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Minicurso - Da Disciplina Ao Controle
Minicurso - Da Disciplina Ao Controle
Leomir C. Hilrio
Marcus Vinicius O. Santos
Qual(is) o(s) objeto(s) de estudo da psicologia? A que rea do saber ela pertence: s
cincias exatas, naturais, biolgicas ou humanas? Seria possvel pensar no advento de
um paradigma unificador para a psicologia, considerando que, por tratar-se de uma
cincia jovem, ela estaria num estgio pr-paradigmtico? Ou a psicologia estaria
necessariamente condenada disperso e ao consenso, dificultando assim a atribuio
de um estatuto cientfico?
No incio dos anos 60, o psiclogo social americano Stanley Milgram se dedicou ao
estudo da obedincia e a sua relao com a autoridade, realizando uma pesquisa
experimental sobre o tema, publicada em 1973 e retratada recentemente no cinema.
Para Milgram, a pessoa que, por convico, odeia roubar, matar e assaltar pode ver-se
executando esses atos com relativa facilidade ao cumprir as ordens de uma autoridade.
O comportamento que inimaginvel numa pessoa que esteja agindo por conta prpria
pode ser executado sem hesitao quando feito sob ordens.
O interesse da experincia ver at que ponto uma pessoa prossegue numa situao
concreta e mensurvel na qual recebe uma ordem para infligir dor progressivamente
maior a uma vtima que protesta cada vez que recebe o castigo. O objetivo da pesquisa
descobrir onde e como as pessoas contestariam a autoridade em face de um ntido
imperativo moral.
Uma explicao comumente dada que aquelas pessoas que aplicaram os choques mais
fortes s vtimas so monstros, os sdicos da sociedade. Pelo contrrio, os participantes
so pessoas comuns, ordinrias. Nesse ponto, o argumento de Milgram retoma a tese da
banalidade do mal de Hannah Arendt.
Numa situao dessas, os valores morais de uma pessoa podem ser postos de lado
facilmente. A pessoa se livra da responsabilidade atribuindo toda a iniciativa ao
pesquisador, uma legtima autoridade. O desaparecimento do senso de responsabilidade
a conseqncia de maior alcance da submisso autoridade.
Na entrevista aps a experincia, quando as pessoas eram interrogadas por que haviam
prosseguido, uma resposta tpica era: Eu no faria isso sozinho. Fiz apenas o que me
mandaram. Incapazes de desafiar a autoridade do pesquisador, elas atribuam toda a
responsabilidade a ele. Esta a velha histria do apenas cumprindo minha obrigao
que foi ouvida muitas vezes na defesa dos acusados de Nuremberg.