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PRIMEIRA IGREJA PRESBITERIANA DE CASA CAIADA

CURSO DE TREINAMENTO PARA PRESBÍTEROS, DIÁCONOS


E LÍDERES

Módulo V

TEOLOGIA PRÁTICA DA DIACONIA

SUMÁRIO

A função dos diáconos.


Requisitos para os que desejam ser diáconos.
Mulheres no diaconato.
Ampliando a visão do ministério dos diáconos.

Competências a serem Construídas


Depois de realizar este estudo, você deverá ter
construído as seguintes competências:

Competência-chave: analisar e avaliar a função


diaconal.

Competências-secundárias:

1 Conhecer a função dos diáconos.


2 Descrever os requisitos para os diáconos.
3 Discutir os argumentos acerca de diaconisas.
4 Analisar as possibilidades de ampliação da ação
diaconal.

EVANGELIZAÇÃO – ADORAÇÃO – COMUNHÃO – DISCIPULADO – SERVIÇO 1


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Introdução
O texto de At 6.1-7 apresenta uma divisão de dois blocos de ministérios: o primeiro
bloco se refere aos ministros da Palavra e Oração (nós perseveraremos na oração e no
ministério da palavra) e o segundo é o ministério das Mesas e Serviço (sirvamos às mesas).
O primeiro grupo contempla não apenas a pregação e as orações, mas também o ensino e
todas as ações de educação cristã. Já o segundo, compreende as atividades afetas à ação
social da igreja e ao exercício da misericórdia.
Historicamente, as igrejas têm acentuado e, algumas, até mesmo concentrado seus
esforços e ênfases nas atividades ministeriais da Palavra. Isso é sintoma da ausência de
uma teologia do diaconato, que pode ser constatada no silêncio nos currículos dos
seminários, não preparando os pastores para uma visão de ação social, o que leva as
igrejas também a serem desinteressadas por essa área de atuação. Na verdade, a própria
Confissão de Fé de Westminster apresenta essa lacuna, pois nela nada se fala de diaconia.
Algumas comunidades se encontram atualmente carentes da ação diaconal, sendo
esse ministério exercido pelos próprios pastores ou por membros não vinculados ao ofício
do diaconato. Assim, precisamos repensar o assunto da diaconia e fazer correções de
percurso na nossa caminhada cristã.

1. A Função dos Diáconos


Jesus foi o diácono por excelência. Ele entendeu e realizou o Seu ministério como o
Servo Sofredor do Senhor, como foi profetizado por Isaías (Is 42.1...; Is 49.1...; Is 52.13...;
Is 53.1-8). Jesus mesmo disse que “até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir” (Mc 10.45).
Essa opção de servir de Jesus foi incompreensível mesmo para os seus discípulos. É o
que hoje podemos chamar de liderança servidora. O posicionamento de Jesus sobre
liderança foi: ser líder não é aquele que domina e quer ser o primeiro, mas o que serve a
todos (Mc 10.44).
Mesmo no Evangelho de João, que apresenta Jesus como Deus, há a imagem dEle
como diácono, lavando os pés dos apóstolos (Jo 13, principalmente, o v. 8). Neste texto
Jesus deixa claro que servir não é simplesmente um ato de humildade, mas a dignidade de
servir reside em beneficiar o próximo. A decisão de Jesus em ser servo foi, também, um
exemplo que produziu reações contagiantes nos seus discípulos e chegou até nós como
modelo de serviço cristão. Assim como Jesus foi enviado, os discípulos são enviados e nós,
também, somos enviados (Jo 17.18; Jo 20.21).
Os diáconos não foram criados a partir de At 6.1-7. Essa função já existia no sentido
de servos (do grego diakonoi), daquele que serve, especialmente, às mesas. Nesse texto,
os sete homens eram diáconos apenas no sentido de servir às mesas das viúvas da Igreja de
Jerusalém, seja com comida ou com dinheiro. Posteriormente, dentro da esfera cristã, o
termo diácono virou sinônimo daquele que exerce a função de misericórdia, do cuidado
com as necessidades do outro e da comunidade, tornando-se assim um ofício da Igreja.
A ação básica e inicial do diácono era característica da pessoa que servia refeições,
isto é, um espécie de “garçom”, como relatado em Jo 2.5 e 9. Essa função foi, em seguida,
expandida para incorporar quaisquer ajudas realizadas no lar ou no cuidado pessoal. Para
os judeus, quem servia dessa forma desenvolvia atividades abaixo da linha da dignidade
humana de um homem livre (Lc 7.44-45).
No judaísmo, o mais próximo de um ministério diaconal que encontramos é o papel
daquele que entregava esmolas, mas nunca aquele que prestava serviços para o outro.
Assim, no AT os diáconos eram simplesmente aqueles que serviam profissionalmente na
corte. Porém, essa linguagem de serviço é encontrada no NT em relação aos servos (Mt
22.13) e, em especial, com referência a todos os cristãos que devem ser identificados
como servos de Cristo (Jo 12.26), o qual serviu pessoalmente como diácono (Rm 13.4; Rm
15.8; Gl 2.17). Logo, é requerido de todos nós serviço semelhante (Mc 9.35; Mc 10.43; II Co
3.6; II Co 11.15 e 23; Cl 1.7).

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A função diaconal surgiu da necessidade da igreja realizar o atendimento aos seus


membros carentes, tais como os pobres, os órfãos e as viúvas. Isso foi provocado por
problemas gerados na distribuição dos bens destinados à assistência social, que levou a
igreja estabelecer uma divisão de funções, tendo em vista o bom funcionamento das
atividades espirituais e sociais da igreja. A partir daí se observa a aceitação comum do
ofício diaconal, pois, na saudação de Paulo em Fp 1.1, os diáconos estão mencionados ao
lado dos presbíteros, assim também são notados funcionalmente em Rm 12.6-8; I Co 12.28-
31 e I Ts 5.12.
O fato de Paulo orientar a Tito somente acerca da ordenação de presbíteros nas
igrejas (Tt 1.5), sem fazer menção à ordenação de diáconos, não pode ser tomado como
desconsideração ou a não necessidade. Em outros escritos paulinos há uma ampla descrição
da função diaconal a exemplo de I Tm 3.8-13. Além disso, observe-se que em Efésios 4, os
presbíteros e diáconos não estão listados juntamente com as funções ministeriais de
apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestre. A razão desse fato é que no texto há
uma fusão das pessoas com os próprios dons específicos e as funções de presbíteros e de
diáconos são ofícios que envolvem vários dons espirituais. Os diáconos têm a
responsabilidade de servir, cuidar e prover à igreja em vários papéis, porém não está
incluído neles o de ensinar, presidir e encorajar, que são ações exigidas para os
presbíteros.
Na nossa Igreja, segundo a descrição constante no Manual Presbiteriano, no seu
Art.53: “O diácono é o oficial eleito pela Igreja e ordenado pelo Conselho, para, sob a
supervisão deste, dedicar-se especialmente:
a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos;
b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino;
d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus e suas
dependências.

Na verdade, considerando as necessidades atuais das igrejas, as atividades dos


diáconos foram expandidas para:
(1) Contribuir para o bem estar dos membros e visitantes dentro da igreja. Os
diáconos devem providenciar o necessário para o bom andamento do culto sem
ser preciso a intervenção dos pastores.
(2) Ajudar nos cultos e reuniões, sendo responsáveis em proporcionar as boas-
vindas aos membros e visitantes que forem chegando ao templo, assim como de
prover, caso necessário, encontrar lugares onde possam sentar-se. Eles devem
estar conscientes de que uma boa palavra e um bom atendimento marcarão
bastante uma pessoa que vem pela primeira vez à Igreja.
(3) Visitar os membros da Igreja identificados como carentes.
(4) Fazer os preparativos para as cerimônias de batismo, atuando com
antecedência a fim de que não haja confusão ou atraso.
(5) Ajudar na cerimônia da Ceia do Senhor. Prover os elementos (pão e suco de
uva), realizar os preparativos com antecedência e, depois da cerimônia, devem
cuidar da conservação e da guarda dos objetos usados.
(6) Cuidar dos enfermos e dos pobres, dando assistência aos órfãos, as viúvas e aos
idosos.
(7) Cuidar da manutenção das propriedades da Igreja. Devem providenciar o
cuidado de manutenção das instalações físicas e da infra-estrutura, mantendo-
as sempre limpas e em bom estado de conservação, interagindo com a
zeladoria e com as pessoas dos ministérios que utilizam equipamentos da
igreja.
(8) Manutenção da ordem e da reverência no templo e em suas dependências,
preservando os adoradores no culto de quaisquer distrações e desconfortos.

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(9) Observar o movimento das pessoas ao bebedouro e aos banheiros para que não
haja prejuízos para a Igreja, como também ajuntamento de pessoas nos
mesmos.
(10) Supervisionar o estacionamento, observando os aspectos de segurança das
pessoas e dos veículos.
(11) Acompanhar a presença de pessoas estranhas presentes no ambiente da Igreja.
(12) Ajudar no recolhimento dos dízimos e das ofertas.
(13) Chegar cerca de trinta minutos antes do horário do culto, objetivando a
verificação das instalações e se está tudo em ordem.
(14) Elaborar e realizar programas sociais, que objetivem os necessitados e até
mesmo atinjam as estruturas sociais que conduzam essas pessoas às suas
necessidades. Por exemplo, apoio na qualificação e reprofissionalização dos
desempregados, montagem de um balcão de empregos, “baratilhos”, festa das
colheitas etc.
(15) Prestação de auxílio em providências de funeral e no ofício fúnebre.
(16) Outras atividades, tais como o apoio em casamentos, eventos cívicos etc.

É interessante observar que Calvino, escrevendo no seu livro Ordenanças


Eclesiásticas, defendia a instalação de quatro ofícios na Igreja Cristã. São eles: pastores
para a área de doutrina, os que proclamam a Palavra de Deus; doutores para a educação,
os que estudam e ensinam as Escrituras; presbíteros para a disciplina e cuidado da
membresia da igreja; e diáconos para a ação social, os que cuidam dos pobres. Isso
demonstra que a assistência social estava entre as principais preocupações do grande
reformador.

2. Os Requisitos para os Diáconos


É através dos diáconos que a igreja demonstra a sua vocação de serva no mundo. Os
diáconos tornam visíveis, na igreja, a interdependência do culto com o serviço, realizando,
em nome de Cristo, o esforço de atender às inúmeras necessidades da sociedade e das
pessoas, começando com a própria membresia.
Pode-se pensar num paralelo entre as duas classes de ofícios descritas em At 6.1-7.
De um lado estão os ministros do culto devido a Deus, atendendo ao primeiro dos
mandamentos: amor a Deus. Do outro lado se situam os diáconos nas suas ações de
benevolência e cuidado, realizando o mandamento de amor ao próximo ou semelhante.
Contudo, é importante destacar que os diáconos também podem ser usados no ministério
da palavra e na oração, como foram Estevão e Filipe, assim como os presbíteros também
pode exercer funções de serviço. No entanto, deve ficar claro que as ênfases de seus
ministérios são diferentes.
Desse modo, as duas funções se harmonizam com os pastores atuando no ministério
da palavra, do ensino e da oração (6.4), enquanto os diáconos priorizam as atividades da
beneficência, assistência e ação social (6.1-3). Observa-se, também, que os indicados para
as duas funções deveriam ser pessoas de alta qualidade espiritual, exemplo para os mais
novos e inspiração para todos.
Nos requisitos para aqueles que desejam o presbiterato e o diaconato, Paulo
concentra sua atenção não nos deveres que iriam exercitar, mas nas qualificações pessoais
que deveriam possuir, pois primeiro eles precisam ser para depois fazer. Assim, é papel da
igreja identificar e reconhecer as pessoas certas para as funções certas, através da
verificação do preenchimento das qualificações e do êxito na experiência prática.
Após o membro de igreja ser identificado como habilitado para a função, é
submetido à imposição de mãos que representa um sinal formal de consagração, concessão
de autoridade e de dedicação ao serviço, assim como o estabelecimento de um elo entre a
igreja e os que recebem o ofício.

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Além disso, o ofício de diácono não impede que as pessoas exerçam outras funções
na igreja. Basta lembrar que Estevão e Felipe foram exímios pregadores e evangelistas,
sendo fiéis a Deus e operosos através dos dons espirituais que possuíam.
Na primeira escolha dos diáconos, o que prevaleceu não foram os aspectos da
intelectualidade, de capacidade de liderança, de disponibilidade de tempo, de dinamismo
ou de posição social, mas as características do caráter cristão: ser de confiança, ser cheio
do Espírito Santo e ser cheio de sabedoria (At 6.3). Desse modo, os diáconos poderiam ser
ministros da Igreja para o serviço necessário ao próximo e “mensageiros das igrejas e glória
de Cristo” (II Co 8.23).
Em Atos 6.3, observa-se que foi a congregação que teve o privilégio de fazer a
seleção dos diáconos com base nas características explicitadas, que compreendiam um
estilo de vida exemplar, uma fé sólida e um relacionamento firme com o Espírito Santo. O
texto de I Tm 3.8-13 complementa os requisitos descritos em Atos, incorporando à
maturidade espiritual requerida, todos demais aspectos para os diáconos serem servidores
práticos e não necessariamente instrutores. O quadro a seguir sumariza as exigências
bíblicas:

Texto Requisito Significado


Boa fama, de moralidade ou honestidade, pessoa
At 6.3 Boa reputação - Confiabilidade de interesse humanitário, pessoa testada,
confiável.
At 6.3 Cheio do Espírito Santo Dependente e obediente ao Espírito Santo.
Sábio para identificar a ação que agrada a Deus e
que é aplicável ao momento ou às circunstâncias,
At 6.3 Cheio de sabedoria
proporcionando soluções práticas para as
pessoas.
Pessoa séria, digna de respeito, considerada
I Tm 3.8 Respeitável
como verdadeira e relevante.
Coerente, que é consistente no que fala e não
I Tm 3.8 De uma só palavra
tem falsidade ou segundas intenções no falar.
Não tem tendência para com o vício do
I Tm 3.8 Não inclinado a muito vinho alcoolismo ou estimulantes que destruam o bom
senso.
Não tem a intenção de enriquecer-se mediante o
I Tm 3.8 Não cobiçoso
seu trabalho, nem ambição da riqueza alheia.
Conhecedor e mantenedor das doutrinas
I Tm 3.9 Que conserva o mistério da fé
reveladas nas Escrituras Sagradas.
É membro que já demonstrou ser cuidadoso de
sua conduta e comprometimento com a igreja,
I Tm 3.10 Seja experimentado
sendo já possuidor de profunda experiência cristã
(não é novo na fé).
Pelo estilo sadio de vida cristã que pratica, está
I Tm 3.10 Irrepreensível acima de repreensões e está livre de qualquer
acusação justa.
Que não faz calúnias, não transmitindo a outras
I Tm 3.11 Não maldizente
pessoas “ouvi dizer” ou simples opiniões pessoais.
É cristão sóbrio e moderado em todos os
I Tm 3.11 Temperante
aspectos, refletindo domínio próprio.
Digno de confiança em tudo, em especial para
com Deus, família e para com aqueles que nele
I Tm 3.11 Fiel em tudo
decidirem confiar (confidências ouvidas, valores
etc.).
Não é polígamo, infiel ou adúltero, não é
I Tm 3.12 Tenha um único cônjuge divorciado de uma pessoa cristã por motivos não
bíblicos.
Governe bem os filhos e a Tem autoridade reconhecida e aceita na sua
I Tm 3.12 própria casa própria casa.

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3. Mulheres no Diaconato
Desde o início da Criação, Deus estabeleceu tanto papéis comuns, como outros
diferenciados para o homem e para a mulher. Naquilo em que eles são peculiarmente
diferentes seus papéis, eles são complementares, como, por exemplo, na sexualidade e na
liderança. Porém, nunca há diferença de valor perante Deus. Inclusive, no tocante aos
dons espirituais não existe gênero na sua concessão, pois as demonstrações carismáticas de
Atos 2.17-18 foram estendidas às mulheres, isto é, as mulheres cristãs e os homens cristãos
participam sem restrição da mesma graça de Deus e dos dons espirituais. Assim,
precisamos usar a Bíblia e não proibir o que Deus não proibiu.
É inegável que mulheres serviam como diaconisas. Em Romanos 16.1, observamos o
apóstolo Paulo elogiando explicitamente a diaconisa Febe pelos seus bons serviços
prestados. A melhor exegese de I Tm 3.11 considera que o ofício diaconal também deve ser
estendido às mulheres. Em I Tm 5.3-1, o apóstolo Paulo fala dos critérios para que viúvas
pudessem ser reconhecidas como diaconisas pelos seus serviços realizados com zelo.
Seguindo a linha de argumentação de Ferreira (1990) e acrescentando outros pontos,
temos a ponderar sobre a questão de mulheres no diaconato:
(1) No AT e no NT mulheres atuaram reconhecidamente como profetisas.
Apesar da cultura presente no AT ser patriarcal e discriminatória, restringindo
a participação das mulheres, várias delas foram profetisas (que tem o mesmo
sentido atual daquele que prega) tais como Miriã (Ex 15.20-21; Nm 12.1-2; Mq
6.2-4), , Ana (I Sm 1 e 2), Hulda (II Rs 22), Isabel (Lc 1.13-14 e 42), Maria (Lc
1.46-55), Ana (Lc 2.36-38), as filhas de Filipe (At 21.8-9) etc., e até juíza como
foi Débora (Jz 4.4-5). A pergunta que fica é: se mulheres podiam ser profetisas,
por que não podem ser diaconisas?
(2) A questão de gênero mudou a partir do dia de Pentecostes. Na época do AT,
a regra geral aplicada era dos homens assumirem todas as funções sociais, isto
é, pessoas do sexo masculino de idade avançada e que não fossem escravas
eram escolhidas para ocupar os cargos e funções. Esta tríplice discriminação foi
quebrada no dia de Pentecostes quando se cumpriu a profecia de Joel: “O
Senhor diz ao seu povo: Depois disso, Eu derramarei o meu Espírito sobre todas
as pessoas: os filhos e as filhas de vocês anunciarão a minha mensagem, os
velhos sonharão e os moços terão visões” (Jl 2.28-29; At 2.17 – grifo nosso).
(3) O respeito à cultura grega trazia restrições às mulheres. A cultura grega foi
uma das mais preconceituosas e discriminatórias contra as mulheres,
impedindo, por exemplo, elas de falar em público e de assumir posições de
autoridade (ensino e direção). Para os gregos, as mulheres não tinham alma, as
respeitáveis viviam reclusas e a participação delas nos cultos pagãos se
restringia à prostituição. Assim, Paulo, desejoso de expandir o Reino de Deus
por todas as nações, evitou o confronto cultural nas cidades gregas quando
proibiu das mulheres falarem na igreja (I Co 14.34-35; I Tm 2.11-15). Outro
aspecto a considerar é o da submissão da mulher ao seu esposo. Quando Paulo
escreve aos efésios que a “Esposa, obedeça ao marido, como você obedece ao
Senhor” (Ef 5.22), não intenta defender a superioridade e autoridade do
homem sobre a mulher no sentido social e cultural, mas a submissão ética,
funcional, necessária e coerente com a natureza do homem e da mulher na
criação. Para compreender melhor esse fato, observe que Paulo fala das
relações na igreja em ser “obediente uns aos outros” (Ef 5.21), independente
da posição social, do sexo e da idade, para falar depois, na seqüência, das
relações na família. A submissão da mulher ao marido é a mesma que deve
haver entre um crente a outro crente. Em resumo, Paulo transformou a família
em igreja.
(4) A posição dos diáconos e diaconisas na igreja não é de autoridade, mas de
serviço. A natureza própria do diaconato não é de status de dirigente ou de
autoridade, mas de servo. Nas igrejas primitivas havia uma diferença essencial

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entre o presbiterato, que exercia a posição de autoridade e de governo, e o


diaconato, que não possuía tais atribuições, fazendo com que houvesse
diaconisas, mas não presbíteras.
(5) O texto de Atos 6.3 não é normativo para a Igreja em todos os tempos. Na
verdade, no texto não temos propriamente diáconos, mas auxiliares dos
apóstolos para realizarem tarefas que anteriormente eram assumidas por estes.
Caso se opte pelo rigor literal, teríamos que ter em cada igreja sete diáconos e
todos homens. O que os apóstolos fizeram foi resolver um problema através de
um grupo de trabalho, sem nenhuma preocupação com a normatização de um
modelo a ser seguido.
(6) Calvino admitiu diaconisas. Para os calvinistas, o fato de Calvino nas
Institutas da Religião Cristã ter reconhecido a existência de diaconisas os faz
participar do verdadeiro espírito da Reforma. Calvino até admitiu haver duas
classes de diáconos: os que administram as ofertas e os que cuidam dos pobres
e enfermos. Nesse segundo grupo, os dos assistentes sociais, Calvino admitia
mulheres (especialmente as viúvas, I Tm 5.9-10).
(7) O reconhecimento de diaconisas não contraria os princípios da Igreja
Presbiteriana. A Confissão de Fé de Westminster nada fala da estrutura
administrativa da igreja, pois ela é mutável ao longo da história de acordo com
as necessidades. Portanto, não há impedimentos confessionais às diaconisas.
(8) A exclusão das mulheres não é própria da Reforma. Enquanto a Igreja
Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega aboliram a instituição das
diaconisas, as igrejas reformadas têm reconhecido o lugar da mulher nos
privilégios e nos trabalhos da Igreja.

4. Ampliando Nossa Visão Diaconal


4.1 Prontidão em servir
A Parábola do Samaritano, apresentada por Jesus em Lc 10.25-37, serve para
demonstrar o significado de quem é o próximo. Essa parábola procura ensinar verdades
simples e práticas ao aparente culto intérprete da lei, que se mostrou ignorante por não
conhecer o espírito da lei. Essa é uma questão muito séria, porque não adianta ter
conhecimento intelectual sobre a vontade de Deus, se não colocamos em prática no
cotidiano de nossa vida essas verdades. A pergunta do intérprete da lei - Quem é o meu
próximo? – demonstrou que ele conhecia a lei mas não a prática da lei de Deus, e foi
tentando se justificar perante Jesus que fez a pergunta esfarrapada (Lc 10.28-29). Isso tem
acontecido com as pessoas que se mostram ativas na religiosidade, mas esquecem da
prática da vida cristã.
Há uma segunda grande lição na parábola: a força transformadora do amor, traduzida
em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Assim, somos nós
mesmos que decidimos quem é o nosso próximo, e, quando o fazemos, podemos atingir e
servir o ser humano em suas necessidades. Agindo dessa forma, demonstraremos que a
diaconia é um braço de amor da Igreja Cristã na face da terra.

4.2 A realidade da pobreza


A história da humanidade tem mostrado que o ser humano tem falhado nas questões
sociais. A pobreza sempre presente é testemunha desse fato. Além disso, tanto no AT
como no NT não se via uma classe média. O que havia era a classe pobre, que nada tinha,
e a classe rica, que possuía bens e terras, separadas entre si por um grande abismo.
O problema da pobreza se agravou com o surgimento da monarquia. A riqueza estava
concentrada nas mãos dos reis e de suas cortes. Assim, quanto maior luxo havia na corte,
maior era a carga de tributos sobre os súditos do rei para financiá-lo. Pior: não
encontramos no mundo antigo nenhuma reação contra a pobreza dominante fora da corte.

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Até mesmo os reinados de Davi e Salomão foram reinados de profundo crescimento da


pobreza em função da manutenção do exército e do palácio real, tornando a classe pobre
oprimida e injustiçada, especialmente a dos povos dominados.
Além disso, os ricos exploravam os pobres tomando suas propriedades em troca de
pequenas dívidas, para aumentar suas posses, e os donos primitivos das terras eram
vendidos como escravos ou aprisionados por tempo indeterminado. Para colocar diretrizes
para o tratamento desses assuntos, o AT e o NT apresentam leis, advertências e
orientações com relação à exploração dos pobres e injustiçados:
▪ Ex 21.2: após seis anos de escravidão o devedor está livre do credor
escravizante.
▪ Ex 23.10-11: a cada seis anos o proprietário não poderia plantar a sua terra –o
ano sabático- e no sétimo havia o descanso da terra, sendo que o que crescesse
nesse ano não poderia ser colhido pelo proprietário, mas deveria ser deixado
para os pobres.
▪ Ex 23.6: advertência aos juízes para que não pervertam a justiça para
prejudicar os pobres.
▪ Ex 22.21-24: Deus é quem intervém para fazer vingança em favor do pobre.
▪ Dt 15.7-11: ordena ao povo ser bondoso para com o pobre.
▪ Dt 24.15-15: ordena o pagamento de salário justo ao pobre.
▪ Am 2.7; 4.1 e 5.11: condenam a opressão do pobre, os excessos de impostos e a
exploração dos pobres.
▪ Sl 9.18: mostra o cuidado com os pobres.
▪ Mt 5.3 e Lc 6.20: os pobres são chamados de bem-aventurados.
▪ Lc 16.19-31: a Parábola do Rico e Lázaro mostra que a riqueza sem justiça e que
explora são condenadas por Deus.
▪ At 2.44-45 e 4.34-37: apresenta a preocupação que se deve ter com os pobres.

Finalmente, os diáconos devem estar conscientes de que “sempre haverá pobres e


necessitados no meio do povo” (Dt 15.11a) e assim devemos cumprir a ordem divina: “E
por isso Eu ordeno que vocês sejam generosos com todos eles” (Dt 15.11b).
Por outro lado, devemos considerar, como Calvino, que a pobreza e a aflição não são
evidências do desfavor de Deus para com alguns, nem que a prosperidade sempre é um
sinal da bênção de Deus sobre outros por causa de seus méritos pessoais. Na verdade, a
pobreza e a riqueza são diferentes expressões do julgamento de Deus sobre a sociedade,
que deveria possuir uma adequada distribuição dos seus recursos tendo em vista o bem-
comum. Acerca disso, Calvino escrevendo sobre Dt 15.11-15 perguntou: "Por que é então
que Deus permite a existência da pobreza aqui embaixo, a não ser porque ele deseja dar-
nos ocasião para praticarmos o bem?". Para ele, a riqueza vem de Deus a fim de ser
utilizada para auxiliar os nossos irmãos.

4.3 Mostrando a fé em ação


Tiago nos desafia em sua carta que devemos mostrar a nossa fé através das nossas
obras (Tg 2.18), pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2.17). Isso se torna imperativo quando
observamos a situação de pobreza e de fome ao nosso redor, como resultado da má
distribuição de rendas. Assim, a resposta cristã não deve ser outra: as necessidades
humanas, decorrentes da pobreza e da fome, devem ser alvo de nossas boas obras. Além
disso, na teologia de Tiago, todo cristão é um diácono no sentido de atentar para as
carências dos seus irmãos, demonstrando que a fé em Jesus e a ação social andam juntas.
Desse modo, o cristão deve ao mesmo tempo pregar a palavra e praticá-la, sendo que
tal prática também implica no serviço aos necessitados. Isso quer dizer, em outras
palavras, que aquele que se torna cristão deve estar com a Palavra numa das mãos ao
mesmo tempo em que estende a outra ao necessitado. Agindo assim, cumpre a sua função
diaconal e contribui para expansão do Reino de Deus.

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A diaconia, em seu sentido mais amplo, não surgiu com a instituição de diáconos em
At 6.1-7, mas permeia toda a Bíblia. Os profetas do AT chamavam a atenção dos reis e do
povo para os órfãos, viúvas e os pobres que estavam sendo oprimidos e privados de seus
direitos. O Sl 46.1-9 fala do Deus que liberta o oprimido e o perseguido. No NT vemos que
a diaconia de Jesus cura os enfermos (Lc 4:18-19), dá pão à multidão (Jo 6.1-15), se faz
presente aos pequeninos marginalizados (Mt 11.25) etc.
Reconhecemos que na abordagem da ação social, há dois extremos. Por um lado,
temos o assistencialismo com a sua aceitação do estado presente (“status quo”). Do outro
lado, encontra-se a teologia da libertação que procura, através de um posicionamento
radical, analisar as causas da miséria humana e atuar politicamente para mudar a situação.
Há, também, o caso de algumas igrejas que querem concentrar seus esforços apenas
em “assuntos espirituais”, como se a diaconia não fosse pertinente à vida como um todo.
Tal redução de exercício eclesiástico conflita com os fundamentos da fé cristã.
Felizmente, a tendência atual da prática social da igreja é buscar agir no sentido de
mudar e transformar as situações de miséria, sofrimento e injustiça, dentro da relação
entre a fé e a sociedade. Contudo, dentro do enfoque da atuação social da igreja, devemos
distinguir (sem separar) a ação diaconal da ação política. A ação diaconal atua a partir da
comunidade, tendo como alicerce o que é igreja. Já a ação política tem seu campo de
atuação a sociedade, onde deve realizar análises da realidade e construir opções
ideológicas e políticas. Um exemplo pode ser dado para tornar mais clara essas diferenças:
a visitação de doentes nos hospitais é uma ação diaconal, mas elaborar um posicionamento
acerca da situação dos doentes nos hospitais públicos é uma ação política.
Considerando uma possível ampliação da ação da diaconia na igreja, podemos pensar
em atividades e programas complementares de maior impacto, tais como:

(1) Assistência social aos excluídos e desfavorecidos da sociedade, identificando-se


com suas lutas na construção da cidadania com dignidade.
(2) Promoção gratuita da educação, em termos de reforço escolar e cursinho
popular para vestibulandos.
(3) Promoção de ações na área de saúde.
(4) Promoção de ações na área alimentar.
(5) Promoção da defesa, preservação e conservação do meio ambiente.
(6) Promoção do desenvolvimento sustentável e da agricultura familiar.
(7) Promoção do trabalho de voluntariado em benefício das pessoas de terceira
idade.
(8) Promoção de defesa dos direitos estabelecidos e construção de novos direitos do
cidadão.
(9) Promoção de ações de qualificação e profissionalização de desempregados.
(10) Promoção de ações de lazer às pessoas desprovidas de recursos.

Conclusão
Em qualquer serviço que façamos somos cooperadores do Senhor. E quando
ministramos fielmente, iremos contribuir para levar a bom termo o plano de Deus relativo
à sua Igreja. Na verdade, não há serviço tão importante quanto o que prestamos ao Senhor
Jesus Cristo. Essa é a glória do ministério cristão, para o qual todos nós somos chamados a
participar.
A diaconia na Igreja Católica é realizada através das suas diversas pastorais, mas, na
Igreja Reformada é parte integrante de cada membro e, em especial, dos diáconos. O
diaconato significa a ação do cristão em favor de seu semelhante, atendendo o plano de
Deus em benefício do ser humano. Além disso, o verdadeiro cristão não pode manter-se em
posição de indiferença perante as necessidades do mundo que o rodeia, em particular as
da igreja. Assim, um pouco de tempo colocado a serviço de Deus e do próximo pode aliviar
positivamente o sofrimento de muitos.

EVANGELIZAÇÃO – ADORAÇÃO – COMUNHÃO – DISCIPULADO – SERVIÇO 9


PRIMEIRA IGREJA PRESBITERIANA DE CASA CAIADA

O diaconato é um privilégio e uma bênção neste mundo, quando o fazemos como


representantes de Deus, sendo por Ele comissionados, pois assim procedendo estaremos
fazendo como para o Senhor (“quando vocês fizerem isso ao mais humilde dos meus
irmãos, foi a mim que fizeram.” Mt 25.40).
Num seminário acerca de diaconia, apresentou-se como tema a seguinte proposição:
“A Igreja que serve, serve!” Isso representa uma verdade indiscutível, pois cabe à Igreja
demonstrar, de forma visível e concreta, essa opção dentro do seu programa eclesial.
A evangelização e a diaconia caminham juntas e, como afirma o Rev. Sérgio Lyra,
“são irmãs siamesas com um mesmo coração”. Não podemos pregar o evangelho sem levar
em consideração as necessidades daqueles para os quais nós estamos falando.
O diaconato, dentro do conceito reformado calvinista, não é exclusividade dos
homens. O exercício da diaconia deve contemplar ações que venham resgatar a dignidade
humana, assim como construir a cidadania, no meio de um povo humilde que permeia uma
sociedade de conflitos profundos.
Podemos pensar em diaconia como o serviço cristão, em sua dimensão social e
beneficente, como responsabilidade comum de todos os cristãos, e em diaconato como
essa mesma função, exercida por oficiais da igreja, os diáconos, em caráter especial.
A diaconia cristã deve ter alta prioridade na vida e no testemunho da igreja. Agindo
como cristãos, devemos não ser omissos aos necessitados (Is 58.7) e fazermos com que os
ricos repartam para que os pobres recebam.

Bibliografia
CALVINO, Juan. Institución de la religión cristiana. Rijswijk, Holanda: FELiRé, 1981. Vol.
II, liv. IV.

FERREIRA, Edijéce Martins. Por que não diaconisas? Recife: Junta Diaconal da IPM, 1990.

NORDSTOKKE, Kjell. Diaconia. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Critoph. Teologia prática no


contexto da América Latina. São Leopoldo, RS: Sinodal / ASTE, 1998. p. 268-290.

Autor: Rubem Ximenes.


Elaborado em: 11/06/2007.
Última revisão: 12/07/2007.

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