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Parte IV
Parte IV
IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 35ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
PARTE IV – ASPECTOS DA HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL no BRASIL (1930-1960)
[...] o Serviço Social é apresentado com funções bem mais amplas: “O Serviço Social
é, portanto e ao mesmo tempo, um movimento de ordem econômica, de ordem moral e
estrutural. Visa extirpar o pauperismo, visa trabalhar pela purificação dos costumes e visa dar
à sociedade uma estrutura que melhor corresponde às exigências da natureza humana”.
Nas discussões travadas pelo meio profissional, duas assumiram a forma de
confrontação, delimitando posições. Uma primeira se refere à tese defendida pela Escola
Técnica de Serviço Social quanto à “Contribuição do Serviço Social para a solução dos
problemas econômicos da Família”.
A preocupação central estará em, diante de tão graves problemas sociais e para “barrar
o avanço do comunismo”, implementar técnicas eficazes, suplementando aquelas, próprias do
Serviço Social, pelas da Ação Social. Na situação de crise, haveria um desajustamento
coletivo, e o Serviço Social dos Casos Individuais seria inoperante; a psicologia deveria ceder
lugar à economia.
Pág.353 – Pede, em suma, mais técnica, mais planejamento e mais Ação Social.
A defesa do Serviço Social dos Casos Individuais polariza a discussão das questões
levantadas nessa tese. O plenário rejeita maciçamente a crítica ao Serviço Social dos Casos
Individuais, situando seu caráter básico e fundamental dentro do Serviço Social, e sua
compatibilidade enquanto método, com qualquer situação de desajustamento. Se as técnicas
de Grupo e Comunidade vem tendo sua importância acrescida, a pesquisa social e o Serviço
Social dos Casos Individuais continuam sendo a base do diagnóstico e do tratamento em
Serviço Social.
Um segundo confronto de opiniões ocorre nas discussões sobre Formação para o
Serviço Social. Esse confronto se colocou em torno da questão do nível das escolas de Serviço
Social, pois até aquele momento não havia uma definição – se nível médio ou superior –
exigindo as escolas apenas o ginasial como condição para o ingresso nas mesmas. A
discussão se polariza quando, nos debates sobre “Dificuldades e Soluções Encontradas na
Formação do Assistente Social”, a Sra. N.G. Kfouri (da Escola de Serviço Social de São
Paulo) expõe as experiências que sua escola vinha desenvolvendo para formar Assistentes
Sociais de origem operária. Torna-se mais acalorada, a partir da proposta (Escola Cecy
Dodsworth, da Prefeitura do Distrito Federal) e, em face das características específicas da
realidade brasileira, formarem-se trabalhadores sociais em dois níveis.
Pág.354 – Exige-se que a formação para o Serviço Social se faça unicamente em nível
universitário. Por outro lado, aprovam-se definições tais como: “O Serviço Social é uma
vocação e, sendo princesa ou trabalhadora, será sempre uma Assistente Social”. Não podemos
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“É preciso fazer o povo pensar, reunir-se, equacionar os seus problemas, aprender a discutir.
(...) O Assistente Social deve ser habilitado a analisar, identificar e mobilizar os órgãos e agen-
tes da comunidade e aí ajudar a criar as molas da ação individual e coletiva. Todo o sistema pe-
dagógico, da criança ao adulto, como todo o planejamento urbano, social e político, deve orien-
tar-se no sentido de proporcionar meios de congregação de povo, equipando os agentes respon-
sáveis por sua educação, com técnicas modernas do serviço de grupo e de métodos de discus-
são”.
A recorrência a uma série de outros temas aparece, por outro lado, como
desenvolvimento de estratégias coerentes – mesmo que se originem na incoerência de ações
individuais – de reafirmação das características especiais e específicas da profissão (primado
do ser, por exemplo) e de luta pela legitimação e ampliação do campo de ação profissional.
Quanto a este último ponto, trata-se de mostrar, para as instâncias que viabilizam a instituição,
que os postos e funções conseguidos dentro do Aparelho de Estado vêm sendo ocupados com
eficiência. Pág. 356 - Que o Serviço Social tem função de grande relevância dentro do
equipamento assistencial, sendo imprescindível ao seu funcionamento eficiente. Que a
implantação do Serviço Social representa um investimento altamente produtivo, e que
contribui para a organização técnica da prestação da assistência. Trata-se, também, de mostrar
a necessidade de ampliar a área de atuação do Serviço Social, de convencer da rentabilidade
do negócio, de mostrar a seriedade da formação profissional, a solidez dos princípios cristãos,
de seu posicionamento apenas moderadamente reformista, a partir do qual se mostra
plenamente visível sua adesão à ordem natural (capitalista). Trata-se neste nível, de mostrar
que se fala a mesma linguagem das classes dominantes e que é possível atuar com maior
racionalidade em cima de uma série de problemas sociais (de economia política) que
começam a ser percebidos como problemas... assistenciais.
Há, como já foi observado, o fato de que o Estado passa a ser, direta ou indiretamente,
o grande empregador de Assistentes Sociais, o que não é necessariamente uma razão
suficiente para prestigiar seus Congressos. Pág.357 – Cabe situar, nesse sentido, que não
apenas para o Serviço Social, mas para grande parte das profissões ditas liberais, a
estruturação corporativa da sociedade tornou o Estado árbitro maior de seu desenvolvimento,
pois passa a controlar currículos mínimos, garantia de reconhecimento dos títulos, garantia do
monopólio do exercício da função etc. Nesse sentido, as profissões liberais são
crescentemente tributárias do Estado, inclusive em termos de mercado de trabalho.
desenvolvimento, são apenas uma etapa transitória para o destino final, quando a riqueza será
patrimônio de todos – grupos sociais ou nações. Por outro lado, miséria e pobreza devem ser
superadas, pois podem constituir-se em focos de descontentamento social, facilmente
exploráveis pelo comunismo e ideologia materialista, podendo transformar-se em meios que
ameacem a democracia.
Pág.362 – Por outro lado, a face populista da política desenvolvimentista, o apelo à
participação das massas trabalhadoras – herança da política de massas do getulismo – se
choca e se contrapõe à tendência conservadora da instituição, tendência essa que é respaldada
pela posição da Igreja naquele momento.
Parece situar-se em torno a essas questões um segundo nível de hipóteses, para
explicar o desencontro entre este tipo de desenvolvimentismo e o Serviço Social: a repulsa à
demagogia, ao jogo político com as massas, às alianças com a esquerda, enfim, a perspectiva
do perigo – permitido por essa política ambígua – que constituía o populismo em termos de
politização e organização do proletariado.
No fim da década de 1940 e especialmente na década seguinte, abre-se um novo e
amplo campo para os Assistentes Sociais; as grandes empresas (especialmente as industriais)
passam a constituir um mercado de trabalho crescente. Pág. 363 - O Serviço Social se
interioriza, acompanhando o caminho das grandes instituições, a modernização das
administrações municipais, e o surgimento de novos programas voltados para as populações
rurais. Ao mesmo tempo, nas instituições assistenciais – médicas, educacionais etc. – o
Serviço Social paulatinamente logra maior sistematização técnica e teórica de suas funções,
alcançando definir áreas preferenciais de atuação técnica. Aprofunda-se, no plano de ensino, a
influência norte-americana, voltando-se o Serviço Social ainda mais para o tratamento, nas
linhas da psicologia e psiquiatria, dos desajustamentos psicossociais. O Serviço Social de
Grupo, que há tempo vinha sendo utilizado de forma tradicional (recreação e educação), na
década de 1950 começa a fazer parte dos programas nacionais do SESI, LBA, SESC, em
hospitais, favelas, escolas etc., iniciando-se uma nova abordagem – que se generaliza na
década de 1960 – que relaciona estudos psicossociais do participante com os problemas da
estrutura social e utilização da dinâmica de grupo.
Pág.364 – As iniciativas vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam
nesse período franco desenvolvimento, com o surgimento de uma série de organismos e a
realização de importantes Seminários. Esses organismos desenvolverão programas que
buscam sua inspiração na experiência norte-americana.
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“Ora, se o Serviço Social não quiser ser relegado a um segundo plano, deve preparar-se para
poder competir na mesma igualdade de condições com os demais setores profissionais. As soli-
citações de uma sociedade em mudança e em crescimento, como é o caso de nosso país, são ca-
da vez maiores. Maiores, também, têm de ser as contribuições dos profissionais, da técnica, da
ciência. Este é o motivo pelo qual se torna necessário de um lado aperfeiçoar o aparelhamento
conceitual do Serviço Social e, de outro, elevar o padrão técnico, científico e cultural dos pro-
fissionais desse campo de atividade. Somente assim o elemento teórico e os executores da poli-
tica social poderão corresponder satisfatoriamente às exigências de uma sociedade em mudan-
ça.
Cumpre, pois, vincular estreitamente o Serviço Social ao processo de desenvolvimento nacio-
nal e dar aos Assistentes Sociais, na área de sua estrita competência, as atribuições que lhes são
próprias e que ainda não foram devidamente definidas. Neste sentido, tanto o Serviço Social
como os profissionais dessa atividade devem desempenhar na sociedade brasileira um papel
pioneiro e relevante no que toca ao desenvolvimento nacional”.
vista a população cliente, a perspectiva daquilo que deve ser transformado. A população
cliente é sempre objeto e nunca sujeito de sua própria história.