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Brasília, 13 a 17 de março de 2017 Nº 857

Data de divulgação: 27 de março de 2017


Este Informativo, elaborado a partir de notas tomadas nas sessões de julgamento
das Turmas e do Plenário, contém resumos de decisões proferidas pelo Tribunal. A
fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja uma das metas
perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a publicação do acórdão no
Diário da Justiça.

SUMÁRIO
Plenário
Reclamação: direito à informação e sessões secretas do STM
Medida provisória: emenda parlamentar e ―contrabando legislativo‖
FGTS e prescrição trintenária - 4
Repercussão Geral
Incidência do ICMS na base de cálculo da contribuição para o PIS e da COFINS - 2
1ª Turma
Queixa-crime e individualização da conduta
Habeas corpus e julgamento monocrático em tribunais
Interposição de recurso via ―e-mail‖
Prisão civil por descumprimento de prestação alimentícia e dívida pretérita
2ª Turma
Recebimento da denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização
criminosa
Competência legislativa dos Municípios e Direito Ambiental
Clipping da Repercussão Geral
Transcrições
Registro sindical - Insubsistência - Confederação sindical - Perda superveniente de
legitimidade ativa (ADI 4.380-MC/AM)
Inovações Legislativas

PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Reclamação: direito à informação e sessões secretas do STM


O Tribunal julgou procedente reclamação ajuizada contra ato do Superior Tribunal Militar (STM),
para determinar à autoridade reclamada dê fiel e integral cumprimento à ordem concedida no julgamento
do RMS 23.036/RJ (acórdão publicado no DJ de 25.8.2006).
No referido julgado, a concessão da ordem foi para que os impetrantes tivessem acesso a registro
documentais de sessões do STM ocorridas na década de 1970. Não obstante, feito um novo requerimento,
o STM o deferira somente ao que se refere às sessões públicas.
Inicialmente, o Colegiado observou que a decisão proferida no julgamento do citado RMS
23.036/RJ não limitou o acesso dos então impetrantes a documentos e arquivos fonográficos relacionados
apenas às sessões públicas dos julgamentos do STM. Naquela ocasião, pelo contrário, a Corte assentou
não haver campo para a discricionariedade da Administração em restringir o amplo acesso que os então
recorrentes deveriam ter aos documentos gerados a partir dos julgamentos ocorridos no período em
referência. Conferiu, assim, induvidosa amplitude àquela decisão e concluiu que o ato impugnado estava

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em evidente descompasso com a ordem constitucional vigente, que erigiu o direito à informação ao
―status‖ de direito fundamental.
Por esse motivo, é injustificável a resistência do STM de se opor ao cumprimento da decisão pelo
STF, que taxativamente afastou os obstáculos erigidos para impedir fossem trazidos à lume a
integralidade dos atos processuais lá praticados, seja na dimensão oral ou escrita, cujo conhecimento
cidadãos brasileiros requereram, para fins de pesquisa histórica e resguardo da memória nacional.
Asseverou que o direito à informação, a busca pelo conhecimento da verdade sobre sua história,
sobre os fatos ocorridos em período avassalador do sentimento nacional e do espírito democrático que
exsurgia, assim como sobre suas razões, integra o patrimônio jurídico de todo e qualquer cidadão e
constitui dever do Estado assegurar os meios para o seu exercício.
Dessa forma, o Plenário concluiu que a autoridade reclamada deve permitir o acesso do reclamante
aos documentos descritos no requerimento administrativo objeto da impetração em questão, ressalvados
apenas aqueles indispensáveis ao resguardo de interesse público legítimo e à defesa da intimidade e
aqueles cujo sigilo se imponha para proteção da sociedade e do Estado, o que há de ser motivado de
forma explicita e pormenorizada pelo reclamado, a fim de sujeitar esse exame administrativo ao controle
judicial.
Rcl 11949/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 15.3.2017. (Rcl-11949)

DIREITO CONSTITUCIONAL – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Medida provisória: emenda parlamentar e “contrabando legislativo”


O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada em
face dos arts. 113 a 126 da Lei 12.249/2010, incluídos por emenda parlamentar em projeto de
conversão de medida provisória em lei.
Os dispositivos impugnados: a) alteram os limites das unidades de conservação federais
Floresta Nacional do Bom Futuro, Parque Nacional Mapinguari e Estação Ecológica de Cuniã; b)
autorizam a União a doar ao Estado de Rondônia imóveis rurais de sua propriedade inseridos na área
desafetada da Floresta Nacional do Bom Futuro, sob condição de que em parte dela sejam criadas
uma área de proteção ambiental e uma floresta estadual; c) determinam sejam doadas ao Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pelos órgãos e pelas entidades federais
que as detenham, as terras da União contidas nos novos limites do Parque Nacional Mapinguari e da
Estação Ecológica de Cuniã; e d) declaram de utilidade pública, para fins de desapropriação pelo
ICMBio, os imóveis rurais privados existentes nas áreas de ampliação do Parque Nacional
Mapinguari e da Estação Ecológica de Cuniã.
Porém, a medida provisória que originou a lei em questão contemplava, originalmente,
matérias distintas das tratadas nos citados artigos.
O Colegiado reportou-se ao decidido na ADI 5.127/DF (DJE de 11.5.2016), no sentido de ser
incompatível com a Constituição CF apresentar emendas sem relação de pertinência temática com a
medida provisória submetida à apreciação.
Asseverou que a prática de inserção, mediante emenda parlamentar, no processo legislativo de
conversão de medida provisória em lei, de matérias de conteúdo temático estranho ao objet o
originário da medida provisória viola a Constituição, notadamente o princípio democrático e o
devido processo legis lativo (CF, arts. 1º, ―caput‖ e parágrafo único, 2º, ―caput‖, e 5º, ―caput‖ e LIV).
Entretanto, nos termos do citado precedente, delibero u pela manutenção dos atos normativos
atacados, por conta do princípio da segurança jurídica. Naquele caso, o Plenário manteve hígidas
todas as leis de conversão fruto dessa prática promulgadas até a data do julgamento, ocorrido em
15.10.2015.
A ministra Rosa Weber (relatora), com ressalva de seu entendimento pessoal, endossou a
orientação quanto aos efeitos prospectivos daquela decisão.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgava a ação procedente.
ADI 5012/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 16.3.2017. (ADI-5012)

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DIREITO DO TRABALHO – FGTS

FGTS e prescrição trintenária - 4


O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a recurso extraordinário
interposto em face de decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que havia considerado ser de trinta
anos o prazo para exigir judicialmente dos empregadores e tomadores de serviços o depósito de valores
relativos ao FGTS, ainda que depois da Constituição em vigor — v. Informativo 634.
O Colegiado declarou, ainda, a inconstitucionalidade do art. 23, § 5º, da Lei 8.036/1990 e do art. 55
do Decreto 99.684/1990, com eficácia ―ex nunc‖, de modo a alcançar apenas os processos ajuizados
posteriormente à data deste julgamento (Lei 9.868/1999, art. 27).
Destacou que o tema, quanto ao prazo prescricional, deveria ser revisto à luz da ordem
constitucional vigente, com o exame das consequências da constitucionalização do instituto levado a
efeito apenas com a promulgação da nova Carta. Nesse contexto, observou que o art. 7º, XXIX, da CF
contém determinação expressa acerca do prazo de prescrição referente à propositura de ações atinentes a
―créditos resultantes das relações de trabalho‖.
Apontou que a aplicabilidade daquele dispositivo constitucio nal à cobrança judicial dos valores
devidos ao FGTS foi reconhecida pelo TST, ao editar o Enunciado 362 1 .
No entanto, frisou que o entendimento da Corte trabalhista de ser aplicável apenas parte do
dispositivo constitucional é, além de contraditório, dis sonante do postulado hermenêutico da máxima
eficácia das normas constitucionais. Sinalizou que o prazo deve ser o de cinco anos, previsto no inciso
XXIX do art. 7º da CF. Em seguida, ponderou que, por mais de vinte anos, tanto o STF quanto o TST
mantiveram posicionamento de que o prazo prescricional do FGTS é de trinta anos.
Aludiu à possibilidade de se modularem os efeitos em sede de controle incidental. Por fim,
assinalou que, no caso, o princípio da segurança jurídica recomendaria fosse mitigado o prin cípio da
nulidade da lei inconstitucional, com a consequente modulação de efeitos da decisão. Assim, seria
possível resguardar as legítimas expectativas dos trabalhadores brasileiros, que se pautavam em
manifestações, até então inequívocas, do tribunal competente para dizer a última palavra sobre a
interpretação da Constituição e da corte responsável pela uniformização da legislação trabalhista.
Ressaltou que essa tese foi acolhida pelo Plenário do STF no julgamento do ARE 709.212/DF (DJE
de 18.2.2015) efetuado sob a sistemática da repercussão geral. Na ocasião, os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade foram modulados, de modo que a nova orientação jurisprudencial valeria apenas
para as ações propostas a partir da data daquele julgamento.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que dava provimento ao recurso. Afirmava que, observado o
biênio, seria possível pleitear, na inicial da reclamação trabalhista, as parcelas dos últimos cinco anos.

1. Enunciado 362/TST : ―É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não recolhimento da contribuição para o
FGT S, observado o prazo de 2 (dois) anos após o término do contrato de trabalho‖.
RE 522897/RN, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 16.3.2017. (RE-522897)

REPERCUSSÃO GERAL

DIREITO TRIBUTÁRIO - CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Incidência do ICMS na base de cálculo da contribuição para o PIS e da COFINS - 2


O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base de cálculo para
a incidência da contribuição para o PIS e da COFINS. Com essa orientação, o Tribunal, por maioria, deu
provimento a recurso extraordinário no qual se discutia a possibilidade de inclusão do montante do ICMS
gerado na circulação de mercadoria ou prestação de serviço no conceito de fatura mento para fins de
incidência da contribuição para o PIS e da COFINS — v. Informativo 856.
Prevaleceu o voto da ministra Cármen Lúcia (Presidente e relatora). Consignou que a inclusão do
ICMS na base de cálculo das referidas contribuições sociais leva ao inaceitá vel entendimento de que os
sujeitos passivos desses tributos faturariam ICMS, o que não ocorre. Assim, enquanto o montante de
ICMS circula por suas contabilidades, os sujeitos passivos das contribuições apenas obtêm ingresso de

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caixa de valores que não lhes pertencem. Em outras palavras, o montante de ICMS, nessas situações, não
se incorpora ao patrimônio dos sujeitos passivos das contribuições, até porque tais valores são destinados
aos cofres públicos dos Estados -Membros ou do Distrito Federal.
Ponderou, igualmente, que a parcela correspondente ao ICMS pago não tem natureza de
faturamento (nem mesmo de receita), mas de simples ingresso de caixa. Por essa razão, não pode compor
a base de cálculo da contribuição para o PIS ou da COFINS.
Asseverou que tanto a análise jurídica quanto a contábil do ICMS — ambas pautadas em sua não
cumulatividade, principal característica desse tributo — revelam não ser possível incluir o ICMS na base
de cálculo da contribuição para o PIS e da COFINS, nem também excluí-lo totalmente. Isso porque,
enquanto parte do montante do ICMS é entregue diretamente ao Estado, parte dele mantém-se no
patrimônio do contribuinte até a realização de nova operação. A análise jurídica do princípio da não
cumulatividade aplicado ao ICMS, entretanto, leva em consideração apenas o conteúdo normativo do art.
155, § 2º, I, da CF1 .
Sobre esse aspecto, também com fundamento na doutrina, pontuou que a Constituição, no tocante à
compensação, consagrou a ideia de que a quantia a ser desembolsada pelo contribuinte a título de ICMS é
o resultado de uma subtração em que o minuendo é o montante de imposto devido e o subtraendo é o
montante de imposto anteriormente cobrado ou cobrável. O realizador da operação ou prestação tem o
direito constitucional subjetivo de abater do montante do ICMS a recolher os valores cobrados, a esse
título, nas operações ou prestações anteriores. O contribuinte, se for o caso, apenas recolhe aos cofres
públicos a diferença resultante dessa operação matemática.
Assim, nem todo montante de ICMS é recolhido pelos contribuintes posicionados no meio da cadeia
(distribuidor e comerciante), ou seja, parte do valor do ICMS destacado na fatura é aproveitada pelo
contribuinte para compensar com o montante do imposto gerado na operação anterio r. Em algum
momento, ainda que não exatamente o mesmo, ele será recolhido e, por isso, não constitui receita do
contribuinte. Logo, ainda que contabilmente escriturado, não guarda expressa definição constitucional de
faturamento para fins de apuração da base de cálculo da contribuição para o PIS e da COFINS, pois o
valor do ICMS tem como destino fiscal a Fazenda Pública.
Ademais, por ser inviável a apuração do ICMS, considerando -se cada mercadoria ou serviço e a
correspondente cadeia, adota-se o sistema de apuração contábil ou escritural do imposto. Nesse sentido, o
montante de ICMS a recolher é apurado mês a mês, com base no total de créditos decorrentes de
aquisições e no total de débitos gerados nas saídas de mercadorias ou serviços. Em suma, o princípio da
não cumulatividade operacionaliza-se por meio da compensação entre débitos e créditos na escrituração
fiscal.
Para a relatora, o regime da não cumulatividade impõe concluir que, embora se tenha a escrituração da
parcela do ICMS ainda a se compensar, o montante integral não se inclui na definição de faturamento adotada
pelo Supremo Tribunal Federal, motivo por que ele não pode compor a base de cálculo d a contribuição para o
PIS e da COFINS.
Enfatizou que, embora o ICMS incida sobre todo o valor da operação, o regime de compensação importa
na possibilidade de, em algum momento da cadeia de operações, haver saldo a pagar do tributo, se a venda for
realizada em montante superior ao da aquisição e na medida desse aumento do valor. Em outras palavras, o
valor do ICMS é indeterminável até se efetivar a operação subsequente. Afasta-se, pois, da composição do
custo e deve, por conseguinte, ser excluído da base de cálculo das mencionadas contribuições.
Por fim, verificou que o recolhimento do ICMS na condição d e substituto tributário (Lei 9.718/1998, art.
3º, § 2º, I, ―in fine‖) importa transferência integral às Fazendas Públicas estaduais do montante recolhido, sem a
necessidade de compensação e, portanto, de identificação de saldo a pagar, pois não há recolhimentos
posteriores pelos demais contribuintes substituídos.
Se a norma exclui o ICMS transferido integralmente para os Estados -Membros da base de cálculo das
mencionadas contribuições sociais, também deve ser excluída a transferência parcial decorrente do regime de
não cumulatividade.
Vencidos os ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que negavam
provimento ao recurso.

1. CF, art. 155, § 2º, I: ― Art. 155...§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I – será não cumulativo,
compensando-se o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante
cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal‖.
RE 574706/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 15.3.2017. (RE-574706)

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PRIMEIRA TURMA

DIREITO PENAL – TIPICIDADE

Queixa-crime e individualização da conduta


A Primeira Turma determinou o desmembramento de queixa-crime em relação ao querelado não detentor
de foro por prerrogativa de função. Quanto aos demais querelados, rejeitou, por maioria, a inicial acusatória.
No caso, a queixa-crime foi oferecida por deputado federal, em face de radialista e sócios -proprietários
de empresa de radiodifusão s onora, pela prática dos crimes de calúnia, difamação e injúria (CP, arts. 138, 139 e
140, § 3º).
O Colegiado registrou que o querelante não individualizou, minimamente, as condutas dos querelados
detentores de prerrogativa de foro e lhes imputou fatos criminosos em razão da mera condição de
sócios-proprietários do veículo de comunicação social por meio do qual o radialista teria proferido
as supostas ofensas à honra do peticionário.
Nesse contexto, pontuou que a mera posição hierárquica dos acusados na titularidade da empresa de
comunicação, sem a descrição da ação e sem elementos que evidenciem a vontade e consciência de praticar o
crime imputado, inviabiliza o prosseguimento da ação penal, por manifesta ausência de justa causa.
Ademais, ressaltou que os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da
ampla defesa (CF, art. 5º, LIV e LV) impõem que a inicial acusatória tenha como fundamentos elementos
probatórios mínimos que demonstrem a materialidade do fato delituoso e os indícios suficientes de autoria.
Vencido, no mérito, o ministro Marco Aurélio. Para ele, a peça primeira da ação penal privada atenderia
aos arts. 41 e 395, II e III, do CPP. Ponderava que, considerado o pano de fundo — uma disputa política no
Estado do Pará —, os detentores da prerrogativa de serem julgados pelo STF seriam os autores intelectuais, e o
radialista teria atuado a partir de orientação dos dois.
Pet 5660/PA, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.3.2017. (Pet-5660)

DIREITO PROCESSUAL PENAL - TRAMITAÇÃO EM TRIBUNAIS

Habeas corpus e julgamento monocrático em tribunais


A Primeira Turma deferiu a ordem de ―habeas corpus‖ para determinar ao STJ a análise, por órgão
colegiado, do tema de fundo de ―habeas corpus‖ lá impetrado.
No caso, o relator do processo no STJ, em decisão monocrática, não conheceu do pedido por considerar
que a impetração foi utilizada como substitutiva de recurso ordinário.
A impetrante sustentava a inconstitucionalidade do art. 34, XVIII, do Regime nto Interno do STJ. Tal
dispositivo possibilita ao relator, monocraticamente, negar seguimento aos pedidos ou recursos evidentemente
intempestivos, incabíveis, improcedentes, contrários a súmula, ou quando o Tribunal for manifestamente
incompetente para apreciar o pleito formulado.
A Turma asseverou que reiterados pronunciamentos do STF são no sentido de incumbir não ao relator no
âmbito do STJ, mas a este último, como colegiado, julgar o ―habeas corpus‖.
Ressaltou, ainda, que a situação está a merecer a glosa, sob pena de os 27 Tribunais de Justiça e os 5
Tribunais Regionais Federais virem a proceder de idêntica forma, esvaziando o sentido da impetração.
HC 120496/MS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.3.2017. (HC-120496)

DIREITO PROCESSUAL PENAL – REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

Interposição de recurso via “e-mail”


A Primeira Turma denegou ―habeas corpus‖ em que se discutia a possibilidade de manejo de peça
recursal exclusivamente por meio de correio eletrônico.

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No caso, foi inadmitido recurso especial em razão da intempestividade, por impossibilidade de
apresentação da peça via ―e-mail‖.
O Colegiado consignou que a Lei 9.800/1999, ao permitir que as partes utilizem o sistema de
transmissão de dados e imagens do tipo fac-símile ou outro semelhante para a prática de atos processuais
que dependam de petição escrita, não autoriza a adoção do ―e-mail‖.
Ressaltou, ainda, que a excepcionalidade prevista na lei à interposição direta de recurso não
dispensa a apresentação subsequente do documento original.
HC 121225/MG, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.3.2017. (MS-121225)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PRISÃO CIVIL

Prisão civil por descumprimento de prestação alimentícia e dívida pretérita


A Primeira Turma concedeu ―habeas corpus‖ para afastar a custódia do paciente, preso em virtude
de não ter efetuado o pagamento de prestação alimentícia.
O Colegiado ressaltou que a prisão foi determinada em virtude de débito referente ao período
compreendido entre 2006 e 2010.
Concluiu que a prisão por dívida é pertinente apenas no caso de descumprimento inescusável de
prestação alimentícia, não sendo cabível quando se referir à execução de débito passado.
HC 121426/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.3.2017. (MS-121426)

SEGUNDA TURMA

DIREITO PROCESSUAL PENAL - AÇÃO PENAL

Recebimento da denúncia: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa


A Segunda Turma recebeu em parte a denúncia contra deputado federal e outros pela suposta prática
dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e integração de organização criminosa. Não a
acolheu em relação a acusado que já responde, no Inq 4.112/DF, pelos mesmos fatos quanto ao último
crime. Além disso, rejeitou a denúncia contra duas acusadas por falta de justa causa (CPP, art. 395, III).
No caso, de acordo com a inicial acusatória, o denunciado deputado federal teria solicitado, aceitado
promessa e recebido, por intermédio e em unidade de desígnios com os outros acusados, vantagem
pecuniária indevida em vultosa quantia, para se omitir no cumprimento do seu dever parlamentar de
fiscalização da administração pública federal, o que teria viabilizado o funcionamento de organização
criminosa voltada para a prática dos crimes de peculato, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro
no âmbito de empresa estatal de distribuição de petróleo.
Inicialmente, a Turma rejeitou as preliminares suscitadas. Indeferiu o pedido de reabertura de prazo
para aditamento da defesa; considerou que a manifestação da Procuradoria -Geral da República às
respostas apresentadas pelos acusados à denúncia, após o transcurso do prazo de cinco dias, não gera
nulidade; afastou a alegação de vício em interceptações telefônicas realizadas no âmbito de procedimento
que tramitou perante o juízo da 13ª Vara Federal; observou que o afastamento dos sigilos bancário e fiscal
dos acusados, bem como as buscas em endereços a eles vinculados não estariam maculados; ponderou
que o fato de o Procurador-Geral da República não ter denunciado nestes autos crimes de corrupção ativa
não acarreta a inépcia da denúncia com relação aos delitos de corrupção passiva.
O Colegiado negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão que deferiu o
desmembramento do processo. Consignou que o desmembramento não acarreta inépcia da denúncia ou
ofensa aos princípios da indivisibilidade, da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ação penal.
Frisou que a denúncia relata, de forma pormenorizada, os fatos supostamente delituosos e suas
circunstâncias e explana, de modo compreensível e individualizado, a conduta criminosa, em tese,
adotada pelos envolvidos, nos termos do que determina o art. 41 do CPP. Dessa forma, não há qualquer
prejuízo ao exercício do direito de defesa. Explicou que o que a lei impõe é uma descrição lógica e
coerente, a fim de permitir aos acusados a compreensão das imputações e o exercício amplo do
contraditório, o que se verifica na espécie.

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Enfatizou que, ao menos para esta fase processual, há elementos nos autos que demonstram, de
forma individualizada, o possível envolvimento do parlamentar e de outros dois acusados na prática de
crimes de corrupção passiva (CP, art. 317, § 1º) no âmbito da estatal, com subsequente execução, em tese,
de atos de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, § 4º), para a ocultação e dissimulação da origem e
natureza dos valores indevidos recebidos por eles.
A acusação também procede, nesta fase, quanto aos indícios de que o deputado e outro cometeram,
em tese, o crime de integrar organização criminosa (Lei 12.850/2013, art. 2º, § 3º e 4º, II). Esses
denunciados associaram-se a diversas outras pessoas para a prática permanente e reiterada de crimes de
corrupção passiva, no âmbito da estatal, e de lavagem de dinheiro.
A Turma ressaltou que a imputação dos crimes de corrupção passiva a duas acusadas é
particularmente frágil, porquanto a exordial acusatória não sustenta terem elas ciência do s atos de
corrupção em tese praticados, nem demonstra, sequer de forma indiciária, qualquer liame subjetivo entre
elas e os demais denunciados. Na mesma linha, não há como atribuir às denunciadas a prática de lavagem
de dinheiro, se a acusação não alega terem elas conhecimento da origem ilícita dos valores em espécie
supostamente recebidos nem indica a destinação por elas dada ao numerário.
Por fim, asseverou que a denúncia não está amparada apenas em depoimentos prestados em
colaboração premiada. Há inúmeros outros indícios que reforçam as declarações prestadas pelos
colaboradores, tais como, dados telemáticos e bancários, depoimentos, informações policiais e
documentos, o que é bastante neste momento de cognição sumária, quando não se exige juízo de certe za
acerca de culpa.
Inq 3990/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 14.3.2017. (Inq-3990)

DIREITO CONSTITUCIONAL – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Competência legislativa dos Municípios e Direito Ambiental


Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam fundamentadamente.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma negou provimento a agravo regimental.
A Turma afirmou que os Municípios podem adotar legislação ambiental mais restritiva em relação
aos Estados-Membros e à União. No entanto, é necessário que a norma tenha a devida motivação.
ARE 748206 AgR/SC, rel Min. Celso de Mello, julgamento em 14.3.2017. (ARE-748206)

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio eletrônico*


Pleno 15.3.2017 16.3.2017 4 11
1ª Turma 14.3.2017 — 58 115
2ª Turma 14.3.2017 — 10 91
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 10 a 16 de março de 2017.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 13 a 17 de março de 2017

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 835.291 -RO


RELATO R: MIN. RICARDO LEWANDO WSKI
EMENTA: RECURSO EXT RAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. ADMINIST RATIVO. AUDITORES FISCAIS.
ADICIONAL DE PRODUTIVIDADE FISCAL. MULTAS. PARTICIPAÇÃO NOS VALORES ARRECADADOS. PROIBIÇÃO
DE VINCULAÇÃO DE RECEITAS DE IMPOST OS A ORGÃO, FUNDO OU DESPESA. QUEST ÃO CONSTITUCIONAL QUE
ULT RAPASSA OS INT ERESSES DAS PART ES. RELEVÂNCIA JURÍDICA, SOCIAL E ECÔNOMICA. I – Possui repercussão
geral a controvérsia referente ao exame da constitucionalidade de norma que vincula parte da arrecadação de multas tributárias para
o pagamento de auditores fiscais. II – Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 609.517 -RO
RELATO R: MIN. RICARDO LEWANDO WSKI
EMENTA: RECURSO EXT RAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. ADMINIST RAT IVO. ADVOCACIA
PÚBLICA. OBRIGAT ORIEDADE DE INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. RELEVÂNCIA DO
PONT O DE VIST A JURÍDICO. I – A questão referente à exigência de inscrição de advogado público na OAB para o exercício de
suas funções públicas alcança toda a advocacia pública nacional, transcendendo, portanto, o interesse das partes. II – Repercussão
geral reconhecida.

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REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 999.425-SC
RELATO R: MIN. RICARDO LEWANDO WSKI
EMENTA: PENAL E CONST ITUCIONAL. CRIMES PREVISTOS NA LEI 8.137/1990. PRISÃO CIVIL POR DÍVIDA.
OFENSA AO ART . 5º, LXVII, DA CONST IT UIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
CONFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA. RECURSO EXT RAORDINÁRIO DESPROVIDO.
I – O T ribunal reconheceu a existência de repercussão geral da matéria debatida nos presentes autos, para reafirmar a
jurisprudência desta Corte, no sentido de que a os crimes previstos na Lei 8.137/1990 não violam o disposto no art. 5º, LXVII , da
Constituição.
II – Julgamento de mérito conforme precedentes.
III – Recurso extraordinário desprovido.
Decisões Publicadas: 3

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORM ATIVO STF uma compreensão
mais aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Registro sindical - Insubsistência - Confederação sindical - Perda superveniente de legitimidade ativa


(Transcrições)
ADI 4.380-MC/AM*
RELAT OR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: CO NTRO LE NO RMATIVO ABSTRATO . CO NFEDERAÇÃO SINDICAL. REGISTRO SINDICAL E
LIBERDADE SINDICAL. PRECEDENTES. DO UTRINA. PERDA SUPERVENIENTE DA LEGITIMIDADE ATIVA ― AD
CAUSAM‖ PO R EFEITO DE INVALIDAÇÃO JUDICIAL DO REGISTRO SINDICAL. A Q UESTÃO DO
PREENCHIMENTO DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO. MATÉRIA DE O RDEM PÚBLICA. COGNOSCIBILIDADE DE
OFÍCIO. NECESSIDADE DE ACHAREM-SE PRESENT ES, NO MOMENTO DA RESOLUÇÃO DO LITÍGIO (CPC ,
ART . 485, § 3º), TO DAS AS CONDIÇÕES DA AÇÃO. RELAÇÃO DE CO NTEMPO RANEIDADE NÃO MAIS
EXISTENTE. EXTINÇÃO ANÔ MALA DO PROCESSO DE FISCALIZAÇÃO CONCENT RADA DE
CONST IT UCIONALIDADE. DO UTRINA. PRO CESSO DECLARADO EXTINTO.
DECISÃO : A Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados – CNTU, invocando a condição
de “entidade sindical de grau superior”, ajuíza a presente ação direta, com pedido de medida liminar.
O corre, no entanto, que, e m consulta ao Cadastro Nacional de Entidades Sindicais (CNES) que o Ministério do T rabalho
mantém em sua página oficial na “Internet”, constatei que sobreveio ao ajuizamento da presente ação direta a cassação do
registro sindical da autora.
Cabe observar, por relevante, que a declaração de nulidade do registro sindical da autora, pronunciada pelo E. TRT /10ª
Região, foi mantida tanto pelo E. Tribunal Superior do Trabalho quanto por este Supremo Tribunal Federal (ARE 919.995-AgR/DF, Rel.
Min. CÁRMEN LÚCIA), em decisão transitada e m julgado.
Torna-se inevitável concluir, desse modo, que a invalidação do registro sindical impede que se atribua, no caso, à autora a
condição de entidade sindical de grau superior.
É importante salientar, neste ponto, que apenas o registro dos atos constitutivos no Ofício do Registro Civil das Pessoas Jurídicas
não basta, só por si, para conferir personalidade de direito sindical à entidade para tal fim constituída, pois prevalece , nessa matéria, a
e xigência do duplo registro, consoante tem sido acentuado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RTJ 147/868-869, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE – RTJ 152/782, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RTJ 153/273-274, Rel. Min. PAULO BROSSARD – RTJ
159/661, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – MI 388/SP, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – RE 146.822-EDv-AgR/DF, Rel. Min.
MOREIRA ALVES, v.g.
“REGISTRO SINDICAL E LIBERDADE SINDICAL
– A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ao interpretar a norma inscrita no art. 8º, I, da Carta Política – e
tendo presentes as várias posições assumidas pelo magistério doutrinário (uma que sustenta a suficiência do registro da
entidade sindical no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; outra que se satisfaz com o registro personificador no
Ministério do Trabalho; e a última, que exige o duplo registro: no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para efeito de
aquisição da personalidade meramente civil, e no Ministério do Trabalho, para obtenção da personalidade sindical) –,
firmou orientação no sentido de que não ofende o texto da Constituição a exigência de registro sindical no Ministério
do Trabalho, órgão este que, sem prejuízo de regime diverso passível de instituição pelo legislador comum, ainda
continua a ser o órgão estatal incumbido de atribuição normativa para proceder à efetivação do ato registral.
Precedente (...).
– O registro sindical qualifica-se como ato administrativo essencialmente vinculado, devendo ser praticado pelo
Ministro do Trabalho, mediante resolução fundamentada, sempre que, respeitado o postulado da unicidade sindical e
observada a exigência de regularidade, autenticidade e representação, a entidade sindical interessada preencher,
integralmente, os requisitos fixados pelo ordenamento positivo e por este considerados como necessários à formação
dos organismos sindicais.”
(RTJ 159/413-414, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Essa orientação jurisprudencial, vale ressaltar, hoje consagrada no enunciado constante da Súmula 677/STF, nada mais
re flete senão o reconhecimento de que, embora a entidade sindical possa constituir-se independentemente de prévia autorização
governamental – eis que é plena a sua autonomia jurídico-institucional em face do Estado (CF, art. 8º, I) –, a Constituição não vedou, de

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todo, a participação estatal no procedimento administrativo referente ao registro sindical, a efetivar-se, no entanto, mediante ato do Poder
Público necessariamente vinculado.
O e minente Ministro XAVIER DE ALBUQUERQUE, em magnífico estudo sobre essa especial questão jurídica (LTr,
vol. 53/11, p. 1.273-1.285), após resenhar as várias posições assumidas pela doutrina – uma sustentando a suficiência do registro
da entidade sindical no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; outra satisfazendo-se apenas com o registro personificador no
Ministério do T rabalho; e a última, exigindo duplo registro: no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para efeito de aquisição da
personalidade meramente civil, e no Ministério do Trabalho, para obtenção da personalidade sindical –, expendeu magistério
de finitivo a propósito do tema, enfatizando, com absoluta correção, com apoio nas lições de AMAURI MASCARO
NASCIMENT O (―Organização Sindical na Perspectiva da Constituição‖, ― in‖ LTr, vol. 52/1, p. 5-15), de OCT AVIO BUENO
MAGANO (― A O rganização Sindical na Nova Constituição‖, ―in‖ LTr, vol. 53/1, p. 38-43) e de EDUARDO GABRIEL SAAD
(― Constituição e Direito do Trabalho‖, p. 178-179 e 226, 1989), que a imprescindibilidade do registro sindical (que se revela
ple namente legítimo) não ofende a cláusula constitucional que proíbe a exigência de autorização estatal para a criação de
organismos sindicais.
O aspecto que venho de referir assume indiscutível relevo processual, pois, como se sabe, a jurisprudência desta Corte, atenta ao
que dispõe o art. 103, IX, da Constituição, firmou-se no sentido de reconhecer às Confederações sindicais – e a estas apenas (RTJ
195/752-754, v.g.) –, entre as entidades e organizações que compõem a estrutura sindical brasileira, o poder de ativar a jurisdição
constitucional de controle ―in abstracto‖ do Supremo Tribunal Federal (RTJ 135/495 – RTJ 135/853 – RTJ 138/421 – RTJ 143/831 – RTJ 144/434
– RTJ 145/101-102 – RTJ 151/3 – RTJ 151/743 – RTJ 172/52 – RTJ 177/641 – ADI 151-QO/RS, Rel. Min. SYDNEY SANCHES – ADI
299/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – ADI 398/DF, Rel. Min. SYDNEY SANCHES – ADI 1.177/DF, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – ADI 1.795/PA, Rel. Min. MOREIRA ALVES – ADI 1.953/ES, Rel. Min. ILMAR GALVÃO, v.g.):
“No campo da organização sindical, só a Confederação, não a Federação (mesmo de âmbito nacional), é parte
legítima para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade, nos termos do art. 103, IX, da Constituição.”
(RTJ 146/421, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI – grifei)
“Ação direta de inconstitucionalidade: ilegitimidade ativa „ad causam‟ da Federação Nacional dos
Administradores – FENAD (...).
É da jurisprudência do Supremo Tribunal que, no âmbito das entidades sindicais, a questionada legitimação é
privativa das confederações (v.g., ADIn 398, 01.02.91, Sanches, RTJ 135/495; ADIn 17, 11.03.91, Sanches, RTJ
135/853; ADIn 360, 21.09.90, Moreira, RTJ 144/703; ADIn 488, 26.04.91, Gallotti, RTJ 146/42; ADIn 526, 16.10.91,
RTJ 145/101; ADIn 689, 29.03.92, Néri, RTJ 143/831; ADIn 599,24.10.91, Néri, RTJ 144/434; ADIn 772, 11.09.92,
Moreira, RTJ 147/79; ADIn 164, 08.09.93, Moreira, RTJ 139/396; ADIn 935, 15.09.93, Sanches, RTJ 149/439; ADIn
166, 05.09.96, Galvão, DJ 18.10.96; ADIn 1795, 19.03.98, Moreira, DJ 30.4.98; AgADIn 1785, 08.06.98, Jobim,
7.8.98).”
(ADI 3.762-AgR/DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERT ENCE – grifei)
“CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO DIRETA. ILEGITIMIDADE ATIVA DE
ENTIDADE SINDICAL DE PRIMEIRO GRAU, AINDA QUE DE ÂMBITO NACIONAL. AÇÃO DIRETA DE QUE NÃO SE
CONHECE.
– Os Sindicatos, mesmo aqueles de âmbito nacional, não dispõem de legitimidade ativa para o ajuizamento da ação direta
de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal.
– No âmbito da estrutura sindical brasileira, somente a Confederação Sindical – que constitui entidade de grau superior – possui
qualidade para agir, em sede de controle normativo abstrato, perante a Suprema Corte (CF, art. 103, IX). Precedentes.”
(ADI 4.064-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Vê -se, daí, não dispor a Confederação Nacional dos T rabalhadores Liberais Universitários Regulamentados – CNT U de
le gitimidade ativa ―ad causam ‖ para fazer instaurar este processo objetivo de controle normativo abstrato ou para nele
legitimamente prosseguir.
Cumpre ter presente, no ponto, em face do que dispõe o art. 485, § 3º, do CPC, que a questão pertinente às condições da ação,
por constituir matéria de ordem pública, revela-se suscetível de apreciação ―ex officio‖, a qualquer tempo, por parte dos órgãos judiciários
em geral, eis que o fenômeno processual da preclusão não incide sobre o controle jurisdicional dos requisitos mínimos de admissibilidade
do ―jus actionis‖, como tem assinalado a jurisprudência dos Tribunais, inclusive a desta Suprema Corte (RTJ 101/907 – RTJ 112/1404 – RT
706/193, v.g.).
Impe nde referir, por oportuno, a lição de NELSON NERY JÚNIOR (―Revista de Processo‖, vol. 42/201), para quem ―As
condições da ação, vale dizer, as condições para que seja proferida sentença sobre a questão de fundo (mérito), devem vir
preenchidas quando da propositura da ação e devem subsistir até o momento da prolação da sentença. Presentes quando da
propositura, mas eventualmente ausentes no momento da prolação da sentença, é vedado ao juiz pronunciar-se sobre o mérito, já
que o autor não tem mais direito de ver a lide decidida‖ (grifei).
O bserva-se, assim, que os requisitos de admissibilidade do ― jus actionis‖, entre os quais – enfatize-se – situa-se a
legitimação ativa ― ad causam‖, devem estar presentes não só na ocasião em que proposta a demanda, mas, por igual, também no
instante em que vier a ser proferido o julgamento da lide, pois o ordenamento processual impõe que o Poder Judiciário, no
momento de proferir a decisão, tome em consideração, mesmo ―ex officio‖, fatos supervenientes à instauração do processo, tais
como aqueles que se refiram, p. ex., à ausência, ainda que ulterior, de qualquer das condições da ação.
Isso significa, portanto, consoante assinala prestigioso magistério doutrinário (HUMBERT O T HEODORO JÚNIOR,
― Curso de Direito Processual Civil‖, vol. I/1.046, item n. 754.6, 58ª ed., 2017, Forense; LUIZ GUILHERME MARINONI,
SÉRGIO CRUZ ARENHART e DANIEL MITIDIERO, ― Novo Código de Processo Civil Comentado‖, p. 569, item n. 3, 2ª ed.,
2016, RT; ANTÔNIO CLÁUDIO DA COST A MACHADO, “Código de Processo Civil Interpretado‖, p. 547, 2ª ed., 2008,
Manole; JOÃO ROBERTO PARIZATTO, “Código de Processo Civil Comentado”, vol. 1/4, 2008, Edipa; JOSÉ MIGUEL
GARCIA MEDINA, “Novo Código de Processo Civil Comentado”, p. 762, item IX, 4ª ed., 2016, RT ; GUILHERME RIZZO
AMARAL, “Comentários às Alterações do Novo CPC‖, p. 581-582, item n. 2.7, 2015, RT , v.g.), que as condições da ação
devem estar igualmente presentes no momento em que a causa for julgada, e m ordem a que se declare extinto o processo na
hipótese de perda superveniente da legitimidade ativa “ad causam” da parte demandante, precisamente como sucede na espécie.
Assinalo, a título de ilustração, que esse mesmo entendimento reflete-se em expressivo precedente emanado do Plenário
desta Suprema Corte:

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“Voto de liderança. Legitimidade ‗ad causam‘.
Se, embora, ao ser iniciado o julgamento do ‗mandamus‘, possuia o impetrante legitimidade ‗ad causam‘ para a
impetração, mas veio a seguir a perdê-la, antes de que fosse aquele concluído, é de ver considerado prejudicado o
‗writ‘, por deixar de existir o pressuposto essencial de legítimo interesse.”
(RTJ 123/31, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO – grifei)
Vale referir, por extremamente oportuno, o douto magistério de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (―Instituições de
Dire ito Processual Civil‖, vol. II/325-326, item n. 554, 6ª ed., 2009, Malheiros), que, a propósito do tema concernente à relação
de contemporaneidade entre a prolação da sentença, de um lado, e a existência de interesse e de legitimidade, de outro, assim se
pronuncia:
“As partes só poderão ter o direito ao julgamento do mérito quando, no momento em que este está para ser
pronunciado, estiverem presentes as três condições da ação. Se alguma delas não existia no início mas ainda assim o
processo não veio a ser extinto, o juiz a terá por satisfeita e julgará a demanda pelo mérito sempre que a condição antes
faltante houver sobrevindo no curso do processo. Inversamente, se a condição existia de início e já não existe agora, o
autor carece de ação e o mérito não será julgado. Na experiência processual do dia-a-dia são muito mais frequentes os
casos de condições que ficam excluídas (pedido prejudicado).
.......................................................................................................
Essa posição, generalizada na doutrina e acatada pelos tribunais, tem assento jurídico-positivo no art. 462 do
Código de Processo Civil, segundo o qual „se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou
extintivo do direito influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento
da parte, no momento de proferir a sentença‟. Cumpre-lhe, pois, segundo esse dispositivo, levar em conta os fatos
novos que implementem uma condição antes ausente ou que excluam uma que existia.” (grifei)
De sse modo, e se a legitimação ― ad causam‖ compreende uma relação de pertinência entre os sujeitos processuais e a
relação de direito material deduzida em juízo, torna-se claro que, não mais subsistindo a situação legitimadora da qualidade
para agir (a condição de entidade sindical de grau superior, na espécie), cessa, por completo, o próprio interesse processual na
solução do litígio.
Re gistro, finalmente, que a inviabilidade da presente ação direta de inconstitucionalidade, e m decorrência das razões ora
expostas, justifica a seguinte observação: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator
compe tência plena para exercer, monocraticamente, o controle de ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo T ribunal
Federal, legitimando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175, v.g.).
Ne m se alegue que o exercício monocrático de tal competência implicaria transgressão ao princípio da colegialidade , eis
que o postulado em questão sempre restará preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal
dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo T ribunal Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ
181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RE 302.839-AgR/GO ,
Rel. Min. CARLOS VELLOSO, v.g.):
“PODERES PROCESSUAIS DO MINISTRO-RELATOR E PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE
– Assiste ao Ministro-Relator competência plena para exercer, monocraticamente, com fundamento nos poderes
processuais de que dispõe, o controle de admissibilidade de ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal
Federal. Pode, em consequência, negar trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando
incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem pretensão incompatível com a jurisprudência
predominante na Suprema Corte. Precedentes.
– O reconhecimento dessa competência monocrática deferida ao Relator da causa não transgride o postulado da
colegialidade, pois sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas),
recurso contra as decisões singulares que venham a ser proferidas por seus Juízes.”
(MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Cabe acentuar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também aplicável aos processos objetivos de
controle concentrado de constitucionalidade (ADC 21/DF, Rel. Min. DIAS T OFFOLI – ADI 563/DF, Rel. Min. PAULO
BROSSARD – ADI 593/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – ADI 2.060/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADI 2.207/AL,
Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADI 2.215/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADO 3/RJ, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – ADPF
6-MC/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 40/MG, Rel. Min. GILMAR MENDES – ADPF 82/PE, Rel. Min. GILMAR
MENDES – ADPF 95/DF, Rel. Min. T EORI ZAVASCKI – ADPF 104-MC/SE, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF 125/DF,
Rel. Min. LUIZ FUX – ADPF 239/DF, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – ADPF 240/DF, Rel. Min. ROBERT O BARROSO – ADPF
287/TO, Rel. Min. DIAS T OFFOLI – ADPF 288-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 308/SP, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI – ADPF 319/PB, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – ADPF 327/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – ADPF 329-MC/DF,
Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 333/RS, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF 340/SP, Rel. Min. ROBERT O BARROSO
– ADPF 352/MT, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF 363-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que , tal como já
assentou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro ―não subtrai ao Relator da causa o poder de efetuar
– enquanto responsável pela ordenação e direção do processo (RISTF, art. 21, I) – o controle prévio dos requisitos formais da fiscalização
normativa abstrata, o que inclui, entre outras atribuições, o exame dos pressupostos processuais e das condições da própria ação direta‖
(RTJ 139/67, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Se ndo assim, e em face das razões expostas (perda superveniente de legitimidade ativa “ad causam” da autora), julgo
e xtinto este processo de controle abstrato de constitucionalidade.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 22 de março de 2017.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator
*decisão publicada no DJe em 27.3.2017

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INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
13 a 17 de março de 2017

Lei nº 13.419, de 13.3.2017 - Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, para disciplinar o rateio, entre empregados, da cobrança
adicional sobre as despesas em bares, restaurantes, hotéis, motéis e estabelecimentos similares. Publicada
no DOU, Seção nº 1, Edição nº 50, p. 1, em 14.3.2017.
Lei nº 13.420, de 13.3.2017 - Altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei n o 5.452, de 1o de maio de 1943, para incentivar a formação técnico-profissional de
adolescentes e jovens em áreas relacionadas à gestão e prática de atividades desportivas e à prestação de
serviços relacionados à infraestrutura, à organização e à promoção de eventos esportivos e dá outras
providências. Publicada no DOU, Seção nº 1, Edição nº 50, p. 1, em 14.3.2017.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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