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Direito Internacional Público –

Verdadeiro Direito? Um olhar crítico

Da autoria de Moreira Rego


Revisão de Gil Cambule

INTRODUÇÃO

O Direito Internacional (doravante DI) é o conjunto de normas


jurídicas que regula toda a matéria relacionada com as relações
internacionais, ou seja, entre Estados e outras entidades da Sociedade
Internacional como sejam as organizações internacionais, organizações
do tipo Estado, quase-Estados, sociedades comerciais e indivíduos, ou
seja pessoas singulares.
Esta definição, que dá enfoque a pessoas singulares, retrata a
tendência que acompanha a evolução do DI em que se incluem
personalidades que infringem as normas e princípios internacionais,
nomeadamente, o princípio da proibição do genocídio, o da
coexistência pacífica, etc.
Nas páginas a seguir trataremos de, num primeiro momento, definir
o DI, num segundo, discutir sobre a sua juridicidade, ou seja, o seu
carácter jurídico e, num terceiro e último momento, debruçarmo-nos
sobre a sua relação com o Direito Interno, sobretudo no que diz
respeito à prevalência de um em relação ao outro quando ambos
vigorem na mesma ordem jurídica.
Em suma, pretende-se saber se o DI e o Direito Interno constituem
uma unidade ou dois sistemas jurídicos separados.
Vários países têm o DI como prevalecente em relação ao Direito
Interno, mas outros não. O nosso país respeita as normas do DI (art.
17/2 da constituição da República de Moçambique), dando-lhes igual
valor jurídico aos actos infraconstitucionais emanados da Assembleia
da República e do Governo, conforme a forma da sua recepção.
O DI não é actual e evolui com o tempo, tendo em conta as novas
tendências de evolução de que são alvo quase todas as teorias.
Esta abordagem não pretende ser o cúmulo de todo um estudo
sobre o que acima se disse, mas pequenas orientações e informações
que ajudarão o leitor a entrar no espírito do DI e a tentar perceber
como o DI foi impondo a sua universalidade. O conceito de ius cogens
foi determinante para que o DI se afirmasse na ordem mundial.
Sem mais delongas, importa dizer que estas páginas são um
esforço que visa auxiliar a tantos a trilharem pelo caminho da
investigação e da divulgação do conhecimento.

Direito Internacional Público 1


Assim, nos propomos a (I) abordar a definição do DI, para
seguidamente (II) falar da problemática da juridicidade do DI e
finalmente (III) tratar da relação entre o DI e o Direito Interno.

O Autor
Moreira José Caetano Rêgo

I. DEFINIÇÕES DE DIREITO INTERNACIONAL

O conceito de Direito Internacional não reúne concenso tanto entre


autores1 como entre doutrinas2, daí que possa parecer que este Direito
seja algo que flutua ou esteja em permanente suspensão.
Mas, apesar disso, as definições tendem muitas vezes a convergir
em razão do seu próprio conceito e dos elementos que o compõem
tanto do ponto de vista do sujeito como do objecto.
Desde logo, citando o livro de J. da Silva Cunha, “o Direito
Internacional (DI) é visto por este autor como o conjunto de normas
jurídicas que regem as relações entre todos os componentes da
sociedade internacional”. Ainda, neste livro ele cita o Dictionaire de La
Terminologie du Droit International, publicado em 1960 e organizado
sob a direcção do Prof. Basdevant, Juiz do Tribunal Internacional de
Justiça (TIJ), P.254, em que se lê que o “DI é o conjunto de regras
jurídicas que regem as relações internacionais, sendo entendido como
regendo as relações entre Estados e a acção de certas entidades que
não são Estados, nas relações com estes e, em certos casos também,
como dirigindo-se aos indivíduos”. Finalmente, faz referência a
Hildebrando Accioly que define o “Direito Internacional Público (DIP) ou
Direito das Gentes como o conjunto de princípios ou regras destinadas
a reger os direitos e deveres internacionais, tanto dos Estados ou
outros organismos análogos, quanto dos indivíduos.” Esta definição é
extraída do manual de DIP, 11ª ed., revista pelo embaixador Geraldo
Eulálio do Nascimento e Silva, S. Paulo, Brasil, 1976, p.1.3

1
Autores que iremos citar ao longo da abordagem
2
Doutrinas que defendem a juridicidade e a não juridicidade do DI
3
CUNHA, J. da Silva, Direito Internacional Público, Introdução e fontes, Almedina, Coimbra, 5ª ed. 1993,
p. 16

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Os Prof. André G. Pereira e Fausto de Quadros, no seu manual de
Direeito Internacional Público, definem o DI tendo em conta o critério
dos seus sujeitos, mas que é rejeitada por estar enfermada do
preconceito dualista4, porém, apresenta-la-emos para efeitos de
informação. Assim, ele toma a supracitada definição de J. da Silva
Cunha e a de Charles Rousseau que o define como o conjunto de
normas jurídicas que regulam as relações entre os sujeitos do DI. De
seguida, apresenta a definição tendo em conta o critério do objecto da
norma internacional que se baseia nas matérias reguladas em
oposição às matérias reguladas internamente. Deste modo, define-se o
DI como o conjunto de normas jurídicas criadas pelos processos de
produção jurídica próprios da comunidade Internacional, e que
transcendem o âmbito estadual (PEREIRA, André Gonçalves e QUADROS,
Fausto. p.31).
Já Michael Akehurst, numa curta e simples definição, toma o
conceito de DI como o “ordenamento jurídico que regula as relações
entre Estados5.” Todavia, actualiza a sua definição acrescentando as
atribuições de direitos e deveres, pelo DI, às Organizações
internacionais, às Sociedades Comerciais e a indivíduos sem excluir a
ideia de que o DI se ocupa primordialmente dos Estados.
Albino de Azevedo Soares define, o DIP, na sua obra, tendo como
referência autores e posições diversas como a definição de Paul Reuter
que tem o DIP como constituído pelo conjunto de regras que presidem
a existência e ao desenvolvimento da comunidade internacional”; a de
Krylov que teoriza o Direito das Gentes como “uma superestrutura
jurídica edificada sobre a economia mundial, representando a fixação
dos resultados da emulação e da cooperação entre classes dominantes
de diferentes Estados nas suas relações exteriores6”. Contudo, chega a
adoptar o conceito de que o DIP é o “conjunto de todas as normas
qualquer que seja o seu conteúdo, que procedem de uma fonte
internacional”, porém não a avaliza diante de tantas críticas que a ela
se submetem, todavia assume-a. Assume-a porque, para ele, só agindo
segundo normas do ius gentium é que se está diante do DI. Desta
feita, coloca como exemplos os seguintes:
a) quando um Estado celebra um contrato de compra e venda de
imóvel para instalar a sua embaixada celebra um contrato de Direito
interno.
b) quando um Estado celebra uma convenção consular está a agir
segundo as normas de DIP.7
Com estes conceitos de DIP que acabamos de apresentar,
concluímos que todas as definições nos levam a um caminho que pode
4
Veremos abaixo
5
AKEHURST, Michael., Introdução ao Direito Internacional, Almedina, Coimbra, 1985, p. 1
6
SOARES, Albino de Azevedo, Lições de Direito Internacional Público, Coimbra editora, 4ª ed. 1996, p.
13
7
SOARES, op. cit. P. 16

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ser tido como que desaguando na mesma fórmula que se pode resumir
na ideia de que o DI é o conjunto de regras jurídicas que regulam as
relações entre os Estados. Contudo, há que acrescentar, nesta
definição, a tendência actual de todas as outras entidades que
participam nas relações internacionais como quase Estados,
Organizações Internacionais, Indivíduos, Sociedades comerciais.

II. A PROBLEMÁTICA DA JURIDICIDADE DO DIREITO


INTERNACIONAL

Alguns autores negam ao DI o seu carácter jurídico em razão das


suas regras. Deste modo, doutrinas divergem quanto a esta questão.
Assim, surgirão posições que refutam a juridicidade do DI e outros que
a aceitam.

A. TESES CONTRA O CARÁCTER JURÍDICO DO D.I.

Dos manuais que compulsámos, eles convergem quase todos no


mesmo ponto de vista, apresentando teses que em muito se parecem
para negar às normas do DI o carácter jurídico. Assim, temos:
a) doutrina do jusnaturalismo radical, cujo expoente máximo é
Thomas Hobbes que sustenta que o DI pelo seu carácter de
insubordinação revela que os Estados estejam a viver ainda no estado
de natureza em que não existe qualquer poder superior aos seus
destinatários;
b) doutrina que considera o DI como simples expressão da política
de força, representado por neo-hegelianos como Lasson que defende
que o Estado é uma organização humana suprema pelo que não pode
estar subordinada a regras imperativas. Assim, esta doutrina opina que
o DI é o conjunto de fórmulas a exprimir relações de força entre
Estados.
c) John Austin, fundador da Analytical School of jurisprudence
equiparou o DI à moral internacional e defende a tese de que toda a
norma jurídica tem carácter de um mandado ou ordem de uma
autoridade, por não existir autoridade internacional.
d) Zitelman considera o DI como imperfeito por existir nele cinco
defeitos quando comparado ao estadual e especifica-os: a) o número
reduzido de matérias que constituem seu objecto; b) insegurança de
muitos dos seus preceitos; c) o grande número de cláusulas que
restringem o campo de aplicação das suas normas; d) admissão de
direito se represália; e e) a guerra como o processo de protecção e
defesa de interesses.8
Em suma, todas as teses que refutam a juridicidade do DI
concentram-se em duas principais razões que são por um lado, a

8
CUNHA, op. cit. p. 18

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deficiência de Órgãos Internacionais competentes para fazer leis,
julgar infracções e aplicar as sentenças e por outro, a alegada
impossibilidade de sujeição dos Estados soberanos a quaisquer
obrigações jurídicas externas, isto é, defende a ideia de que a
soberania do Estado fica reduzida ao Direito Internacional.9

B. TESES PRO CARÁCTER JURÍDICO DO D.I.

As doutrinas que negam o carácter jurídico do DI só aceitam e


reconhecem o Direito Interno ou de subordinação e afastam a a
possibilidade de haver um outro direito que seja uma manifestação de
cooperação ou de coordenção internacional. Tal deve-se aos factos
que acabámos de mecncionar acima.
Porém, o que devemos ter como certo é que pode existir um Direito
criado por coordenação em que os seus membros se encontram unidos
numa mesma vontade dos seus membros e num equilíbrio de forças.10
Desta forma, as doutrinas que aceitam as normas do DI como
jurídicas sustentam as suas posições recusando as teses dos que
retiram do DI a jurididcidade das suas normas.
Assim, defendem-se:
a) quanto à questão da existência de uma autoridade central,
monopolizada pela força para assegurar a coercibilidade, constata-se
hoje que nem sempre o meio compulsivo é o adequado para fazer que
uma lei seja eficaz;
b) quanto à questão de pôr em causa a soberania de um Estado,
nota-se que tal acusação não tem razão de ser porque o Estado não
pode deliberar e convencer os seus súbditos de que são livres de
agirem como queiram dentro das suas fronteiras pondo em causa os
princípios gerais do DI como o de proibição de genocídio, coexistência
pacífica e outros.
c) quanto à questão da imperatividade da norma do DI temos que
as forças centrais permanentes da Sociedade Internacional capazes de
obrigar os Estados a respeitar as normas do DI de tal modo que vemos
retorsões, represálias, sanções, etc., entre Estados.
Por tudo o que foi exposto, chegamos a conclusão de que não
parece razoável partir de uma alegada impossibilidade teórica para
refutar a juridicidade do DI como se ele fosse algo de infra ou super-
humano. Portanto, DI é Direito e, não só, fácil se nota que os Estados
obedecem por via de regra os costumes, preceitos e princípios do DIP.
Deste modo, cai por terra a tese daqueles que negam a juridicidade do
DI. Esta foi a teses daqueles que defendem a tese da juridicidade do
DI.

9
Cfr. MONCADA, António Cabral de, Curso de Direito Internacional Público, Almedina, Coimbra, 1998,
I vol., p. 36-38
10
CUNHA, op. cit. p.19

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C. POSIÇÃO ADOPTADA

A definição do Direito Internacional Público suscita o problema da


juridicidade deste porquanto existem doutrinas que a refutam e outras
que a afirmam. Até agora, discorremos as teses negativas que
resumem a sua posição em função da soberania estadual que é posta
em causa e da deficiência do DI no que diz respeito ao poder
jurisdicional, imperatividade da norma jurídica internacional, etc.
Os que aceitam a juridicidade do DI defendem a tese de que a
questão da soberania posta em causa não constitui verdade porque os
Estados não podem fazer no seu território o que lhe apetecer, aliás, a
própria soberania não é absoluta, hodiernamente, como pretendia Jean
Bodin e no que diz respeito a imperatividade, constata-se que com o
conceito de ius cogens nas normas do DI, mesmo que não ratificadas
pelos Estados, elas se fazem sentir mesmo que não seja na sua
totalidade o que também acontece com as normas constitucionais.
Posto isto, cabe-nos agora tomar posição quanto ao carácter
jurídico das regras do DI.
A integração do conceito de ius cogens no DI constitui um garande
passo para a afirmação da juridicidade do DI e ainda mais os princípios
gerais do DI reforçam a ideia de que as suas normas são de aplicação
universal e cada vez mais com a evolução da história o DI torna-se do
ponto de vista jurídico um meio de fazer com que os Estados
reafirmem o seu carácter comunitário11.

III. A RELAÇÃO ENTRE O DIREITO INTERNACIONAL E O


DIREITO INTERNO

Em torno do problema da relação entre o Direito Internacional e


Direito Interno, gira a questão de se saber como comportar-se diante
de duas realidades diferentes em função do âmbito de aplicação que
as duas cobrem. Deste modo, o problema reduz-se na pergunta: há ou
não unidade de direito? Assim, a resposta a esta questão leva-nos a
tomar duas posições diferentes. Se dissermos que sim, estaremos na
tese monista e se dissermos que não, na tese dualista. Aceitando a
tese monista, suscitará um outro problema que se debruça sobre a
primazia de um sobre o outro, ou seja qual será o subalterno? Por
assim dizer, teremos a situação de monismo com prevalência do DI ou
do direito interno.12

11
Cfr. PEREIRA, André Gonçalves e QUADROS, Fausto de, Manual de Direito Internacional Público,
Almedina, Coimbra, 3ª ed. 2005
2005, p. 79-80
12
CUNHA, op. cit. p. 74-75

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Desta forma, cabe-nos apresentar as ou teses, pois do ponto de
vista de Paul de Visscher, as duas concepções são defensáveis
porquanto o “Direito Interno é expressão da soberania interna do
Estado e o DI é um Direito de coordenaação”13. Quanto a nós nos resta
agora irmos dando os argumentos que cada tese defende e, por fim
apresentarmos a solução coerente com o nosso sistema jurídico.

A. TESE DUALISTA

Esta tese foi exposta pelo jurista alemão Triepel, na sua obra
Volkerrecht und Landesrecht, em que falou sobre o assunto e concluiu
que o DI e o Direito Interno são independentes de tal modo que as
suas normas diferem tanto do campo das fontes ( no DI há fusão das
vontades de vários Estados com um mesmo conteúdo e no direito
interno a vontade do Estado) como dos sujeitos destinatários (no DI os
Estados e no interno as pessoas singulares e colectivas). Além disso,
frisa, dizendo que “as duas ordens têm características jurídicas
distintas”14.
Para ele e mais tarde Anzilotti, Perassi e outros, a norma do DI só
vale na esfera estadual depois de ser recebida, ou seja, é necessário
transformá-la em lei interna, disto não resultando segundo esta
doutrina nenhum conflito entre sistemas, pois tais normas regem
relações diferentes.(Cfr. Albino, op. cit. p. 66).
Contudo, esta doutrina tem sido alvo de várias críticas pelas
seguintes razões que a seguir enunciamos.
a) Nesta concepção, mesmo que se admitam como válidas as teses
de Triepel e Anzilotti, não abrange todo o DI, pois só se refere aos
Tratados, deixando de lado o costume internacional praticado e
aplicado pelos tribunais internos;
b) o argumento da diversidade de fontes não suporta a tese uma
vez que é válido aparentemente. Ora, o que se constata é que as duas
normas jurídicas partem duma fonte material comum por se reconduzir
sempre aos factores de ordem social que as tornam sempre
necessárias;
c) numa situação de Direito Comparado, o costume constitui no
Sistema jurídico anglo-americano um meio de formação e revelação do
Direito, desempenhando na Inglaterra uma função superior à da lei;
d) a diversidade de sujeitos não é uma tese defensável, porque
tanto no DI como no Direito Interno a maior parte das leis do Direito
Público têm por destinatários os Estados e ainda mais o indivíduo faz,
hoje, parte do DI.
Deste modo, é notável quão esta tese vem tombando em função da
própria evolução do DI. Assim, conclui-se que o campo de actuação do

13
SOARES, op.cit., p.64
14
PEREIRA, A. G. e QUADROS, F., p. 84

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DI e o campo de actuação do Direito Interno coincidem, não havendo
razão para distingui-los.

B) TESE MONISTA COM PRIMADO DO DIREITO INTERNO

Como referimos atrás, a tese monista subdivide-se em duas teorias.


Porém, há que aclarar que a tese monista parte da ideia de que todo o
Direito, seja internacional ou interno, formam um único sistema, ou
uma única unidade que é a ordem jurídica estadual, de tal forma que o
DI não passa de um “direito estadual externo15”.
Defendida por Zorn, Wenzel e Jllinek, esta tese suporta a ideia de
que o “DI obriga porque provém da própria vontade do Estado, vincula
porque é, todo ele, direito interno16”. Deste modo, o DI subsume-se no
Direito Interno uma vez que os Estados aceitam o DI, mesmo sem o
ratificar como é o caso de imunidades diplomáticas e outros.
Esta tese sofre objecções, pois nenhum Estado pode invocar as suas
normas internas para se eximir ao cumprimento das suas obrigações
internacionais (art. 27 da Convenção de Viena). Disto resulta que a
validade do DI não depende da validade do Direito Interno.

C. TESE MONISTA COM PRIMADO DO DIREITO


INTERNACIONAL

Esta tese defende a ideia de que o DI é hierarquicamente superior


às ordens jurídicas estaduais. Esta constitui a tese preponderante e é a
mais consentânea com o estado actual das relações jurídicas na
Comunidade Internacional.
Conforme esta concepção as normas internas são simples
derivações ou delegações do DI, o que quer dizer que quando existir
um conflito entre estas, as internas ficam enfermadas do vício de
nulidade.
O DI como direito de coordenação, define as esferas de acção dos
Estados.

D. POSIÇÃO ADOPTADA

Do exposto, resulta que todas as construções foram tentativas de


explicação da realidade jurídica. Contudo, impõe-se que tomemos
posição em relação às teses que acabamos de apresentar.

15
SOARES, op. cit., p. 68
16
Ibidem, SOARES.

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Recapitulando, temos em resumo que, a tese dualista tenta
conciliar a soberania do Estado com a existência de certas regras de DI
que se impõe ao Estado; o monista com primado do direito interno não
reconhece o DI, porque, para ele, não há limites à actuação do Estado
e, por fim, o monista com primado do DI defende que este é
hierarquicamente superior ao direito interno, razão pela qual se deve
adequar ao DI.
Dos autores que consultamos chegámos a constatação de que
todos defendem a posição assumida pelos doutrinários que admitem a
tese do monismo com primado do DI, argumentando em linhas gerais
que “a validade global de um sistema normativo depende de ser
possível encontrar o fundamento de todas as normas que o constituem
numa única norma, cuja validade terá de se admitir sob pena de se
negar a validade de todo o sistema”17.
Ademais, o DI desempenha na ordem interna um papel
preponderante tendo em conta os seus princípios gerais, que são uma
fonte orientadora do legislador interno por forma a que este não viole
as regras dispostas pela vontade comum dos Estados, sob pena de
responsabilização universal. Com isto, quer-se dizer que o
ordenamento jurídico interno tem o dever de se conformar com os
preceitos do DI.

CONCLUSÃO

Foi matéria deste trabalho o direito internacional, sobretudo, no que


toca aos aspectos introducionais sobre esta disciplina jurídica.
Assim, destacámos a questão das definições adoptadas por diversos
autores, discutimos o problema da juridicidade do DI, apresentando as
teses contra e pro carácter jurídico do DI sem deixar de tomar uma
posição contemporaneamente adoptada, tratámos de falar da relação
do DI com o direito interno, fixando-nos na questão ligada à sua
17
CUNHA, op.cit., p. 82

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independência ou unidade. A assumpção da ideia da unidade, leva-nos
a perguntar qual dos dois prevaleceria diante do outro, no âmbito da
actuação. Desta questão chegámos a conclusão de que o DI prevalecia
porcausa do seu carácter de direito de sobreposição.
Sobre a questão da prevalência o nosso ordenamento jurídico
moçambicano respeita os dispositivos jurídicos internacionais que
vigoram nele. É o caso da Lei 15/2002 de 26 de Junho no seu no 1 do
art. 7. Ainda faz-se referência na Constituição da República nos seus
arts. 17, 18 e 22 sobre o respeito à ordem internacional,
nomeadamente a carta das Nações Unidas e à Carta Africana dos
Direitos e dos Povos e obviamente às convecções internacionais que
celebra com outros Estados.
Deste trabalho, aprendêmos bastante sobre a matéria em análise
de tal modo que o facto de nos termos dedicado horas a fio nesta
disciplina para realizá-lo fez com que amadurecéssemos o nosso
intelecto com assuntos tão relevantes como estes do DI.
Embora tenhamos conhecimento da não eficácia plena do DI nas
ordens internas, estamos cientes de que a evolução deste direito
poderá dar um salto qualitativo para resolver esta questão.
Normalmente, os Estados nem sempre obedecem às ordens emanadas
da sociedade internacional. É o caso dos acontecimentos actuais entre
Israel e Hezbollah, que culminou com a violação do princípio de
coexistência pacífica com a Líbia e continua destruíndo bens de
pessoas inocentes que lá se encontram através de bombardeamentos.
Portanto, muito há que se fazer para manter a ordem internacional
como direito de sobreposição e claro de coordenação também,. de
modo a que se cumpram os preceitos internacionais.

BIBLIOGRAFIA

Direito Internacional Público 10


1. CUNHA, J. da Silva, Direito Internacional Público, Introdução e
fontes, Almedina, Coimbra, 5ª ed. 1993

2. MONCADA, António Cabral de, Curso de Direito Internacional


Público, Almedina, Coimbra, 1998, I vol.

3. SOARES, Albino de Azevedo, Lições de Direito Internacional


Público, Coimbra editora, 4ª ed. 1996

4. AKEHURST, Michael., Introdução ao Direito Internacional,


Almedina, Coimbra, 1985

5. PEREIRA, André Gonçalves e QUADROS, Fausto de, Manual de


Direito Internacional Público, Almedina, Coimbra, 3ª ed. 2005

LEGISLAÇÃO

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Imprensa


Nacional, Maputo, 2004

Direito Internacional Público 11

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