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CV-823 – Aeroportos – Aula 06

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10. O Lado Aéreo - As Pistas de Pouso e Decolagem
• O projeto das pistas se relaciona com a determinação de suas direções,
comprimentos e geometria.
• A configuração do sistema de pistas é dada em função da capacidade
desejada e da direção dos ventos dominantes.
• Uma estimativa da capacidade pode ser obtida, como já vimos, da Tabela 2 –
Aula 05.
• A geometria é normalizada tanto a nível nacional como internacional.
10.1. Direção(ões) da(s) Pista(s)
10.1.1. Considerações Iniciais
• Uma aeronave deveria sempre decolar e pousar exatamente contra o vento,
o que lhe permitiria duas vantagens:
• não sofreria o efeito da componente transversal do vento, que a tiraria
de sua trajetória e
• contaria com o vento como parcela de sua velocidade aerodinâmica.
• Com o aumento das velocidades de pouso e decolagem, as aeronaves
tornaram-se menos sensíveis à componente transversal do vento,
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• Em contrapartida, o aumento do peso e da carga alar (peso por área de asa),
fez com que as aeronaves necessitassem de pistas mais longas e com
pavimentos mais resistentes,
• tornando impraticáveis os antigos campos de aviação.
• Portanto, existe a necessidade de se limitar as áreas onde a aeronave pode
movimentar-se no solo, áreas estas denominadas áreas de movimento (OACI
- Anexo 14).
• Como a aeronave deve operar somente em uma pista, o piloto só tem uma
escolha: escolher a cabeceira da pista a utilizar, isto é, o sentido da pista.
• A escolha da cabeceira é feita em função do vento que está soprando na
ocasião da operação.
• Uma vez escolhida a cabeceira, de modo que se opere contra a componente
do vento na direção da pista, temos que conviver com a componente
perpendicular ao eixo da pista.
• Pela observação da Figura 9, vemos que a aeronave para pousar deve ter
sua trajetória coincidente com o prolongamento do eixo da pista.
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Figura 9 - Trajetória da Aeronave


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• Estando imerso no ar, que se desloca em relação ao solo, a aeronave para
manter esta trajetória, deve ter uma proa (direção do eixo longitudinal da
aeronave) que não coincida com sua trajetória,
• pois se tentasse voar com este eixo coincidente com o eixo da pista, a
aeronave desviar-se-ia e sua trajetória final não seria coincidente com o eixo
da pista.
• Para poder voar ao longo desta direção, a componente da velocidade da
aeronave na direção perpendicular à pista (ou transversal), deve ser igual à
componente transversal do vento, isto é,
V at =V vt
• Do ângulo α da Figura 9, tiramos que:
V at V vt
sen α= =
Va Va
● Em outras palavras, o ângulo α que o eixo longitudinal da aeronave deve
fazer com a trajetória é tal que sen α é igual à componente transversal do
vento dividida pela velocidade aerodinâmica da aeronave.
● A grosso modo, pode-se dizer que o ângulo máximo que se consegue
corrigir é da ordem de 10o. O seno de 10o é aproximadamente igual a 0,17.
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● Portanto, podemos concluir, a grosso modo, que uma aeronave pode pousar
com ventos que têm componente transversal a pista de até 17% de sua
velocidade de pouso.
● Quando soprar um vento com velocidade e direção, na qual a sua
componente transversal ultrapassar a admissível, a pista é fechada à
operação.
● Para fins de planejamento, as recomendações da OACI, contidas no Anexo
14, são:

item 3.1.1. Recomendação - O número e a orientação das


pistas de um aeródromo deve ser tal que o fator de
utilização não seja menor do que 95% para as aeronaves as
quais o aeródromo é destinado a servir.
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10.1.2. Escolha do Máximo Admissível para a Componente Transversal
do Vento
• Na aplicação do item do anexo 14 deve ser admitido que o pouso e a
decolagem das aeronaves, em circunstâncias normais, é vedada quando a
componente transversal do vento excede:

• 35 Km/h (20 nós) - no caso de aeronaves cujo comprimento de referência


de pista é de 1500 m ou mais, exceto quando ocorrer com certa frequência,
problemas de frenagem devido a um coeficiente de atrito insuficiente.
Neste caso vale a restrição a seguir.
• 25 Km/h (13 nós) - no caso de aeronaves cujo comprimento de referência
de pista é de 1200 metros ou mais, não incluindo 1500 metros.
• 16 Km/h (10 nós) - no caso de aeronaves cujo comprimento de referência
de pista é menor que 1200 metros.

• Vê-se portanto que quando uma só pista não ficar mais de 95% do tempo
aberta a operação, recomenda-se a construção de outra pista em outra direção.
• O conjunto de uma, duas ou mais direções deve permitir que o aeródromo
fique aberto ao tráfego em pelo menos 95% do tempo.
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10.1.3. Regime dos Ventos
• O vento é caracterizado por três parâmetros:
o direção,
direção
o velocidade e
o freqüência de ocorrência.
ocorrência
• O vento do qual nos referimos é o vento superficial, que segundo
procedimentos padronizados é medido a uma altura de 10 metros acima do
nível do solo.
• Normalmente chamamos de direção do vento aquilo que na realidade é
direção e sentido do vento.
• Assim, quando o ar se move na direção norte-sul e com sentido norte para o
sul, dizemos vento norte. Medimos a direção do vento em relação ao norte
verdadeiro ou geográfico.
• A velocidade ou intensidade do vento pode ser medida em qualquer unidade de
velocidade (normalmente em nós).
• Geralmente, as informações referentes aos ventos são agrupadas por
intervalos de direção e velocidade, expressas em percentagens.
• Com estes dados são construídas tabelas onde os 360 graus do círculo são
divididos em 16 partes de 20 1/3o cada, centrados em pontos notáveis.
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• As intensidades também são divididas em intervalos convenientes.
• Graficamente, podemos representar os ventos através da rosa dos ventos
(anemograma).
• Nela são representadas, geralmente, as direções do vento, as intensidades e as
frequências.
10.1.4. O Anemograma e a Direção de Pista
• Como vimos, o regime de ventos de um local é caracterizado pelas velocidades
e frequências de ocorrência por intervalo de direção.
• Os problemas que queremos resolver com relação ao regime dos ventos são,
basicamente:
• Dado o regime de ventos de um local, e sabendo-se ainda a
componente transversal máxima admissível, deseja-se saber:
1. Qual é a melhor direção de pista do ponto de vista dos ventos?
2. Uma determinada direção de pista é boa? Como se mede tal
característica?
• O problema pode ser resolvido pela aplicação da solução de 2.
• O anemograma é uma espécie de tabela com escalas, em intensidade e ângulo
ou setor da rosa dos ventos.
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• Além da divisão nos 16 setores, o anemograma tem uma escala radial das
velocidades.
• As frequências são mostradas pelos números escritos nos campos
correspondentes à direção e intensidade.
• No centro está o número que mostra a frequência dos ventos de velocidade
variando de 0 até 3 nós, dos quais não se indicou a direção.
• Os ventos acima de 40 nós foram desprezados.
• A Figura 10 nos mostra um anemograma característico.
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Figura 10 - Anemograma dos Ventos


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● Tomemos então um anemograma genérico (igual ao mostrado na Figura 11),
uma componente transversal máxima admissível de 9 nós e uma direção de
pista igual a 60o - 240o.
● Indiquemos esta direção pela linha tracejada na Figura 11 e lancemos ainda
nesta figura duas retas paralelas a esta linha tracejada e dela separadas pela
distância T.
● Estas duas linhas paralelas separam os campos do anemograma que têm
componentes transversais maiores e menores que T nós;
● dentro da faixa, menor e fora da faixa, maior.
maior
● Somando-se todos valores dentro da faixa definida pelas duas paralelas,
temos a percentagem das ocasiões em que o vento sopra com componente
transversal menor que T nós.
● A soma do ficou fora indica a percentagem das ocasiões que o vento tem
componente maior que T nós.
● O coeficiente (ou fator) de utilização é a percentagem das ocasiões em que o
aeroporto não está fechado devido ao vento,
● O que corresponde à soma das percentagens dentro das faixas paralelas
(para o valor T adotado e a direção de pista em análise).
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Figura 11 - Anemograma genérico


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• Uma vez resolvido este problema, o outro, a escolha da melhor direção da
pista fica fácil.
• Basta procurar no anemograma a direção que maximiza a soma das
frequências que caem dentro da faixa formada pelas paralelas ou minimiza as
frequências de fora.
• Isto pode ser feito com a ajuda de uma faixa de papel transparente onde são
traçadas as três retas:
• a central,
• tracejada e
• as retas paralelas.
• Girando-se a faixa e computando-se as frequências por tentativas, chegamos a
melhor solução.
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Exemplo:
Exemplo O regime de ventos de um local C, obtido através de observações
feitas nos últimos 5 anos, de 3 em 3 horas, encontra-se resumido no quadro a
seguir. Pede-se:

1. Para uma pista com direção 150o — 330o e considerando-se uma componente
transversal admissível de 13 (15 mph) nós, calcular o coeficiente de utilização.
utilização

2. Calcular o coeficiente de utilização para o conjunto de duas pistas


concorrentes:
principal: 150o — 330o
secundária: 50o — 230o

Os dados relativos aos ventos, que nos permitirá a montagem do anemograma


correspondente, são apresentados em uma tabela fornecida a seguir.
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Direção dos Percentagem dos Ventos
Ventos
3 - 13 13 - 25 - Total
25 40
N 4,8 1,3 0,1 6,2
NNE 3,7 0,8 - 4,5
NE 1,5 0,1 - 1,6
ENE 2,3 0,3 - 2,6
E 2,4 0,4 - 2,8
ESE 5,0 1,1 - 6,1
SE 6,4 3,2 0,1 9,7
SSE 7,3 7,7 0,3 15,3
S 4,4 2,2 0,1 6,7
SSW 2,6 0,9 - 3,5
SW 1,6 0,1 - 1,7
WSW 3,1 0,4 - 3,5
W 1,9 0,3 - 2,2
WNW 5,8 2,6 0,2 8,6
NW 4,8 2,4 0,2 7,4
NNW 7,8 4,9 0,3 13,0
calmo 4,6
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Resolução:
Resolução
1. Primeiramente, passamos os dados da tabela para o anemograma.
2.Traçamos as linhas tracejadas referentes às direções 150o - 330o e 50o - 230o.
3. Traçamos as retas paralelas a estas linhas a uma distância equivalente a 13
nós.
nós
Agora podemos resolver os dois itens apresentados.
1. O coeficiente de utilização ser á igual à soma das percentagens dentro da
faixa formada pelas paralelas ou 100 menos a soma das percentagens de
fora. Assim:
C.E. = 65,40 + 2,4 + 4,9 + 7,7 + 3,2 + 0,3 + 0,3 + 0,7x0,2 + 0,3x0,1 + 0,3x0,1 +
0,6x2,6 + 0,8x1,3 + 0,2x0,3 + 0,3x0,8 + 0,7x2,2 + 0,3x0,9 + 0,6x1,1 = 94,37
Ou
C.E. = 100,00 - 0,4 - 0,1 - 0,3 - 0,1 - (0,7x0,1) - (0,8x0,6) - (0,8x0,4) - (0,3x1,1) -
(0,2x0,9) - (0,4x2,6) - (0,2x0,3) - (0,7x0,9) - (0,3x2,2) - (0,7x0,1) = 95,18

A diferença entre os resultados se deve às aproximações nas percentagens


ponderadas pelas áreas do anemograma.
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10.1.5. Designação das Pistas
• A designação da pista consiste de um número de dois dígitos, que no caso
das pistas paralelas é suplementado por uma letra.
• Em uma pista simples, tripla este número deverá ser a parte inteira
simples dupla ou tripla,
mais próxima de um décimo do norte magnético quando visto a partir
da direção da aproximação (sentido horário a partir do norte magnético).
• Como os rumos mostrados no anemograma dos ventos se referem ao norte
verdadeiro, deveremos corrigir estes valores pela declinação magnética.
• No caso de quatro ou mais pistas em paralelo, um conjunto de pistas
adjacentes deverá ser numerada com um décimo mais próximo do azimute
magnético e o outro como décimo mais próximo seguinte deste azimute.
• Quando acontecer que o décimo valor for um número de um só digito, este
deverá ser precedido por um zero.
• No caso de pistas em paralelo, cada número de designação deverá ser
suplementado por uma letra, da forma mostrada a seguir, na ordem mostrada
da esquerda para a direita quando vista a partir da direção de aproximação:
∗ duas pistas paralelas “L” e “R”
∗ três pistas paralelas “L”, “C” e “R”
∗ quatro pistas paralelas “L”, “R”, “L” e “R”
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∗ cinco pistas paralelas “L”, “R”, “C”, “L” e “R”
∗ seis pistas paralelas “L”, “C”, “R”, “L”, “C” e “R”

Exemplo:
Exemplo Dado duas pistas em paralelo com a seguinte orientação em relação
ao norte verdadeiro: 73o - 253o, em um local onde a declinação magnética é igual
a 17o positivo.
positivo
Resolução A direção em relação ao norte magnético será 90o - 270o.
Resolução:

NM
Direção de aproximação cabeceira 2

2
270o 90o
1

Direção de aproximação cabeceira 1


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Para a cabeceira 1 temos que o décimo inteiro do azimute magnético será igual
a 90/10 = 9, portanto 09, e para a cabeceira 2 será igual a 270/10 = 27.
Assim, as pistas terão as seguintes designações:

NM

09L 27R

09R 27L

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