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PESQUISA NO ENSINO DE QUÍMICA

Maria Emília C. C. Lima e Luciana C. Barboza

A necessidade de se definir algumas idéias estruturadoras de uma disciplina tem sido freqüentemente apresentada
a nós formadores e plenamente justificada e compreendida. Mas o que se pretende com essas demandas? O que
querem de nós formadores quando nos abordam sobre tais idéias e a partir de quais critérios podemos elegê-las?
Supondo que saibamos apontar algumas delas, há ainda uma outra questão igualmente importante: como organizar
essas idéias num currículo de Química? Essas são algumas questões discutidas neste artigo.


idéias estruturadoras, currículo, ensino de Química

Recebido em 24/8/04, aceito em 30/3/05

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N
este artigo, apresentamos e de materiais didáticos para alunos O problema disso tudo é quando
uma contribuição ao debate (APEC, 2004). Atualmente, o grupo se atualizar nas modas torna-se mero
no campo do currículo de Quí- APEC está envolvido num projeto jun- exercício teórico com pouca ou ne-
mica, colocando em anexo algumas to à Secretaria Estadual de Educação nhuma relação com a atividade do-
idéias estruturadoras do pensamento de Minas Gerais, visando propor e cente. Contudo, há que se considerar
químico e seus respectivos níveis de fomentar a discussão que se essa preocu-
complexidade tendo em vista sua junto aos docentes Há tempos, diferentes pação continua atual
abordagem em um curso introdutório sobre conteúdos bá- autores têm investigado é porque não a te-
de Química. sicos comuns. conceitos fundamentais em mos resolvida ou
As idéias que apresentaremos Em 1995, por Química e em Ciências, porque as soluções
como estruturadoras da Química fa- ocasião do VII ECO- focando aspectos encontradas não se
zem parte do processo de amadure- DEQC - Encontro importantes para serem tornaram ainda de
cimento do grupo APEC – Ação e Centro-Oeste de De- ensinados domínio comum.
Pesquisa em Ensino de Ciências –, bates sobre o Ensino Alguns movimen-
que vem propondo um conjunto de de Química e Ciências, realizado na tos que estão ocorrendo são respon-
mudanças educacionais envolvendo Escola Técnica Federal de Goiás, a sáveis pela atualização dessas inda-
metas curriculares, conteúdos e professora Roseli Pacheco Schnetzler gações: as avaliações do SAEB –
metodologias de ensino, avaliação proferiu uma palestra intitulada “A Sistema de Avaliação do Ensino
dos impactos dessas inovações na importância do estudo e da discussão Básico e do ENEM – Exame Nacional
formação dos estudantes e no desen- dos conceitos fundamentais em Quí- do Ensino Médio; as revisões curri-
volvimento profissional docente. Nos- mica e em Ciências”. Recorrendo à culares promovidas pelas Secretarias
so esforço em compreender as idéias literatura, encontramos em diferentes de Governo dos Estados1 e, atual-
estruturadoras do pensamento cientí- autores a mesma preocupação de se mente, os exames de certificação de
fico vem sendo explicitado por meio eleger aspectos importantes para se- professores2.
de artigos (Lima e Aguiar Jr., 2000; rem ensinados (Pozo et al., 1991; Mor- Via de regra, as “grandes idéias”
APEC, 2003), comunicações em timer, 1995a; Amaral, 1997; Gomes, da Ciência continuam se perdendo na
eventos (Lima et al., 1997), publica- 1998; Machado, 1999). Portanto, massa de detalhes, onde cada lição
ção de livros voltados para a forma- trata-se de uma preocupação antiga se desenvolve baseada na anterior,
ção de professores (Lima et al., 2004) que continua em pauta. por acréscimo de informações. O
atual ensino de Química trata de um
A seção “Pesquisa no Ensino de Química” inclui investigações sobre problemas no ensino de Química, com explicitação número excessivo de informações
dos fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos adotados na análise de resultados. justapostas. Como as escolas, os

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estudantes e os professores são mui- formas de inquirir o mundo e de vali- de uma fórmula representa uma pri-
to diversos nos seus propósitos, po- dar os conhecimentos produzidos, meira aquisição desse conceito. A
demos compreender tanto as resis- bem como sobre os interesses envol- posse da representação dos fenôme-
tências contra uma clara redução do vidos (APEC, 2003). nos através do uso de fórmulas, no-
que se ensina quanto uma motivação Uma das dimensões formativas – mes e equações, na medida em que
para se promover uma qualificação todas igualmente importantes – a ser vai se dando ao longo de todo o
de idéias básicas e formadoras do contemplada no ensino de Ciências aprendizado da Química, é mediação
pensamento científico (Millar, 1996; é a da segurança, tanto pessoal e so- para o pensamento e a comunicação.
Lima e Aguiar Jr., 2000). Nesse últi- cial quanto emocional. A segunda As fórmulas constituem um modo de
mo caso, entendemos que as idéias dimensão é a da autonomia, que visa comunicação universal e, além disso,
estruturadoras são aquelas que po- o desenvolvimento pessoal de todos permitem representar as substâncias
tencializam nosso pensamento e nos- os estudantes, provendo-os de ferra- de modo mais rápido e resumido.
sa capacidade de relacionar, sinteti- mentas para o pensar e o agir de mo- Uma outra crítica que fazemos é
zar, propor explicações a partir do informado e responsável num quanto ao estudo da classificação
daquilo que já se conhece. mundo cada vez mais permeado pela periódica dos elementos como tópico
Como se não bastassem as insis- Ciência e a tecnologia. Para isto, o de conteúdo e objeto de memoriza-
tentes perguntas sobre os “concei- ensino de Ciências demanda um ção. Ao contrário disso, pensamos a
tos” estruturadores, para completar compromisso com os aspectos cientí- classificação periódica como ferra-
nossa inquietação passaram a inda- ficos mais remotos e abstratos e, menta de trabalho. Saber consultá-la
gar também sobre os “conceitos” também, com a dimensão tecnoló- só se aprende consultando, o que
estruturantes. Estão sendo chamados gica, mais prática e aplicável. Apesar não impede que seu uso seja siste-
estruturantes aquelas idéias que gra- das questões gerais, de ordem cien- matizado em determinados momen-
vitam em torno das estruturadoras. tífica e filosófica, serem mais distantes tos do curso. Um contexto interessan-
Por exemplo: considerando que a das vivências dos estudantes, a pre- te para isto é o estudo dos nutrientes
idéia de reações é estruturadora do sença delas no currículo justifica-se e de alguns materiais bastante co-
40 pensamento químico, a rapidez de pela necessidade de promover uma muns na vida dos estudantes, já nas
uma reação, a extensão em que ela compreensão do que é a Ciência e primeiras séries do segundo ciclo do
ocorre, seus aspectos cinéticos e de como o conhecimento científico in- Ensino Fundamental.
termodinâmicos são estruturantes da terfere em nossas relações com o Mas como podemos identificar
idéia de reações. Entendemos assim! mundo natural, com o mundo cons- algumas das idéias que estruturam o
Mas antes de prosseguirmos na truído e com as outras pessoas. pensamento químico e que devem
discussão do que ensinar, vamos re- ser tomadas como metas de ensino?
tomar duas velhas e pertinentes Que idéias estruturam o pensamento Compreender o objeto de uma
questões. químico? disciplina pode auxiliar na definição
É comum no ensino da Química daquilo que organiza o pensamento
Por que ensinar Química? Para quem darmos uma excessiva importância à dela. Qual é o objeto de atenção da
ensinar? nomenclatura das substâncias, às Química?
Nas últimas décadas, posições representações de suas estruturas e O objeto e meta principal da Quí-
socioconstrutivistas têm se afirmado às equações químicas. Fazemos isso mica é separar as diferentes substân-
como perspectivas de ensino relevan- em detrimento da compreensão do cias que participam da composição
tes pelo discurso pedagógico. A es- significado dos fenômenos. É como dos corpos; examinar cada um deles,
cola está sendo chamada a respon- se os nomes das coisas antecedes- separadamente; descobrir suas pro-
der de modo afirmativo pela sociali- sem ou substituíssem sua compreen- priedades e relações; decompor
zação dos estudantes no contexto são, opção que enfatiza as classifica- também essas substâncias, se pos-
cultural de que fazem parte. Desse ções e a memorização de definições sível; compará-las entre si e combiná-
modo, é razoável pensar em um e processos. Sem muito sucesso, las com outras; reuni-las novamente
ensino de Química para todos os es- esperamos que assim os estudantes num só corpo, de forma a reproduzir
tudantes da Educação Básica, como consigam estabelecer relações entre novamente o composto original com
parte da educação geral de prepa- as teorias da Química e o comporta- todas as suas propriedades; ou mes-
ração para a vida. A vida inclui, para mento dos materiais. mo produzir novos compostos que
muitos, o acesso ao curso superior e Embora façamos a crítica à inver- nunca tenham existido entre as obras
às carreiras ditas científicas, mas com são de prioridades quando se toma da natureza, a partir de misturas de
certeza é muito mais que isso. o nome das substâncias como condi- outras substâncias diferentemente
Aprender Ciências está para além ção para se ensinar reações, isto não combinadas (Encyclopaedia Britanni-
do aprendizado do que se consagrou significa desconsiderar o valor do ca, 1768-1771).
chamar de conteúdos escolares: en- aprendizado de nomes e fórmulas de A partir dessa definição é possível
volve uma compreensão sobre a algumas substâncias. Aliás, associar inferir que, em linhas gerais, a Quími-
Ciência como produto social, suas o conceito de substância à existência ca se dedica ao estudo dos materiais,

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suas propriedades e transformações. culminando com a teoria de ligações, truir um modelo grosseiro de várias
Convivemos diariamente com mate- que aprofunda e amplia nossa capa- situações, por exemplo, o próprio am-
riais constituídos por substâncias,, cidade de compreender um mundo biente de trabalho. Esses conceitos
que são objeto de estudo da Química. de materiais. nos capacitam a formar um quadro
Na natureza, os materiais se encon- É importante eleger como meta de geral e proporcionam uma base para
tram misturados, como a água, o leite, ensino idéias que permitam aos estu- investigações posteriores (Anders-
o sangue e o solo. Daí a importância dantes estabelecerem maiores nexos son, 1986).
para a Química de se conhecer os entre outros conceitos ou idéias, por Muitos profissionais não enten-
processos de separação de compo- funcionarem como “aglutinadores ló- dem a importância que conferimos à
nentes de misturas, bem como as gicos”, isto é, sintetizadores de outros modelagem, seja aos modelos do
propriedades das substâncias e saberes (Pozo et al., 1991). Uma teo- mundo muito grande – objeto da
misturas. ria de ligações, por Astronomia –, seja aos do muito pe-
A relevância de A construção de modelos exemplo, é uma idéia queno, aos quais a Química se atém.
se estudar os velhos pelo estudante, raramente poderosa nesse sen- Acreditamos que o objetivo de se in-
e os novos materiais utilizada em situações do tido, pois permite cluir um modelo científico no currículo
pode ser justificada cotidiano, é muito explicar as diferentes não se restringe à utilidade dele, mas
considerando que importante não só como propriedades dos também ao papel cultural que desem-
uma série de subs- recurso para compreender materiais, prever pro- penha, como é o caso das idéias
tâncias que existem e explicar os fenômenos dutos e estequiome- relacionadas com o sistema solar.
não são naturalmen- estudados como, também, tria de reações. Mas,
...essas idéias são produtos
te encontradas. Além por corresponder a um nem por isso consi-
culturais de beleza e signifi-
do mais, a escassez determinado esforço deramos que se de-
cância e seu conhecimento e
de recursos naturais, intelectual que está no va iniciar um curso
compreensão é enriquecedor
aliada às questões cerne do trabalho científico de Química por aí.
da vida. É parte da introdução
ecológicas e am- As reações cons-
ao conhecimento sobre quem
bientais, também justifica o investi- tituem o centro da atenção dos quí-
somos e o tipo de universo que 41
mento na produção de novos mate- micos. Muitas delas são bastante
habitamos. Assim também,
riais. familiares no nosso dia-a-dia, o que
embora de um modo diferente,
Desde o primeiro ciclo do Ensino não significa que sejam triviais de se-
é o conhecimento da genética
Fundamental é razoável introduzir um rem aprendidas. Algumas outras
e hereditariedade e da evolu-
estudo da Química em circunstâncias elaborações e aplicações do conhe-
ção. (Millar, 1996)
concretas da vida das crianças, for- cimento químico em áreas afins são
mulado em termos descritivos e quali- também importantes, como é o caso A construção de modelos pelo
tativos, de modo a prover exemplos das reações químicas envolvidas em estudante, embora seja raramente
e evidências específicos sobre a processos biológicos, de modo que utilizada em situações do cotidiano,
diversidade dos materiais. Um estudo o estudante possa perceber que a é muito importante não só como re-
concreto das substâncias e misturas digestão proporciona materiais para curso para compreender e explicar os
pode ser feito a partir dos diferentes a construção de novos tecidos, ou fenômenos estudados como, tam-
significados atribuídos para a água que plantas aumentam seu volume bém, por corresponder a um determi-
pura, água potável e “água dos quí- por meio de reações químicas usan- nado esforço intelectual que está no
micos” (H2O), como algumas pes- do materiais naturais do seu ambien- cerne do trabalho científico. Compre-
soas se referem (Lima et al., 2004). te. O ciclo de alguns materiais – como ender, por exemplo, os efeitos da
O estudo inicial dos materiais po- oxigênio e carbono da atmosfera – é poluição de automóveis, depende de
de se dar por meio do reconheci- também uma idéia importante, que uma compreensão de um modelo
mento de que os materiais são diver- pode ser abordada dentro de científico de reações.
sos nas suas propriedades e usos. (eco)sistemas fechados (Millar, 1996). O estudante, de posse de expli-
Progressivamente, a compreensão O modelo atômico-molecular da cações macroscópicas de vários
das propriedades e do comporta- matéria, com ênfase na compreensão fenômenos, pode incrementar seu
mento dos materiais se desloca para de reações químicas como rearranjos entendimento sobre a natureza inter-
a proposição de modelos represen- da matéria, é, segundo diferentes na dos materiais, relacionando-os
tativos da estrutura interna dos mes- autores, estruturador do pensamento inicialmente a um modelo de partícu-
mos. São os modelos de constituição químico (Nakhleh, 1992; Millar, 1996; las. Outras aquisições importantes a
e de interação das partículas que per- Mortimer, 1995b). partir da construção de modelos de
mitem um entendimento das transfor- Os conceitos [...] - átomo, molé- partículas estão relacionadas com a
mações dos materiais. Conhecendo cula, reação química - devem ser par- própria gênese e desenvolvimento da
as propriedades dos materiais, te do instrumental mental de qualquer Química enquanto ciência, bem como
podemos falar sobre as transforma- aluno(a) ao deixar a escola. Eles são com o desenvolvimento da criativi-
ções às que eles estão sujeitos, conceitos chave que ajudam a cons- dade dos estudantes.

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Ao se pensar o currículo de Quí- pos e lugares. Podemos pensar, por dade.
mica, é igualmente importante dar exemplo, nos novos e velhos mate- Para atingir essa meta, a Ciência
ênfase à produção científica como riais, suas propriedades, origens e precisa ser caracterizada como uma
empreendimento social e aos modos usos pela humanidade. atividade humana, histórica e social-
orientadores da investigação e da Aprender Ciências pressupõe co- mente construída. E, também, como
validação do conhecimento produzi- nhecer, também, alguns processos prática cultural, na medida em que
do. Abordar a Ciência como empre- de trabalho (a arte de se aproximar busca construir explicações confiá-
endimento social pode se dar pelo da produção do conhecimento cientí- veis sobre o mundo, a partir de proce-
estabelecimento de conexões entre fico), leis e princípios que regulam cer- dimentos próprios, da argumentação,
Ciência, tecnologia e sociedade. O tos fenômenos, modelos explicativos do debate e da divulgação de idéias.
termo tecnologia é altamente polissê- da realidade, ferramentas de trabalho
mico: pode ser compreendido como (instrumentos de trabalho) etc. Notas
aplicação da Ciência; artefatos; pro- 1. Ao longo do ano de 2004, o Pro-
cessos e dispositivos humanos para Em síntese jeto de Desenvolvimento Profissional
a produção de artefatos; processos Eleger algumas idéias estrutura- (PDP) da SEE-MG discutiu uma pro-
ou práticas humanas em que os doras do pensamento é sem dúvida posta curricular de Conteúdos
artefatos são usados; domínio de uma tarefa importante. Orienta cami- Básicos Comuns (CBC) para cada
uma técnica moderna; campo de tra- nhos, focaliza atenções e organiza disciplina dos ensinos Fundamental
balho e campo de estudo (Santos, nosso trabalho docente. Mas isso é e Médio.
2001). O que nos interessa mesmo é pouco, pois ensinar Ciências é mais 2. Sobre os exames de certifica-
que os estudantes compreendam que ensinar conceitos, leis, teorias, ção, ver, por exemplo, entrevista com
que as tecnologias envolvem esco- modelos e princípios. Envolve, tam- Maria José Ferez, na Revista Presen-
lhas, disputas financeiras, opções bém, procedimentos da ordem do sa- ça Pedagógica n. 55, jan/fev de 2004.
pessoais, valores estéticos, éticos, ber fazer, atitudes da ordem do sa-
políticos, mercadológicos, ambien- ber ser e do conviver em cooperação, Maria Emília C.C. Lima (mecdcl@uol.com.br),
tais, culturais etc. Que elas são ações com tolerância, responsabilidade e licenciada em Química e mestre em Educação pela
42 UFMG, doutora em Educação pela Unicamp, é
humanas orientadas por diferentes solidariedade social. Envolve ainda
professora de Didática de Ciências e de Química na
fins. Desse modo, há uma relação ínti- uma necessária compreensão de
FaE – UFMG. Luciana C. Barboza (luquimica@
ma e permanente entre a abordagem como a Ciência é produzida, a quem yahoo.com.br), licenciada em Química pela UFMG,
da Ciência e os modos de vida da ela tem servido e de porque ela tem é mestranda em Ensino de Ciências (Química) na
sociedade nos seus diferentes tem- sido tão valorizada em nossa socie- USP.

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Anexo: Idéias estruturadoras do pensamento químico
O mundo é diverso e se transforma. ambiente • Essas transformações podem ser
Nós construímos modelos para explicar • Reflexão e criticidade frente ao mun- percebidas macroscopicamente
essas transformações e diversidade. do • As transformações envolvem ener-
• Inventividade e tolerância com os gia
Recursos cognitivos modos alheios de ver e de explicar • Os materiais formados numa rea-
o mundo ção têm fórmulas diferentes, mas
A - Saber
• Indagação frente ao inusitado os elementos se mantêm os mes-
1. Constituição e organização dos
• Estranheza e gosto pelo desconhe- mos
materiais
• Misturas e substâncias cido • Materiais diferentes têm proprie-
• Valorização estética da Ciência co- dades diferentes
• Substâncias simples e compostas
mo um outro modo de ver e de se • Ao pesarmos um sistema inicial e
• Estados físicos dos materiais e
relacionar com o mundo final podemos constatar a lei da
suas mudanças
conservação da massa se a rea-
• Modelo de partículas Níveis de entendimento de algumas ção não envolver componentes
2. Propriedades específicas dos ma- idéias que fundamentam o gasosos
teriais
pensamento químico • Em sistemas fechados, as mas-
• Processos de separação dos
sas se conservam porque os ele-
componentes das misturas
A - Diversidade e propriedades dos mentos são os mesmos
• Identificação e uso de materiais
materiais • A rapidez de uma reação depende
• Modelos explicativos das proprie- de alguns fatores como: superfície
Compreender que:
dades dos materiais de contato, temperatura e adição
• O mundo é diverso nos seres vivos
3.Transformações dos materiais e nos materiais que o compõem ou não de substâncias catalisa-
• Evidências de reações doras
• Essa diversidade tem uma história
• O que muda e o que se conserva que resulta de processos comple- • Existem catalisadores inorgânicos
• Aspectos cinéticos e termodinâ- xos de transformações e biológicos
micos • O homem promove modificações
• Extensão de ocorrência C - Modelo corpuscular
no mundo 43
• Compromisso entre produtos e • Nas reações químicas há algo que
• O reconhecimento da diversidade muda e algo que permanece
reagentes de materiais passa pelo reconheci-
• Todos os materiais são formados
B - Saber-fazer ou procedimentais mento da diversidade de suas pro-
de partículas muito pequenas
• Identificação de materiais através priedades
• As partículas são demasiadamen-
de testes simples • Materiais diferentes possuem pro-
te pequenas para serem vistas ao
• Realização de medidas de massa, priedades diferentes
microscópio
volume, densidade e de TF e TE • Materiais diferentes têm usos dife-
• Entre as partículas há espaços va-
• Construção e leitura de gráficos e rentes
zios
tabelas • Os materiais se encontram mistu-
• As partículas que constituem os
• Comunicação de idéias através de rados na natureza
materiais sólidos apresentam um
diversos instrumentos • Separar materiais envolve proces- movimento vibracional, enquanto
• Extrapolação de dados, inferên- sos diversos e leva a graus de pure- que os líquidos e gases apresen-
cias e proposição de modelos za diversos tam, também, movimentos de ro-
explicativos • A pureza de um material é depen- tação e translação, isto é, se mo-
• Descrição de eventos dente dos fins a que se destinam vem em todas as direções
• Análise e sistematização de dados tais materiais • Partículas diferentes se movimen-
e informações • Os processos de separação de tam com velocidades diferentes
• Comparação de sistemas componentes de misturas depen- • Quanto mais elevada é a tempe-
dem das propriedades de seus ratura de um sistema maior será a
• Seleção de propriedades na iden-
componentes velocidade com que as partículas
tificação de materiais
• As propriedades das misturas de- se movimentam
• Associação de propriedades dos
pendem das proporções dos com- • As partículas de um sistema em
materiais com os seus usos
ponentes envolvidos equilíbrio térmico têm todas a
• Controle de variáveis
• As substâncias têm fórmulas e as mesma energia cinética média
C - Saber ser ou atitudinais misturas não têm • As partículas interagem entre si
• Cooperação com o outro, disponi- • A formação de uma nova substân-
B - Transformação dos materiais
bilidade e abertura para o debate cia resulta da combinação de ti-
• Os materiais se transformam
• Respeito à vida, pelo outro e pelo pos distintos de partículas

Abstract: Chemical Thinking Structuralizing Ideas: A Contribution to the Debate – The necessity of defining some structuralizing ideas of a subject has been frequently posed to us formers, being
plainly justified and understood. But what is looked for by such demands? What is wanted from us formers when we are approached on such ideas and based on what criteria can we elect them?
Assuming that we can point some of them out, there is still another equally important question: how to organize these ideas into a chemistry curriculum? These are some of the questions discussed
in this paper.
Keywords: structuralizing ideas, curriculum, chemistry teaching

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