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A Era dos Direitos – Norberto Bobbio

Primeira Parte

Sobre os fundamentos dos Direitos dos homens

Este texto possui três objetivos: esclarecer o problema acerca do fundamento absoluto
dos Direitos do homem; notar se o fundamento absoluto é possível; e, se caso for possível,
se é também desejável. O fato é quem, ao discutir o fundamento do direito, não se fala o
fundamento do direito positivo, e sim o fundamento dos direitos “que se gostaria de ter”.
E, comos e sabe, os direitos humanos são algo que se gostaria de ter. Mas, por quê? É
uma questão meio tautológica, porém quase nunca investigada.
Notou-se que muitos tentaram buscar uma fundamentação ABSOLUTA para os
direitos, como fizeram os jusnaturalistas. São direitos irrefutáveis e queridos em si
mesmos. No entanto, os “fundamentais” seriam fundamentais, na realidade, apenas para
um grupo. Por isso, de acordo com a natureza humana, nota-se que busca de
fundamentos irresistíveis é quase sempre algo infundado. O problema é que, ao dar
uma solução tautológica para os Direitos Humanos, dá-se um fundamento último que, em
si mesmo, não pode ser fundamentado por mais nada (afinal, é o fundamento último).
Fica difícil, então, explicar racionalmente o motivo.
Ademais, os direitos humanos ditos fundamentais são HISTORICAMENTE variáveis.
A propriedade, dita absoluta e imutável, sofreu algumas limitações com o paradigma do
Estado Social. Por isso, não se pode conferir fundamento absoluto a direitos
historicamente relativos. Outro problema é a Heterogeneidade dos Direitos
Fundamentais. Ora, alguns acabam por se contrariarem. O direito à liberdade, por
exemplo, acaba por ferir o da igualdade. Por isso, não se pode falar em O
FUNDAMENTO, mas em OS FUNDAMENTOS dos Direitos humanos. Os direitos
de primeira geração e os de segunda podem ter o mesmo fundamento? Dificilmente, já
que um limita o outro.
O último objetivo do texto é saber se é desejável. O que é desejável? Ora, é desejável
efetivar os direitos humanos. Nota-se, no entanto, que o fundamento absoluto não os
concretizou. Por isso, não é tempo de buscar outras razões para os direitos do
homem, mas de buscar uma maneira de realizá-los. É, atualmente, um problema não
filosófico, mas político. O objetivo de Bobbio não é buscar o fundamento absoluto, mas
os vários fundamentos possíveis que podem auxiliar na fundamentação e,
consequentemente, na realização.
Presente e futuro dos Direitos do Homem

O presente dos Direitos Humanos não se trata de definir filosoficamente quais são seus
fundamentos, e sim os efetivar. Por isso, é um problema político, e não filosófico. Diga-
se de passagem que o problema filosófico foi resolvido em 10 de dezembro de 1948 com
a Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU. Ora, se a maioria dos países
acredita que os Direitos Humanos são verdadeiros, então eles passam a ser válidos,
mesmo que isso não seja verdade em si mesmo ou que não seja deduzível que uma
máxima universal.
Essa universalização, no entanto, foi uma lenta conquista. Isso porque teve TRÊS
FASES. A primeira fase, com grande representação de Locke, primou a garantia como
um limite para a arbitrariedade do Estado. Ademais, foi a aparição de direitos que
antecediam o Estado, como a propriedade e a liberdade. O grande escopo do primeiro
momento foi justamente a garantia da liberdade. A segunda fase é aquela em que são
postos em prática pela primeira vez pelos Estados, mas abrangem o povo DOS ESTADOS
[formalmente falando], e não de outros lugares.
A terceira fase tenta resgatar a premissa da universalidade da primeira fase (já que,
como dito, na segunda, abrangiam apenas os povos de determinados países), juntamente
com o aspecto de posivação da segunda fase, e criar direitos universais [abarcando todos
os homens do mundo] e positivos, sem destinatários específicos. No entanto, essa terceira
fase não se encerra em si, porque realizou-se a DECLARAÇÃO, e não a
EFETIVAÇÃO dos direitos. Esses direitos, na verdade, não são normas jurídicas, mas
IDEAIS a ser seguidos. E isso para não dizer que podem haver mais fases, já que os
direitos humanos são HISTÓRICOS e estão em constante mudança.
De fato, os atuais problemas acerca deste assunto pairam em torno das questões político
jurídicas que envolvem os Estados e a aceitabilidade dos direitos do homem. Ademais, o
próprio conteúdo dos direitos constitui uma questão complicada. Isso porque, embora
sejam absolutos em regra, na prática tendem a sofrer diversas limitações e conflitos com
outros direitos. Os realmente absolutos são extremamente raros, como o direito de não
torturar. O aumento no poder de comprar automóveis, por exemplo, reduz a liberdade de
circulação.
Um outro problema que vale destacar são as condições objetivas do país. Às vezes,
durante um período de guerra, alguns direitos precisam ser limitados. E nos países
emergentes, as dificuldades econômicas prejudicam muitos dos programas idílicos que
eles propõem a realizar. Por isso, os Direitos Humanos, atualmente, sofrem não com a
fundamentação, mas com a efetivação.
A Era dos Direitos

Bobbio passa um tempo falando sobre a Filosofia da História e, em seguida, chega às


seguintes conclusões:

Deveras que o último tópico está incompleto. No entanto, o escopo aqui é apenas
visualizar o objetivo de Bobbio. Todo esse desenvolvimento acerca de Filosofia da
História, ou de moral, serve unicamente para responder a uma indagação: a humanidade
caminha para algo melhor? Com segurança, Bobbio não pode resposnder nem que
sempre sim, nem que sempre não. Para mostrar isso, ele apresenta as três razões acima.
Como a história varia e a interpretação desta varia também, quem atribui o sentido
de bom e ruim fâ-lo por meio de sua própria mente.
Apesar das guerras e de tudo, nota-se que o homem busca algo bom por meio da proteção
da natureza, da diminuição da violência, etc. No entanto, de boas intenções o inferno está
cheio. Bobbio apoia a ideia de Kant: o futuro benéfico é possível, mas não é uma regra.
O Estado precisa, de fato, efetivar aquilo que já foi planejado, pois, como diz Bobbio: de
boas intenções o inferno está cheio. Esta é uma boa frase para compreender a Era dos
Direitos. De fato, crescem as intenções e as aspirações. Resta saber se, de fato, vão
conseguir concretizar tudo isso.
Direitos do Homem e Sociedade

Deve-se diferir, portanto, o plano de argumentação moral e teórico dos Direitos


Humanos. É interessante pensar que houve uma MULTIPLICAÇÃO dos direitos. Isso
porque aumentou a quantidade de bens jurídicos tutelados. O mesmo indivíduo passa a
ser visto em seus diversos aspectos individualizadores. Até os animais “ganharam” direito
(claro, os homens ganharam, mas é o direito de ter um animal que é respeitado pelo
homem. É quase um dever ao homem, já que a presença do animal afeta-o diretamente).
Se pudesse resumir essa transição numa frase, diria que é a passagem de um HOMEM
GENÉRICO para um HOMEM ESPECÍFICO, a criança, a mulher, o idoso, e todos
fatores singularizantes.
Em seguida, Bobbio fala sobre a sociedade e a demanda por direitos. Numa sociedade
absolutista, exigiram-se direitos que limitassem o Estado. Numa sociedade sem ordem,
exigiu-se prestação do Estado. Do mesmo modo, temos um contexto agora. O problema
é que muitas das normas atuais reduzem-se apontações programáticas que se realizarão
apenas num futuro ideal. Bobbio difere essas coisas ideias como EXIGÊNCIAS, e
direitos como obrigações de fato. As mulheres tinham o direito de voto? Na verdade,
exigência de que deveriam votar, e não o direito.
Exigência apenas não basta. É preciso de um aparato que garanta de fato que as
exigências de hoje sejam cumpridas.
Segunda Parte – A Revolução Francesa e os Direitos do Homem

Definitivamente, a meta principal da Revolução Francesa ao Declarar os direitos do


homem foi política, enunciando os direitos naturais que, em sua grande maioria, possuem
escopo de liberdade. E assim, tudo girou em torno da liberdade. Afirmou Rousseau e,
doravante, Kant: “liberdade é obedecer às próprias leis que os cidadãos produzem”. Em
suma, Bobbio fala acerca das principais características de tal período. Apresenta posições
doutrinárias de homens como Rousseau, em O Contrato Social, e Locke, em seu Segundo
Tratado sobre o Governo.
Fala sobre o direito de resistência em Locke e em Kant. Fala brevemente sobre
Montesquieu. Em seguida, trata de Sieyès. De qualquer modo, tal declaração foi criticada
por seu caráter abstrato e por sua forte ligação com os interesses dominantes. No entanto,
apesar das críticas, é inegável que tal declaração fez com que os direitos fossem
indissociáveis da noção de democracia.
A herança da grande Revolução

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