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DISCIPLINA DE PORTUGUÊS
CARTAS DE AMOR
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Escolhi fazer este trabalho - “Cartas de Amor” - por várias as razões, entre as quais,
talvez a mais importante, porque penso que as cartas de amor têm tendência a
desaparecer, sendo substituídas pelas tecnologias e quis colher dados mais concretos.
Hoje, já são muito poucas as pessoas que ocupam minutos do seu tempo a pegar numa
caneta, a tirar um papel e escrever simplesmente “Amo-te”. Preferem fazê-lo
pessoalmente, ou escondendo-se através do tão conhecido Messenger.
Para conseguir atingir os meus objectivos, abordei algumas pessoas para responderem a
um pequeno questionário e para participarem numa actividade inserida no mesmo.
Pretendi assim, não só ficar a saber a opinião das outras pessoas mas também abordar o
tema cartas de amor, tendo feito pesquisa em autores portugueses, acabei por
seleccionar textos de António Lobo Antunes e de Fernando Pessoa.
Cartas de Amor
“7.1.71
Meu Amor
Quando chegar a Luanda espero escrever de novo. Coragem e paciência, como tens tido
até agora. Mil beijos para ti e para o nosso filho. Não te esqueças de estudar e de ter
coragem e paciência. Lembra-te de mim.
António
PS. Segundo os rumores que aqui correm, devo ficar na CCS o que seria menos mau.
(…) Vamos ver…
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II
Aqui cheguei, finalmente, a Gago Coutinho, depois de uma viagem apocalíptica, como
nunca pensei ter de fazer em qualquer época da minha vida: partimos às 3 horas da
manhã dia 22, em autocarros tipo Claras, de Luanda para Nova Lisboa, através de um
cenário maravilhoso, mas que à 23ª hora começou a cansar-me.
Essas carruagens possuem apenas 3 únicos bancos longitudinais: dois ao correr das
janelas e o último, duplo, ao centro, como uma risca ao meio. Como faltavam vagões ,
assistiu-se então a um espectáculo indescritível: de todo o lado surgiram membros que
pareciam não pertencer a nenhum corpo. Cheguei a coçar a minha cabeça com uma mão
alheia. Aí dormia, ou fingia dormir, e comia as conservas que inundavam o chão de
latas e de molhos, e que me estragaram completamente as vísceras. Deportados judeus
para um campo de concentração nazi.
Felizmente não houve minas nem emboscadas, mas aconteceu uma coisa horrível: a
camioneta em que eu seguia, a última (por sorteio) partiu a direcção, a uma velocidade
considerável, e esmagou-se numa vala. Eram 21: três braços partidos, e pernas, várias
outras lesões sortidas, e eu com seis pontos no lábio e 3 na língua: ainda não a sinto.
Caímos todos uns por cima dos outros, e pensei que tivesse sofrido mais do que isso
porque o corpo dava-me a sensação de se encontrar multiplamente rachado.
Isto é o fim do mundo: pântanos e areia. A pior zona de guerra de Angola: 126 baixas
no batalhão que rendemos, embora apenas com dois mortos, mas com amputações
varias. Minas por todo o lado.”
27 de Janeiro de 1971
Lobo Antunes
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Cartas de Amor de Fernando Pessoa
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
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e prossigo, com uma carta de Fernando Pessoa para a sua amada, Ophélia
Ophéliazinha:
Para me mostrar o seu desprezo, ou pelo menos, a sua indeferença real, não era preciso
o disfarce transparente de um discurso tão comprido, nem da serie de «razões» tão
pouco sinceras como convincentes, que me escreveu. Bastava dizer-mo. Assim, entendo
da mesma maneira, mas doe-me mais.
Se prefere a mim o rapaz que namora, e de quem naturalmente gosta muito, como lhe
posso eu levar isso a mal? A Opheliazinha pode preferir quem quizer: não tem
obrigação - creio eu - de amar-me, nem, realmente necessidade (a não ser que queira
divertir-se) de fingir que me ama.
Quem ama verdadeiramente não escreve cartas que parecem requerimentos de
advogado. O amor não estuda tanto as cousas, nem trata os outros como réus que é
preciso «entalar».
Porque não é franca comigo? Que empenho tem em fazer sofrer quem não lhe fez mal -
nem a si, nem a ninguém-, e quem tem por peso e dor bastante a própria vida isolada e
triste, e não precisa de que lha venham acrescentar creando-lhe esperanças falsas,
mostrando-lhe afeições fingidas e isto sem que se perceba com que interesse, mesmo de
divertimento, ou com que proveito, mesmo de troça.
Reconheço que tudo isto é cómico, e que a parte mais cómica de isto tudo sou eu. Eu-
proprio acharia graça, se não a amasse tanto, e se tivesse tempo para pensar em outra
cousa que não fosse no sofrimento que tem prazer em causar-me sem que eu, a não ser
por amá-la, o tenha merecido, e creio bem que amá-la não é razão bastante para o
merecer. Enfim...
1.3.1920
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Almada, 17 de Novembro de 2008
Meu amor,
Há quanto tempo! Há quanto tempo não nos vemos, não nos sentimos, não nos rimos ou
apenas nos amamos.
Sinto falta da tua presença, por mais breve que esta seja.
Estou aqui a lembrar-me de como me sinto quando te aproximas.
Sinto-me quente com as orelhas a ferver, borboletas na barriga e as pernas a tremer.
Sinto-me como o nada, em que tenho medo de dar um passo ou não sei se devo levar as
mãos aos bolsos. Mas depois quando me piscas o olho ou, como é agora, perguntas
como estou, fico sem saber o que dizer e faço apenas um sorriso tímido e escondo-me
de forma a que me vejas bem.
E quando já não estás, penso há quanto tempo isto dura. Esta paixão apenas consentida,
sabida e criada por mim.
Amo-te platonicamente
Silvson
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Lisboa, 25 de Novembro de 2008
Querido amado,
Estás a ler-me com atenção?
Provavelmente enlouqueci de novo ou de vez.
Lembro-me que já faz um ano.
Há um ano atrás eu era, provavelmente, mais sossegada e menos sociável, intimidada
pelos gozos dos meus colegas de turma.
A mãe e o Carlos casavam-se e eu perdia-me pelos sonhos de rapariga que sou e que
está a entrar na vida adulta.
Há um ano, não sonhava eu com a minha esperança em entrar na Escola de Música do
Conservatório Nacional e não sonhava eu que este objectivo não seria alcançado.
Passado um ano, escola nova, Lisboa pela mão e amigos novos, vivo cada momento
como se fosse o último e considero-me louca por escrever neste papel, uma carta,
sabendo que não vai ser enviada e que será apenas para queimar a saudade, saudade essa
que não existe e que é fruto da minha cabeça.
Amo-te, como sempre, muito e platonicamente
Silvson
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Cartas na Música
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Querido Amado
Como jurei,
Com verdade o amor que senti
Quantas noites em claro passei
A escrever para ti
Cartas banais
Que eram toda a razão do meu ser
Cartas grandes, extensas, iguais
Ao meu grande sofrer
Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém
Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem
Porém de ti
Nem sequer uma carta de amor
Uma carta vulgar recebi
Pra acalmar minha dor
Mas mesmo assim
Eu para ti não deixei de escrever
Pois bem sabes que tu para mim
És todo o meu viver
Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
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Pedaços de dor
Sentidas de alguém
Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem.
*** lamento, mas, apesar de ter tentado muito, não consegui colocar aqui a música.
As questões eram:
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Já recebeu alguma carta de amor?
12 pessoas responderam que já receberam pelo menos uma carta de amor.
Acredita que pode existir uma relação, onde o único meio de comunicação
sejam as cartas de amor?
8 pessoas acham que não é possível, 8 pessoas acham que sim, apesar de ser
muito dificíl com as novas tecnologias e 3 pessoas acham que depende de vários
factores como o sentimento.
Seguidamente, foi proposto às mesmas pessoas que fizessem uma carta de amor.
Cada uma escrevia uma frase numa folha A4, dobrava de forma a que o que acabou de
escrever não fosse visível e passava a outro. Isto repetiu-se até que a carta estivesse
acabada.
farto de dizer AMO-TE... Amo-te 25 horas por dia, 8 dias por semana,
5 semanas por mês, 13 meses por ano... És a minha perdição, és a razão do meu
rúbis que brilham olhando para o meu coração... O teu olhar escuro e
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sombrio faz-me amar-te ainda mais... Amor eterno, és tu meu amor... Quero dizer que
te amo, não sei como começar, pois tenho medo que o meu coração se vá
despedaçar, bate forte o meu desejo, bate forte o coração, quero dizer-te que te
amo... Sinto falta dos teus lábios, do teu olhar, do teu toque, da tua fala
Conclusão
Com este trabalho conclui que, mesmo com as novas tecnologias, as pessoas têm a
preocupação em manter a tradição das cartas de amor, vendo estas como um bem fulcral
à tradição romântica.
Conclui também que algumas pessoas sentem alguma vergonha quando este assunto é
abordado, mas outras sentem-se à vontade. E que as cartas de amor podem ser tomadas
como um bom tema de estudo de relações entre as pessoas.
Gostei de ter feito o trabalho, de contactar diferentes pessoas, a quem agradeço por me
possibilitaram, ao colaborarem na escrita da carta „colectiva‟, ter experimentado, fora da
aula o que aí já tínhamos feito com bons resultados, quando abordámos a construção do
imaginário surrealista através do jogo cadavre exquis – e a CARTA fez-nos rir e
pensar. Oxalá convosco se passe o mesmo.
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