Este poema descreve as visões do poeta sobre metafísica e Deus. Ele acredita que pensar demais sobre esses assuntos é desnecessário e que é melhor simplesmente apreciar a natureza. A metafísica das árvores é superior por elas não saberem por que vivem. Ele só acredita em Deus se Ele for a natureza, e não uma entidade separada.
Este poema descreve as visões do poeta sobre metafísica e Deus. Ele acredita que pensar demais sobre esses assuntos é desnecessário e que é melhor simplesmente apreciar a natureza. A metafísica das árvores é superior por elas não saberem por que vivem. Ele só acredita em Deus se Ele for a natureza, e não uma entidade separada.
Este poema descreve as visões do poeta sobre metafísica e Deus. Ele acredita que pensar demais sobre esses assuntos é desnecessário e que é melhor simplesmente apreciar a natureza. A metafísica das árvores é superior por elas não saberem por que vivem. Ele só acredita em Deus se Ele for a natureza, e não uma entidade separada.
I Eu nunca guardei rebanhos, Mas como se os guardasse. Minha alma como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mo das Estaces A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pr do Sol Para a nossa imaginao, Quando esfria no fundo da plancie E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza sossego Porque natural e justa E o que deve estar na alma Quando j pensa que existe E as mos colhem flores sem ela dar por isso. Com um rudo de chocalhos Para alm da curva da estrada, Os meus pensamentos so contentes. S tenho pena de saber que eles so contentes, Porque, se o no soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. Pensar incomoda como andar chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. No tenho ambies nem desejos. Ser poeta no uma ambio minha. a minha maneira de estar sozinho. E se desejo s vezes, Por imaginar, ser cordeirinho (Ou ser o rebanho todo Para andar espalhado por toda a encosta A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo), s porque sinto o que escrevo ao pr do Sol Ou quando uma nuvem passa a mo por cima da luz E corre um silncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos, Escrevo versos num papel que est no meu pensamento, Sinto um cajado nas mos E vejo um recorte de mim No cimo dum outeiro, Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias, Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho, E sorrindo vagamente como quem no compreende o que se diz E quer fingir que compreende. Sado todos os que me lerem, Tirando-lhes o chapu largo Quando me vem minha porta Mal a diligncia levanta no cimo do outeiro. Sado-os e desejo-lhes sol E chuva, quando a chuva precisa, E que as suas casas tenham Ao p duma janela aberta Uma cadeira predilecta Onde se sentem, lendo os meus versos. E ao lerem os meus versos pensem Que sou qualquer coisa natural Por exemplo, a rvore antiga sombra da qual quando crianas Se sentavam com um baque, cansados de brincar, E limpavam o suor da testa quente Com a manga do bibe riscado. 8-3-1914 O Guardador de Rebanhos. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Joo Gaspar Simes e Luiz de Montalvor.) Lisboa: tica, 1946 (10 ed. 1993). - 21. O Guardador de Rebanhos. 1 publ. in Athena, n 4. Lisboa: Jan. 1925.
Alberto Caeiro
V - H metafsica bastante em no pensar em nada.
V H metafsica bastante em no pensar em nada. O que penso eu do Mundo? Sei l o que penso do Mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que ideia tenho eu das coisas? Que opinio tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criao do Mundo? No sei. Para mim pensar nisso fechar os olhos
E no pensar. correr as cortinas
Da minha janela (mas ela no tem cortinas). O mistrio das coisas? Sei l o que mistrio! O nico mistrio haver quem pense no mistrio. Quem est ao sol e fecha os olhos, Comea a no saber o que o Sol E a pensar muitas coisas cheias de calor. Mas abre os olhos e v o Sol, E j no pode pensar em nada, Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos De todos os filsofos e de todos os poetas. A luz do Sol no sabe o que faz E por isso no erra e comum e boa. Metafsica? Que metafsica tm aquelas rvores A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que no nos faz pensar, A ns, que no sabemos dar por elas. Mas que melhor metafsica que a delas, Que a de no saber para que vivem Nem saber que o no sabem? Constituio ntima das coisas... Sentido ntimo do Universo... Tudo isto falso, tudo isto no quer dizer nada. incrvel que se possa pensar em coisas dessas. como pensar em razes e fins Quando o comeo da manh est raiando, e pelos lados das rvores Um vago ouro lustroso vai perdendo a escurido. Pensar no sentido ntimo das coisas acrescentado, como pensar na sade Ou levar um copo gua das fontes. O nico sentido ntimo das coisas elas no terem sentido ntimo nenhum. No acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou! (Isto talvez ridculo aos ouvidos De quem, por no saber o que olhar para as coisas, No compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina.) Mas se Deus as flores e as rvores
E os montes e sol e o luar,
Ento acredito nele, Ento acredito nele a toda a hora, E a minha vida toda uma orao e uma missa, E uma comunho com os olhos e pelos ouvidos. Mas se Deus as rvores e as flores E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus? Chamo-lhe flores e rvores e montes e sol e luar; Porque, se ele se fez, para eu o ver, Sol e luar e flores e rvores e montes, Se ele me aparece como sendo rvores e montes E luar e sol e flores, que ele quer que eu o conhea Como rvores e montes e flores e luar e sol. E por isso eu obedeo-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si prprio?), Obedeo-lhe a viver, espontaneamente, Como quem abre os olhos e v, E chamo-lhe luar e sol e flores e rvores e montes, E amo-o sem pensar nele, E penso-o vendo e ouvindo, E ando com ele a toda a hora. s.d. O Guardador de Rebanhos. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Joo Gaspar Simes e Luiz de Montalvor.) Lisboa: tica, 1946 (10 ed. 1993). - 28. O Guardador de Rebanhos. 1 publ. in Athena, n 4. Lisboa: Jan. 1925.