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COM RESSARCIMENTO
Trata-se de contestação em ação de obrigação cumulada com ressarcimento, decorrente
do término de contrato de locação, pela qual a ré contestou todos os pedidos feitos pela
autora na inicial, requerendo que os mesmos sejam julgados improcedentes, posto a
flagrante ausência de pressupostos fáticos para o embasamento de suas pretensões.
CONTESTAÇÃO
Inicia o Réu suas alegações contestado o pedido de inversão do ônus da prova feito pela
Autora em sua exordial.
Para tal desiderato, utilizou-se a Autora do teor dos artigos 6º e 38 do Código de Defesa
do Consumidor.
Ocorre que, conforme esclarecido pela própria Autora no item 2 de sua exordial, trata a
presente ação do pagamento de encargos oriundos de um contrato de locação,
regulamentado pela lei de locações de imóveis urbanos (lei 8.245/91), e pelo Código
Civil, subsidiariamente.
Nestes termos, não há fundamento válido para qualquer pedido de inversão do ônus da
prova nos autos, sendo aplicado exclusivamente nos autos o conteúdo do Código de
Processo Civil no que tange à fase probatória.
Por oportuno, traz à baila o Réu os termos do artigo 333, do Código de Processo Civil:
Assim sendo, verifica-se que cabe à Autora, e somente à ela, o ônus de produzir as
provas que embasam os fatos alegados na exordial.
Neste sentido, ensina o mestre Pontes de Miranda, in Tratado de Direito Privado, Parte
Geral, Tomo III, 1ª edição, ano 2000, Editora Bookseller, pág. 457 e 458:
“ ...Quem tem interesse na afirmação é que tem o ônus da prova; ônus, porque o provar
é no interesse próprio, para que não caia no vácuo a afirmação.”
“...O ônus da prova estabelece contra alguém que, se não der a prova, se terá como
improvado o enunciado de fato.”
(grifo nosso)
Assim sendo, caso não haja a produção adequada de provas pela Autora nos autos,
devem ser desconsiderados todos os termos da presente actio, posto que, conforme o
ancestral dogma jurídico, fato alegado, e não provado, é o mesmo que fato não alegado.
No mesmo sentido, responde a Autora por todos os vícios do imóvel, existentes à época
da contratação, tudo conforme inciso IV, do artigo 22, da lei de locações.
Ressalta o Réu, por oportuno, que o estado da pintura do imóvel à época do início do
contrato de locação era deplorável, forçando a Locatária a realizar nova pintura, assim
que começou a habitá-lo.
Verifica-se, pois, que não resta fundamentos para o pedido de item 8 da exordial da
Autora, posto que o estado da pintura do início do contrato de locação era muito pior do
que o estado da pintura quando da devolução do imóvel, conforme comprovam as
fotografias a serem apresentadas em sede de instrução e julgamento.
Além da oposição supra, recusou-se a Autora em atender a Locatária e seu fiador, não
restando outra opção à primeira a não ser entregar as chaves do imóvel locado ao
porteiro do prédio onde a Autora reside, tudo conforme anuência expressa, explicitada
na notificação extrajudicial supra citada.
Além das duas oposições supra citadas, recusou-se ainda a Autora a receber os valores
referentes ao aluguel e encargos do mês de junho de 2002 e proporcional do mês de
julho de 2002.
Inobstante tal recusa, tais pagamentos foram devidamente efetuados pela Locatária,
conforme atestam os comprovantes a serem apresentados na oportunidade da audiência
de instrução e julgamento.
Assim sendo, resta demonstrado o descabimento dos pedidos formulados nos itens 6 e 7
da exordial da Autora, posto que o atraso no pagamento do mês de junho de 2002 foi
ocasionado pela recusa da Autora em receber tal quantia e a fração do mês de julho de
2002 foi devidamente quitada pela Locatária, através de cheque emitido pelo Réu.
5 – DA MULTA RESCISÓRIA.
Ocorre que tal multa, conforme previsão expressa do artigo 4º da lei de locações, deverá
seguir proporção definida pelo Código Civil. In verbis:
“Art. 4º. Durante o prazo estipulado para a duração do contrato, não poderá o locador
reaver o imóvel alugado. O locatário, todavia, poderá devolvê-lo, pagando a multa
pactuada, segundo a proporção prevista no art. 924 do Código Civil e, na sua falta, a que
for judicialmente estipulada.”
(grifo nosso)
Constata-se, pois, que a multa estipulada deve respeitar a proporção inserida no artigo
924 do Código Civil de 1916, atual artigo 413 do Código Civil de 2002. In verbis:
“Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.”
(grifo nosso)
Nesses ditames, ressalta o Réu que o contrato de locação objeto da presente lide teve
seu início em novembro de 2000 e seu término em julho de 2002, ou seja, vigeu durante
20 (vinte) dos 30 (trinta) meses inicialmente pactuados.
Nota-se, portanto, que as partes cumpriram o equivalente a 2/3 (dois terços) do contrato
celebrado.
Assim sendo, existindo multa para o cumprimento dos 30 meses do contrato (no valor
de 3 vezes o aluguel) e tendo as partes cumprido com 20 meses do mesmo, impõe-se a
redução da multa, com base no artigo 413 do Código Civil.
Não pode a Autora receber o valor integral da multa, relativo a 30 meses de contrato,
quando a Locatária cumpriu com lisura 20 meses do pacto, sob pena de enriquecimento
sem causa da primeira.
Caso seja devida alguma multa à Autora, deve ser respeitada a proporção do tempo
remanescente do contrato – 10 (dez) meses, ou seja, 1/3 (um terço) do contrato.
Com elo a tais fatos, ficando em aberto apenas 1/3 do contrato (como ocorrido no caso
em tela), deve a multa ser reduzida ao mesmo percentual (1/3), ou seja, 01 (um) mês de
aluguel, tudo conforme comando expresso do artigo 4º da lei de locações, c/c artigo 413
do Código Civil.
Urge-se, portanto, a redução da multa requerida pela Autora no item 5 de sua exordial,
de 03 (três) para 01 (um) mês de aluguel, tudo conforme diretrizes expressas da
legislação pátria.
6 - DO PEDIDO.
N. Termos,
P. Deferimento.
OAB/RJ (xxx)