Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Observações Sobre A Reificação PDF
Observações Sobre A Reificação PDF
Axel Honneth*
*
Doutor e livre-docente em Filosofia, professor na Universidade de Frankfurt e diretor
do Instituto para Pesquisa Social. Principais publicaes: Luta por reconhecimento
(Editora 34), Verdinglichung (Reificao) (Suhrkamp). Este texto, ainda indito, foi
escrito para ser posfcio edio francesa do livro Reificao. Traduo: Emil
Sobottka e Giovani Saavedra.
1
Uma iniciativa para tal interpretao foi feita por Daniel Brudney (1988) em seu
monumental estudo sobre o jovem Marx.
2
Com relao a Sartre, cf. categorias como Relaes de interioridade
(Interiorittsbeziehungen), afeco ou solidariedade ontolgica (Sartre, 1993,
p. 329s, 422, 449); para Merleau-Ponty, categorias como comunicao (Merleau-
Ponty, 1966, parte 2, cap. 4, p. 397-418).
3
Neste contexto interessante a tentativa de John Searle (1995, p. 23-26), de atribuir
a intencionalidade individual intensionalidade coletiva, que por sua vez estaria
ancorada num sentimento (sense) de coexistncia ou cooperao. Tambm aquilo
ficao (em sentido literal); pois com ele tem-se em mente a situao social-
mente improvvel de que um sujeito no simplesmente fere normas vlidas
de reconhecimento, mas atenta contra a prpria condio que as antecede ao
no reconhecer nem tratar o outro sequer como prximo (Mitmenschen).
Na reificao anulado aquele reconhecimento elementar que geralmente
faz com que ns experimentemos cada pessoa existencialmente como o outro
de ns mesmos; queiramos ou no, ns concedemos a ele pr-pedicativamente
uma auto-relao que partilha com a nossa prpria a caracterstica de estar
voltada emocionalmente para a realizao dos objetivos pessoais. Se este re-
conhecimento prvio no se realizar, se no tomamos mais parte existen-
cialmente no outro, ento ns o tratamos repentinamente apenas como um
objeto inanimado, uma simples coisa; e o maior desafio para a tentativa de
reabilitar a categoria da reificao consiste na dificuldade de explicar a con-
dio de possibilidade desta supresso do reconhecimento elementar.
Em minha tentativa de encontrar uma soluo para este problema, eu
inicialmente me orientei novamente na sugesto de Lukcs. No que sua ten-
tativa de explicao j tivesse transparncia suficiente; de um modo geral,
Lukcs apenas indica tangencialmente como ele compreende para si prprio
que os sujeitos poderiam perder uma forma de relao com o mundo que
tambm ele considera constitutiva para toda forma de sociabilidade. Mas o
cerne de sua sugesto, de ver como causa para esta supresso o resultado
duradouro de um determinado tipo de prxis altamente unilateral, ainda me
parece oferecer a chave correta: diferente de Heidegger, que atribui vagamen-
te a uma mudana annima de nossas imaginaes bsicas ontolgicas o pre-
domnio do esquema da existncia (Vorhandenheit), Lukcs explica a pro-
pagao social da reificao com as exigncias de abstrao que a participa-
o contnua na troca capitalista de mercadorias exige. O que desde o incio
me convenceu mais nesta sugesto no foi tanto o seu contedo, mas sua
forma; pareceu-me pouco plausvel derivar diretamente da simples atividade
da troca de mercadorias uma postura reificante (cf. cap. 6); no entanto, pare-
ceu-me muito mais promissor conceber uma determinada forma de prxis
contnua, exercida rotineiramente, como causa social da reificao. A conclu-
so que eu imagino poder tirar da tentativa de explicao de Lukcs consiste,
portanto, em uma hiptese geral, ainda vaga, sobre a etiologia social da
reificao: sujeitos podem esquecer ou apreender a negar posteriormente
aquela forma elementar de reconhecimento que em geral eles manifestam a
toda outra pessoa se eles participam continuamente numa forma de prxis
altamente unilateral, que torna necessria a abstrao das caractersticas qua-
litativas de pessoas humanas. At hoje eu no estou totalmente seguro se
Referncias