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Recriar a vida por adição de sais metálicos: não foi necessário mais do que a
imprensa anglo-saxã para consagrar, em numerosas colunas, Stéphane Leduc.
Este professor de física médica é um verdadeiro toca-em-tudo. Desde do início de
sua carreira, ele dirigiu seus trabalhos sobre os efeitos das correntes elétricas
sobre os organismos, explorou o papel dos íons ... No início do século XX, eis que
ele desenvolve uma teoria sedutora: ele estava convencido que a vida tinha
surgido a partir do encontro de substâncias químicas minerais. No seu laboratório
da escola de medicina de Nantes, ele tenta, então, imitar os seres vivos.
Depositando sais metálicos em soluções de carbonato de potássio, o
“eminente médico francês”, como foi chamado pela Scientific American, obtém
células artificiais “mais reais que as naturais”. Elas são contornadas de uma
membrana semi-permeável (ou osmótica) que deixam passar a água. De um
golpe, as células crescem à olhos nus, podendo alcançar vários centímetros. “E
*
Tradução de Marlise A.V. Araújo
1
Professor de química no Departamento de Estudos Cognitivos da École Normale Superieur,
Paris. Atomes.crochus@ens.fr
2
Mestre de Conferências em química teórica na Universidade de Pau e dos Países d’Adour.
Clovis.darrigan@univ-pau.fr
muito repentinamente [...], explica Leduc, a primeira célula dá origem a uma
segunda [...], esta a uma terceira e assim por diante, gerando um conjunto de
cavidades celulares microscópicas separadas por tabiques osmóticos”. Uma
estrutura análoga, segundo o cientista, a que constitue os seres vivos. “ os
milhões de formas efêmeras devem ter sido formadas assim para gerar a atual
natureza”
Para prová-lo, Leduc se dedicou a misturar todo tipo de sal com soluções
variadas. Suas criações ganharam aspectos de cogumelos, de brotamentos, de
amebas. “Não há, acredito, nenhum espetáculo mais extraordinário e esclarecedor
que este de um crescimento osmótico”, se entusiasma um antigo membro da
Sociedade Real de Medicina, W. Deane Butcher, no seu prefácio para o livro de
Leduc The Mechanisms of Live. “Elas imitam as formas, as cores, as texturas e
mesmo a estrutura microscópica de um crescimento orgânico, de maneira tão
perfeita que derrubam até mesmo os eleitos.”
De fato, para muitos, Leduc esclareceu a natureza e a origem da vida.
“[Seus] modelos, escreveu Evelyn Fox Keller no seu livro Expliquer la vie,
respondendo a uma necessidade amplamente sentida na época, [...]: eles
demonstram que as formas complexas podem ser engendradas por processos
físico-químicos bem identificados.”
Mas seus trabalhos foram rapidamente contestados. Em 1907, Henri Bergson
se contrapôs à Leduc com a sua obra Évolution créatrice. Vinte anos mais tarde,
Édouard Leroy, do Collège de France, escrevia sobre a matéria de suas teorias:
“Não se pode imitar a vida, mesmo de longe. [...] Os efeitos da osmose [não]
agregam mais significação ao problema [do nascimento da vida] que as flores ou
ramos de gelo desenhados sobre as vidraças de uma janela, num dia de inverno.”
As idéias de Leduc foram em seguida varridas por novos conhecimentos sobre a
origem da vida, resultados da química, da astronomia e da genética. Não restaram
que seus estranhos jardins químicos, fotografados em preto e branco.
MODO DE FAZER