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se Você é de Fato
um Cristão Autêntico
Jonathan Edwards
"Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem." (Tiago 2.19)
Como é que você sabe se você pertence a Deus? Vemos, nas palavras acima, um
argumento que algumas pessoas usam para comprovar que são aceitas por Deus.
Algumas pessoas pensam que estão bem com Deus se não forem tão ruins como
as outras pessoas más. Outras recorrem a seu histórico familiar ou ao fato de que são
membros de igreja para mostrar que são aprovadas diante de Deus.
Há um método evangelístico muito usado que faz algumas perguntas às pessoas.
Uma das perguntas é: "Imagine que você morra hoje. Por que razão Deus admitiria você
no céu?" Uma resposta muito comum é: "Porque eu creio em Deus". Parece que o
apóstolo Tiago conhecia pessoas que diziam essa mesma coisa: Sei que conto com o
favor de Deus porque conheço essas doutrinas da religião.
É evidente que Tiago reconhece que esse conhecimento é coisa boa. Não somente
é algo bom, mas é também necessário. Ninguém pode tornar-se cristão se não crê em
Deus; mais especificamente, no Único e Verdadeiro Deus. Isso era especialmente
verdade para aqueles que tinham o grande privilégio de conhecer o apóstolo, o qual
podia falar-lhes em primeira mão das experiências que tivera com Jesus, o Filho de
Deus. Quão grande pecado seria se alguém que conhecesse Tiago se recusasse a crer em
Deus! Isso sem dúvida tornaria mais grave a condenação dessas pessoas. Qualquer
cristão, sem dúvida, reconhece que esse crer no Único Deus é apenas o começo das boas
coisas, porque "é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e
que se torna galardoador dos que o buscam" (Hb 11.6).
Contudo, Tiago deixa evidente que, embora essa fé seja algo bom, definitivamente
não é prova de que a pessoa está salva. O que ele quer dizer é isto: "Você diz que é um
cristão e que goza do favor de Deus. Você pensa que Deus vai admiti-lo no céu, e que a
prova disso é que você crê em Deus. Mas isso não prova nada, porque os demônios
também crêem, e eles com toda certeza vão ser punidos no inferno". Os demônios
crêem em Deus — você pode estar certo disso! Eles não só crêem que Ele existe, mas
também crêem que Deus é um Deus santo, um Deus que odeia o pecado, um Deus
verdadeiro, que prometeu julgamentos, e que há de executar sua vingança contra os
demônios. É por essa razão que os demônios "tremem" com horror — eles conhecem a
Deus melhor do que a maioria dos seres humanos, e estão apavorados.
Como Saber se Você é de Fato um Cristão Autêntico — Jonathan Edwards -2-
pessoalmente ao trabalho de Cristo, e é para o seu tormento e angústia que ele viu o
trabalho de Cristo ser coroado de êxito.
Satanás, então, conhece muito a respeito de Deus e do trabalho de Deus. Ele
conhece o céu pessoalmente. Ele conhece também o inferno, com conhecimento
pessoal como seu primeiro habitante, e tem experimentado o seu tormento durante
todos esses milhares de anos. Ele deve ter um grande conhecimento da Bíblia: pelo
menos, podemos ver que ele conhece o suficiente para tentar nosso Salvador.
Além disso, ele tem tido anos de estudo do coração dos homens, seu campo de
batalha contra nosso Redentor. Quanto esforço, quanto empenho e quanto cuidado o
diabo empregou através dos séculos à medida que enganou os homens. Somente um ser
com o conhecimento dele e a noção que ele tem da ação de Deus e do coração humano,
poderia imitar de tal forma a verdadeira religião e transformar-se num anjo de luz (2 Co
11.14). É por essa razão que podemos ver que não há conhecimento de Deus e da
religião, em qualquer quantidade que seja, que pode provar que uma pessoa tenha sido
salva de seu pecado.
Um homem pode conversar sobre a Bíblia, sobre Deus e sobre a Trindade. Ele
pode ser hábil o suficiente para pregar um sermão sobre Jesus Cristo e tudo o que Ele
fez. Pense só, alguém pode ser hábil o suficiente para conversar sobre o caminho da
salvação e sobre a obra do Espírito Santo no coração dos pecadores, talvez até seja
capaz de mostrar aos outros como tornar-se cristão. Tudo isso pode edificar a igreja e
iluminar o mundo, mas isso não é uma prova segura da graça salvadora de Deus no
coração de um homem.
Também é possível constatar que o simples fato de as pessoas concordarem com
a Bíblia não é um sinal seguro de salvação. Tiago 2.19 mostra que os demônios de fato,
verdadeiramente, crêem na verdade. Exatamente como eles crêem que Deus é Um, eles
concordam com toda a verdade da Bíblia. O diabo não é um herético: todos os seus
artigos de fé estão firmemente estabelecidos sobre a verdade.
É preciso compreender que, quando a Bíblia fala sobre crer que Jesus é o Filho de
Deus, como uma prova da graça de Deus no coração, a Bíblia não quer dizer um mero
consentimento com a verdade, mas um outro tipo de crença. "Todo aquele que crê que
Jesus é o Cristo é nascido de Deus" (1 Jo 5.1). Esse outro tipo de fé é chamado "a fé que
é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade" (Tt 1.1).
Há um poder espiritual relacionado à verdade, que explicaremos mais adiante. Algumas
pessoas têm experiências religiosas muito fortes, e as consideram como prova da obra
de Deus no seu coração. Muitas vezes, essas experiências dão às pessoas um senso da
importância do mundo espiritual, e da realidade das coisas de Deus.
Contudo, essas experiências, também, não são provas infalíveis de salvação. Tanto
os demônios como homens condenados ao inferno têm muitas experiências espirituais
que têm grande efeito em suas atitudes íntimas do coração. Eles vivem no mundo
espiritual e vêem pessoalmente como é esse mundo. Os sofrimentos deles lhes mostram
o valor da salvação e o valor da alma humana, da forma mais poderosa que se pode
imaginar.
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Mas podemos observar que os homens neste mundo podem ter experiências do
mesmo tipo das experiências dos demônios e os condenados. Elas têm a mesma
disposição mental, as mesmas opiniões e emoções, e a mesma espécie de impressões
mentais e no coração. Observe que, para o apóstolo Tiago, isso é um argumento
convincente. Ele afirma que, se as pessoas pensam que acreditar em Deus é prova da
graça de Deus, isso não é prova, porque os demônios também crêem a mesma coisa.
Tiago não está se referindo ao mero ato de crer, mas também às emoções e ações que
acompanham essa fé.
Tremer é um exemplo de emoção que vem do coração. Isso revela que, se as
pessoas têm a mesma disposição mental, e reagem de coração da mesma forma, isso
tudo não é um sinal seguro da graça de Deus. A Bíblia não define o quanto as pessoas
deste mundo podem ver a glória de Deus, e contudo não ter a graça de Deus em seus
corações. Não nos é dito exatamente a intensidade com que Deus Se revela a certas
pessoas, e quanto elas corresponderão em seu coração. É muito tentador dizer que, se
uma pessoa tem certa quantidade de experiência religiosa, ou certa quantidade de
verdade, ela certamente deve ser salva. Talvez seja possível até mesmo que alguma
pessoa não-salva tenha experiências maiores do que alguns dos que têm graça em seu
coração!
Desta forma, é errado considerar experiência ou conhecimento em termos de
quantidade. Os homens que têm uma obra genuína do Espírito Santo no coração têm
experiências e conhecimento de uma espécie diferente. A esta altura, talvez alguém
responda a esses pensamentos dizendo: "Concordo com você. Vejo que crer em Deus,
ver Sua majestade e santidade, e saber que Jesus morreu pelos pecadores não é prova da
graça em meu coração. Concordo que os demônios podem conhecer essas coisas
também. Mas eu tenho algumas coisas que eles não têm. Tenho alegria, paz, e amor. Os
demônios não podem ter isso, de forma que isso é prova de que eu sou salvo". Certo, é
verdade que você tem alguma coisa a mais que o demônio não pode ter, mas isso não é
nada melhor do que o demônio poderia ter. A experiência que a pessoa tem de amor,
alegria, etc., pode ocorrer não porque ela tem dentro de si algo que o demônio não tem,
mas apenas por causa de circunstâncias diferentes. As causas, ou origens desses
sentimentos são os mesmos. É por isso que essas experiências não são melhores do que
as dos demônios.
Deixem-me explicar melhor: Todas as coisas que discutimos anteriormente sobre
demônios e pessoas condenadas, provêm de duas causas principais: entendimento
natural e amor-próprio. Quando pensam a respeito de si mesmos, essas duas coisas são
as que determinam os seus sentimentos e reações. O entendimento natural lhes mostra
que Deus é santo, enquanto eles são perversos. Deus é infinito, mas eles são limitados.
Deus é poderoso, e eles são fracos. O amor-próprio lhes dá o senso da importância da
religião, do mundo eterno, e um desejo pela salvação.
Quando essas duas causas operam juntas, tanto os demônios quanto os
condenados tornam-se cônscios da apavorante majestade de Deus, que eles sabem que
será Aquele que vai julgá-los. Eles sabem que o julgamento de Deus será perfeito e que a
sua punição será para sempre. Por isso, essas duas causas juntamente com o que eles
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sentem haverão de gerar a sua angústia naquele dia de juízo, quando eles verão a glória
de Cristo e dos Seus santos.
A razão porque muitas pessoas sentem alegria, paz e amor, hoje, embora os
demônios não sintam isso, pode ser mais devido a suas circunstâncias, do que à
diferença em seus corações. As causas em seus corações são as mesmas. Por exemplo, o
Espírito Santo está agora operando no mundo guardando toda a humanidade de tornar-
se tão perversa quanto poderia ser (2 Ts 2.17). Isso é diferente dos demônios, que são
tão perversos quanto podem ser, o tempo todo. Além do mais, Deus em Sua
misericórdia concede dons às pessoas, como chuva para as colheitas (Mt 5.45), calor do
sol, etc.
Não apenas isso, mas freqüentemente as pessoas recebem muitas coisas nesta vida
que lhes trazem alegria, como relacionamentos pessoais, prazeres, música, saúde, e assim
por diante. Mais importante que isso tudo, há muitas pessoas que têm ouvido novas de
esperança: Deus enviou um Salvador — Jesus Cristo — que morreu para salvar
pecadores. Nessas circunstâncias, o entendimento natural das pessoas pode fazer com
que elas sintam coisas que os demônios não podem sentir nunca.
O amor-próprio é uma força poderosa no coração dos homens, forte o suficiente
sem a graça para levar as pessoas a amar aqueles que as amam. "Se amais os que vos
amam, qual é a vossa recompensa: Porque até os pecadores amam aos que os amam" (Lc
6.32). É algo natural uma pessoa sentir-se segura do amor de Deus por si, ao ver Deus
ser misericordioso, e saber que ela não é tão má quanto poderia ser. Se o seu amor por
Deus provém apenas dos seus sentimentos de que Deus o ama, ou porque você ouviu
que Cristo morreu por você, ou algo parecido, a fonte do seu amor a Deus é unicamente
amor-próprio.
Isso impera no coração dos demônios também. Pense na situação dos demônios.
Eles sabem que não têm limites na sua perversidade. Eles sabem que Deus é seu inimigo
e tudo que os espera no futuro. Embora estejam completamente sem nenhuma
esperança, continuam ativos e lutando. Pense, o que seria se eles tivessem um pouquinho
da esperança que as pessoas têm? O que seria se os demônios, com o conhecimento que
têm de Deus, tivessem sua perversidade restringida? Pense se um demônio, depois de
todo o seu medo sobre o julgamento de Deus, fosse de repente autorizado a pensar que
Deus poderia ser seu Amigo? Que Deus poderia perdoá-lo e deixá-lo, com pecado e
tudo, entrar no céu? Oh, a alegria, a admiração, a gratidão que veríamos! Não se tornaria
esse demônio alguém de grande amor a Deus, como qualquer pessoa que ama as pessoas
de quem recebe ajuda? O que mais poderia causar sentimentos tão poderosos e sinceros?
Será de admirar que tantas pessoas são enganadas nisso? Especialmente porque são os
demônios que promovem essa ilusão. Eles têm promovido isso por muitos séculos e,
infelizmente, são muito bons nisso.
Chegamos, agora, à pergunta: Se todas essas variadas experiências e sentimentos
procedem de nenhum outro lugar senão dos demônios, qual é o tipo de experiência
então que é verdadeiramente espiritual e santa? O que é que eu tenho de encontrar
dentro de meu coração como sinal seguro da graça de Deus nele? O que é que indica que
esses sinais são do Espírito Santo?
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Aqui está a resposta: esses sentimentos e experiências que são bons sinais da graça
de Deus no coração diferem da experiência dos demônios tanto na sua origem como nos
seus resultados. A sua origem é o senso da esmagadora beleza santa e amabilidade das
coisas de Deus. Quando uma pessoa compreende em sua mente, ou melhor ainda,
quando ela sente o próprio coração cativo pela atração Divina, isso é um inconfundível
sinal da obra de Deus.
Os demônios e os condenados do inferno não conhecem, e nunca hão de
experimentar nada disso. Antes de cair, os demônios tinham esse senso de Deus. Mas
quando caíram, perderam isso, a única coisa que eles nunca deviam ter perdido do
conhecimento que eles tinham de Deus. Já vimos como os demônios têm uma idéia bem
clara sobre quão poderoso Deus é, sua justiça, santidade, e assim por diante. Eles
conhecem muitos fatos a respeito de Deus. Mas agora eles não têm a mínima noção de
como é Deus. Eles não podem saber como Deus é, não mais do que um cego pode
saber sobre cores!
Os demônios podem ter um forte senso da terrível majestade de Deus, mas eles
não vêem a sua amabilidade. Eles têm observado a Sua obra em favor da raça humana
através desses milhares de anos, com a maior atenção; mas não tiveram nunca a mais
vaga noção da Sua beleza. Não importa o quanto conheçam sobre Deus (e já vimos que
eles de fato conhecem muito), o conhecimento que eles têm nunca os trará ao elevado e
espiritual conhecimento de como Deus é. Pelo contrário, quanto mais eles sabem sobre
Deus, mais eles O odeiam. A beleza de Deus consiste primariamente na sua santidade,
ou na Sua excelência moral, e isso é o que eles mais odeiam. É porque Deus é santo que
os demônios O odeiam.
Talvez alguém pense que, se Deus fosse menos santo, os demônios O odiariam
menos. Não há dúvida que os demônios odiariam qualquer Ser santo, não importando a
que Ele se assemelhasse anteriormente. Mas com certeza eles odeiam esse Ser mais do
que tudo, por ser infinitamente santo, infinitamente sábio, e infinitamente poderoso! Os
condenados, inclusive os que ainda vivem hoje, no dia do juízo, verão tudo o que se
pode ver de Jesus Cristo, menos a Sua beleza e amabilidade. Não há nada a respeito de
Cristo que possamos imaginar que não será apresentado diante deles na mais forte luz
daquele dia esplendoroso. Os perversos verão Jesus "vir nas nuvens, com grande poder
e glória" (Mc 13.26). Verão a sua glória exterior, a qual é muito, muito maior do que
podemos imaginar agora. Os perversos serão completamente convencidos de tudo que
Cristo é. Serão convencidos de Sua onisciência, à medida que seus pecados forem
expostos e julgados. Conhecerão pessoalmente a justiça de Cristo, à medida que a sua
sentença for anunciada. Sua autoridade será completamente evidente quando todo joelho
se dobrar, e toda língua confessar Jesus como Senhor (Fp 2.10,11). A divina majestade
lhes será evidente de tal forma, que os perversos irão por si mesmos ao inferno, e
entrarão no seu estado final de sofrimento e morte (Ap 20.14,15). Quando isso
acontecer, todo o seu conhecimento de Deus, por mais verdadeiro e poderoso que possa
ser, de nada valerá, e menos do que nada, porque não verão a beleza de Cristo.
Por isso, é essa visão da amabilidade de Cristo que faz a diferença entre a graça
salvadora do Espírito Santo, e as experiências dos demônios. É essa visão, esse senso
que torna diferente a experiência cristã autêntica de tudo o mais. A fé do povo eleito de
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Deus se baseia nisso. Quando uma pessoa vê a excelência do evangelho, ela sente a
beleza e a amabilidade do plano divino de salvação. Sua mente é convencida de que isso
é de Deus, e ela crê nisso de todo o coração. Como o apóstolo Paulo diz em 2 Co 4.3,4:
"Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está
encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que
lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus".
Como já dissemos antes, os descrentes podem ver que há um evangelho, e entender os
fatos acerca dele, mas não vêem a sua luz. A luz do evangelho é a glória de Cristo, sua
santidade e beleza. Logo após isso, lemos em 2 Co 4.6: "Porque Deus, que disse: Das
trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação
do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo".
De forma clara, é essa divina luz, iluminando nosso corações, que nos capacita a
ver a beleza do evangelho e a ter fé salvadora em Cristo. Essa luz sobrenatural nos
mostra a suprema beleza e amabilidade de Jesus, e nos convence da Sua suficiência como
nosso Salvador. Somente um glorioso e majestoso Salvador como esse pode ser nosso
Mediador, colocando-se entre pecadores culpados, merecedores do inferno, como nós
somos, e um Deus infinitamente santo. Essa luz sobrenatural nos dá um senso de Cristo
que nos convence de uma forma que nada mais poderia fazer.
Quando um pecador perverso é levado a ver a divina amabilidade de Cristo, ele
não mais especula por que será que Deus está interessado nele, para salvá-lo. Antes
disso, ele poderia não entender como o sangue de Cristo poderia pagar a penalidade dos
pecados. Mas agora ele pode ver a preciosidade do sangue de Cristo, e como ele é digno
de ser aceito como libertação para o pior dos pecados. Agora a alma pode reconhecer
que é aceita por Deus, não por aquilo que ela é, mas por causa do valor que Deus dá ao
sangue, à obediência, e à intercessão de Cristo.
Ver esse valor e dignidade dá à pobre alma culpada o descanso que não se pode
encontrar em nenhum sermão ou livro. Quando uma pessoa chega a ver o fundamento
adequado da fé e da confiança com seus próprios olhos, isso é fé salvadora. "De fato, a
vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna"
(Jo 6.40). "Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu
mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. Agora, eles reconhecem que todas as
coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho transmitido as palavras que
me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que
tu me enviaste" (Jo 17.6-8).
É essa visão da beleza divina de Cristo que cativa a vontade e atrai o coração dos
homens. Uma visão da manifesta grandeza de Deus e Sua glória pode aterrorizar os
homens, e ser mais do que eles podem suportar. Isso se verá no dia do juízo, quando os
perversos serão trazidos diante de Deus. Eles serão aterrorizados, sim, mas a hostilidade
do coração permanecerá com força total e a oposição da vontade continuará.
Mas por outro lado, um simples raio da glória moral e espiritual de Deus e da
suprema amabilidade de Cristo brilhando no coração vence toda a hostilidade. A alma se
inclina para amar a Deus como se fosse movida por um poder onipotente, de tal forma
que agora não apenas o entendimento, mas o ser inteiro recebe e abraça o amado
Como Saber se Você é de Fato um Cristão Autêntico — Jonathan Edwards - 10 -
sem as obras é inoperante?" (Tg 2.19,20). Em outras palavras, obras — ou boas obras —
são evidência de uma experiência genuína da graça de Deus no coração. "Ora, sabemos
que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz:
Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a
verdade" (1 Jo 2.3,4).
Quando o coração foi cativado pela beleza de Cristo, de que outra forma ele pode
reagir? Quão excelente é essa bondade interior e essa religião verdadeira que vêm da
visão da beleza de Cristo! Eis aqui as mais maravilhosas experiências dos santos e dos
anjos do céu. Aqui temos a suprema experiência do próprio Senhor Jesus Cristo.
Embora sejamos meras criaturas, essa é uma espécie de participação da beleza do
próprio Deus. "...pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes
promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina" (2 Pe 1.4).
"Deus... nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua
santidade" (Hb 12.10). Em razão do poder dessa divina operação, há uma mútua
habitação de Deus em Seu povo e de Seu povo nEle. "Deus é amor, e aquele que
permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele" (1 Jo 4.16).
Esse relacionamento especial há de tornar a pessoa envolvida tão feliz e tão
abençoada quanto é possível alguém ser nesta vida. Essa é uma dádiva especial de Deus,
que Ele dá apenas a seus favoritos. Ouro, prata, diamantes e reinos terrenos são dados
por Deus às pessoas que a Bíblia chama de cães e porcos. Mas essa grande dádiva de
vislumbrar a beleza de Cristo, é a bênção especial de Deus a Seus amados filhos. Nem
carne nem sangue podem conceder essa dádiva: somente Deus pode dá-la. Foi por essa
dádiva especial que Cristo morreu, para obtê-la para seus eleitos. Ela é o mais alto
indício do seu amor eterno, o melhor fruto do seu penoso trabalho, e a mais preciosa
aquisição do seu sangue.
É através dessa dádiva, mais do que através de qualquer outra coisa, que os santos
resplandecem como luzeiros neste mundo. Essa dádiva, mais do que qualquer outra
coisa, é o conforto deles. É impossível que a alma que possui essa dádiva possa perecer,
jamais! Essa é a dádiva da vida eterna. É o início da vida eterna: os que a possuem não
podem morrer nunca. É o raiar da luz da glória. Ela vem do céu, tem qualidades
celestiais, e conduzirá seu possuidor ao céu. Aqueles que possuem essa dádiva talvez
vagueiem pelo deserto ou sejam agitados pelas ondas do mar, mas por fim hão de chegar
ao céu. Ali a centelha celestial será aumentada e aperfeiçoada. No céu, a alma dos santos
será transformada numa chama brilhante e pura, e eles reluzirão como o sol no reino do
seu Pai. Amém.
Este artigo originalmente chamava-se Distinção entre a Graça Verdadeira e as Experiências dos Demônios, escrito por Jonathan
Edwards, em 1752. Esta versão em linguagem moderna é de 1994, e tem copyright de William Carson. Concede-se permissão para
reproduzi-lo, com as seguintes condições: não alterar o texto, incluir esta nota final em toda e qualquer reprodução, e que o texto
não seja nunca usado para obter lucro.
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