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Ricardo M. S. Rosa
Departamento de Matemática Aplicada, Instituto de Matemática,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Caixa Postal 68530 Ilha do
Fundão, Rio de Janeiro RJ 21945-970, Brasil
Conteúdo
Introdução 5
5
CAPı́TULO 1
Modelagem newtoniana
movimento planar pode ser descrito por dois ângulos, como nas coordenadas esféricas
com o raio fixo; etc. Em geral, podemos representar por q as coordenadas levando
em consideração a geometria, com as coordenadas gerais dadas por uma função de
q, da forma x = X(q). A restrição também pode variar com o tempo, sendo do
tipo x = X(t, q). A dificuldade, porém, é que não basta usarmos a regra da cadeia
para acharmos uma equação para q̈ a partir de M ẍ = F(t, x, ẋ). As restrições impões
certas forças virtuais (tensão, centrı́fuga, de Coriolis, etc.) que precisam ser reobtidas,
levando a um novo sistema da forma
Mr q̈ = Fr (t, q, q̇).
As coordenadas q são chamadas de posições ou coordenadas generalizadas, enquanto
que os termos q̇ e q̈ são chamados de velocidades e acelerações generalizadas. Em
geral, porém, a obtenção dessa nova força sob restrições um pouco complicadas, pode
ser bastante difı́cil e que, nesses casos, a modelagem lagrangeana é bem mais apro-
priada.
Vejamos alguns exemplos concretos de modelagem newtoniana.
eixo h
h = h(t)
F = −mg
PSfrag replacements
h=0
2.2. Pêndulo planar. No caso do pêndulo planar, temos uma massa presa em
uma extremidade de uma haste rı́gida considerada de massa desprezı́vel. A outra
extremidade fica presa a uma estrutura que permite que a haste descreva movimentos
restritos a um plano perpendicular ao solo. Por exemplo, a estrutura pode ser uma
outra haste paralela ao solo e presa a outras duas hastes verticais e os movimentos
possı́veis da haste com a massa são perpendiculares a essa estrutura (figura 2).
Podemos utilizar o ângulo θ que a haste faz com o eixo perpendicular ao solo,
com θ = 0 indicando a posição em que a massa está na extremidade inferior da haste.
Assim, θ aumenta em módulo quando a massa se afasta do solo, pelo menos enquanto
uma meia volta não é completada, ou seja, enquanto θ estiver estritamente entre −π
e π.
l
θ
T
PSfrag replacements
Ft
Fn
A velocidade angular do pêndulo é θ̇, enquanto que a aceleração angular é θ̈. Sendo
l o comprimento da haste, lθ é o comprimento de arco descrito em relação à posição
de equilı́brio, enquanto que a velocidade tangencial é l θ̇ e a aceleração tangencial é
lθ̈. A força gravitacional que age no pêndulo tem magnitude mg e é vertical, podendo
ser decomposta em duas componentes, uma normal à circunferência de raio l que o
pêndulo descreve e outra, tangencial à essa circunferência. A componente normal
é balanceada pela tensão T na haste, que é rı́gida. A componente tangencial tem
magnitude mg sin θ. Assim, pela lei de Newton,
O sinal de menos se deve ao fato de que no caso em que θ é positivo, sin θ é positivo
e a força gravitacional age no sentido de decrescimento de θ, devendo a resultante
ser negativa. Por outro lado, no caso em que θ é negativo, sin θ é negativo e a força
gravitacional age no sentido de crescimento de θ.
As simetrias impostas nesse modelo fazem com que as outras duas coordenadas
espaciais do pêndulo sejam constantes. A resultante das forças nas outras coordenadas
se anula e essas coordenadas não aparecem explicitamente na equação.
CAPı́TULO 2
Modelagem lagrangeana
Observe que a ação depende de q(·) enquanto que o lagrangeano depende de q(t)
e de q̇(t). Isso faz sentido, porque, de fato, q(t) e q̇(t) são funções de q(·), são
valores instantâneos relativos a função q(·) definida no intervalo [0, T ]. Além disso,
em relação à notação, ∇q̇ Lr denota apenas o gradiente de Lr em relação à segunda
variável, que é apenas “calculada” em q̇(t). Isso é, de fato, um abuso de notação, mas
é a convenção. Para sermos mais precisos, deverı́amos ter definido Lr = Lr (t, q, v),
sem ter feito inicialmente uma relação direta entre v e q̇, de modo que ∇q̇ Lr seria
simplesmente ∇v Lr .
Integrando por partes o segundo termo da ação e usando as condições de contorno
q̃(0) = 0 e q̃(T ) = 0, temos
Z T
∇A(q(·)) · q̃ = (∇q Lr (t, q(t), q̇(t)) · q̃(t) − ∂t ∇q̇ Lr (t, q(t), q̇(t)) · q̃(t)) dt.
0
Formulação Hamiltoniana
Vamos olhar com mais cuidado para a segunda equação, que é uma equação
“estacionária”, pois não inclui derivada temporal explicitamente. Incluindo todas
as variáveis, temos
p = ∇v L(t, q, v).
Podemos esperar que haja uma solução da forma v = V(t, q, p), com
p = ∇v L(t, q, V(t, q, p)),
para todo t, p, q. Veremos, nos exemplos, que isso é bem natural. De fato, observe
que, em certos casos, ∇V é apenas mv e estaremos apenas trocando mv por p.
Isso justifica a definição de p como um momento generalizado, ou momentos, pois
estamos tratando de um sistema de várias partı́culas. Podemos, também, obter, do
teorema da função implı́cita, uma condição para a existência da função V(q, p), a
saber, que a diferencial de ∇v L(t, q, v) seja inversı́vel ao longo da solução q = q(t),
com v(t) = q̇(t). Essa diferencial é a matriz segunda derivada
d
∂2
2
Dv L(t, q, v) = L(t, q, v) .
∂vi ∂vj i,j=1
Há apenas um pequeno abuso de notação acima, pois cada vi ainda pode ser um
vetor.
Assim, assumindo a existência de uma função V = V(t, q, p) satisfazendo
p = ∇v L(t, q, V(t, q, p)),
podemos definir o hamiltoniano
H(t, q, p) = p · V(t, q, p) − L(t, q, V(q, p)).
3. EXEMPLOS DE MODELAGEM HAMILTONIANA A PARTIR DA LAGRANGEANA 21
4. Transformada de Legendre
A transformação do lagrangeano no hamiltoniano pode ser pensado em termos de
uma função chamada de transformada de Legendre. Vamos começar com uma função
convexa g que seja de continuamente diferenciável e cuja derivada g 0 seja bijetiva em
R. A transformada de Legendre (ou dual) g ∗ de g é definida por
g ∗ (s) = sr(s) − g(r(s)), onde r = r(s) é a inversa de g 0 (s), dada por s = g 0 (r(s)).
4. TRANSFORMADA DE LEGENDRE 23
u u = g(r)
u = sr
g ∗ (s)
PSfrag replacements
Vamos ver que ao tomarmos o segundo dual, voltamos para g ∗∗ (r) = g(r). Em
primeiro lugar, observe que
g ∗ 0 (s) = r(s) + sr 0 (s) − g 0 (r(s))r 0 (s) = r(s) + (s − g 0 (r(s))r 0 (s) = r(s)
e a solução de g ∗0 (s) = r é a inversa de r = r(s). Logo, g ∗∗ (r(s)) toma a forma
g ∗∗ (r(s)) = rs − g ∗ (s)
Por outro lado, da definição de g ∗ (s), temos
g(r(s)) = sr(s) − g ∗ (s).
Sendo r(s) sobrejetiva, temos g = g ∗∗ .
A caracterização de g ∗ (s) como o máximo da diferença entre a reta u = sr e a
função u = g(r) pode ser tornada mais explı́cita pela relação
g ∗ (s) = sup(sr − g(r)).
r∈R
A vantagem dessa caracterização é que ela pode ser tomada como definição da trans-
formada de lagrange no caso em que g seja apenas convexa e satisfaça a propriedade
g(r)
lim → ∞.
|r|→∞ |r|
para toda F, G e F̃ , G̃ relacionadas por F̃ (q̃, q̃) = F (q, p), G̃(q̃, p̃) = G(q, p). Além
disso, para o hamiltoniano transformado H̃(t, q̃, p̃) = H(t, q, p), temos o sistema
(
q̃˙i = {q̃i , H̃}˜,
p̃˙ i = {p̃i , H̃}˜.
Mudanças de variáveis com essas propriedades são ditas simpléticas. O colchete
de Poisson é uma estrutura simplética no espaço euclidiana. Outras variedades difer-
enciáveis também possuem estruturas simpléticas. Sistemas de equações diferenciais
como acima são ditos sistemas simpléticos. As transformações simpléticas preservam
essas estruturas e sistemas.
6. Variáveis ação-ângulo
Buscamos transformações que sejam simpléticas e que simplifiquem o hamiltoni-
ano e, com isso, facilitem o entendimento do sistema. Idealmente, buscamos trans-
formações simpléticas que transformem o hamiltonino em um novo hamiltoniano que
independa de uma ou mais das novas variáveis transformadas. Mais especificamente,
buscamos uma transformação simplética q̃ = q̃(q, p), p̃ = p̃(q, p) para a qual o novo
hamiltoniano H̃(t, q̃, p̃) = H(t, p, q) seja independente de, digamos, q̃d , onde d é a
dimensão de q̃. Nesse caso, a equação para p̃d é
∂ H̃
p̃˙ d = {p̃d , H̃}˜ = − = 0.
∂qd
Com isso, p̃d é uma constante de movimento, digamos p̃d (t) ≡ Id . Além disso, a
equação para q̃d é
∂ H̃
q̃˙d = {q̃d , H̃}˜ = .
∂ p̃d
p̃d =Id
Com isso, o lado direito da equação para q̃˙d depende apenas de q̃i , p̃i , para i =
1, . . . , d − 1. Isso tem como conseqüência a redução do sistema para 2(d − 1) variáveis.
A existência de transformações para as quais o novo hamiltoniano seja indepen-
dente de uma das variáveis é fundamentada na existência de quantidades conservadas
do sistema. Caso hajam mais quantidades conservadas do sistema, podemos achar
transformações para as quais o novo hamiltoniano independa de mais variáveis.
Idealmente, buscamos um hamiltoniano H̃ que seja independe de todas as posições
generalizadas q̃. Assim,
p̃˙ = −∇q̃ H̃ = 0
e cada p̃i é constante, digamos p̃i (t) ≡ Ii , i = 1, . . . , d. Para cada i,
˙q̃i = ∂ H̃
= ωi (I1 , . . . , Id ),
∂ p̃i ˜
˜p1 =I1 ,...,p̃d =Id
26 3. FORMULAÇÃO HAMILTONIANA
O sinal negativo em y foi escolhido apenas para alterar a orientação das soluções, que
originalmente não estão no sentido trigonométrico.
Segundo essa transformação, o novo hamiltoniano tem a forma
1 γ γ
H 0 (r, θ) = (−γ 1/2 r sin θ)2 + (r cos θ)2 = r 2 .
2 2 2
6. VARIÁVEIS AÇÃO-ÂNGULO 27
Esse hamiltoniano é, de fato, independente da variável ângulo θ. Porém, esse não
é o hamiltoniano das equações transformadas. De fato, derivando a definição da
transformação: (
ẋ = ṙ cos θ − r θ̇ sin θ,
ẏ = −γ 1/2 ṙ sin θ − γ 1/2 r θ̇ cos θ.
Usando o sistema de equações diferenciais, chegamos a
(
ṙ cos θ − r θ̇ sin θ = −γ 1/2 r sin θ,
−γ 1/2 ṙ sin θ − γ 1/2 r θ̇ cos θ = −γr cos θ.
achamos
21/2
α= , β = 21/2 γ 1/4 .
γ 1/4
Portanto, a transformação
1/2
x = 2 r 1/2 cos θ,
γ 1/4
y = 21/2 γ 1/4 r 1/2 sin θ.
Isso ilustra a forma que equação de Hamilton-Jacobi toma no problema. Para achar-
mos a variável ângulo, devemos considerar
∂S(I, x)
θ= = h0 (I).
∂I
Finalmente, h0 (I) pode ser encontrado forçando que (I, θ) sejam as coordenadas ação-
ângulo.
CAPı́TULO 4
1. Conservação de energia
A minimização da ação está diretamente ligada à conservação de energia total
através de simetrias de invariância por translação no tempo. Para vermos isso, va-
mos precisar da estrutura da energia cinética do sistema livre. Assim, assumimos
que a energia cinética é da forma Kr (p, q̇) = K(DX(q)q̇), onde x = X(q) é uma
restrição explı́cita e K(y) = (1/2)M |y|2 é a energia cinética livre do sistema com ve-
locidade y = ẋ. A restrição pode ser da forma x = X(q) e a energia potencial, Vr (q).
Dependências no tempo não são permitidas, pois significariam uma inclusão ou ex-
clusão de energia por forças externas. Além disso, para fins dessa análise, restrições
implı́citas podem, em geral, ser localmente transformadas em restrições explı́citas,
pelo teorema da função implı́cita, e resolvidas conforme faremos abaixo.
Assim, o lagrangeano tem a forma
Lr (q, q̇) = Kr (q, q̇) − Vr (q) = K(DX(q)q̇) − Vr (q)
e a energia total é
Er (q, q̇) = Kr (q, q̇) + Vr (q) = K(DX(q)q̇) + Vr (q).
Com as restrições acima, vamos ver que podemos escrever
1
Kr (q, q̇) = p · q̇,
2
onde p é o momento generalizado
p = ∇q̇ L(q, q̇).
De fato, observe, primeiro, que, como K(y) = (1/2)M |y|2 ,
∇K(y) = M y.
Com isso
2. Simetrias
Quantidades conservadas estão diretamente ligadas a simetrias no sistema. Isso
está relacionado ao teorema de Nöther, que veremos a seguir. Antes, vamos solidificar
a idéia de simetria.
Simetrias agem modificando as variáveis (t, q, q̇). Isso pode ser representado por
uma transformação
˙
(t, q, q̇) 7→ G̃(t, q, q̇) = (t̃, q̃, q̃).
Onde q̃˙ é a derivada de q̃ em relação a t̃.
Por exemplo, podemos ter uma translação no tempo por um instante τ :
(t, q, q̇) 7→ (t + τ, q, q̇);
uma translação no espaço por um vetor q0 :
(t, q, q̇) 7→ (t, q + q0 , q̇);
e um movimento uniforme com velocidade v:
(t, q, q̇) 7→ (t, q + vt, q̇ + v).
Podemos, também, ter um rotação no espaço, que pode ser representada por um vetor
θ cujo módulo indica o ângulo de rotação, a direção indica o eixo de rotação e o sentido
indica o sentido de rotação, dado pela regra da mão direita. Essa transformação pode
ser indicada por
(t, q, q̇) 7→ (t, R(θ)q, R(θ)q̇).
As transformações ditas galilelianas são dadas por combinações das transformações
mencionadas acima. Elas são caracterizadas por preservar as distâncias no espaço
(t, q), segundo a norma euclidiana.
Um sistema mecânico representado por um lagrangeano L(t, q, q̇) tem um certa
simetria quando ele é invariante por uma transformação de simetria. Mais precisa-
mente, quando
L(G̃(t, q, q̇)) = L(t, q, q̇).
2. SIMETRIAS 33
para alguma simetria G̃. Isso tem certas conseqüências nas equações de movimento
e, em particular, em suas soluções, que também terão certas simetrias.
2.1. Tipos de simetrias. Podemos classificar as simetrias em dois tipos. Um
envolvendo explicitamente o tempo e outro, não. As que não envolvem explicitamente
o tempo, agem primordialmente em q e podem ser escritas na forma G(q). Isso tem
conseqüências na derivada temporal de q, que deve ser transformada para
d(G(q))(t)
= DG(q)q̇.
dt
Podemos escrever essas operações no espaço (t, q, q̇) na forma G̃(t, q, q̇), onde G̃ pode
ser decomposto em suas coordenadas
G̃(t, q, q̇) = (G̃t (t, q, q̇), G̃q (t, q, q̇), G̃q̇ (t, q, q̇)) = (t, G(q), DG(q)q̇) .
No segundo caso, em que a simetria envolve explicitamente t, temos um operador
levando (t, q) em G(t, q). Isso leva a um operador que leva (t, q, q̇) em G̃(t, q, q̇).
Fazendo a decomposição nas coordenadas, temos
G̃(t, q, q̇) = (G̃t (t, q, q̇), G̃q (t, q, q̇), G̃q̇ (t, q, q̇)),
com a relação de compatibilidade
d q
G̃q̇ (t, q, q̇) =
G̃ (t, q, q̇).
dt
No caso particular de translações no tempo, temos apenas G̃t (t, q, q̇) = t + s,
q
G̃ (t, q, q̇) = q e G̃q̇ (t, q, q̇) = q̇.
2.2. Grupos de simetrias. Geralmente, temos famı́lias de transformações de
simetrias ao invés de apenas uma. Por exemplo, podemos fazer translações no tempo
por vários intervalos τ . Isso pode ser representado por uma famı́lia de transformações
Gτ (t, q, q̇) = (t + τ, q, q̇).
Translações no espaço também podem ser representadas por uma famı́lia
Gq0 (t, q, q̇) = (t, q + q0 , q̇),
assim como movimentos uniformes
Gv (t, q, q̇) = (t, q + vt, q̇ + v)
e rotações
Gθ (t, q, q̇) = (t, R(θ)q, R(θ)q̇).
Observe, ainda, que essas famı́lias de transformações tem certas estruturas. Por
exemplo, translações satisfazem
Gτ1 +τ2 = Gτ1 ◦ Gτ2 = Gτ2 ◦ Gτ1 .
Isso dá uma estrutura de grupo abeliano (ou comutativo) a {Gτ }τ ∈R . Movimentos uni-
formes também formam grupos abelianos. Rotações sobre um mesmo eixo também.
34 4. CONSERVAÇÃO DE ENERGIA, SIMETRIAS E O TEOREMA DE NÖTHER
Mas rotações sobre eixos diferentes não comutam e geram um grupo não-abeliano
(composição de rotações ainda é uma rotação, mas não basta somar os vetores de
rotação, a menos que eles sejam colineares). Em geral, vamos denotar um grupo de
simetria por uma famı́lia {Gs }s , com parâmetro s.
Algumas simetrias são discretas, ou seja, quando s é discreto. Esse é o caso, por
exemplo, de simetrias por reflexão em torno de um eixo ou da origem, ou por rotações
por múltiplos de um ângulo especificado. Para a relação com leis de conservação,
no entanto, vamos considerar simetrias contı́nuas, ou seja, em que o parâmetro de
simetria s pertence a algum subconjunto conexo de um espaço Euclidiano (ou alguma
variedade diferenciável, mais geralmente) . Por exemplo, no caso de translações no
tempo, s ∈ R; no caso de translações no espaço, s ∈ R3 ; no caso de rotações em torno
do eixo z, s ∈ R (ou, mais precisamente, o cı́rculo unitário S 1 ).
e, com isso,
d(Gθ (q))
=e×q
dθ
θ=0
Portanto, a quantidade conservada é
(e × q) · p = e · (q × p).
Esta é a projeção na direção e do momento angular q × p. Caso a simetria valha em
qualquer direção e, o próprio momento angular q × p é invariante.
3.2. Conservação a partir da simetria de translação no tempo. Esse caso
já foi essencialmente feito acima. Mas vamos considerar um Lagrangeano L = L(q, q̇)
sem nos preocuparmos com a estrutura dele. Vimos que a quantidade conservada é
∇q̇ L · q̇ − L.
De fato, derivando em relação ao tempo e usando que L independe explicitamente de
t, temos
d d
(∇q̇ L · q̇ − L) = ∇q̇ L · q̇ + ∇q̇ L · q̈ − ∇q L · q̇ − ∇q̇ L · q̈
dt dt
d
= ∇q̇ L · q̇ − ∇q L · q̇ = 0
dt
que se anula graças às equações de Euler-Lagrange. Como vimos acima, a expressão
conservada é exatamente a energia total no caso da energia potencial ser independente
de q̇. No caso geral,
E = ∇q̇ L · q̇ − L
deve ser interpretado como a energia total generalizada.
Caso o lagrangeano seja da forma L = L(t, q, q̇), ou seja, dependa explicitamente
de t, sem simetria por translação no tempo, então a quantidade acima não é mais
conservada. Mas temos a equação
d d ∂L
(∇q̇ L · q̇ − L) = ∇q̇ L · q̇ + ∇q̇ L · q̈ − · q̇ − ∇q L · q̇ − ∇q̇ L · q̈
dt dt ∂t
d
= ∇q̇ L · q̇ − ∇q L · q̇ − ∂t L · q̇ = 0.
dt
Ou seja,
dE ∂L
= · q̇.
dt ∂t
O termo à direita pode ser interpretado como uma potência generalizada sendo apli-
cada ao sistema.
CAPı́TULO 5
Potenciais de Forças
41
42 5. POTENCIAIS DE FORÇAS
2. Forças potenciais
Forças potenciais F(x) clássicas são do tipo gradiente, F(x) = −∇V (x), para
algum potencial V (x). Nem todas as forças são potenciais. Um exemplo tı́pico é o de
forças de atrito. Lembre-se que forças potenciais levam a sistemas com conservação
de energia total, enquanto que a experiência nos diz que o atrito causa uma perda
de energia. Em nı́vel molecular, há apenas uma transferência de energia, mas em
nı́vel macroscópico, há perda de energia. Campos eletromagnéticos não são potenciais
nesse sentido clássico, mas um campo potencial vetorial apropriado para a formulação
lagrangeana pode ser obtido.
3. Força gravitacional
A força gravitacional é potencial tanto para sistemas microscópicos quanto para
macroscópicos. Essa força é inversamente proporcional ao quadrado da distância,
com potencial
G X mi mj X mi mj
V (x) = = ,
2 i6=j |xj − xi | i<j
|x j − x i |
onde mi é a massa da partı́cula de coordenada (do centro de massa) xi , que pode
ser microscópico ou macroscópico, e G é a constante universal gravitacional. A força
exercida na i-ésima partı́cula é
X mi mj
Fi (x) = −∇xi V (x) = G (xj − xi ).
j6=i
|xj − xi |
Próximo à superfı́cie da Terra, podemos considerar a força gravitacional como
sendo simplesmente da forma −mg. O potencial, no caso, é V (h) = mgh, onde h é a
5. ATRAÇÕES MAGNÉTICAS 43
4. Campos eletrostáticos
A força eletrostática é semelhante à gravitacional, tendo o potencial de Coulomb
X qi qj
V (x) = − ,
i6=j
|xi − xj |
onde qi é a carga elétrica da partı́cula microscópica centrada em xi , no caso de
partı́culas elementares. A influência de estruturas macroscópicas no movimento de
partı́culas carregadas não precisa ser modelado microscópicamente. Ele pode ser rep-
resentada por um campo elétrico, dado por um campo de vetores E = E(x) e tal que
a força elétrica exercida em uma partı́cula de carga q é dada por
F(x) = qE(x).
Para campos eletrostáticos, temos a existência de um potencial V (x), tal que E(x) =
−∇V (x). No caso de duas placas planas paralelas de cargas contrárias, por exemplo,
como no caso de um capacitor plano, temos um campo elétrico uniforme (pelo menos
longe das bordas do capacitor), que pode ser representado por um vetor tridimensional
constante E0 , apontando no sentido da placa negativamente carregada para a placa
positivamente carregada. Uma partı́cula de carga q nesse campo elétrico sofre a ação
de uma força elétrica da forma F = qE0 . O potencial tem a forma V (x) = −qE0 · x.
5. Atrações magnéticas
A força de atração magnética é bastante semelhante à eletrostática. Certos corpos
magnéticos (que podem adquirir propriedades magnéticas) e magnetizantes (que já
possuem propriedades magnéticas, produzidas natural ou artificialmente) podem se
atrair ou se repelir, dependendo de suas naturezas e orientações.
Um corpo magnetizante aparece sempre na forma de um dipolo, com seus pólos
sendo classificados como norte e sul, por convenção. Dois corpos magnetizantes po-
dem se atrair, caso o pólo norte de um esteja mais próximo do pólo sul do outro,
ou se repelir, caso pólos iguais estejam mais próximos. Quando os dipolos estão
precisamente alinhandos, a força de atração ou de repulsão entre esses pólos tem
um magnitude bem definida, expressa pela fórmula também conhecida como lei de
Coulomb para massas magnéticas:
m1 m2
F =h 2 ,
r
44 5. POTENCIAIS DE FORÇAS
P fS
N S
+m0 −m0
6. Campos eletromagnéticos
Campos elétricos estáticos são sempre potenciais. Mas caso o campo elétrico não
seja estático, ele não será mais potencial no sentido clássico e teremos, também, a
presença de um campo magnético, logo um campo eletromagnético. Do ponto de vista
newtoniano, um campo eletromagnético (E, B), exerce uma força em uma particula
de carga q é chamada de força de Lorentz e que tem a forma
F(q̇) = q(E + ẋ × B).
Campos elétromagnéticos são regidos pelas leis de Maxwell:
∂E
ε + j = µ∇ × B,
∂t
∂B
= −∇ × E,
∂t
∇ · B = 0,
ε∇ · E = ρ,
7. Forças elásticas
Sistemas elásticos também podem tratados com campos de força. Em certos
sistemas elásticos, a força de restituição é proporcional ao deslocamento em relação
ao equilı́brio. Assim, a força é da forma F (d) = −κd, onde d é o deslocamento, e o
potencial é
1
V (d) = κd2 .
2
Este é chamado de potencial harmônico. Em muitos casos, porém, a força F (d) não
é harmônica e depende do deslocamento de forma não linear. De qualquer maneira,
sendo unidimensional, o potencial é uma primitiva V (d) de F (d). Por exemplo, a
chamada mola macia tem F (d) = −κ1 d + κ2 d3 , enquanto que a mola dura tem
F (d) = −κ1 d − κ2 d3 , com, respectivamente,
1 1 1 1
V (d) = κ1 d2 − κ2 d4 e V (d) = κ1 d2 + κ2 d4 .
2 4 2 4
8. Modelagem molecular
Alguns dos efeitos quânticos em modelagem molecular também podem ser aproxi-
mados por forças clássicas. Um exemplo importante é o do potencial 6/12 de Lennard-
Jones:
γ λ
V (x) = − 6 + 12 ,
r r
onde r é a distância entre dois átomos considerados na modelagem. O primeiro termo,
de atração, corresponde ao potencial de van der Waals. O segundo termo é incluı́do
com o objetivo de modelar uma força de repulsão entre as nuvens de elétrons causada
pelo princı́pio de exclusão de Pauli, assim como forças de repulsão entre os núcleos; a
potência 12 é uma aproximação. Uma aproximação melhor é dada pelo potencial de
Buckingham:
γ
V (x) = − 6 + λ1 eλ2 r .
r
A força de van der Waals está associada a flutuações na densidade de distribuição de
elétrons em torno do núcleo, gerando dipolos elétricos transientes. Esta é uma força
mais fraca que a eletrostática e que as pontes de hidrogênio, mas é importante entre
moléculas em equilı́brio eletrostático. Por exemplo, a eficiência de uma enzima pode
depender de uma grande quantidade de ligações do tipo van der Waals entre átomos
da enzima e átomos do substrato (a macromolécula em que a enzima deve agir).
Ligações quı́micas iônicas e covalentes também costumam ser tratadas com forças
elásticas, como molas vibrando em torno de uma posição de equilibrio. Essas ligações
podem gerar estruturas unidimensionais (uma ligação iônica ou covalente entre dois
átomos) ou multidimensionais, com formação de ângulos (duas ligações covalentes
consecutivas), e efeitos de torsão (três ligações covalentes consecutivas), por exem-
plo. As vibrações dos ângulos e das torsões também são modeladas como molas. A
48 5. POTENCIAIS DE FORÇAS
9. Corpos rı́gidos
A posição de um corpo rı́gido pode ser determinada a partir da posição de seu
centro de massa e de uma rotação do corpo em relação a algum eixo passando pelo
centro de massa. Vamos imaginar o corpo como sendo formado por diversas partı́culas
de massa mi localizadas em pontos xi . Tomamos um ponto de referência x0 relativo
ao corpo, que tanto pode ser um ponto do corpo, ou não. Em certos casos, será inter-
essante considerar x0 como o centro de massa do corpo rı́gido, mas não assumiremos
isso de inı́cio. Sendo o corpo rı́gido, o vetor posição relativa xi − x0 tem o mesmo
comprimento, independente da posição do objeto. Apenas a orientação de xi − x0
pode ser alterada. Essa alteração pode ser representada por uma rotação de um certo
ângulo em torno de um certo eixo. Isso pode ser representado por um vetor θ cuja
direção indica o eixo de rotação e a sua magnitude, a rotação, seguindo a convenção
da regra da mão direita.
Sendo o corpo rı́gido, as posições relativas xi − xj entre duas partı́culas quaisquer
também tem a mesma magnitude. Dessa forma, se uma partı́cula é movimentada de
tal forma que a posição em xi −x0 em relação ao ponto de referência é determinada por
uma rotação por θ, então todos as outras partı́culas também sofrerão um movimento
representado pela rotação de xj − x0 pelo mesmo θ.
Com isso, podemos considerar como coordenadas generalizadas de um corpo rı́gido
as variáveis (x0 , θ). O grau de liberdade para o movimento de um corpo rı́gido é,
portanto, seis. O movimento de cada partı́cula x1 pode ser dado em função de (x0 , θ)
pela expressão
xi (x0 , θ) = x0 + R(θ)ri ,
onde ri são vetores fixos representando as posições relativas das partı́culas em um
instante dado a priori (digamos, ri = xi (0) − x0 (0)). Temos,
ẋi = ẋ0 + θ̇ × R(θ)ri .
Assim, a energia cinética do sistema todo é
1X 1X
K(ẋ0 , θ̇) = mi |ẋi |2 = mi |ẋ0 + θ̇ × R(θ)ri |2 .
2 i 2 i
Sob a ação de uma força potencial Fi (x) = −∇xi V (x) agindo em cada partı́cula,
onde x = (xj )j temos o potencial
V (x0 , θ) = V ((x0 + R(θ)rj )j ).
9. CORPOS RÍGIDOS 49
como o momento linear do sistema de partı́culas e a primeira equação pode ser escrita
na forma
d X
P(x0 , θ, ẋ0 , θ̇) = Fi ((xj (x0 , θ)j ),
dt i
Assim,
X X
Fi ((xj (x0 , θ))j ) = Fext
i (xi ).
i i
Analogamente,
X X
R(θ)ri × Fi ((xj (x0 , θ))j ) = R(θ)ri × Fext
i (xi ).
i i
1. Pêndulo em rotação
ω
(a) (b)
PSfrag replacements
Nesse exemplo, uma massa está presa a uma haste rı́gida e tal que a outra ex-
tremidade da haste está presa a uma barra que gira transversalmente com velocidade
angular dada ω (figura 1). Esse é um caso em que o Lagrangeano nos dá a equação
de modo muito mais fácil do que através da lei de Newton.
A simetria nos leva à representação por coordenadas esféricas
com
θ̇ = ω
dado, de modo que
Temos
ẋ = lϕ̇ cos ϕ cos θ − lω sin ϕ sin θ,
ẏ = lϕ̇ cos ϕ sin θ + lω sin ϕ cos θ,
ż = lϕ̇ sin ϕ,
onde θ = θ0 + ωt.
O lagrangeano se reduz, então, a
1 1
L(ϕ, ϕ̇) = m(ẋ2 + ẏ 2 + ż 2 ) − mgz = ml2 (ϕ̇2 + ω 2 sin2 ϕ) + mgl cos ϕ.
2 2
Observe que a restrição x = X(t, q) acima inclui uma dependência temporal explı́cita,
mas essa dependência acabou sendo eliminada no lagrangeano restrito devido à iden-
tidade cos2 (θ0 + ωt) + sin2 (θ0 + ωt) = 1.
As derivadas parciais são
∇ϕ L(ϕ, ϕ̇) = ml2 ω 2 sin ϕ cos ϕ − mgl sin ϕ, ∇ϕ̇ L(ϕ, ϕ̇) = ml2 ϕ̇.
Com isso, a equação de Euler-Lagrange que rege o movimento do pêndulo em rotação
é
ml2 ϕ̈ − ml2 ω 2 sin ϕ cos ϕ + mgl sin ϕ = 0.
Para achar o sistema hamiltoniano associado podemos simplesmente introduzir
a velocidade ψ = ϕ0 e, nesse caso, o hamiltoniano fica claro. Mas vamos obter o
hamiltoniano através do lagrangeano, introduzindo o momento generalizado
π = ml2 ψ.
com o lagrangeano na forma
1
L(ϕ, ψ) = ml2 (ψ 2 + ω 2 sin2 ϕ) + mgl cos ϕ.
2
Temos, assim,
π
ψ = V (π) =
ml2
e o hamiltoniano
π2 1
H(ϕ, π) = πV (π) − L(ϕ, V (π)) = 2
− ml2 ω 2 sin2 ϕ − mgl cos ϕ.
2ml 2
O sistema hamiltoniano toma a forma
( π
ϕ̇ =
ml2
π̇ = ml2 ω 2 sin ϕ cos ϕ − mgl sin ϕ.
2. SISTEMA MASSA-MOLA-PÊNDULO TRIDIMENSIONAL 59
ϕ
r
z = h(x)
PSfrag replacements
Assim,
∇x L(x, ẋ) = mẋ2 h0 (x)h00 (x) − mgh0 (x), ∇ẋ L(x, ẋ) = mẋ(1 + h0 (x)2 ).
Nesse caso,
d
∇ẋ L(x, ẋ) = mẍ(1 + h0 (x)2 ) + 2mẋ2 h0 (x)h00 (x),
dt
e a equação de Euler-Lagrange para o movimento da bola é
mẍ(1 + h0 (x)2 ) + mẋ2 h0 (x)h00 (x) + mgh0 (x) = 0.
O hamiltoniano, por outro lado, não é tão fácil de obter apenas introduzindo v = ẋ
e tentando advinhar H. Mas podemos seguir a receita do lagrangeano e introduzir o
momento generalizado
p = mv(1 + h0 (x)2 ).
Resolvendo para v, temos
p
v = V (x, p) = .
m(1 + h0 (x)2 )
O hamiltoniano toma a forma
p2
H(x, p) = pV (x, p) − L(x, V (x, p)) = + mgh(x).
2m(1 + h0 (x)2 )
O sistema hamiltoniano fica sendo, então,
p
ẋ = m(1 + h0 (x)2 ) ,
p2 h0 (x)h00 (x)
ṗ
= − mgh0 (x).
m(1 + h0 (x)2 )2
6. Força centrı́fuga
A força centrı́fuga é uma força fictı́cia que aparece em referenciais não inerciais
associada a movimentos circulares. Para ilustrar, vamos considerar o movimento de
uma mola girante. Uma das extremidades da mola está fixa em um eixo que gira
com velocidade angular ω. A outra extremidade contém uma bola de massa m, cuja
posição, em um referencial girante, será dada em função do comprimento r da mola:
x = (x, y, z) = X(r) = (r cos ωt, r sin ωt, 0).
A energia cinética é
1 1
Kr (r) = m(ẋ2 + ẏ 2 ) = m(ṙ 2 + r 2 ω 2 ).
2 2
A energia potencial é dada pelo potencial elástico harmônico
1
V (r) = κ(r − r0 )2 ,
2
onde r0 é o comprimento de equilı́brio da mola.
7. FORÇA DE CORIOLIS 65
7. Força de Coriolis
PSfrag replacements
Suponha que um inseto de massa m esteja sob um prato que gira em torno do
seu centro de massa com velocidade angular ω (figura 6). O prato está paralelo
à superfı́cie da Terra, de modo que a força potencial acaba sendo balanceada pela
66 6. OUTROS EXEMPLOS DE MODELAGEM
força normal ao prato. A restrição, impondo um referencial não inercial girante com
velocidade angular ω, é
x = (x, y, z) = X(t, r, θ) = (r cos(ωt + θ), r sin(ωt + θ), 0)
O Lagrangeano é
1 1
L(r, θ̇) = m(ẋ2 + ẏ 2 + ż 2 ) − mgz = m(ṙ 2 + r 2 (ω + θ̇)2 ).
2 2
Temos
∇(r,θ) L(r, θ) = (mr(ω + θ 0 )2 , 0), ∇(ṙ,θ̇) L(r, θ) = (mṙ, mr 2 (ω + θ̇)).
As equações de Euler-Lagrange são
(mr̈, 2mr ṙ(ω + θ̇) + mr 2 θ̈) − (mr(ω + θ̇)2 , 0) = (0, 0),
o que dá o sistema
(
mr̈ = mr(ω + θ̇)2 = mrω 2 + 2m(ω + θ̇)r θ̇,
mr 2 θ̈ = −2mr ṙ(ω + θ̇).
Os diversos termos representam as seguintes forças fictı́cias
mrω 2 = força centrı́fuga da rotação do prato;
2m(ω + θ̇)r θ̇ = força de Coriolis na direção radial;
− 2m(ω + θ̇)r ṙ = força de Coriolis na direção rotacional.
Observe que do jeito que o problema foi formulado devemos pensar, na verdade, no
movimento de uma bola rolando sobre o prato. O movimento de um inseto deveria
levar em consideração a força de contato com o prato, que é uma força de atrito,
para manter o inseto na posição, se ele assim o desejar. No sistema acima, funções
constantes r(t) ≡ r0 e θ(t) ≡ θ0 não são admitidas como soluções.
ω
z
θ
ωt
PSfrag replacements
x
ϕ
PSfrag replacements
ψ
θ
e
Vamos denotar por θ o ângulo que o segundo cilindro percorreu a partir da posição
de equilı́brio e e o comprimento de arco deslocado dentro do cilindro maior. Como
não há deslizamento do cilindro menor em relação ao maior, temos
e = −rθ.
A linha entre os centros dos dois cilindros faz um ângulo ψ com a vertical. O arco
2r(ψ − ϕ) é o deslocamento e do segundo cilindro relativo ao primeiro, portanto,
θ = 2(ϕ − ψ).
Agora, imaginemos uma decomposição dos cilindros em um número par N de
massas radiais idênticas. Por exemplo, o cilindro externo pode ser escrito como uma
composição de partes com massas Mi = M/N e centros de massa
2πi
xei = x0 + (2r sin(ϕ + αi ), 0, −2r cos(ϕ + αi )), αi = , i = 1, . . . N,
N
onde
x0 = (d, 0, 2r)
é a posição do centro do cilindro. O cilindro interno pode ser escrito como uma
composição de partes com massas mi = m/N e centros de massa
2πi
xii = xψ + (r sin(θ + αi ), −r cos(θ + αi )), αi = , i = 1, . . . N,
N
9. MOVIMENTO DE UM CILINDRO DENTRO DE OUTRO 69
θ l
PSfrag replacements
B B
2r
Essa equação tem bastante semelhança com o pêndulo planar. Para A = A(·) con-
stante, as soluções são uma versão assimétrica das soluções do pêndulo planar, com
a assimetria aumentando à medida em que v0 se aproxima de c. Fisicamente, as
soluções periódicas correspondem a elétrons viajando em fase com a onda, ao passo
que elétrons mais energéticos podem viajar mais rápido que a onda e elétrons menos
energéticos, mais devagar.
Para A = A(·) crescente, à medida em que a amplitude vai aumentando, a região
de soluções periódicas vai aumentando e elétrons com menos energia vão sendo cap-
turadas para viajarem em fase com a onda. Caso A = A(·) seja periódico, elétrons
mudam de comportamento de “fora de fase” para “em fase” e vice-versa. Dependendo
do perı́do da modulação, comportamentos caóticos podem aparecer.
Observe que o fato de ∂θ L ser nulo implica em que ∂θ̇ L deve ser constante ao longo
do movimento. O fato da segunda equação de Euler-Lagrange ser integrável é reflexo
disso. Temos, então, mr 2 θ̇ constante para cada solução. Fazendo
r 2 θ̇ = µ,
obtemos uma única equação de segunda ordem para r:
µ2 GM
r̈ = − 2 .
r3 r
Esse sistema pode ser resolvido explicitamente, tendo as cônicas como soluções. É
possı́vel chegar a esse sistema a partir das equações cartesianos tridimensionais e
usando simetrias como conservação do centro de massa, conservação do momento
angular e um certo plano de simetria definido pelo vetor velocidade inicial e o vetor
posição do satélite. Mas a formulação acima simplifica bastante essas contas.
e, ainda, para que os movimentos dos corpos sejam extremamente complicados. Este
sistema está, de fato, na origem da teoria que hoje chamamos de sistemas dinâmicos e
considerada como tendo nascido justamente a partir dos trabalhos de Poincaré sobre
esse sistema. Uma série convergente para as soluções desse problema foi finalmente
estabelecida no final do século XX, mas isso não resolveu o problema no sentido de
explicitar as soluções do sistema. O sistema apresenta comportamentos caóticos, com
soluções complicadas, sensı́veis às condições iniciais e imprevisı́veis a longo prazo.
P2
S
r
θ
P1
R
∇(r,θ) L
2 GmM1 2GmM2 (r − R cos θ) 2GmM2 R sin θ
= mr(θ̇ + ω) − − 2 ,−
r2 (r + R2 − 2rR cos θ)2 (r 2 + R2 − 2rR cos θ)2
e
∇(ṙ,θ̇) L = (mṙ, mr 2 (θ̇ + ω)).
15. MOVIMENTO RESTRITO DE TRÊS CORPOS 77
2GmM2 R sin θ
mr 2 θ̈ + 2mr ṙ(θ̇ + ω) = −
.
(r 2 + R2 − 2rR cos θ)2
A única quantidade conservada desse sistema é a energia total,
E(t, r, θ, ṙ, θ̇) = K(r, ṙ, θ̇) + V (t, r, θ)
m GmM1 GmM2
= (ṙ 2 + r 2 (θ̇ + ω)2 ) − − 2 .
2 r r + R2 − 2rR cos θ
Como é um sistema de duas equações de segunda ordem, suas soluções vivem natu-
ralmente em um espaço de quatro dimensões. Com a conservação de energia, cada
solução está restrita a uma “superfı́cie” de três dimensões. As várias soluções em
cada superfı́cie tem liberdade suficiente para apresentar comportamentos complica-
dos, caóticos.
Bibliografia
[1] F. Acker e F. Dickstein, Uma Introdução à Análise Convexa, 14. o Colóquio Brasileiro de
Matemática, IMPA, Rio de Janeiro, 1983.
[2] V. I. Arnold, Mathematical Methods of Classical Mechanics (Graduate Texts in Mathematics
Vol. 60), Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg, 2000.
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unpublished.
[4] H. M. Nussenzveig, Curso de Fı́sica Básica, 1 - Mecânica, Ed. Edgard Blücher Ltda, São Paulo,
1981.
[5] T. Schlick, Molecular Modeling and Simulation. An Interdisciplinary Guide, Interdisciplinary
Applied Mathematics, Vol. 21, Springer-Verlag, New York, 2002.
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