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DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE FLUXO CONTÍNUO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES

A variabilidade na produção e a falta de sincronização entre os processos são dois importantes


fatores que podem provocar as interrupções no fluxo de trabalho, aumentando a parcela de
atividades que não agregam valor e a quantidade de estoques de produtos inacabados. A aplicação
do princípio de fluxo continuo na manufatura busca eliminar esses estoques através da produção
unitária, sem interrupção estre os diversos sub-processos produtivos. O presente trabalho investiga
a aplicação do fluxo continuo no ambiente de construção civil, seu objetivo principal é propor
diretrizes para sua implementação, com base nos conceitos e ferramentas da Mentalidade Enxuta
(ME). A estratégia de pesquisa adotada foi a pesquisa-ação, sendo realizados dois estudos empíricos
em obras de edificações. Entre as contribuições desta pesquisa destaca-se um conjunto de diretrizes
para implementar fluxo continuo, vinculadas as etapas de diagnóstico, criação de condições iniciais,
e Planejamento e Controle de Produção (PCP). Através destas diretrizes propõe-se o uso combinado
das ferramentas tradicionais da ME com ferramentas de PCP adequadas ao ambiente da construção
civil.

Conceitos fundamentais relacionados ao fluxo contínuo

Fluxo continuo: Produção apenas do que é exigido pelo processo seguinte, ou cliente final, sem
geração de estoque (ROTHER; SHOOK, 1999). O impacto imediato da implementação do fluxo
continuo é a redução o lead time, ou seja, o intervalo de tempo entre a entrada da matéria-prima
até a saída dos produtos acabados (LIKER,2004).

Velocidade de produção: Taxa com que os produtos devem ser entregues aos clientes no tempo
solicitado, definida pelo temo takt (Tempo disponível [s] / Demanda [unidade]) (ALVAREZ; ANTUNES
JÚNIOR, 2001).

Estabilidade: É apontada como um pré-requisito para iniciar a implementação da ME


(SMALLY,2005). É a capacidade de produzir resultados coerentes e sistemáticos ao longo do tempo,
e a relacionam a melhoria contínua (LIKER E MEIER, 2007).

Ferramentas para implementação de fluxo contínuo


Rother e Shook (1999) e Rother e Harris (2002) propõem: elaboração de mapa do estado atual do
sistema de produção, identificação dos processos que necessitam a implementação de fluxo
continuo, proposição do mapa de estado futuro no qual se pode obter fluxo continuo, detalhamento
do processo, elaboração da tabela de trabalho padronizado.

Mapa de Fluxo de Valor (MFV): Representação de todas as etapas envolvidas nos fluxos de material
e informação, procura identificar e eliminar os desperdícios por meio de um projeto de produção.

Gráfico de Balanceamento do Operador (GBO): Ferramenta que auxilia na distribuição do trabalho


dos operadores em relação ao tempo takt. Identifica as etapas de trabalho, elimina trabalho
desnecessário e distribui o trabalho.
Tabela de Trabalho Padronizado Combinado (TTPC): Interação entre os diferentes operadores na
qual se tem um desenho de operações mais detalhado.

Linha de Balanço (LB): Método de representação gráfica da disposição temporal das atividades.

Método de Pesquisa:
A pesquisa adotada foi a pesquisa-ção com base empírica tomando como exemplos dois projetos
de construção diferente, a construção de um hotel de 20.000 m² e de um condomínio horizontal de
59 casas. Projeto A (hotel) teve como objetivo compreender os principais elementos de fluxo
contínuo no contexto de obras de edificações e identificar requisitos para a implementação. Nesta
linha foi utilizada a LB para o planejamento técnico e assim determinar sequências e ritmos de
trabalho, a fim de estabelecer um tempo do ciclo de trabalho e ferramentas de MFV, GBO, TTPC
como proposta de implementação do fluxo continuo. O trabalho foi dividido em três fases:
diagnóstico, proposta de aplicação de fluxo contínuo e a análise de dados e resultados.

O projeto B teve como objetivo investigar a estabilidade básica, considerada no trabalho, como um
pré-requisito para a implementação de fluxo contínuo. O processo também foi dividido em três
etapas: Diagnóstico, que era uma análise do PCP existente na obra, também foi feito um estudo
sobre os tempos dos ciclos de processos de produção na execução do trabalho. Na segunda etapa,
foi optado em trabalhar na melhoria da PCP baseada no sistema Last Planner para a obtenção da
estabilidade básica diretamente invés de propor a implementação de fluxo contínuo. Na terceira
etapa, foram analisados os dados e os resultados.

Resultados:
Estudo Empírico 1:
a. Planejamento por meio de LB antes de preparar o MFV gerado para definir os ritmos dos
processos de produção e por sua vez usá-los para a definição de tempo tack. Ao contrário
da indústria de manufatura, o tack não foi determinado pela demanda externa, mas
considerando os tempos disponíveis para a execução da obra.
b. A aplicação dos MFV ao contrário de outros contextos em que é usado como um lote de
produção numa peça, neste estudo o lote foi considerado como um apartamento.
c. Para o desenvolvimento do GBO não foi utilizado o conceito de elementos de trabalho, mas
grupos de lotes maiores, por exemplo, execução do piso do banheiro. Isto em consequência
do elevado T/C (24h trabalhadas).

Estudio Empírico 2:
a. A estabilidade foi alcançada apenas parcialmente em parte em função de limitações na
implementação do Last Planner. Uma das dificuldades para introduzir as mudanças no PCP
foi o foco no controle através do sistema ERP. Neste sistema, não havia hierarquização de
planos nem a explicitação dos ritmos dos principais processos.
b. O sistema trouxe alguns benefícios relacionados a gestão de obra, tais como maior
comprometimento das equipes e melhor gerenciamento das interdependências entre as
mesmas.

Diretrizes Propostas:
Diagnostico: São necessárias informações do processo de planejamento e controle existente, e os
principais problemas enfrentados pela obra tais como existência de estoques, falhas e dificuldades
com suprimentos.

Estabelecimento de condições iniciais: Estabelecimento das condições mínimas na obra para iniciar
a implementação do fluxo contínuo, a través de melhorias no sistema de planejamento e controle
da produção. As melhorias sugeridas são baseadas no Sistema Last Planner.

Planejamento do fluxo de valor: No trabalho propõe-se o uso sistemático das ferramentas da


Mentalidade Enxuta (MFV, GBO e TTPC) para grupos de processos que podem ser executados em
fluxo contínuo. A implementação de fluxo continuo não e para toa a obra, mas de uma forma
gradual em grupos de processos, sincronizando seus ritmos e reduzindo o estoque em processo
entre estes.

Controle: A etapa está relacionada ao monitoramento dos resultados e realização das ações
corretivas necessárias para que as metas do empreendimento sejam atingidas.

Conclusões:
- O uso de LB teve importante contribuição, pois auxiliou a entender os principais fluxos das equipes,
os ritmos por processos os tamanhos dos lotes de trabalho e permite detectar facilmente a falta de
balanceamento e sincronia entre as atividades, que é um dos passos iniciais para a implementação
do fluxo continuo.

- A través da técnica MFV, podem-se estimar algumas perdas comparando o LTP e o TAV, e analisar
a possibilidade de eliminar pontos de programação.

- Na construção civil é necessário um grande esforço para alcançar a estabilidade como pré-condição
para implementar fluxo contínuo, parece ser difícil atender a todas as condições iniciais sugeridas
pela bibliografia para atingir a estabilidade básica. O trabalho padronizado, sugerido como um dos
requisitos por Smalley (2005) parece ser um dos resultados da implementação de fluxo continuo e
não um pré-requisito para o mesmo.

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