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A Pigmentação nos Canários de Fator Vermelho

Clube Ornitológico Bragantino - 2006


Por Rafael Cuevas Martínez, Juiz de Canários de Cor. Sócio das C.R.O. /
C.O.M. 1.997
Tradução de José Luiz Amzalak

Todos os canários vermelhos, tanto lipocrômicos quanto melânicos, derivam de


cruzamentos com o Pintassilgo da Venezuela pequeno fringílido de 10 centímetros, de
cor vermelho vivo e negro e com um patente dimorfismo sexual .Além das melaninas,
em seu caso, os pigmentos fixados nas penas dos canários de fator vermelho são os
carotenóides ou lipocromos que pertencem ao grupo dos lipídios isoprenóides ou
também conhecidos como terpenos. Estes pigmentos, como o nome deles indica (de lipo
= gordura e cromos = cor), são solúveis nas gorduras e nos solventes destes, como em
álcool. Eles são substâncias muito instáveis que se oxidam facilmente com a luz e o
calor, pelo que devem ser conservados em lugares frescos, na escuridão e perfeitamente
fechados, quando se tratam de produtos artificiais.

Os canários de fator vermelho são incapazes de sintetizar estes pigmentos lipocromos


que colorem as penas, por isso devem estar presentes na dieta, o mesmo que as
vitaminas, sais minerais, ácidos gordurosos essenciais, etc., para evitar assim as penas
com tons amarelos ou vermelhos muito pálidos, igual ao que ocorre, por exemplo, com
os flamingos, que devem alimentar-se com crustáceos que contêm esses pigmentos, e
que são incorporarados às algas vermelhas de que se alimentam. Quer dizer, sem esta
contribuição extrema de carotenóides é impossível que os canários de fator vermelho e
o próprio pintassilgo alcancem a coloração, de acordo com o limite de assimilação que
suas características genéticas e sanitárias permitem.

Depois de serem ingeridos, os pigmentos vermelhos atravessam as paredes intestinais,


armazenando-se no fígado onde sofrem algumas transformações, posteriormente passam
à corrente circulatória e, por meio de vaso capilar, chegam à epiderme, donde passam às
penas, onde são depositados nas barbas e barbulas, pigmentando-as. Também há
depósitos de carotenóides no ovário, onde pigmentam a gema do ovo.

Os pigmentos usados são a cantaxantina, o carophyll rede e o betacaroteno (C40H36).


Estes são empregados em quantidades distintas e proporções entre eles, segundo a
experiência de cada canaricultor, tipo de variedade para pigmentar, etc. A cantaxantina
e o carophyll-red são dois pigmentos praticamente idênticos, com algumas
transformações em sua molécula, e dão os mesmos resultados. O carophylí-red é
preparado a partir do cantaxantina. O betacaroteno (caroteno de b) apresenta uma cor
vermelha mais apagada, mas confere mais brilho à plumagem. O cantaxantina presente
na plumagem do pintassilgo produz uma cor vermelha mais intensa, menos sua
superdosagem produz tons amarronzados ou violetas, que serão penalizadas em
concursos. Estas substâncias podem ser Incorporadas às farinhadas de cria, biscoito,
bolo, soluções oleosas, água, etc., para assim poder colorir os pássaros de fator
vermelho.

Existem produtos naturais que contêm tais pigmentos em dose considerável, tais como a
cenoura, pigmento vermelho, o tomate, as laranjas, diversas pétalas de flores,
cogumelos, etc., mas o uso exclusivo destes produtos, como no passado se fazia e ainda
hoje alguns canaricultores fazem, não é por si só suficiente para dará intensidade de
coloração que vemos em outros exemplares tratados com colorantes artificiais.

A quantidade de carotenóides assimilada, a sua distribuição nas penas do canário, assim


como o brilho com que se expressam esses pigmentos, são hereditárias, mas pode ser
melhorada pelo criador com uma seleção adequada. Quanto mais próximo é o
parentesco com o pintassilgo da Venezuela, a facilidade do canário para assimilar os
pigmentos de carotenóides será maior, quer dizer, à medida que as gerações filiais (F1,
F2, F3) se afastam do primitivo cruzamento com o pintassilgo, sua cor vermelha
aparecerá com menos intensidade. Daqui também a conveniência de recorrer a híbridos
com o pintassilgo para melhorar o lipocromo vermelho, a mesma coisa com a
plumagem e a categoria mosaico.

O pássaro deveria terá sua disposição a quantidade necessária de colorante para que sua
capacidade de assimilação veja-se saturada e em consequência pode expressar
fenotipicamente todo o potencial genético que leva. Também existem outros fatores
hereditários que influem negativamente sobre a capacidade de fixação do corante, tais
como o estado de saúde do exemplar, especialmente as infecções intestinais, a presença
de micotoxinas nas sementes que os pássaros consomem, idade, intensidade luminosa
do criadouro, temperatura, tratamentos com antibióticos ou sulfamidas.

O excesso de vitamina A, além de outros transtornos patológicos (cegueira, por


exemplo), reduz a fixação destes pigmentos nas penas, podendo produzir superdosagem,
pois o betacaroteno é uma fonte de vitamina A.

As gorduras favorecem a fixação destas substâncias, dal a importância de administrar


sementes oleaginosas como níger, cânhamo, linhaça, durante a muda, embora sempre,
isso sim, com moderação, devido aos riscos de diarreia ou hepatite; porém é
conveniente neste período administrar cloreto de colina, por ser um corretor hepático
que melhora a digestão das gorduras e coopera no bom funcionamento do fígado.
Também é conveniente administrar vitamina E, pois impede a oxidação das gorduras, já
que não podemos esquecer que os colorantes são lipídios. Não é conveniente
administrar carvão vegetal nem verduras em excesso, já que diminuem a fixação de
pigmento, quando há uma ação laxante.

Para os pássaros adultos o momento da pigmentação é antes e durante a muda. Também


é conveniente administrar uma coloração de manutenção, administrando os colorantes 1
ou 2 vezes por semana, ou reduzindo aos 15 ou 20% a dose habitual.Durante a muda
não deve haver muita luz, deve haver um ambiente de semiescuridão ou penumbra,
deste modo diminui-se o desgaste ao estarem os pássaros mais calmos, encurta-se a
muda e facilita-se a pigmentação dos canários de fator vermelho. É muito importante
não superdosar estas substâncias, pois estas podem ser tóxicas ao serem utilizadas em
grandes dosagens, produzindo a mortalidade nos canários, a infecundidade e transtornos
digestivos, especialmente nas crias, além da despesa desnecessária para quem cria. A
superdosagem é observada pela cor avermelhada das fezes nas bandejas e pela aparição
de uma cor vermelha escura, amarronzada (violáceo) na plumagem, devido a um
excesso de colorante que o pássaro não pôde assimilar. Para diminuir estes reflexos
violetas, ao término da muda, estes pássaros podem ser expostos ao sol, melhorando
assim seu lipocromo para o concurso.
Nos pássaros intensos e nevados já colorir no ninho e nos mosaicos a partir dos 45 dias,
tendo a precaução de, ao separá-los de seus pais, observar o estado das remiges e
retrizes, para ver se alguma das penas está quebrada ou arrancada, dar tempo a sua
reposição antes de administrar o colorante (no caso dos concursos no hemisfério sul, a
regra é diferente, já que as penas de asa devem estar coloridas). Se durante as fases de
preparação e postura administrarmos colorantes, melhorará a pigmentação das crias,
mas isto não será feito com os canários mosaicos. Nas competições, as intensas e
nevadas cópias podem ser admitidas com todos o remiges e retrizes sem colorir e os
mosaicos podem os apresentar colorido, quer dizer, ao contrário, mas esteticamente isto
é menos recomendável.

Os colorantes, como antes já dissemos, também podem ser incorporados à água, quando
eles são hidrossolúveis, logicamente, mas podem produzir facilmente superdosagem, já
que no verão os pássaros bebem mais, pelo que é conveniente reduzir a dose; também os
bebedores e todo o material estarão coloridos de vermelho, o que é pouco apresentável,
e o colorantes na água conservam-se pior, pois serão mais expostos à luz. É melhor a
incorporação em pó dos colorantes na farinhada que nós oferecemos nesses momentos,
mas ó necessário que estes estejam bem misturados com a comida; o que nós podemos
fazer misturando primeiro o colorante para 10% com sêmola de trigo fina e logo
adicionando as colheres de farinhada necessárias. Alguns criadores também usam ao
mesmo tempo ambas as apresentações. A apresentação com excipientes oleaginosos
tampouco é conveniente, já que prejudica mais o estado do fígado e intestino, e até
mesmo as patas dos canários por causa dos contatos repetidos com este veículo
oleaginoso (mal das patas).

É conveniente completar este colorante artificial com produtos naturais 2 ou 3 vezes por
semana, como cenouras raladas e laranjas, que também contribuirão com outras
vitaminas e minerais necessários além de reforçara pigmentação e prevenira diarreia.

Com respeito às doses de utilização destes colorantes, uma proporção utilizada por
muitos criadores é de 2 partes de caroteno e 1 de cantaxantina (ou carophyll-red), outros
usam cantaxantina e betacaroteno em partes iguais, outros só utilizam cantaxantina ou
carophyll red, etc., já que aqui, como em muitas coisas, "cada mestre tem seu livro". A
quantidade a ser utilizada destes produtos é algo que varia segundo os criadores e as
variedades de canários vermelhos a serem pigmentados ou de pássaros cativos que
apresentam a cor vermelha em sua plumagem em estado selvagem, assim como a pureza
do produto empregado, o emprego de produtos naturais complementares, etc. Estas
quantidades, em geral, estão em volume a 3-5 gramas de colorante para 10% por
quilograma de farinhada, embora também possa chegar aos 10-15 gramas, segundo os
criadores. Também é conveniente não variar a dose no processo de muda inteiro, para
evitar o aparecimento de manchas avermelhadas com diferentes tonalidades, embora no
final da muda possamos ir reduzindo a dose gradualmente, para evitar os reflexos
violáceos na cabeça, assim como também não devemos interromper durante vários dias
esta oferta de colorantes, um ou dois dias não importa, pois no fígado sempre existem
reservas de colorante para vários dias (fim de semana), mas um intervalo maior pode
dar lugar a penas mal pigmentadas. A dose também pode ser aumentada no caso da
farinhada ser pouco apetecível para os canários e eles consumirem em pequena
quantidade. É conveniente renovar diariamente a farinhada colorante para evitar a sua
perda de eficiência.
Alguns criadores, para assegurarem um bom consumo do colorante, retiram durante
algumas horas as sementes, obrigando os pássaros a ingerirem todo o produto em pouco
tempo, evitando com isso que este se altere.

Maurice Pomaréde, notável professor de biologia francês, aconselha 150 gramas de


betacaroteno misturado em um quilograma de sêmola de trigo. É diariamente usado esta
mistura para colorir a farinhada. Uma colher de café (aproximadamente 8 gramas.) é
bastante para a farinhada dedicada a 50 canários, quer dizer, 200-300 gramas. Também
outra mistura recomenda é 50 gramas de cantaxantina e mais 100 grs. de betacaroteno,
dispersos em 1 quilograma de sêmola; misturar isto com a farinhada habitual, o que
equivale a uma proporção entre 34-52 gramas de colorante para quilograma de
farinhada.

Como influencia a pigmentação em canários que não são de fator vermelho? Nos
canários de fundo branco recessivo, não influencia em nada na sua cor, já que estes são
incapazes de depositar na sua plumagem os carotenóides que ingere. Não ocorre assim
com os canários de fundo amarelo, marfim e branco dominante, porque eles acusaram o
fator vermelho e serão desqualificados durante o julgamento. É muito perigoso colorir
durante vários dias a estas variedades, pois apresentarão uma tonalidade alaranjada. As
colheres de sopa e recipientes para as farinhada de exemplares com fator vermelho
devem estar bem separadas para evitar possíveis confusões, assim como também as
gaiolas para que não possam cair restos de comida de umas e outras.

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