Você está na página 1de 11

103

CAPÍTULO 7 – GEOGRELHA - ENGEFORT®

1. Generalidades
As geogrelhas são usadas como elemento de reforço em obras geotécnicas e de proteção
ambiental. A característica principal das geogrelhas é que a abertura da sua malha é
grande o suficiente para permitir o entrosamento das partículas do solo ou do material
granular em contato com a mesma, proporcionando uma boa interação do conjunto. Para
que isto ocorra, tanto os fios, que formam os elementos transversais e longitudinais da
geogrelha, como os nós (cruzamento destes dois elementos), deverão ter a rigidez e a
resistência à tração adequada para haver o mecanismo de interação. Este mecanismo se
dá através do intertravamento entre o material de contato, que penetra no interior da
malha, tracionando os elementos transversais, os quais transmitem a carga para os
elementos longitudinais, através dos nós.
A abertura da malha permite também a drenagem vertical da camada de solo integrante
do sistema de reforço.

Mecanismo do intertravamento geogrelha x solo ou material granular

2. Histórico
O desenvolvimento de materiais poliméricos de alto módulo de rigidez, quando
submetidos à tração, possibilitaram a utilização destes como reforço em vários materiais
de construção, inclusive o solo.
As primeiras geogrelhas foram desenvolvidas na Inglaterra em 1980 e trazidas para os
Estados Unidos, via Canadá em 1982, Koerner, 1999.

3. Tipos de Geogrelha
Os fios, que formam os elementos longitudinais e transversais da malha da geogrelha,
podem ser fabricados a partir de diversas resinas e a forma como se interceptam varia,
conforme o tipo da geogrelha.

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


104

As geogrelhas são denominadas unidirecionais, quando apresentam resistência à tração


elevada em uma das direções de fabricação (direção longitudinal ou transversal da
bobina), e bidirecionais quando apresentam resistência à tração elevada nas duas
direções de fabricação. Em função do processo de fabricação, as geogrelhas podem ser
extrudadas, soldadas ou tecidas, ABINT – Capítulo 1, 2004. Dentro deste contexto, os
principais tipos de geogrelha disponíveis no mercado internacional são:
• Geogrelhas orientadas fabricadas pela extrusão de resinas de polietileno de alta
densidade ou de polipropileno; denominadas geogrelhas rígidas.
• Geogrelhas tecidas, cujos elementos resistentes são constituídos por vários fios,
fabricados com resinas de poliéster ou de fibra de vidro, os quais formam um feixe, que é
revestido por PVC, látex ou betume; denominadas geogrelhas flexíveis.
Dependendo do tipo de polímero e do processo de fabricação empregado, as geogrelhas
terão características e propriedades diferentes. O processo de fabricação pode ser pela
união dos fios por ultra-som ou por colagem, ou ainda pela união por costura, e o
revestimento dos fios é a última etapa. Embora o uso principal das geogrelhas seja para
reforço, alguns tipos são utilizados em pavimentos asfálticos e impermeabilização ou em
separação e estabilização de solos. Geogrelhas também são usadas como gabiões, e
como elementos ancorados, inseridos entre geotêxteis e geomembranas, IFAI - S. Guide,
2004.

4. Geogrelha Engefort®
A geogrelha Engefort® possui alta resistência à tração e alto módulo de rigidez à tração, é
fabricada com polímeros que possuem baixa sensibilidade ao creep, poliéster de alta
tenacidade ou fibra de vidro, e tem abertura de malha entre 20 e 30 mm. Suas
propriedades estão apresentadas no item 9.

Geogrelha Engefort®

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


105

®
5. Aplicações da Geogrelha – Engefort
Engefort® pode ser utilizada como reforço em vários tipos de obras geotécnicas e de
proteção ambiental:
• Bases de estradas rodoviárias e ferroviárias
• Recuperação de pavimentos
• Base de aterros reforçados construídos sobre solo mole
• Taludes reforçados
• Taludes de barragens de terra
• Recomposição de taludes que romperam
• Substituição de encostas convencionais por taludes de inclinação acentuada
• Base de aterro de capeamento de estacas de fundação
• Diques de expansão de aterros sanitários
• Reforço de fundação, visando melhorar a capacidade de carga sob sapatas
• Muros de solo reforçado
• Taludes de aterros sanitários
• Coberturas de valas de resíduos e de aterros sanitários

®
6. Exemplos de Aplicação da Geogrelha Engefort
6.1. Aterros ou Diques reforçados

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


106

6.2. Muros e Encontros de Ponte em Solo Reforçado

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


107

6.3. Base de Aterros Reforçados construídos sobre Solo Mole

6.4. Substituição de Encostas convencionais por Taludes de inclinação acentuada e até


vertical

O uso de geogrelha como reforço permite transformar taludes com inclinação suave em:

Taludes íngremes

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


108

Muros de contenção com face vertical

6.5. Taludes Reforçados Verticais ou Inclinados em degraus

6.6. Reforço de Fundação para melhorar a Capacidade de Carga sob Sapatas

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


109

6.7. Taludes e Coberturas de Valas de Resíduos e de Aterros Sanitários

6.8. Melhora de acesso à Obra em Solo Mole usando a Geogrelha

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


110

7. Especificação de Geogrelhas
A escolha e a especificação de geogrelhas é feita em função do tipo e das condições
geotécnicas da obra e da resistência à tração requerida para o caso em análise.
Na escolha da geogrelha deve-se levar em conta o tipo de polímero, o processo de
fabricação e no mínimo algumas propriedades, com os respectivos métodos de ensaio
através dos quais estas são obtidas, como por exemplo:
• Propriedades físicas:
- abertura da malha
- massa por unidade de área ou gramatura (gr/m2) – ABNT NBR 12568 ou
ASTM D 5261
• Propriedades mecânicas:
- resistência à tração (kN/m) – ASTM D 6637 ou ASTM D 4595, onde são importantes
as informações sobre:
a) resistência à tração para 5% de deformação
b) resistência à tração na ruptura com o respectivo alongamento
c) módulo de rigidez à tração
- resistência à fluência (kN/m) – ASTM D 5262 para 10.000 horas (1 ano e 2 meses) ou
ASTM D 6992
• Propriedades de desempenho:
- resistência de inteface: arrancamento e cisalhamento direto – ISO 13427 e
ASTM D 5321
- danos de instalação – ASTM D 5818

8. Projeto da Geogrelha: Considerações sobre a Resistência Admissível


Um projeto de geogrelha por função deve estabelecer um fator de segurança global para
a determinação da resistência de admissível ou de projeto. A função principal da
geogrelha sendo reforço, estes fatores de segurança podem ser determinados da
seguinte forma:
FSTotal = Tensaio / Tadm
Sendo:
Tensaio = resistência à tração obtida em ensaio de laboratório
Tadm = resistência à tração requerida no projeto

A resistência à tração obtida em ensaio de laboratório é geralmente a carga de ruptura, a


qual deve ser reduzida através de fatores de redução que levem em conta as condições
de utilização da geogrelha. Portanto, a resistência à tração requerida no projeto deverá
ser encontrada usando, por exemplo, uma equação do tipo da seguinte:

Tadm = Tensaio [1 / FRID . FRCR . FRCD . FRBD . FRINT]

FRID = fator de redução que leva em conta os danos de instalação.


FRCR = fator de redução para evitar deformações de creep durante a vida útil da obra.
FRCD = fator de redução que leva em a degradação química da geogrelha.
FRBD = fator de redução que leva em conta a degradação biológica da geogrelha.
FRINT = fator de redução que leva em conta a segurança das emendas da geogrelha.

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


111

FSTotal = produto de todos os fatores de redução para as condições específicas da obra.

Alguns destes fatores de redução devem ser 1,0 ou pouco acima de 1,0 e podem não ter
importância em alguns tipos de obra. Entretanto, outros fatores de redução, que levem
em conta condições relevantes para determinadas situações na obra, podem ser incluídos
na determinação da resistência à tração de projeto. Por exemplo, fatores de redução que
levam em conta: degradação por raios UV, penetração de agregados de maior
granulometria, podem ser incluídos em condições especifícas.

A tabela abaixo, GG4(b) - 1991, fornece os fatores de redução recomendados para alguns
tipos de obras. No entanto, é importante analisar cada fator individualmente, em relação
às condições de solicitação e local de utilização da geogrelha.
Os fatores de redução apresentados, na tabela a seguir, são para geogrelhas flexíveis, ou
seja, aquelas que exibem uma rigidez à tração menor do que 1000 g/cm no ensaio ASTM
D 1388, segundo a GG4(b).
Vale lembrar também, que são fatores parciais, que foram quantificados por pesquisas no
GSI, e levam em conta condições de longa duração, que não são normalmente
consideradas nos ensaios de laboratório.

Fatores de redução parciais recomendados pela GG4(b) - 1991, para Geogrelhas Flexíveis
(termos definidos abaixo da equação de Tadm)

Tipo de Obra FRID FRCR FRCD FRBD FRINT


Aterros e Diques 1,4 3,0 1,4 1,3 2,0
Taludes 1,4 3,0 1,4 1,3 2,0
Muros 1,4 3,0 1,4 1,3 2,0
Capacidade de Carga 1,5 3,0 1,6 1,3 2,0

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


112

®
9. Propriedades da Geogrelha Engefort

Método Unidade Valor


Propriedades
Ensaio 20x10 35x20 50x50 55x30 65x65 80x30 110x30 110x110 150x30 200x30
Abertura da Malha (1) L 35 35 24 25 24 25 20 20 20 18
- mm
T 35 30 20 25 20 30 30 20 25 25
Resistência à Tração
Na Ruptura L ASTM D 25 45 60 60 70 85 130 130 157 210
T 6637 KN/m 13 23 60 35 70 35 30 130 30 30
Deformação na Ruptura L 15 17 12 15 12 12 12 15 13 13
%
T 15 16 14 15 14 14 19 12 17 17
Resistência a 2% de
KN/m 3 7 8 10 12 13 45 27 53 72
deformação L
Resistência a 5% de
KN/m 8 13 15 23 23 40 69 56 83 83
deformação L
Módulo Secante Médio L KN/m 150 300 430 500 600 650 1750 1200 1890 2490

Sugestões de Aplicação
Aterros, Taludes, Muros de Contenção* (4<pHsolo<9)
RTLD(2)
Direção Longitudinal GRI GG4 KN/m 9,5 17 22,7 22,7 26,5 32,2 49,2 49,2 59,5 79,5
Direção Transversal 4,9 8,7 22,7 13,2 26,5 13,2 11,4 49,2 11,4 11,4
Melhora da Capacidade de Carga, Reforço de Base de Aterros** (4<pHsolo<9)
RTLD(2)
Direção Longitudinal GRI GG4 KN/m 6,9 12,5 16,7 16,7 19,4 23,6 36,1 36,1 43,6 58,3
Direção Transversal 3,6 6,4 16,7 9,7 19,4 9,7 8,3 36,1 8,3 8,3
(1) L = Direção longitudinal ou direção de fabricação
T = Direção transversal
(2) RTLD = Resistência à Tração de Longa Duração = Tult / (FRCR x FRID x FRSD)

Manual de Geossintéticos – 3ª edição


113

FRCR = Fator de redução para o creep


FRID = Fator de redução para danos de instalação
FRSD = Fator de redução para durabilidade (degradação química e biológica)
Valores dos Fatores de Redução adotados na tabela:
* FRCR = 2,0 / FRID = 1,1 / FRSD = 1,2
** FRCR = 2,5 / FRID = 1,2 / FRSD = 1,2

Características da Geogrelha Engefort®


Processo de Fabricação Tecida
Polímero Poliéster de Alta Tenacidade
Revestimento dos Fios PVC
Largura da Bobina 2,20 m
Comprimento da Bobina até 100 m

Notas relativas à tabela de propriedades:


1. Para a determinação dos valores da RTLD da tabela, os fatores de redução
adotados são inferiores aos máximos recomendados na tabela do GG4(b). Deve-se
ter em mente, que cada caso é um caso e a adoção destes fatores sempre devem
levar em conta as peculiaridades de cada projeto.
2. A equação para a determinação da RTLD poderá incluir outros fatores de redução,
que sejam importantes para determinadas aplicações.
3. Os fatores de redução são específicos para as condições de cada obra e devem ser
previamente analisados antes de sua aplicação.
4. Engefort® pode também ser fabricada com as seguintes características, sob
consulta:
- com diferentes resistências à tração até 400 kN/m;
- com fios tendo como matéria prima a fibra de vidro.

10. Referências Bibliográficas


10.1. ABINT (2004). “Manual Brasileiro de Geossintéticos” – Editora Edgard Blücher –
Capítulo 1.
10.2. GRI GG4 (b) (1991). “Standard Practice for Determination of Long-Term
Strength of Flexible Geogrids” – Geosynthetic Institute – Drexel University –
USA.
10.3. IFAI Publication (2004). “Specifier’s Guide” – GFR – Volume 22, Number 9 –
December, pp. 145-158.
10.4. Koerner, R. M. (1999). “Designing with Geosynthetics” – Fourth Edition. Prentice
Hall, N.J.

Manual de Geossintéticos – 3ª edição

Você também pode gostar