. 1, 1980)(JIS
B 7.506, 1997)(NBR NM 215, 2000), além de um controle
na pressão padrão de vapor d'água de 1333Pa e 0,03% de
dióxido de carbono no ambiente (JIS B 7.506, 1997).
Todavia o tratamento dado pelas normas em distribuir os
Figura 3.1. - Nomenclatura das superfícies
blocos-padrão em classes de exatidão, deixa a evidência de
(NBR NM 215: 2000)
que a aplicação destas condições ambientais seja aplicável
somente às classes que requerem maior controle para
atingir exatidão nas medições ou calibrações. a Tabela 3.2. Para que sejam satisfeitas todas as condições metrológicas
dá um exemplo baseado na norma BS 4.311. de um bloco-padrão, torna-se necessário observar os
critérios segundo os tópicos normatizados abaixo:
Tabela 3.2. - Tolerâncias admissíveis para medição central
Tolerância para medição central
a) Comprimento central
Comprimento [µm] a 20ºC O comprimento central tem como definição a distância
Nominal [mm] Classe de exatidão perpendicular do ponto localizado no centro da superfície
Ke0 1 2 plana livre, até um plano de referência onde a superfície
De 0 a 10 ± 0,12 ± 0,25 ± 0,50 oposta está aderida. Tal definição é dada considerando que
De 10 a 25 ± 0,15 ± 0,30 ± 0,60 esta medição tenha sido efetuada com o auxílio de um laser
De 25 a 50 ± 0,20 ± 0,40 ± 0,80 interferométrico em blocos com classe K ou 0.5. Para as
De 50 a 75 ± 0,25 ± 0,50 ± 1,00 demais classes, é definido como a distância perpendicular
De 75 a 100 ± 0,30 ± 0,60 ± 1,20 de um ponto particular na superfície de medição e o ponto
correspondente na superfície oposta medida pelo processo
Como recomendação, os blocos da classe K de todas as mecânico de comparação contra um bloco da classe K ou
demais normas ou 0.5 da norma GGG- G-15c devem ser 0.5 a uma temperatura de 20ºC. (BS 4.311 Part. 1; 1993).
calibrados com laser interferométrico e as demais classes Enquanto na norma britânica a definição do comprimento
sejam calibradas pelo processo mecânico de apalpação (os central está intimamente concatenada com o sistema de
processos de calibração serão tratados a seguir), utilizando medição (laser ou mecânico) na japonesa (JIS B 7506;
aqueles blocos de classe K ou 0.5, originalmente 1997) é definido que um mesmo bloco-padrão possui dois
calibrados com laser, como padrão de transferência (ISO comprimentos centrais se as superfícies de medição não
3.650, 1998)(DIN 861 Part. 1, 1980)(JIS B 7.506, forem paralelas entre si, como pode ser visto na Figura 3.2.
1997)(NBR NM 215, 2000) (GGG-G-15c, 1976) (BS
4.311 Part. 1; 1993).
Enquanto as classes K e 0.5 têm uma aplicação mais
nobre, as demais classes são destinadas a trabalhos mais
genéricos como calibração de outros instrumento ou
padrões de comparação para a indústria.
Entretanto, para que haja melhor entendimento na
discussão que seguirá, é imprescindível uma apresentação
da nomenclatura padronizada para cada parte de um bloco
padrão. A Figura 3.1. foi referenciada na norma NBR NM
215: 2000. Figura 3.2. Comprimento do centro (JIS B 7.506; 1997).

Desta forma, concluí-se que os comprimentos Lc e Lc 1 são


diferentes, enquanto que as demais normas analisadas
mencionam simplesmente que o comprimento central do
bloco é a distância medida no ponto central da superfície
de medição livre.
Na Tabela 3.3. estão todas as classes de exatidão das comprimento central.
normas analisadas e as respectivas tolerâncias para o

Tabela 3.3. - Comparativo de classes de exatidão (Erro do Meio[µm])


Comprimento
Até 10 mm Até 25 mm Até 50 mm Até 75 mm Até 100mm
Classe de exatidão
0.5 (GGG-G-15c) ±0,03 ±0,04 ±0,05 ±0,06 ±0,08
1 (GGG-G-15c) ±0,05 ±0,08 ±0,10 ±0,13 ±0,15
2 (GGG-G-15c) +0,10/-0,05 +0,15/-0,08 +0,20/-0,10 +0,25/-0,12 +0,30/-0,15
0 (ISO 3.650, JIS B 7.506, NBR NM 215) ±0,12 ±0,14 ±0,2 ±0,25 ±0,3
K e 0 (BS 4.311 Part. 1 e 3) ±0,12 ±0,15 ±0,2 ±0,25 ±0,3
3 (GGG-G-15c) +0,20/-0,10 +0,30/-0,15 +0,40/-0,20 +0,45/-0,22 +0,60/-0,30
K (ISO 3.650, JIS B 7.506, NBR NM 215) ±0,2 ±0,3 ±0,4 ±0,5 ±0,6
1 (ISO 3.650, JIS B 7.506, NBR NM 215) ±0,2 ±0,3 ±0,4 ±0,5 ±0,6
1 (BS4311 Part. 1 e 3) ±0,25 ±0,3 ±0,4 ±0,5 ±0,6
2 (ISO 3.650, JIS B 7.506, NBR NM 215) ±0,45 ±0,6 ±0,8 ±0,1 ±1,2
2 (BS4311 Part. 1 e 3) ±0,5 ±0,6 ±0,8 ±0,1 ±1,2
3 (BS4311 Part. 3) +0,5/-1,0 +0,6/-1,2 +0,8/-1,6 +0,1/-2,0 +1,2/-2,4
4 (BS4311 Part. 3) +0,5/-2,0 +0,6/-2,4 +0,8/-3,2 +0,1/-4,0 +1,2/-4,8

b) Variação de comprimento Segundo relato em entrevista concedida pelo Sr. David


A variação de comprimento, popularmente conhecida Friedal1 (1996): "Apesar da medição nos quatro cantos
como paralelismo, define-se como a diferença entre a para quantificar a variação de comprimento máxima de um
medição máxima e a mínima do comprimento. Tal bloco, segundo as normas com reconhecimento
medição é feita medindo-se um ponto central e um em internacional (ISO, DIN, JIS), ser mais abrangente e cobrir
cada canto nas superfícies de medição a uma distância de uma área maior que está sendo avaliado, as razões pelas
1,5mm das bordas. Caso sejam medidos pontos não quais medimos nas bordas através de linhas ortogonais, é o
coincidentes com os cantos, o usuário deve ser informado fato dos blocos serem utilizados, na maior parte das vezes,
onde os pontos foram tomados (BS 4.311 Part. 1; nesta condição. A exemplo disso, poderíamos dizer que
1993)(ISO 3.650, 1998)(DIN 861 Part. 1, 1980)(JIS B quando calibramos um paquímetro, raramente ou nunca o
7.506, 1997)(NBR NM 215, 2000). faremos com o bloco-padrão apoiado entre os bicos de
A norma GGG-G-15c, especifica como variação de medição na posição diagonal".
comprimento a medição em duas linhas ortogonais que A Tabela 3.4. resume os critérios de aceitação para a
passam pelo centro da superfície de medição, e a variação variação no comprimento com base nas normas analisadas
máxima de comprimento é dada pelo pior resultado obtido
entre as duas linhas medidas (DOIRON & BEERS, 1995).

Tabela 3.4. - Tolerâncias admissíveis para variação no comprimento[µm]


Comprimento
Até 25mm Até 50mm Até 75mm Até 100mm
Classe / Norma
0.5 (GGG-G-15c) 0,03 0,03 0,03 0,03
1 (GGG-G-15c) 0,05 0,05 0,07 0,07
K (ISO3650, JIS B7506, NBR NM215, BS4311 Part. 1) 0,05 0,06 0,06 0,07
2 (GGG-G-15c) 0,10 0,10 0,10 0,10
0 (ISO3650, JIS B7506, NBR NM215, BS4311 Part. 1) 0,10 0,10 0,12 0,12
3 (GGG-G-15c) 0,12 0,12 0,12 0,12
1 (ISO3650, JIS B7506, NBR NM215, BS4311 Part. 1) 0,16 0,18 0,18 0,20
2 (ISO3650, JIS B7506, NBR NM215, BS4311 Part. 1) 0,30 0,30 0,35 0,35

c) Planeza das superfícies de medição aderência deste bloco. Disso, não é difícil entender que a
Como pode-se observar na definição de comprimento de planeza seja de suma importância na medição do
um bloco-padrão, usa-se uma superfície auxiliar para a comprimento deste bloco.

¹ Sr. David Friedal - Gerente da Qualidade da Webber Gage Div. Subsidiária da The L.S. Starrett Co. e membro do conselho de
normalização dos Estados Unidos da América.
A planeza da superfície de medição é definida por todas as
normas analisadas como a menor distância entre dois
planos paralelos, onde todos os pontos desta superfície de
medição estão contidos. Nas Tabelas 3.5. e 3.6. estão as
tolerâncias admissíveis para a planeza de superfícies de
medição em função do comprimento e da classe de
exatidão.

Tabela 3.5. - Tolerâncias para a planeza de blocos-padrão


Tolerância para planeza [µm]
Comprimento
Classe de exatidão
Nominal [mm]
K (00)1 0 1 2
0,5 ≤ ln ≤ 150 2
0,05 0,10 0,15 0,25
150 < ln ≤ 500 0,10 0,15 0,18 0,25
500 < ln ≤ 1.000 0,15 0,18 0,20 0,25
Observações:
1
A classe 00 somente é prevista na norma alemã (DIN 861 Figura 3.3. - Erro de Perpendicularidade (Ep).
Part. 1)
2
Comprimentos acima de 100 mm não são contemplados na Este erro de perpendicularidade não afeta diretamente o
Norma britânica (BS 4.311 Part. 1) comprimento do bloco-padrão, porém não devem exceder
os valores estabelecidos nas normas. A Tabela 3.7.
Tabela 3.6. - Tolerância para planeza segundo GGG-G-15c apresenta os valores máximos admissíveis para este erro.
Tolerância para planeza [µm]
Comprimento
Classe de exatidão Tabela 3.7. - Valores permissíveis para perpendicularidade
Nominal [mm]
0.5 1 2 3 entre as superfícies de medição e as superfícies laterais
Até 50 0,03 0,05 0,10 0,12 (NBR NM 215, 2000)(ISO 3.650, 1998)(JIS B 7.506,
50 < ln ≤ 100 0,03 0,07 0,10 0,12 1997)(DIN 861 Part. 1, 1980) (BS 4.311 Part. 1; 1993)
100 < ln ≤ 200 - 0,07 0,10 0,12 Comprimento Máximo admissível de
nominal [mm] Perpendicularidade [µmm]
200 < ln ≤ 500 - 0,10 0,12 0,15
De 10 até 25 (de 0 a 25)1 50
O erro de planeza das superfícies de medição nos blocos Acima de 25 até 60 70
com comprimento superior a 2,5mm não devem ser Acima de 60 até 150 2 100
maiores que os valores admissíveis tabelados, estando ou Acima de 150 até 400 140
não aderidos a um plano auxiliar, enquanto que os blocos Acima de 400 até 1.000 180
com comprimento nominal até 2,5mm não devem exceder Observações:
1
os valores especificados quando aderidos a um plano a BS 4.311 contempla comprimentos partindo do 0mm
2
auxiliar com espessura não inferior a 11mm. Caso estes os comprimentos na BS 4.311 vão até 100mm
blocos não sejam aderidos, as superfícies de medição
devem estar planas dentro de 4µm. Em complemento aos dados desta tabela a tolerância entre
A partir dos dados mencionados nas tabelas, podemos as superfícies laterais adjacentes não deve ser maior que
concluir que os blocos de classe K e 0.5, por terem as suas 90°±10'. A norma GGG-G-15c (1.976) identifica como
faces mais planas que as demais classes de exatidão, tenha erro de perpendicularidade máximo entre qualquer
a aplicação mais nobre e sejam recomendados para superfície adjacente de 5', para qualquer comprimento de
empenharem o papel de padrão de referência no processo bloco-padrão.
mecânico de calibração de outras classes.

e) Dimensões típicas da seção transversal


d) Perpendicularidade entre as superfícies Os blocos possuem basicamente duas seções transversais e
O Erro de Perpendicularidade Ep, entre as superfícies de são divididas de acordo com o comprimento nominal como
medição e as superfícies laterais, pode ser entendido como na Tabela 3.8 (NBR NM 215, 2000)(ISO 3.650, 1998)(JIS
sendo o maior afastamento de um ponto particular na B 7.506, 1997)(DIN 861 Part. 1, 1980) (BS 4.311 Part. 1;
superfície lateral com relação a um plano ideal 1993) e na Tabela 3.9 (GGG-G-15c,1976).
perpendicular a superfície de medição. A Figura 3.3.
exemplifica este erro de perpendicularidade.
Tabela 3.8. - Dimensões da secção transversal [mm]
Comprimento Largura Erros máx. Altura Erros máx.
nominal nominal Admissíveis nominal Admissíveis
Até 10 30 0 -0,05
9
De 10 a 1.000 35 -0,3 -0,20

Tabela 3.9. - Dimensões da secção transversal [mm]


Comprimento Largura Erros máx. Altura Erros máx.
nominal nominal Admissíveis nominal Admissíveis
Até 0,3 20
De 0,3 a 10 30 ±0,2 9 ±0,1
De 10 a 500 35

f) Aderência g) Rugosidade das superfícies de medição


Aderência de blocos-padrão é a propriedade que duas A rugosidade superficial está diretamente ligada ao nível
superfícies planas e polidas (com mesmo acabamento) de exatidão dos blocos-padrão e, como foi mencionado, à
possuem em associarem entre si, sem qualquer agente capacidade de aderência a outro bloco-padrão. Outro fator
colante. Considerada uma das características mais importante é que quando se fala em calibração com laser
importantes do bloco-padrão, a aderência possibilita interferométrico, quanto menor a rugosidade superficial,
montagens sucessivas de blocos, comumente conhecido melhor será o resultado da calibração (GGG-G-15c,
como pilha de blocos, gerando "qualquer comprimento" 1976)(DOIRON & BEERS, 1995).
que se deseja. A rugosidade da superfície de medição do bloco-padrão
Virtualmente, pode se afirmar que o comprimento da pilha deve ser determinada pela média aritmética da rugosidade
gerada pela associação de blocos tem o mesmo ou o máximo predominante do pico-a-pico conforme a
comprimento que a soma dos comprimentos individuais Tabela 3.10, extraída da norma americana (GGG-G-15c,
dos blocos que a compuseram. Porém, as normas 1976).
mencionam que quando medido através do laser
interferométrico, o comprimento do bloco-padrão inclui o
comprimento desta camada que se encontra entre o bloco- Tabela 3.10. - Rugosidade das Superfícies de Medição
padrão e a superfície plana auxiliar. Classe de Rugosidade superficial [µm]
Desta forma, se o comprimento desta camada for exatidão Pico-a-Pico Média Aritmética
quantificado pode-se corrigir o valor do comprimento da 0,5 0,07 0,02
montagem, acrescentando o número de vezes ao valor da 1 0,07 0,02
pilha. 2 0,10 0,03
O fenômeno da aderência pode ser abordado sob algumas 3 0,10 0,03
teorias (WEBBER, 2000):
1ª) a tensão da superfície pelo óleo remanescente, atua
sobre o bloco como um adesivo que os mantém aderidos. h) Rastreabilidade a padrões nacionais
2ª) a ação do deslizamento de um bloco em relação a outro A rastreabilidade é a garantia de que o comprimento de um
com uma leve pressão faz com que a pequena película de bloco tem reconhecimento científico-legal através de uma
óleo e o ar sejam expulsos do interstício existente entre hierarquia consistente até o padrão nacional de
eles, formando ali uma pressão negativa, vácuo. Com a comprimento, que por sua vez foi calibrado contra um
pressão atmosférica agindo em torno dos blocos faz com padrão reconhecido mundialmente.
que se mantenham "colados". De forma genérica, as normas técnicas referenciam uma
3ª) quando duas superfícies com acabamento especular e rastreabilidade obrigatória para blocos-padrão, com o
plano são sobrepostas, elas permitem a atração atômica objetivo de se ter credibilidade e confiabilidade sobre os
entre si através da troca de elétrons criando assim uma resultados.
forca molecular, isto somente é possível em vácuo Porém, de forma mais clara e objetiva, as normas
absoluto ou na ausência completa de óleo entre as americana e britânica relatam que na impossibilidade do
superfícies de medição. fabricante ou por qualquer motivo não seja aceita a
calibração dos blocos por algum laboratório, que os blocos
sejam calibrados em órgãos oficiais do governo ou nos
laboratórios que tenham o reconhecimento formal pelo
governo. Em adição, a norma britânica cita o provedor de e qual o coeficiente de expansão térmica utilizado para as
credenciamento de laboratórios (NAMAS). correções (DIN 861 Part. 1, 1980).
Já pelo processo mecânico o certificado deve conter todas
informações necessárias de forma a não trazer duplas
i) Processos de calibração interpretações. É imprescindível informar o comprimento
Dois são os processo de calibração de blocos-padrão central, a incerteza estimada associada, rastreabilidade e o
mencionados em todas as normas técnicas, um usando coeficiente de expansão térmica utilizado para as correções
tecnologia laser e outro por comparação mecânica, ambos de dilatação e contração (NBR NM 215, 2000)(ISO 3.650,
possuindo particularidades distintas. 1998)(JIS B 7.506, 1997). Além destas informações, outros
Com laser interferométrico devem ser observados alguns dados complementares são desejáveis, tais como:
parâmetros ambientais como temperatura de 20ºC, pressão informações do conjunto calibrado, rastreabilidade a
atmosférica padrão de 101325Pa = 1,01325bar, controle na padrões nacionais, data de emissão e assinatura autorizada
pressão padrão de vapor d'água de 1333Pa e 0,03% de (BS 4.311 Part. 1; 1993)(BS 4.311 Part. 3; 1993) além de
dióxido de carbono no ambiente, fatores que influenciam informar qual foi a superfície de medição apoiada na mesa
nos resultados finais da calibração. de medição. (DIN 861 Part. 1, 1980)(GGG-G-15c, 1976).
Por outro lado, pelo processo mecânico de medição, além Após a correção de todas as influências e erros inerentes à
da temperatura, outros fatores inerentes ao processo, como calibração, os blocos devem ser reclassificados e o
por exemplo as constantes físicas dos blocos de referência conjunto de blocos deverá ser rotulado em uma classe de
e do calibrado, são conhecimentos primordiais para a exatidão pelo pior resultado apresentado no certificado de
credibilidade do resultado final. calibração deste conjunto (BS 4.311 Part. 1; 1993)(BS
Quando se executa a calibração de blocos com 4.311 Part. 3; 1993).
comprimento superior a 100mm recomenda-se que seja
feito na horizontal, bi-apoiada, a uma distância de 0,2115
x comprimento nominal das extremidades. Caso seja na k) Incerteza de medição associada ao comprimento
vertical, deve ser compensado a compressão As normas GGG-G-15c e a BS 4.311 Parte 1 possuem
(encurtamento no comprimento) devida à massa do bloco parâmetros sobre máxima incerteza de medição associada
(GGG-G-15c, 1976). às classes de exatidão dos blocos. Nas Tabelas 3.11 e 3.12
A calibração pelo processo mecânico de contemplar o erro estão os valores de incerteza de medição máxima.
do meio, tomado no centro da superfície de medição, e a Enquanto que as demais normas analisadas, mencionam
variação do comprimento com a medição dos 4 cantos, a que a informação sobre incerteza de medição deve ser
uma distância de 1,5mm das bordas, se diferente deve ser fornecida no certificado de calibração.
informado no certificado onde ocorreu a medição (NBR
NM 215, 2000)(ISO 3.650, 1998)(JIS B 7.506, 1997)(DIN Tabela 3.11. - Incerteza de medição de comprimento
861 Part. 1, 1980)(BS 4.311 Part. 1; 1993)(BS 4.311 Part. dos blocos (BS 4.311 Parte 1)
3; 1993). Comprimento Classe de Exatidão [µm]
Nominal [mm] K 0,1 e 2
Até 10 0,03 0,08
j) Certificado de calibração De 10 a 25 0,04 0,10
Para o processo de calibração com laser interferométrico é De 25 a 50 0,06 0,12
recomendado informar no certificado qual face foi aderida De 50 a 75 0,07 0,15
De 75 a 100 0,09 0,18

Tabela 3.12. - Incerteza de medição de comprimento


planeza e paralelismo de blocos [µm] (GGG-G-15c, 1.976)
Classe de Exatidão
Comprimento
Nominal 0.5 1 2 3
[mm] Comprimento Planeza e Comprimento Planeza e Comprimento Planeza e Comprimento Planeza e
do meio paralelismo do meio paralelismo do meio paralelismo do meio paralelismo
Até 100 0,03 0,03 0,05 0,03 0,05 0,03 0,05 0,05
De 100 a 200 - 0,07 0,03 0,15 0,03 0,15 0,05
De 200 a 300 - 0,10 0,03 0,20 0,03 0,20 0,05
De 300 a 500 - 0,12 0,03 0,25 0,03 0,25 0,05
3.1. Outras Características Normalizadas: Measurement pp. 1-13, Marcel Dekker, Inc., New
York.
Em alguns casos, as normas não se limitam BS 4.311: Part 1: 1.993; Gauge Blocks and Accessories –
exclusivamente ao tratamento das questões técnicas Part 1. New Gauge Blocks, BSI – British Standard,
(construção e requisitos de qualidade) do objeto em London, UK, ISBN 0 580 21574 1, Second edition –
questão, fazendo menção sobre quantas peças devem ser April, 17pp.
fornecidas em jogos padronizados, sobre prevenção ao uso BS4311: Part 2: 1994; Gauge Blocks and Accessories –
indevido, sobre a recuperação das superfícies de medição Part 2. Accessories, BSI – British Standard, London,
que sofram avarias pelo uso, sobre a forma e o tipo de UK, ISBN 0 580 22746 4, Second edition – February,
embalagem, sobre a periodicidade de calibração em função 14pp.
da classe de exatidão e sobre a padronização de acessórios BS4311: Part 3: 1993; Gauge Blocks and Accessories –
(GGG-G-15c, 1976) (BS 4.311 Part. 1; 1993)(BS 4.311 Part 3. Gauge Blocks in use, BSI – British Standard,
Part. 3; 1993). London, UK, ISBN 0 580 21579 2, April, 17pp.
Outras, entretanto, fornecem informações específicas DIN 863-1: 1.999; Micrometers, Part 1: Standard
como a radiação do laser estabilizado por absorção design external micrometers. Concepts,
saturada e radiação de lâmpadas espectral (JIS B 7.506, requirements and testing; Deutsches Institut fur
1997). Normung e. V., Berlin, 6pp., Apr.
DOIRON, T.; BEERS, J.S.; 1995, NIST MONOGRAPH
180 - The Gage Block Handbook, NIST, Washington,
4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES USA,
GGG-G-15c: 1976; Gage Blocks and Accessories, US
Como evidenciado nas normas técnicas, a qualidade Government, August 1976, Washington, USA, 29pp.
metrológica dos blocos sofre influência direta por dois INMETRO; 2000, Sistema Internacional de Unidades - SI.,
principais parâmetros: valor central e variação no ISBN 85-87-87090-85-2, Ed. 6, Brasília, SENAI/DN,
comprimento do bloco. 114pp.
Tendo em vista que o bloco-padrão é o meio de ISO 3650: 1998; Geometrical Product Specifications
transferência de comprimento mais usual no processo (GPS) – Length Standards – Gauge Blocks, ISO –
produtivo, devido à flexibilidade de geração de “qualquer International Organization for Standardization, Genève,
comprimento” através da montagem, é de suma Switzerland, Second edition, 15pp.
importância que o usuário busque o tipo ou a classe de JIS B 7506: 1997; Gauge Blocks, JIS – Japanese Industrial
exatidão que seja adequado à sua aplicação. Standard, Tokyo, Japan, 26pp.
Outro fator importante para a tomada de decisão na KEUREN, H.L.V.; 1919, Manufacture of HOKE Precision
compra é quanto às incertezas de medição que serão Gage at the Bureau of Standards, American Machinist,
fornecidas juntamente com os blocos. vol. 50, nº 14, pp. 625 - 630, April 3, USA
Entretanto, é necessário também que o usuário assuma seu MEYERSON, M.R.; GILES, P.M.; NEWFELD, P.F.; 1968
papel na responsabilidade por mantê-los em bom estado de Dimensional Stability of Gage Block Materials,
conservação, observando as recomendações dos reprinted by Journal of Materials, vol. 3, nº 4, pp. 727 -
fabricantes quanto às precauções ao uso indevido e 740, Published by the American Society for Testing
manutenção dos blocos. and Materials, Washington, USA.
Apesar do pequeno número de normas avaliadas, se NBR NM 215: 2000; Bloco-Padrão, ABNT - Associação
comparado ao universo da normalização de blocos-padrão, Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, Brasil,
estima-se que entre estas normas analisadas, estão as 13pp.
principais, uma vez que o maior número de fabricantes QUALITY ASSURANCE, 1963; The tools of metrology
destes padrões estão localizados nestes países. Ainda Part III: THE KEYSTONES OF MEASUREMENT -
podemos deduzir que as demais normas produzidas em precision gage blocks, Quality Assurance, March 1963,
outros países também possuam o mesmo cunho pp. 39-43.
representativo, se não muito próximo do que se publica STARRETT: 1.996; Catálogo B29, Starrett Indústria e
pela ISO, uma vez que ela é internacional. Comércio Ltda., ed. 1ª, Nov 1.996, pp 474 - 497, Brasil
WEBBER, G.D.; 1965, How to gage a gage block,
American Machinist. - ed.109, pp. 83-85, July 5, USA.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. WEBBER, G.B.; 1984, One Man's Dream - George D.
Webber 1.894 - 1.984, 11pp., Webber Gage Division
BEERS, J.S.; TAYLOR, J.E.; 1978, NBS TECHNICAL (The L.S.Starrett Co.), Cleveland - OH - USA.
NOTE 962 - Contact Deformation in Gage Block WEBBER GAGE DIVISION (The L.S.Starrett Co.); 2000,
Comparisons, NBS, Washington, USA, 27pp. Gage Block Handbook, Bulletin 159A, 45pp,
BOSCH, J.A., 1995, Coordinate Measuring Machines and Cleveland - OH - USA, Jun.
Systems, ISBN 0-8247-9581-4, cap. 1 - Evolution of

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