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Aves de Rapina BR - Águias, gaviões, falcões e corujas do Brasil (Publicações online)

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Aves de rapina urbanas


Publicado em 4 de junho de 2012

Falcão-peregrino no meio urbano. Foto: Grenn Nevill

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Autor: Willian Menq
Email: willianmenq@gmail.com

Hoje em dia não é muito difícil ver um falcão voando entre os prédios da cidade ou de um
gavião perseguindo pássaros nos quintais de casas. Aves de rapina já ocorrem em
praticamente todos os centros urbanos e alguns dos fatores responsáveis pela presença
destas aves nas cidades é o aumento da disponibilidade de presas (como roedores, aves e
insetos), locais para ninhos (como cavidades artificiais, forros de casas), além de ser um
ambiente mais seguro e com poucos competidores. A perda dos habitats naturais de
algumas espécies também colaboram com a presença das aves de rapina nas cidades. É
curioso notar que a maioria das aves presentes nos centros urbanos são aquelas que
normalmente habitam bosques, e áreas abertas com árvores esparsas, pois a cidade
simula, a grosso modo, um habitat parecido com uma savana.

Rapinantes urbanos

O caracará Caracara plancus, muito comum no Brasil, é um dos rapinantes mais vistos nos
centros urbanos. Sua aparência lembra a de uma águia, sendo até confundido como tal
pelas pessoas mais leigas. É um gavião oportunista, sobrevive nas cidades se alimentando
de restos de comida nos lixo das casas, animais atropelados, invertebrados em terrenos
baldios ou em solos revirados por tratores e de forma mais rara predando filhotes de aves
e roedores. O caracará tem uma boa relação com os urubus, costuma procurar alimento
junto a eles, e quando estão pousados podem até trocar “carícias” onde um fica retirando
carrapatos do outro, comportamento chamado de “Allopreening”.

Dentre os falcões que habitam as cidades, destaca-se o falcão-quiriquiri Falco sparverius


bastante pequeno (23-27 cm de comprimento) é o mais comum dos falcões brasileiros,
caça principalmente insetos e pequenos vertebrados. Devido ao pequeno tamanho, o
quiriquiri passa muitas vezes despercebido pelas pessoas, mas não é difícil vê-lo pousado

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Citação recomendada
MENQ, W. (2012) Aves de Rapina Brasil: Aves de rapina urbanas. Disponível em:
<http://www.avesderapinabrasil.com/materias/avesderapina_urbanas.htm>
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em postes, fios de eletricidade e antenas, estruturas usadas como poleiro para localizar e
se atirar sobre suas presas. Em ambientes naturais costuma nidificar em ninhos
abandonados em árvores e cavidades arbóreas, já nas cidades o quiriquiri pode usar forro
de casas, torres e outras cavidades artificiais que julgar adequadas. É um falcãozinho
bastante valente, quando percebe a presença de um gavião maior em seu território,
imediatamente voa em direção a ele dando rasantes em sua cabeça e vocalizando sem
parar, comportamento comum nas aves, chamado de “mobbing”. O falcão-de-coleira Falco
femoralis é outro falcão que pode ser encontrado nas cidades, da mesma forma que o
quiriquiri usa postes e antenas para localizar suas presas. Do poleiro, se atira sobre sua
presa no solo ou inicia fantásticas perseguições “mano a mano” contra suas presas, que
em geral são aves.

Falcão quiriquiri em voo. Serra/ES, Falcão-de-coleira se alimentando de Falcão-peregrino em seu poleiro de


Novembro de 2011. um periquito. Poço de Caldas MG. repouso. Salvador/BA.
Foto: Justiniano Magnago Foto: Beto Ramos Foto: Sávio Drummond

O falcão-peregrino Falco peregrinus, migratório do hemisfério norte, é o sem dúvida um


dos mais impressionantes e eficazes predadores de aves. Costuma fazer perseguições
incríveis contra suas presas, por vezes descendo picados no céu a mais de 300 km/h. Vem
para o Brasil todos os anos, chegando em outubro ficando até o mês de abril. Os falcões
peregrinos são muito fiéis aos pontos de invernagem, cada indivíduo vem todos os anos
aos mesmos locais, sendo esta fidelidade verificada também aos poleiros utilizados nestas
áreas. Gosta muito dos centros urbanos, onde caça todos os tipos de aves, principalmente
pombos domésticos. Fica pousado no alto de edifícios, prédios altos, torres de telefonia, de
onde se lança em voo para perseguir suas presas. O falcão-peregrino pode inclusive fazer
perseguições a baixa altura, impressionando ou até mesmo assustando as pessoas. Podem
acontecer também, situações em que o falcão seja obrigado a descer até o solo para pegar
a presa abatida em voo, mas normalmente mata e captura no ar suas vítimas. Além das
aves, o falcão-peregrino persegue morcegos em vôo, podendo ficar até no inicio da noite
perseguindo morcegos, se aproveitando da iluminação artificial da cidade para caçar. Os
morcegos prediletos é o morcegos-cauda-de-rato (Molossus sp) que são comuns nas
cidades e costumam voar alto de forma retilínea, se tornando excelentes presas para o
falcão.

O gavião-carijó Rupornis magnirostris é outro gavião que ocorre em todos os centros


urbanos do Brasil. De porte médio, é um predador oportunista, caçando pequenos
vertebrados, artrópodes, filhote de aves e por vezes passarinhos em gaiolas. Pode ser
visto pousado em muros, árvores baixas e postes, onde fica na espreita de suas presas ou
onde usa como poleiro para comer suas refeições. Na época reprodutiva ele é afamado por
atacar pessoas que se aproximam de seu ninho, pois é um gavião territorial e defende a
área de nidificação contra qualquer intruso, inclusive o homem. Infelizmente, devido ao
comportamento de “boa mãe” do gavião-carijó eles são muitas vezes considerados vilões o
que não é verdade.
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Gavião-carijó em Porto Alegre/RS Caracará pousado em mourão de Gavião-de-cauda-curta se


Foto: Willian Menq cerca. Foto: Sávio Drummond alimentando. Foto: Marcos Piske

Nas áreas mais arborizadas das cidades pode ser encontrado o gavião-de-cauda-curta
Buteo Brachyurus, um gavião de porte médio especializado na captura de aves. O gavião-
de-cauda-curta é bastante ágil e veloz para seu gênero, em suas caçadas costuma realizar
rápidas perseguições sobre a copa das árvores ou abaixo delas, capturando suas pesas em
voo ou pousadas. No inicio da primavera, em muitas cidades do sul e sudeste do Brasil
aparecem os gaviões-sauveiros Ictinia plumbea, também chamado de sovi. São gaviões
insetívoros que aparecem em dezenas de indivíduos sobrevoando os céus das cidades,
especialmente sobre bosques e parques, onde a presença de insetos voadores é maior. Em
algumas cidades como a de São Paulo, o gaviãozinho (Accipiter striatus) pode ser
encontrado. Passa despercebido vivendo oculto entre os bosques e parques da cidade. É
um predador nato, ágil e esperto, sendo ele o terror dos passarinhos, e mesmo pequeno
não hesita em capturar aves de seu tamanho. O gavião-bombachinha-pequeno (Harpagus
diodon) e o gavião-tesoura (Elanoides forficatus) também costumam aparecer em bosques
urbanos.

Já o gavião-de-cauda-branca Buteo albicaudatus e o gavião-caboclo Heterospizias


meridionalis preferem as áreas mais abetas para forragearem, assim que visualizam uma
nuvem de fumaça, em poucos minutos eles já estão sobrevoando a área em busca de
animais mortos ou aqueles que são afugentados pelas chamas. O gavião-peneira Elanus
leucurus chama bastante atenção devido a sua estratégia de caça pouco comum, costuma
“peneirar”, ou seja, parar no ar a baixa altura procurando por ratos e camundongos no
solo. É interessante vê-lo peneirando em terrenos baldios, gramados e qualquer área de
vegetação rasteira nas cidades e nas periferias. Normalmente sobrevoa esses locais no
inicio da manhã e no final da tarde, que é o horário mais propício para captura de
roedores.

Das rapineiras noturnas, a coruja suindara Tyto alba é a habitante mais comum nas
cidades. Normalmente é visualizada voando o céu da cidade, onde costuma emitir um
chamado muito forte, parecendo um pano rasgando. A suindara passa o dia dormindo em
torres de igreja, galpões e sótão de casas. Assim que anoitece, a suindara sai de seus
dormitórios para suas áreas de caça preferidas, como terrenos baldios com árvores
esparsas, quintais de casas, campos de futebol, escolas, cemitérios além de parques e
praças da cidade. Fica de um poleiro até localizar sua presa e então atirar-se sobre ela. A
suindara é conhecida por ser uma grande exterminadora de ratos colaborando com a
saúde pública já que eles transmitem diversas doenças. Estima-se que durante o período
de um ano um casal consome entre 1.720 e 3.700 ratos e entre 2660 e 5800 insetos. De
noite, sua plumagem branca se destaca quando iluminada, parecendo fantasmas na
escuridão, o que dá margem a criação de vários mitos e lendas envolvendo essa espécie.
Outra coruja comum das paisagens urbanas é a corujinha-do-mato Megascops choliba,
extremamente noturna costuma se aproveitar da iluminação publica para encontrar e
capturar insetos que são atraídos pela luz. É estritamente noturna e passa quase todo o
tempo empoleirada em árvores de onde fica vocalizando. Seu canto é bem característico,
lembra o de um sapo-cururu. Durante o dia fica escondida em meio à folhagem densa das
árvores ou em cavidades e buraco de árvores, local que também usa para nidificar. È uma
coruja pequena, do tamanho de um sabiá, é facilmente encontrada nos parques urbanos,
bosques e até mesmo nos quintais de casas, desde que haja algumas árvores.
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Coruja suindara no telhado Coruja-buraqueira no poste. Corujinha-do-mato.


Foto: Shaw creek bird Foto: Willian Menq Foto: Anderson Pereira

A mais conhecida das corujas urbanas sem dúvida é a coruja-buraqueira Athene


cunicularia, devido a seu hábito diurno é facilmente vista pelas pessoas. É uma espécie
insetívora, habita terrenos baldios, gramados, beira de estradas e campos onde costuma
ficar pousada no solo ou em poleiros a baixa altura (postes, mourões de cerca, muros).
Usa buracos no solo para nidificar e se abrigar, os buracos podem ser abertos por ela
mesma ou feita e abandonada por outros animais, e readaptado pelas corujas. A coruja
buraqueira fica sempre atenta, a qualquer sinal de perigo emite um piado alto, forte e
estridente. Esse alarme é dado para chamar a atenção de outras corujas e filhotes, qeu ao
ouvirem o alerta, se esconderem. Certamente você passa por uma ou algumas dessas
espécies toda semana.

Predadores naturais e ameaças

No geral, os rapinantes não possuem muitos predadores nas cidades. Espécies menores
como a coruja-buraqueira, falcão-quiriquiri e corujinha-do-mato certamente estão sujeitas
a predação de rapinantes maiores como, por exemplo, o falcão-peregrino e alguns
gaviões. Filhotes de gaviões e corujas podem ser predados por gatos, cachorros e por
outras aves de rapina. O que mais é observado são interações agonísticas entre aves de
rapina, quase sempre ocasionadas por defesa territorial. Essas interações geralmente são
iniciadas pela espécie mais fraca, que ao observar outro predador em sua área inicia voos
rasantes até acuá-lo da área.

No entanto, os maiores problemas são outros, colisões contra vidraças, eletrocussões em


fios de eletricidade, linhas de pipa com cerol e atropelamentos são os principais problemas
enfrentados pelas aves de rapina nas cidades. Há também a perseguição e abate
indiscriminado contra alguns gaviões, que muitas vezes são acusados de predarem aves
em gaiolas.

Reação de outras aves às aves de rapina

Gaviões e corujas, por serem predadores, são temidos por outras aves. Por isso, é muito
comum observar bem-te-vis, beija-flores, sanhaços e outros pequenos pássaros
“atacando” com voos rasantes as aves de rapina. Essa postura agressiva das aves contra
um potencial predador é chamada de “mobbing”. As aves reagindo desta forma
conseguem alguns benefícios como alertar a presença do gavião para outros indivíduos e
claro, afastar o predador da área. Alguns estudos apontam que as aves conseguem
identificar o tipo de predador, desta forma, aves de rapina mais ornitófagas (que comem
aves) causam mais tumulto do que as espécies que se alimentam de outras presas.

Aves de rapina e os animais domésticos

Não dá para negar que alguns gaviões e até corujas mais oportunistas ocasionalmente
podem predar aves em gaiolas. Mas há maneiras de se evitar isso sem precisar fazer mal
aos rapinantes. A predação ocorre quando as gaiolas estão dispostas em lugares onde
tem pouca presença humana, por isso o ideal é colocar as gaiolas próximas a janelas ou
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portas da casa e nunca deixar a gaiola para fora por muito tempo. Muitas pessoas
temem que cachorros pequenos e gatos sejam atacados por gaviões maiores, mas no
ambiente urbano esse risco é inexistente, visto que as únicas espécies que poderiam
predar estes animais não ocorrem nas cidades.

Tipo de corvo reagindo Águia-chilena pousada no alto de um Mocho-diabo adulta em árvore no


agressivamente (Mobbing behavior) poste. Município de Bagé/RS. centro de Joinville/SC, Feveiro de
contra um corujão. Foto: Jim Neiger Foto: José Paulo Dias 2012. Foto: Thobias Lemke

Algumas espécies mais raras e/ou florestais podem aparecer nas cidades embora não seja
comum, exemplo disso é o registro de algumas corujas florestais nos parques urbanos de
alguns municípios brasileiros. Aves de rapina imponentes como a águia-chilena e a águia
cinzenta podem aparecer nas áreas de entorno das cidades, usando postes ao longo das
rodovias e torres de energia como poleiros.

As aves de rapina exercem um papel fundamental nas cidades, controlando animais


considerados "pragas" como ratos, pombos e insetos e os peçonhentos como aranhas,
escorpiões e cobras. Colaboram também com o controle de infestações de pombos e
pardais. Apesar de algumas espécies se adaptarem bem ao ambiente urbano, muitas
outras estritamente florestais não tem a mesma sorte, com o avanço da agropecuária e da
urbanização acabam sendo extintas junto às florestas. Um desenvolvimento que siga
modelos sustentáveis aliados a educação ambiental é fundamental para garantir a
existência das aves de rapina nas cidades e nas florestas.

Referências Bibliográficas disponíveis em:


http://www.avesderapinabrasil.com/referencias.htm

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