O texto que se segue é uma reprodução escrita, com
pequenas adaptações e esclarecimentos, de um excerto do documentário exibido na SIC – Sociedade Independente de Comunicação sobre o estadista português António de Oliveira Salazar.
Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação
constante deste documento foi apresentada pela citada estação de televisão portuguesa, aquando da exibição do documentário referido. António de Oliveira Salazar – A censura e o veneno
A ideia não é nova. Já a República ensaiara a censura, suspendendo
jornais hostis antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, mais tarde, em 1916, passando-os ao crivo censório, com o pretexto de cuidar das notícias sobre a participação portuguesa no conflito. Mas a prática e os propósitos sobem agora de consistência…
E assim, diligentemente, rotineiramente, os funcionários da censura,
muitos deles militares reformados, tratarão de deixar circular a verdade de Salazar e de eliminar, com cortes, o que consideram “veneno”.
Dúvidas sobre a bondade do sistema… o próprio Salazar dirá em
entrevista a António Ferro: «Chego a concordar que a censura é uma instituição defeituosa, injusta por vezes, sujeita ao livre-arbítrio dos censores, a uma digestão mal feita, às consequências do seu mau humor.» Dessas dúvidas, ditas com ironia, nada de bom resultará…
A censura veio para ficar e Salazar está e fica…
António de Oliveira Salazar – A PIDE e o inimigo
Para ministrar aquilo que, com ligeireza cruel, Salazar chamou os
«safanões a tempo», surgiu, em 29 de Agosto de 1933, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), resultado da concentração da Polícia de Informações e da Polícia Internacional, que vêm dos tempos da República.
Nascida e treinada no combate aos restos da Primeira República ou
“reviralho”, a PVDE que, em 1945, será renomeada PIDE, não tarda a eleger o inimigo principal: o Partido Comunista (PC). Quanto melhor conhece o Partido Comunista, mais sucesso tem a polícia política na descoberta de células e residências clandestinas na identificação de militantes e nas prisões. E a polícia sabia mais através dos seus agentes infiltrados.
Prisões sem culpa e sem mandado, confissões extorquidas, julgamentos
sem garantia de defesa. Para os comunistas, para o inimigo, não havia trégua, nem compaixão, nem dúvida. Para os anarco-sindicalistas, para os comunistas e, mais tarde, para a oposição armada, a brutalidade e as colónias penais! Para a oposição democrática, porque tida, pelo menos, perigosa ou porque os seus membros detêm um estatuto social ou profissional respeitado, a acção da polícia pode ir da relativa violência, pela detenção arbitrária, à relativa maçada de um interrogatório cortês.
O inimigo comunista podia contar com toda a atenção da polícia
política e do regime que a reorganizara. E o regime não hesita em recorrer a acções de massas para combater o comunismo, acções como as grandes manifestações do dia 31 de Outubro de 1936, para as quais são até convidadas delegações estrangeiras. O inimigo comunista tem garantida uma relação de ódio com o Senhor Presidente do Conselho de Ministros que, em 6 de Julho de 1937, dias depois de um atentado à bomba de que escapa ileso, discursa perante militares sobre o ódio que lhe tem o comunismo. E sobre o ódio que lhe têm os comunistas, comenta: «E devo dize-lo, em plena consciência, que o merecemos inteiramente.» O inimigo comunista pode até contar com essa forma especial de respeito, só devido aos adversários de morte e que está patente no filme «A Revolução de Maio», uma obra do Secretariado de Propaganda Nacional, que retrata o militante como um homem educado, dividido entre o amor e a acção política, empenhado, consciente e que, na tipografia clandestina do partido, vai exprimindo dos dilemas do PC:
«Não podemos sacrificar os nossos ideais pelo imperialismo e a vitória
rápida, mas incerta.»
Ainda que, no final, o mesmo militante, tocado pelo feitiço, se