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ERGONOMIA E CONSTRUÇÃO: UMA REVISÃO DOS RISCOS

PRESENTES NA ETAPA DE ESTRUTURA DAS EDIFICAÇÕES

Luciana Sobreira de Mesquita

Cristiana Cartaxo

Carmen Almeida Lyra Nóbrega

Universidade Federal da Paraíba Campus I Departamento de Engenharia de Produção Cx. Postal 5045,
CEP: 58039 970. João Pessoa/PB E-mail: jeint@netwaybbs.com.br

Abstract

This article rewies ergomics risks in the edification construction, especially in the
srtuctural work. It is from, simultaneously, published literature and from an investigation
in the construction of the building.

Key-words: edification construction, ergonomics, risks.

1) INTRODUÇÃO

A construção civil exerce um importante papel social no país por absorver uma
boa percentagem da mão-de-obra nacional. Divide-se em: construção pesada, obras de
arte e edificações. O sub-setor edificações merece destaque pois representa isoladamente
cerca de 30% das obras do setor, empregando, portanto, a maioria dos trabalhadores dessa
indústria.
Essa mão-de-obra apresenta, entretanto, baixa qualificação e baixo grau de
instrução formal, sendo oriunda, em sua maioria, da área rural, estando sujeita a situações
de trabalho adversas.
O processo produtivo na construção civil é realizado ao ar livre, ficando o
trabalhador exposto aos efeitos das intempéries. O trabalho é predominantemente manual,
forçando o operário a exercer um grande esforço físico,
Esses operários assumem ao longo de sua jornada de trabalho posturas inconvenientes, o
que representa problemas sérios para o futuro, além disso os movimentos são repetitivos e
alguns equipamentos utilizados apresentam índices elevados de ruídos.
Algumas pesquisas referentes à ergonomia na construção civil já existem, o que é
importante para melhorar as condições de trabalho dos operários do setor e
consequentemente a qualidade dos serviços executados. Entretanto, ainda há uma grande
carência de estudos nessa área de conhecimentos.
Nesse sentido, procurou-se fazer uma revisão dos riscos ergonômicos na etapa de
estrutura, uma vez que esta é uma das mais importantes fases da construção de um
edifício.

2) PROCESSO PRODUTIVO DAS EDIFICAÇÕES CIVIS.

O processo produtivo da construção de edifícios é bastante diversificado e


complexo, sendo composto de várias etapas, sendo as principais: fundação, estrutura,
elevação e acabamento.
Fundação é a parte de uma estrutura que transmite ao terreno o peso
próprio da obra. Para a escolha do tipo de fundação, é necessário calcular as cargas
atuantes sobre a mesma e estudar o terreno, ou seja, verificar a capacidade de carga que o
subsolo suporta. Os tipos de fundações podem ser divididos em 2 grupos: fundações
superficiais e fundações profundas.
As fundações superficiais são empregadas onde as camadas do subsolo
imediatamente abaixo das estruturas são capazes de suportar as cargas; e as profundas,
quando se necessita recorrer a camadas profundas mais resistentes.
AZEREDO (1977) subdivide os tipos de fundações da seguinte forma:
* SUPERFICIAIS OU DIRETAS - sapatas corridas
- sapatas isoladas
* PROFUNDAS OU INDIRETAS - estacas
- tubulões
Para a execução da fundação de uma obra, inicialmente, limpa-se o
terreno de toda vegetação e entulho nele existente; loca-se a obra, ou seja, marca-se no
terreno seguindo rigorosamente as indicações da planta baixa, a situação exata da futura
construção, para, a partir daí, começar a abertura das valas de fundação.
Com o objetivo de distribuir sobre a fundação as cargas que o edifício tiver
que suportar, são executados abaixo do nível do solo, obras de alvenaria, que são os
alicerces. E, até a altura dos mesmos, em todo o perímetro da obra, deverá haver um
aterramento, com areia devidamente compactada.
A estrutura compreende os pilares, vigas e lajes. Antes da concretagem,
coloca-se, primeiramente, as formas e ferragens de acordo com as especificações do
projeto estrutural e, em seguida, coloca-se os condutos e as caixas de passagem para os
pontos de iluminação. O eletricista deverá executar este serviço, concomitantemente, com
o armador, obedecendo as plantas de distribuição de circuitos do projeto elétrico, tendo o
cuidado de vedar bem todas as aberturas de tubos e caixas, para que durante o enchimento
das formas, não penetre concreto em seu interior.
Durante a concretagem, utilizam-se vibradores elétricos, tomando-se
precauções para não haver segregação dos materiais constituintes do concreto.
Em edifícios de grande porte, geralmente é usado o concreto usinado, ao
invés de prepará-lo na obra, verificando, anteriormente, qual dos métodos será mais
viável financeiramente, para cada construção a ser executada. O concreto usinado é um
serviço terceirizado para a construção civil; são empresas que fornecem o concreto até o
canteiro em caminhões-betoneira, sendo responsáveis também pelo seu lançamento,
juntamente com os serventes.
A elevação é o levantamento das paredes, obedecendo a planta construtiva
nas suas posições e espessuras, deixando em aberto os vãos das portas e janelas. As
paredes podem ser apenas elementos de vedação, como podem ter finalidade estrutural.
O acabamento é a quarta e última etapa, subdividindo-se em sete fases:
1. Instalações: - elétrica
- hidro-sanitária
- telefônica
2. Recobrimento das paredes
3. Revestimentos
4. Pisos
5. Esquadrias
6. Louças sanitárias e ferragens
7. Pintura
Todas as tubulações (elétrica, hidro-sanitária e telefônica) são devidamente
embutidas e fixadas nas paredes para que estas sejam recobertas.
Para o recobrimento das paredes, aplica-se o chapisco a fim de dar maior
aderência a argamassa que será aplicada em seguida. Então, aplica-se o reboco, onde se
deve ter o cuidado da superfície pronta ficar uniforme.
Além do reboco com pintura, nas paredes externas de muitos edifícios,
estão sendo largamente utilizados outros tipos de revestimentos, tais como: pastilhas,
cerâmicas, ladrilhos de marmorite e outros.
Nas paredes dos banheiros, cozinhas e áreas de serviço, os revestimentos
são feitos em material lavável e impermeável, para não ocorrer infiltração nas paredes, já
que nessas dependências se usa água em abundância.
Para a execução do piso, no caso do andar térreo, é necessário fazer o
apiloamento e nivelamento do terreno, seguido da colocação de uma camada de concreto
simples. Nos demais pavimentos, assenta-se o piso sobre a própria laje, não havendo essa
preparação.
Após a colocação do piso, inicia-se a montagem das esquadrias, que
podem ser de madeira, ferro ou alumínio.
Antes, ou até mesmo, durante a pintura, são colocadas as louças sanitárias
(bacias, lavatórios, pias de cozinha), com suas respectivas ferragens (torneiras, registros,
etc.).
A pintura, que é a etapa final da obra, deve ser bem executada, sendo
responsável pelo acabamento final das portas, janelas, paredes, forros, etc.
Terminada a pintura, faz-se a limpeza geral para a entrega da obra, estando
a mesma pronta para o seu devido uso.

3) ERGONOMIA NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

Segundo IIDA (1993), “A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao


homem. Isso envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos
organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os
resultados desejados”.
A Ergonomia visa a transformação das condições de trabalho, a fim de que elas
sejam melhor adaptadas aos trabalhadores (NERI, 1992; apud. LUNA et al., 1995). Com
este objetivo, a Ergonomia passa por vários estágios, que se diferenciam principalmente
pelo enfoque dado aos fatores que influenciam às condições de trabalho.
Os dados e conhecimentos ergonômicos podem apoiar e orientar o planejamento e
a execução de medidas preventivas de acidentes do trabalho e de doenças ocupacionais,
como também reduzir o desconforto físico do trabalhador, aumentando assim a eficiência
do trabalho.
Os riscos ergonômicos estão relacionados com fatores fisiológicos e psicológicos
inerentes a execução das atividades profissionais. Estes riscos podem produzir alterações
no organismo com relação ao estado emocional dos trabalhadores, comprometendo a
saúde, segurança e produtividade. Os riscos ergonômicos mais freqüentes na construção
civil, na opinião de FERNANDES et al. (1989), são: levantamento e transporte manual de
peso, postura e jornada de trabalho.
Estes riscos podem gerar fadiga, problemas na coluna do operário, perda de
produtividade, incidência de erros na execução do trabalho, absenteísmo, doenças
ocupacionais e dores físicas. Com a continuação destas tarefas, o operário, poderá
interromper suas atividades periodicamente ou definitivamente.
A intervenção ergonômica na construção civil é mais difícil do que nas outras
indústrias. São vários os fatores que contribuem para isto: O local de trabalho é mudado
todo dia; há grande rotatividade dos trabalhadores; muitos trabalhadores são contratados
por empreiteiras e os proprietários da obra alegam não terem condições de contratarem
um especialista em ergonomia (SCHENEIDER, 1995).

O trabalho na construção é um trabalho penoso, e requer posturas que desafiam a


ergonomia, mas a intervenção ergonômica é possível na construção. Na opinião de
SCHENEIDER (1995), existe quatro tipos de intervenção da ergonomia na construção:

1. Mudanças nos materiais de trabalho;

2. Mudanças nas ferramentas e equipamentos;

3. Mudanças nos métodos e organização do trabalho;

4. Treinamento e programas de exercício.

4) A PESQUISA

Para a realização da pesquisa, foram visitados 10 canteiros de obra da cidade de


João Pessoa. Todas as obras estavam na fase de estrutura, porém executando tarefas
diversas, tais como: preparo e lançamento do concreto, montagem e colocação das
formas, armação das ferragens.
Essa pesquisa consistiu no acompanhamento das tarefas citadas acima, através de
observações “in loco”, para verificação dos riscos ergonômicos, analisando a postura de
trabalho, o esforço físico, os movimentos repetitivos, o ruído e a vibração.
No total, foram observados 42 operários, distribuídos de acordo com as seguintes
funções: 17 pedreiros, 13 carpinteiros, 12 ferreiros.
O quadro a seguir (QUADRO 1) mostra os riscos ergonômicos detectados com
relação a cada ocupação pesquisada, sendo assinalados os que foram mais visíveis em
cada uma delas.

OCUPAÇÃO POSTURA FORÇA PESO MOVIMENTOS RUÍDO VIBRAÇÃO


REPETITIVOS
PEDREIRO X X X X X X
CARPINTEIRO X X X
FERREIRO X X X
QUADRO 1 - RISCOS ERGONÔMICOS

PEDREIRO:

• POSTURA - foi identificado neste posto de trabalho uma postura inadequada durante
o preparo da massa na própria obra, utilizando a betoneira, pois o mesmo era obrigado
a ficar curvado por um longo período de tempo para misturar a massa. Isso ocorreu
principalmente nas edificações de pequeno porte.
• FORÇA - foi identificado o uso da força ao transportar o concreto nos carros de mão.
• PESO - foi observado um levantamento de peso excessivo quando o trabalhador
carregava sacos de cimento, na maioria das vezes, para apressar o trabalho. Foi visto o
operário levando mais de um saco de 50 kg de uma só vez.
• MOVIMENTOS REPETITIVOS - foi observado uma grande repetição de movimentos
na atividade de retirar o concreto do carro-de-mão e colocar no local da concretagem,
isso no caso em que a concretagem era feita na própria obra.
• RUÍDOS - os ruídos estavam presentes na hora da mistura do concreto onde era
utilizada a betoneira, isso também no caso do concreto ser fabricado na própria obra.
• VIBRAÇÃO - o trabalhador deste posto ficava exposto a um índice muito alto de
vibração quando utilizava o vibrador, para adensar o concreto já na forma.

CARPINTEIRO:

• POSTURA - foi observado uma postura inadequada, a qual poderá ocasionar o


aparecimento de sintomas nas costas, ocorrendo esta na hora da junção das formas de
compensado através de pregos.
• PESO - foi observado que os carpinteiros carregavam uma carga bastante pesada
durante o transporte dos painéis de compensado do local de armazenamento para o
local da montagem dos mesmos.
• RUÍDO - foi observado um alto nível de ruído neste posto de trabalho quando os
operários utilizavam a serra elétrica.

FERREIRO
• POSTURA - a postura neste posto de trabalho variou muito com o tipo de estrutura
que estava sendo armada. As posturas dominante eram as inclinadas (inclinação para
frente 11°- 90°) e as totalmente inclinadas (inclinação para frente > 90°), apresentando
estas um grande esforço na coluna dos trabalhadores.
• PESO - foi observado que o armador levantava uma carga média de 5-20kg a cada 4
minutos, e o que dificultava este trabalho é que quase todo levantamento de peso
implicava no carregamento, e este era feito na maioria das vezes em uma superfície
ruim, ou seja, com presença de entulhos e sem a mínima organização.
• MOVIMENTOS REPETITIVOS - foi observado movimentos repetitivos de grande
intensidade na hora de armar as ferragens, onde os trabalhadores precisavam torcer o
punho várias vezes.

5) CONCLUSÃO:

É evidente que existe na construção de edifícios vários riscos ergonômicos que


afetam a saúde dos operários, mas compreendemos que quando estes são identificados e
associados a cada tipo e atividade, torna-se mas fácil a aplicação de soluções.
Urge então a necessidade de uma intervenção ergonômica na etapa de estrutura
da construção de edifícios, porém a mesma só terá resultado favorável se houver uma real
conscientização do trabalhador. Isso só será possível quando ele conhecer os riscos
inerentes à sua atividade, bem como as suas possíveis conseqüências.

6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AZEREDO, Hélio Alves de. O Edifício até a sua cobertura. São Paulo: Edgar
Blücher, 1977. 184p.

CORLETT, E. N. Static muscle loading and the evaluation of posture. In:


CORLETT et al. Evaluation of human work. New York: Taylor & Francis,
1990. cap.22, p.543-569.

FERNANDES, M.B. et al. Riscos Ergonômicos na construção civil. Revista


CIPA. São Paulo, p. 34-36, 1989.

HELENE, Paulo R. L. et al. Revista tecnologia de edificações, n72. São Paulo:


1988.

IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher,
1990.

LUNA, M M. et al. A ergonomia cognitiva auxiliando a reduzir a carga de


trabalho na construção. In: 15° ENCONTRO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 1995. São Carlos. Anais, 1995. p.
160 - 162.

SCHNEIDER, Scott. Implement Ergonomic Interventions in construction.


Applied Occupational and Environmental. p.822-823. Outubro, 1995.

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