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VIEIRA, Alberto (2004),

S. Vicente um breve balanço do Século


XX,

Câmara Municipal de São Vicente, Boletim


Municipal, São Viente. CMSV, nº.55,serie
II(Janeiro), pp.6-9

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (2004), S. Vicente um breve balanço do Século XX, Câmara Municipal de São
Vicente, Boletim Municipal, São Viente. CMSV, nº.55,serie II(Janeiro), pp.6-9, Funchal, CEHA-
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BREVE
desde o dculo XV foi paulatinamente desa-
parecendo de modo que hoje esta é uma rea-
lidade que pertence ao passado. Hoje bastam
trinta minutos para se alcançar o concelho
desde o Funchal quando no século XIX
quem o pretende-se fazer necessitava de
&ias horas. Tudo isto comepu em 1914 com
a primeira estrada que estabeleceu a ligação
por automóvel ao Funchal. Entre 1928 e 1953
i SECULO XX
montou-se a rede viázia e a circulação foi
uma realidade, apagando as distâncias aos
locais mais re&nditos como o Norte. A con-
clusão deste p h o de abertura do Norte ao
Sul só resultou em pleno após o 25 de Abril
de 1974 já no último ano do milénio com a
abertura do t h e l que liga a Serra de Água ao
Rosário..
A chegada do automóvel matou o vapor
costeiro e anunciou o progresso que o novo
meio de locomo@o fai portador. Tudo isto
evoluiu de tal forma que hoje estamas sob a
hegemonia do automóvel e todo o progresso
de uma loc&dade se subordina à existência
de uma rede viária. E na verdade o concelho
dispõe hoje de uma das melhores redes
viárias.
Ainda antes do automúvel chegou em 1911
o telefone que permitiu a circulação das notí-
cias de forma rápida e imediata e que foi mais
um contributo para encurtar distâncias e
amenizar o impacto do isolamento..
O progresso, hoje visível no bem estar das
populações residentes, é fruto da luta her-
cúlea em favor do progresso que marcou o
século XX. Esta realidade é mais conquista
do processo autonómico do que das anteri-
ores conjunturas políticas. Nem a República,
nem o Estado Novo deram olhos às condições
de vida dos madeirenses e muito menos dos
vicentinos.
O abandono isolamento e dificuldades
associados à conjuntura da guerra nos anos
quarenta conduziram a uma quase sangria
populacional com a fuga do campo para a
cidade ou a emigração para o Brasil ou
Venezuela. Fugia-se da fome, das dificuldades
do quotidiano, mas também à falta de
condições de apoio na doença e no acesso à
cultura. Os médicos eram raros e morria-se
em casa ou na rede em viagem desesperada
ao encontro de um dos dois concelhios.
As condições de vida das populações n5o
eram as melhores. As casas de habitação
careciam de condições e a partir dos anos
quarenta as recomendações da câmara apon-
tavam no sentido de uma melhoria das
condições de salubridade. O cuidado e a pre-
ocupação com a saúde e bem estar dos
vicentinos foi um campo de batalha perma-
nente do mgdico municipal que conduziu A
criaçgo de uma rede de fontanários públicos,
acabando com o consumo da água da levada,
e ao estabelecimento de uma rede de dis-
tribuição pública de água que só o 25 de
Abril levou a todo o concelho e casas dos
munícipes.
A água, em que o concelho sempre foi
rico, é fundamental à vida destas gentes e de
toda a ilha. O concelho sempre primou pela
riqueza deste bem, ao que parece considera-
do o "petróleo" do século XXI. E desde os
anos quarenta sentiu-se a importância desta
riqueza para quebrara as assimetrias hidricas
do arquipélago. O plano de aproveitamento
hidroeléctrico e hidro-agrícola fez assentar
em S. Vicente um dos principais piIares. As
águas das nascentes e mananciais do conce-
lho foram cedidas a troco de contrapartidas,
e tão pouco corresponderam às promessas,
uma vez que a electrificação do concelho só
se concluiu com o processo autonómico.
Em1956 o concelho recebeu a primeira ilu-
minação pública de electricidade, mas para a
maioria a luz eléctrica continuou a ser uma
miragem.
O progresso foi possível através de um con-
junto de infra-estruturas que melhoraram as
condições de sobrevivência das populações,
mas também da necessária aposta na edu-
cação. Por muito tempo a ilha esteve esqueci-
da e do norte parece que ninguém se lem-
brou. Apenas em 1947 com a criação da
Junta Geral esta se tomou prioritiria. O
analfabetismo era generalizado sendo em
1944 de 84%de populaç20 e o atraso corre-
spondia a esta medida. Hoje, passados mais
de cinquenta anos a realidade é outra.
Ao nível do ensino a mudança aconteceu a
partir da década de sessenta. Em 1965
instalou-se um colégio para o ensino plena concretização desta ancestral ambição
secundário que abriu as portas à formação da só se vislumbra a partir de 1974.
juventude do norte da ilha. Foi a partir daí A população, embora maioritariamente
que se afirmou na sociedade madeirense uma analfabeta, teve sempre presente o sentido de
geraçso de nortenhos. sua responsabilidade e defesa dos seus inter-
Os progressos notados no decorrer dos esses. Foi isto que vimos, por exemplo, com a
anos no século XX acompanham o processo revolta de 1924 contra o imposto "ad valo-
de maior intervenção da instituição rnunici- rem". As elevadas tributações directas e indi-
pal e a maior capacidade de actuação dos rectas foram sempre consideradas por todos
madeirenses atraGs da autonomia atribuída como um pesado fardo uma vez que ninguém
nos anos quarenta. Deste modo podemos via os frutos da sua aplicação em beneficio de
dizer que o progresso acompanhou a par e todos, tendo em conta que seguiam para o
passo a afirmação da autonomia das institu- Terreiro do Paço.
ições de poder local e regional. A reclamação das populaçòes ia ao encon-
O poder municipal viveu sempre em casa tro dos seus interesses, numa reqão onde os
alheia e sem as mínimas condições. Por outro recursos eram escassos e o esforço humano
lado o recinto onde estava instalada a vila não muito superior à riqueza gerada.
parecia o melhor, estudando-se em 1929 a Um dos aspectos mais assinaláveis deste
mudança para o dto do Poiso. Desde a déca- século e que ficou na memória de todos
da de. sessenta que o projecto dos paços do quantos o viveram e presenciaram foi sem
concelho foi adiada para a década de setenta. dúvida a quebrada que enlutou a Vargem,
A dignificação e afirmação das instituições levando para a morte 40 dos residentes. Foi
passa obrigatoriamente pelas condições ade- uma catástrofe que se abateu sobre S. Vicente
quadas ao seu funcionamento. De novo a e que para além das perdas humanas apagou
100 palheiros e igual n h e r o de cabeças de seguiram resistir foram o alento necessário
gado, uma das principais fontes de rendimen- para que se abrissem as portas do progresso.
to destas gentes. Neste momento a prodqão Em cem anos que passaram na História do
leiteira era unia das actividades mais Irnpr- concelho contam-se apenas vinte e cinco de
tantes da economia local. Em 1943 nos 15
' progresso impahel que procuraram com-
postos de 'pdesnat ão transformaram-se pensar os muitos anos de abandono e letar-
150.000 litros. gia. E este contraste entre o último quartel do
São Vicente sempre foi uma área rica em século e os momentos que o antecederam a
termos agrícolas. A vinha e os canaviais des- característica mais evidente que fez com que
I frutavam deste espaço e atraiam a atenção e S. Vicente entrasse no novo século e milénio
empenho dos agricultores. O concelho sem- sob os auspícios do progresso e da afirmação.
pre se afirmou como uma região vinhateira. Ao menos para São Vicente não se confir-
'
Foi assim no século XIX e continuou geb maram as teses apocalípticas, sendo a entrada
século XX, assumindo nos últimos anos, por no novo milénio triunfal. A autonomia
força da valorização do vinho na economia venceu os velhos do Reste10 que nos legaram
regional, o papel mais destacado na econa- ao abandono e projectou-nos para um futuro
mia familiar dos poucos agricultores. de promissão.
O século XX ficará para a História corno A História atra&s deste apelo e memória
o momento em que aqui se viveram as horas do passado serve precisamente para chamar à
mais dramáticas, com a quebrada de 1929 ou atenção dos presentes do quanto foi feito nos
a guerra de 1939-45. Muitos não con- úItimos anos em prol do progresso e afir-
seguiram resistir ao isolamento, dor e miséria mação de S. Vicente. Rememorar tudo isto é
e, por isso, saíram em busca de melhores uma questão de justiça, como uma forma de
condições noutras paragens. Os que con- homenagem aos nossos antepassados.

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