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Introdução

Os deuses africanos vieram para esse continente através dos negros escravos, que aqui
chegando estabeleceram uma grande legião de seguidores, da cultura e religião Afro. A
internet por ser um veículo de grande penetração e informação, tem ajudado a divulgar e
esclarecer os verdadeiros objetivos e dogmas do Candomblé, até então mal compreendidos e
interpretados. Com isso, novos adeptos de todas as camadas sociais vem sendo atraídos a esse
maravilhoso mundo dos deuses africanos. O Candomblé é uma religião brasileira, oficialmente
reconhecida, que presta culto aos deuses que nos legaram os africanos que para aqui vieram
no séc. XVI. É o termo genérico que define o coletivo de nações (tribos) africanas, no Brasil. Em
nosso país, essas nações foram denominadas como; Jeje, Ketu, Angola, Nagôs, Xambá, Igexá,
etc. Apesar de ser divididos em diversas nações, o Candomblé mantém uma unidade no âmago
de sua originalidade, que acredito ser da época pré-histórica. A finalidade dessa home page é
dar uma parcela de contribuição para o melhor conhecimento da cultura dos povos africanos
que deram origem ao culto dos Voduns no Brasil, colocando para os leitores e pesquisadores o
resultados das minhas pesquisas investigativas para achar minhas raízes, histórias e tradições
no Brasil e na África. Graças a Deus e aos deuses, tive oportunidade de entrar em contato com
algumas pessoas do Benin e EUA que se tornaram meus amigos e têm me ajudado muito nesse
trabalho enviando-me material de pesquisas e respondendo as minhas indagações. Também
no Brasil, encontrei pessoas de conhecimento e boa vontade, que deram sua contribuição.
Penso que é chegada à hora do povo Jeje se unir e começar a SOMAR. A divisão quase
extinguiu nossa nação. Vamos aprender juntos a lindíssima cultura dos Voduns. Agradeço a
todos que de alguma forma me forneceram subsídios para que essa home page se tornasse
uma realidade. Peço que me auxiliem enviando suas críticas e sugestões através de um e-mail
ou assinando meu bookmark.

Yatemi Jurema de Yansã

O Jeje na África

A história do desenvolvimento do império crescente do Dahomey é indispensável para


compreendermos os Voduns, precisamente a quebra e a migração do Ewe/Fon. Alguns
estudiosos da cultura africana achavam que todos os Voduns cultuados em Dahomey eram
deuses originários dos yorubanos. Um equívoco! Trata-se simplesmente de uma troca de
atributos culturais de cada região. Em todas as regiões, os deuses africanos são louvados,
sejam ancestrais ou vindos de outras regiões, mas preferencialmente cada região cultua seus
próprios deuses, os ancestrais. Os deuses estrangeiros podem ser aceitos inteiramente nos
santuários dos Voduns locais, embora permaneçam sempre como estrangeiros. O mesmo
tratamento é dado em terras yorubanas aos Voduns originários de outras regiões. Dahomey,
cuja capital era Abomey, foi o principal reino da história do atual Benin. Seu poderio militar
formado por bravos guerreiros e amazonas era temido por todos os reinos vizinhos que foram
sendo conquistados. O exército do rei era dividido em duas partes: o regimento permanente e
o regimento das coletas tribais (prisioneiro). Esses prisioneiros eram treinados para serem
guerreiros do rei e as mulheres, em especial, eram enviadas ao regimento das amazonas onde
aprendiam a lutar. Os prisioneiros que se negavam a aderir as causas do rei eram
sumariamente executados ou vendidos como escravos. Os chefes das tribos conquistadas
ficavam reservados para serem executados durante o festival anual de ancestrais, em memória
dos reis mortos. Suas cabeças eram decapitadas e seu sangue oferecido aos falecidos reis. Essa
pratica aconteceu do séc. XVI até o séc. XVII. O reino de Dahomey foi o maior exportador de
escravos para o nome mundo. Adja-Tado foi quem começou esse grande império de Dahomey.
Primeiro conquistou a cidade de Adja onde se tornou rei, casou e teve 3 filhos. Quando seus
filhos já eram guerreiros, Adja-Tado foi a Allada junto com eles e estabeleceu o reino de
Allada. Seus filhos se dividiram e estabeleceram reinos separados e tornaram-se reis. O
primogênito Zozergbe foi rei de Porto Novo, o segundo filho foi sucessor de Adja-Tado no
trono de Allada e o terceiro filho, Aklim fundou o que mais tarde seria o principal reino da
região. Aklin foi para Ghana e Bahicon (agora Benin, sul-central), com seu exército, e
estabeleceu uma outra dinastia, a cidade de Abomey, que foi a capital do império militar,
conhecida como Dahomey. Dahomey foi governada por um total de treze reis divinizados, por
quase dois séculos. Agassu, que era um dos líderes do
império, dizia ser filho de um leopardo com a princesa de Tado, Aligbonon. Ela teria sido
encantada por esse leopardo originando o nascimento de Agassou. Agassou teve três filhos e
deu início a uma linhagem de homens leopardo.

Jeje Brasil

Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho;
que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados
pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos
de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes
estão chegando!). Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos,
aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”;
e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”. Dentre os daomeanos
escravizados, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi
escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia. Ela fundou: um templo para Dan;
“Ceja Hundê”, mais conhecido como o “terreiro do Ventura” ou “Axé Pó Zehen” (pó zerrêm)
em Cachoeira de São Felix; um templo para Hevioso “Zoogodo Bogun Male Hundô” em
Salvador e um templo para Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o
segmento jeje-mahi do povo Fon. O templo de Ajunsun/Sakpata foi fundado mais tarde pela
africana Gaiacu Satu, em Cachoeira de São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais
conhecido por Corcunda de Ayá. São os Jejes Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade
Savalu/África, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que preferiu o exílio a se
render aos conquistadores de Dahomey. O dialeto dos savalus também é o Fon. No Maranhão
encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação de Sergio
Ferreti. Creio que esta casa dispensa comentários, pois é com certeza a mais conhecida casa de
jeje do Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje-Mina. Ainda no Maranhão encontramos a casa
Fanti-Ashanti fundada por Euclides Menezes Ferreira. Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do
povo Akan vindo de Ghana. No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena,
natural de Allada, o “Terreiro do Pó Dabá” no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha
Adelaide do Espírito Santo, mais conhecida como Mejitó que transferiu a casa de santo para o
bairro Coelho da Rocha. Depois veio Antonio.Pinto de Oliveira. “Tata Fomutinho” que fundou o
Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela,
depois para São João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. Dizem os mais
velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio
de Janeiro. Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, meu
pai Jorge de Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o
Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e
Amaro de Xangô que é aquele tio que está sempre disposto a nos atender e nos ajudar com
suas memórias e conhecimentos.

Vodum
Vodou – Vodoun – Vodum – Voodoo – Voudun – Vodu – Vudu – Hoodoo - etc. A palavra vodou
é de origem Ewe/Fon e significa força divina, espírito, força espiritual. É usada pelo povo do
oeste da África para designar os deuses e ancestrais divinizados. No século XVIII o rei Agajá
consolidou as crenças de vários clãs e aldeias, formando um “sistema espiritual dos Voduns”.
Isso gerou uma enorme variação do termo, devido a quantidade de dialetos usados por esses
clãs e aldeias, que somado a influência francesa, passaram a falar como entendiam. Essa
diversificação fonética dá-se também por conta dos idiomas de pesquisadores que “invadiram”
a África, em busca de conhecimento sobre o Vodou. No Brasil, por exemplo, usamos o fonema
Vodum. A palavra Hoodoo não é uma variante de Vodou. O Hoodoo é uma sociedade haitiana
similar as que existem no Benin (Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou), onde pessoas
são preparadas para ler oráculos e fazer fórmulas mágicas usando elementos da flora, da
fauna e do mineral. Como sou brasileira usarei daqui por diante o termo “Vodum”. Quando foi
estabelecido o grande reino de Dahomey, lá não existia o culto de Voduns. Nessa época, o
atual rei sentia a necessidade de uma assistência espiritual que o ajudasse a combater os
problemas que o atormentava. Mandou chamar um bokono (adivinho) e pediu que esse
consultasse os oráculos. A conselho dos oráculos mandou vir de diversas regiões os Voduns e
construiu seus templos. Com isso Dahomey passou a sitiar diversos clãs e aldeias de Voduns.
Anos mais tarde, o rei Agajá fez a consolidação, como já foi dito. No período da escravidão,
muitos daomeanos foram levados
para o novo mundo e com eles a cultura e o culto dos Voduns. Os Voduns cultuados no Brasil
são originário da África, sua práticas e tradições se mantiveram intacta como era no Dahomey
(atual Benin) desde o começo dos tempos. A nação Jeje sofreu por alguns anos uma queda em
seus cultos, devido a falta de informações. Os mais antigos preferiram levar para o túmulo
seus conhecimentos a passá-los aos que poderiam perpetuar os Voduns no Brasil. Dos filhos de
Jeje que ficaram perdidos, sem conhecimento sobre Voduns, uns mudaram de nação e outros
resolveram investigar, buscar, pesquisar suas origens e levantar a bandeira da nação. Hoje,
graças a essas pessoas, a nação Jeje voltou a crescer e a seguir a cultura que foi deixada pelos
escravos. Hoje, encontramos kwes e pessoas que realmente sabem o Culto dos Voduns, esses
aprenderam na “própria carne” a passar seus conhecimentos e não deixar que nossa nação
venha a sofrer novos abalos ou quedas. Com a proliferação de estudos e pesquisas sobre os
Voduns, alguns dos mais velhos que ainda estão vivos resolveram colaborar e nos passar
alguns conhecimentos. A primeira coisa que os adeptos do Jeje devem aprender é a diferença
entre Voduns e Orixás, (esse assunto vocês encontram no tópico Jeje África). Vodum é Vodum,
Orixá é Orixá; Oya não é Vodum Jô. Aziri não é Oxum, Naetê não é Yemanja, etc. Assim como
na África, também fazemos Orixás dentro dos templos de Vodum, mas isso não os transforma
em Voduns, eles são considerados deuses estrangeiros, aceitos em nossos templos. Esses
Orixás são tão respeitados e venerados quanto os Voduns. Não existe discriminação nenhuma
em relação aos dois deuses (Voduns/Orixás). Em templos de Orixás, também encontramos
Voduns feitos, a única diferença é que no Jeje, não mudamos os nomes dos Orixás. Para nós
Oya, Yansã são conhecida exatamente como Oya, Yansã. Já os Voduns em templos de Orixás
mudam de nome, por exemplo, Vodum Dan/Bessen recebe o nome de Oxumarê, Sakpata
recebe o nome de Omolu, etc. Esse diferença também é registrada na Nigéria, então, não é
“coisa de brasileiro”. Falar sobre os Voduns é uma tarefa de muita responsabilidade. No meu
caso é o resultado de 30 anos vividos dentro do culto, somado as minhas pesquisas e estudos.
Os Voduns são agrupados por famílias; Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se subdividem
em linhagens. A sociedade daomeana é patrilinear e polígena, isto é, dá-se por linha paterna; o
homem é casado com diversas mulheres. A sociedade organiza-se em sibs, grupos de irmãos
que têm a mesma mãe e o mesmo pai, sem base territorial própria e subdividem-se em
famílias. No Brasil, as casas de santo cultuam todas as famílias, porém, os Voduns são
interligados entre si com comportamentos, costumes, gostos e atitudes sempre gerados pelo
ancestre ou chefe de da casa. Em minhas pesquisas encontrei mais de 450 Voduns; alguns
cultuados no Brasil outros não. Acredito que com esse resgate poderemos ampliar nossos
cultos e voltar a reverenciar Voduns, que tinham desaparecido devido a falta de informações,
assim como admitir em nossos templos esses Voduns encontrados. O Brasil herdou vastos
panteões de divindades que ficaram regionalizados de maneira que somente alguns Voduns
tiveram domínio nacional A cultura dos Voduns é belíssima; penso que todos nós, filhos da
nação Jeje, devemos procurar aprender cada dia mais. Afirmo que, os maiores fundamentos
de Voduns estão embutidos nessa cultura. Comprovem!... DAN TOGUN TOBOSSI HEVIOSO
NAES DAS AGUAS OCEANICAS YEWA TOHOSSOU SAKPATA AVEJI DA NAES DAS AGUAS DOCES
FA NOHÊ AIKUNGUMAN VODUNS DA RIQUEZA NANÃ EKU E AVUN

VODUM DAN/BESSEN
Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses. Aido Wedo é o
arco-íris e Dambala a sua imagem refletida nas águas oceânicas. O Dangbé é a serpente
sagrada que representa o espírito de Vodum Dan. Na África esse Vodum é conhecido como DA.
Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A coroa de Dan é chamada de Coroa de Dada.
Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode ser um Vodum feminino, porém para
tratá-lo, fazê-lo ou assentá-lo temos que cuidar sempre do casal. Como dizem os antigos
"cobra não anda sozinha, seu parceiro esta sempre por perto". Dambala também é conhecida
como Daidah (daídar) – A "Cobra–Mãe". Essa Vodum não pode ser feita em mais de duas
pessoas num mesmo país. Os velhos vodunos contam que ela é originária da Palestina. Em
uma outra versão, encontramos Daidah como Lilith, a primeira mulher de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na África encontramos muito mais que isso.
Essa família é muito grande. Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos, muito
orgulhoso e teimoso. Quando tratado corretamente, dá tudo aos seus filhos e a casa de santo,
mas se tratado de maneira errada ou se for esquecido castiga severamente. Vodum Dan é
muito fiel a casa e a mãe/pai de santo que o fez. Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a
serpente pithon, o traken ou draka, patokwe, o dahun , a ..takara. e o ason (assôm). Seu
principal atinsa (atinsá) dentro de uma casa de Santo é denominado Dan-gbi , que é onde o
arco-íris se encontra com a terra ("panela lendária do tesouro!"). Dan usa muitos brajás feitos
de búzios. As aighy (aigri), são importantissimas em seus assetamentos e atinsas. Para nós,
Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da vidência, é ele junto com Vodum Fa, quem dá aos
bakonos o poder do oráculo, assim como deu a Yewa e a Legba. Aido Wedo e Dambala são
quem sustentam o mundo e quando eles se agitam provocam catástrofes como os terremotos.
Eles fazem parte da criação do mundo, pois vieram ajudar Nana Buluku nessa tarefa. Nos
arcos-íris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan. Ao se iniciar um filho de Dan,
preceitos são feitos para que esse Vodum venha sempre em forma humana e nunca em forma
de serpente, pois entendemos que na forma humana ele é menos perigoso e entende melhor
os homens, podendo assim atender suas necessidades e suprí-las. Na forma de serpente torna-
se muito perigoso. De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças,
principalmente de olhos. São pessoas vaidosas, ambiciosas, "perigosas", espertas e
inteligentes. São muito dedicados ao santo e dificilmente saem da casa onde foram feitos.
Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho, prateado, ou
tecido liso com o arcoíris estampado. Seus fios de conta variam de acordo com cada Vodum,
não existe um modelo padrão. Sua louvação principal é: A Hho bo boy = "Salve o rei cobra" (
Hho = rei, bo boy = Dans, serpentes, cobras). Abaixo citarei alguns Voduns Dans. Aido Wedo -
(encontramos várias formas de escrever o nome dele) - Deus do Arco-íris Dambala - esposa de
Aido-Wedo, seu reflexo nas águas. Dan-Ko - muito ligada e, por vezes confundida, como Oxalá.
Conhecida no Brasil como Dan Inkó. Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte branca
do arco-íris e reina no arco-íris da lua, também junto com Yewa. Frekwen - feminina, guardiã
do arco-íris em volta do sol. Também conhecida como Frekenda. Bosalabe - toqüeno, feminina,
irmã gêmea de Bosuko, irmã de Yewa. Muito alegre e faceira, mora nas águas doce. Muito
confundida com Oxum. também conhecida como Vodum Bosa (bôssá). Ijykun - feminina, mora
nas enseadas. Muito confundida com Yewa. Bosuko - masculino, toqueno, gêmeo com Bosa
Akotokwen - masculino, considerado o pai de muitos Dans. Afronotoy - masculino, mora no
rio. Vocabulário traken ou draka dahun takara ason (assôm) aigry (aigri)

ferramenta pequena que Dan tras nas mãos conjunto de 3 tambores brancos paramentados
com rafia lilás arma que Dan tras nas mãos, parecendo um pequena espada, com feitio
próprio. chocalho feito com uma cabaça e com as vertebras de cobra pedras que representam
o excremento de Dan e são deixadas por ele no chão, à sua passagem; dizem que elas valem
peso de ouro. Um mito nos conta que os excrementos de Dan transformam os grãos de milho
em búzios.

1 - Dan no Benin - Ouidah O culto de Dangbé conheceu seu apogeu em Ouidah, onde está seu
templo até os dias de hoje. Os Dadas, seus adeptos, anualmente, faziam sacrifícios de bois,
cabritos e frangos para a python. Atualmente, devido à escassez de animais para sacrifício, os
adeptos arriscam-se caçando roedores Logo que um não adepto descobre uma Dangbé em sua
casa, previne o sacerdote Dangbénon ou a uma pessoa que conheça os costumes deste réptil.
Eles pegam a cobra como um fetiche em sua mãos ou ao redor do pescoço e levam-na,
silencioso e concentrado, até o templo. Eles acreditam que a picada da python traz imunidade
contra qualquer veneno
Dan é, freqüentemente, representado por uma serprente (python) ou um arco-íris. A primeira
vista, alguns historiadores comentam tratar-se de ofiolatria. Mas a serpente de que se trata
aqui é um espírito que habita o espaço e cujo deslocação determina os ciclones. Dan
apreende-se do princípio vital do qual depende os seres humanos para manterem-se vivos e a
terra em equilíbrio. Para escapar de Dan, basta friccionar o corpo com boldos de cebola ou
xingá-lo com palavras bem grosseiras. Ainda sob a forma humana, Dan pode entrar em casas.
Os que o acolhem são recompensados com tesouros mas, quem o afasta, é amaldiçoado. Dan
é muito guloso, grande apreciador de bananas e óleo de palma. Recebe estas oferendas na
frente de um pequeno par de assentamentos que representam Dan macho e Dan fêmea Sua
morada é o firmamento, onde se encontra sob a forma de arco-íris (Aido Wedo). Não se
mostra nunca sem sua fêmea. Conta-se que há dois arco-íris, mesmo que só consigamos ver
um, e que antes de sua ascensão, teria vivido 41 anos no nosso mundo. A configuração dos
países, o lugar das cidades, os acidentes geográficos (montes, vales), são os vestígios de sua
estada prévia em nosso mundo e o arco-íris, vestígios de sua estada remota. Os homens
(sobretudo os caçadores) que Dan quer enriquecer, conduzem-no por uma força invisível ao
local onde é chamado o rabo do arco-íris e são induzidos a tocarem na terra. Os homens têm
como efeito desta força invisível, um desejo de fazerem uma profunda escavação no que
acham ouro, pérolas, toda sorte de tesouros. Dan protege nomeadamente o Danson, o Dansi e
o Dannou. A pessoa consagrada ao Dangbé é um Dangbési. 2 - A Floresta Sagrada A floresta foi
consagrada pelo rei Kpassé, Ouidah, onde fizeram um círculo mágico, silencioso, transparente
ao ar. Os grandes deuses fixam seus duros olhos. Heviosso, Dan, Sakpata. E também os Voduns
reais como Dâguessou, protetor do rei Ghézo, com seus poderes contidos em pequenas
cabaças, fetiches em forma de bracelete. À entrada, o grande Legba figura numa expressão
profana sob os irokos centenários, Tokougagba conta com os irmãos e todo o panteão dos
Voduns. E toda a rota dos escravos é demarcada por esculturas de pedra, limite de uma
memória fascinante e triste. Meus comentários: (Yatemi Jurema de Yansã) Alguns segmentos
Jeje no Brasil, não concordam que se deva tratar do casal de Dans. Outros usam esse
procedimento somente para alguns Dans. Pelo que aprendi e pelo que lemos sobre o culto de
Dan no Benin, podemos constatar que o correto é tratar do casal realmente. Vodum Dan
(Haiti) O Haiti pertenceu ao índios de Taino, antes do encontro com Columbus. Muito da
cultura (filosofia e prática) do povo Taino, foram absorvidos, mas tarde, à Vodou, como mostra
o retrato místico do panteão da serpente, realizado como um deus Afro-Taino. Para os
haitianos, Danbala, a divina serpente patriarcal, é um espírito antigo da água associado com a
chuva, a sabedoria e a fertilidade. Aprece entrelaçado, geralmente, com sua esposa Ayida
Wedo, o arco-íris. Danbala é sincretizada com St. Patrick (quem dominou as serpentes), outras
vezes com Moisés, o patriarca dos dez mandamentos cristão. Em muitos templos, uma bacia
com água é permanentemente mantida para este Lwa. Muitas representações desta divindade
incluem o principal alimento sacrificial de Danbala um ovo. As bonecas de Voodoo Um objeto
simpático, foram usadas em muitas culturas, desde os primórdios tempos. O homem pré-
histórico foi conhecido criando bonecas que representavam sua caça, para enfraquecê-las
antes de saírem para caça-las. Os reis e antigos guerreiros também usavam a "força" destas
bonecas antes de irem ao encontro de seus inimigos, nas grandes batalhas. Hoje, os
praticantes de Voodoo e as bruxas utilizam este objeto mágico e obtêm resultados rápidos e
eficazes para uma variedade de finalidades. Entretanto, as bonecas Voodoo não possuem
nenhuma mágica, elas são usadas como uma ferramenta para canalizar energias pessoais para
um objetivo específico. Danbala O espírito de Danbala é a serpente e o arco-íris, uma força de
vida. Aido Hwedo, um macho, é descrito às vezes, como uma criatura, serpente e arco-íris, que
engole sua própria cauda. No Haiti, onde os ritos ancestrais e os cultos público se fundiram,
Danbala Hwedo e seu marido se fundiram e foram consagrados um deus superior na
hierarquia espiritual. Transformou-se no mais velho e respeitado de todos os Lwas. Juntos,
formam o grande arco-íris que cobre o oceano. Alternadamente, o arco-íris e seu reflexo na
água, que fazem o movimento de giro em um círculo. Alguns dizem que Danbala tem um pé
firmado no fim do arco-íris, na umidade da água, e o outro pé plantado firmemente nas
montanhas do Haiti. Danbala move-se assim, entre os opostos da terra e da água, como as
serpentes, unido-os em sua rotação, movimentos urobóricos, gerando a vida. Danbala cava
túneis também através da terra, como as serpentes, conectando a terra acima com as águas
abaixo. Antes de se casarem, seus
seguidores oferecem-lhe sacrifícios. textos traduzidos de Sites do Haiti. Se você souber os
endereços basta enviarme um e-mail que colocarei aqui.

TOGUM

Togum, veio do orum para fazer a ligação com o aiye através do mistério do ferro. Desta
forma, pode criar cidades na selva, a evolução com o desenvolvimento da tecnologia do metal
Há um estudo científico que diz que a oxidação do ferro no fundo do oceano, gerou bactérias
de onde surgiram os primeiros seres no começo da evolução. Não se pode afirmar que tenha
sido o ferro o gerador desse fenômeno, mas algum tipo de mineral simbolizado pelos pontos
de ferro. Togum/Gum/Gu, é um ToVodum masculino guerreiro que usa um pó vermelho
extraído de uma árvore que simboliza a procriação primordial para a sobrevivência e essa é
uma das razões dele não gostar que, em seus assentamentos, hajam ahuinhas. É dono de
todos os metais, principalmente o ferro e o aço além de todos os objetos cortantes: akiriké,
farim, magoge, etc. Por ser um guerreiro muito afoito, Togum não tem fronteiras, entra em
qualquer lugar em busca do inimigo e da vitória. Nessas investidas, Togum conta sempre com
Legbá, seu companheiro e amigo incansável, que o ajuda nos combates mas que se diverte
com a fúria de Togum. Ao mesmo tempo que é gentil, Togum é muito impaciente e quer tudo
a tempo e a hora. Tem, em sua natureza, um sentido de competição, de vigor, de expansão e
de agressividade, sempre pela sobrevivência. É muito severo com seus filhos no cumprimento
de suas obrigações. Quando Togum chega, anda por todo o kwe e se encontrar alguma coisa
fora do lugar, fica bravo e chama a atenção, exigindo que tudo esteja corretamente em seus
lugares. Algumas vezes, ele mesmo faz tudo, colocando as coisas em ordem Togum toma para
si a guarda do kwe onde mora, disputando com Legba a segurança. Em uma ahuan(guerra),
Togum mostra toda a sua fúria e poder de luta. Dificilmente um kwe de Jeje perde uma ahuan,
pois Togum, com todo o seu humpayme, garantem a vitória. Todos os narrunos são regidos
por Togum. Na África, somente os vodunos de Togum podem oficiar o ritual de narruno. No
Brasil, apenas algumas casas tradicionais seguem o modelo africano. O número três está
intimamente ligado à Togum. É um número fudamental universalmente. Exprime uma ordem
intelectual e espiritual, em AvieVodum, no cosmo ou no homem. Sintetiza a triunidade do ser
vivo ou resulta da conjunção de um e de dois, produzindo, neste caso, a união do orum e do
aiye. A cólera e a irritação de um guerreiro, no seio de uma guerra, manifestam-se através de
três rugas que se formam na testa: então, ninguém ousa aproximar-se ou falar. Existem vários
Voduns pertencentes a linhagem de Togum. O mais velho deles é o Vodum Guyugu que, como
os demais Voduns, participou de várias batalhas, saindo-se sempre vitorioso. As cores das
contas de Togum, variam de acordo com o Vodum. Podem ser: azulão, azulão e branco,
vermelho, verde e branco, podendo sofrer mudanças se o Vodum feito assim desejar. Suas
vestimentas podem ser: branca, azul, dourada ou estampada, que é a sua preferencia. Seus
dias de culto são: segunda ou terça-feira, dependendo do Vodum. Sua folha predileta é a abre-
caminho, sendo que existem muitas folhas para Togum. Togum é quem abre o portal para o
desenvolvimento da nossa verdade.

AS TOBOSSIS
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os demais Voduns.
Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual Benin. Eram cultuadas na Casa das
Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década de 60. As Tobossis gostavam de brincar como todas
crianças e falavam em dialeto africano, diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito
entendê-los. Sem contar que, muitas das palavras elas falavam pela metade. Elas vinham três
vezes por ano, quando tinha festas grandes, que duravam vários dias. A chefe das Tobossis é
Nochê Naé, a grande matriarca da família Davice,ancestral da família real de Dahome, é
considerada a mãe de TODOS os Voduns.
As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem os tambores e,
como todas as crianças, adoravam ganhar presentes e brincarem com bonecas e panelinhas.
Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e tinham o costume de dar doces e comidas
às pessoas. Sentavam-se em esteiras. Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois
dançavam. Gostavam de dançar no quintal, em volta do pá de ginja delas. Por serem crianças
puras, tinham mais afinidade com o corpo permitindo assim, uma ligação mais direta que os
Voduns, que são adultos. Não tinham falhas, não se irritavam. Seu papel no culto era só
"brincadeira". Eram espíritos perfeitos e mais elevados. Os Voduns podem ter falhas, as
meninas não. Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaí, diferente dos Voduns que
deixavam as filhas muito cansadas. Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns por
serem mais delicadas, porém os Voduns são mais importantes por terem mais obrigações.
Podemos observar similaridade entre as Tobossis do Mina Jeje e os Erês dos Candomblés da
Bahia e dos Xangôs de Pernambuco, pelo comportamento infantil. No entanto, os Erês
apresentam-se tanto com características femininas quanto masculinas e as Tobossis são,
exclusivamente, femininas, dengosas e mimadas. FEITURA DAS TOBOSSIS O processo de
feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum principal da Casa apontando um
grupo de filhas, já iniciadas anteriormente, as voduncirrês, para a feitura de Tobossi. As
voduncirrês passam por uma fase de iniciação que tem a duração de quinze dias, nos quais há
algumas festas. É uma feitura própria, um novo rito de passagem na graduação da iniciada no
Mina Jeje. O barco composto dessas voduncirrês é chamado de Barco das Novidades, Barco
das Meninas ou Rama. Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem suas
Tobossis, passando a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só são recebidas pelas voduncirrês
gonjaí. O último barco que se tem conhecimento foi realizado em 1913-1914. No processo de
iniciação, as Tobossis eram chamadas de sinhazinhas e, somente ao fim das feituras, é que
davam seus nomes africanos. Também eram por nomes africanos que elas chamavam as filhas
da Casa. Esses nomes eram escolhidos pelas Tobossis junto com os Voduns e esses nomes
eram divulgados no dia da "Festa de dar o Nome". Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e,
quando esta morria, elas não vinham mais, sua missão ali se encerrava. Desde a morte das
últimas gonjaí, por volta dos anos 70, as Tobossis não vieram mais. As Tobossis só incorporam
em suas gonjaí após os Voduns terem "subido". Elas chegavam alegres, batendo palmas e
acordando a Casa. No Peji, há um lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura
muito fina e especial. VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS Os trajes e apetrechos das
Tobossis são muito elaborados. As Tobossis vestiam-se com saias coloridas, usavam pulseiras
chamadas dalsas, feitas com búzios e coral, pano-dacosta colorido, o agadome, sobre os seios,
deixando o colo e os ombros livres para o ahungelê, uma manta de miçangas coloridas, presa
no pescoço, objeto de grande valor e significado. O ahungelê também era chamado de tarrafa
de contas, gola das Tobossis ou manta das Tobossis, sendo considerado um distintivo étnico-
cultural do Jeje. Ele conta a história particular da Tobossi vinculada ao Vodum, sua família e a
iniciada, gonjaí. As Tobossis usavam ainda, vários rosários, fios-de-contas e o cocre, colar de
miçangas curto, junto ao pescoço como uma gargantilha, usado pelas Tobossis e pelas gonjaí
durante o ano de feitura, cuja cores variam de acordo com seus Voduns, semelhante ao quelê
dos terreiros de Candomblé. No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito vistosas,
aparecendo o agadome que envolve o colo nu e os pés são calçados em sandálias finas. Os
trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma construção artesanal, que segue com rigor
uma linguagem cromática, própria e do domínio das Tobossis. A PARTICIPAÇÃO DAS TOBOSSIS
NAS FESTAS Quando apareciam publicamente, as Tobossis vinham cumprir certas obrigações,
destacando-se a festa do Carnaval. As Tobossis vinham três vezes por ano: - Nas festas de
Nochê Naé - em junho e no fim do ano - No Carnaval As grandes festas duravam vários dias. O
Carnaval é uma comemoração da qual participavam os membros do Barracão e visitantes. No
Carnaval, elas ficavam desde a noite do domingo até as 14 hs da quarta-feira de cinzas. Na
segunda-feira, alguns Voduns vinham visitá-las. Eram recebidos pelas outras filhas da Casa, as
voduncirrês.
Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam, obrigação também
conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros de Candomblé. As frutas ficavam no
Peji para serem distribuídas na quarta-feira de cinzas. Durante o Carnaval, as Tobossis
brincavam com pó e confete mas tinham medo de bêbados e mascarados. Na terça-feira à
tarde, dançavam na grande sala e na quarta, pela manhã, dançavam em volta da cajuazeira.
Distribuiam acarajé em folhas de "cuinha" e depois despachadas. Durante as grandes festas de
Nochê Naé, elas vinham durante nove dias, entre os dias de dança, nos intervalos de descanso.
Ficavam durante o dia, cantavam suas cantigas próprias, dançavam na sala grande e no quintal
e brincavam com seus brinquedos. O reconhecimento de cada festa/obrigação está no
vestuário e nos alimentos. O alimento é uma marca identificadora, compõe a divindade, seu
papel, suas características no contexto da ligação com os deuses e estabelecendo, ainda com o
alimento, uma forma de comunicação com os iniciados, visitantes e amigos do Barracão.
Fontes de consulta: O Povo Do Santo - Raul Lody Querebentam de Zomadonu - Sérgio Ferretti

Hevioso

As informações mais antigas que encontrei sobre os Voduns do panteão do trovão, datam do
final do séc. XV e princípio do séc XVI. Nas aldeias lacustres, nos arredores do atual Allada, era
cultuado o Vodum Setohoun (espírito da laguna). Quando Setohoun chegou a aldeia de Hevie
(reviê), os nativos o batizaram com o nome de Hevioso ou Hebyoso (na minha opinião Hevioso
seria o mais correto, visto a sua tradução ser: hevi: nome da cidade e oso ou so: raio = raio de
Hevie). Em Dahomey ele recebeu o nome de Xevioso, quando chegou trazido por uma nativa
da aldeia de Hevie. Na cidade de Mahi era cultuado o Vodum Djiso (djisô) na tribo Djétovi.
Nesta mesma cidade, também eram cultuados os Voduns: Gbame-so (bamé-sô) que tudo
indica ser o mesmo Bade que conhecemos no Brasil; Akhombe-so (acrombé sô); Ahoute-so
(aroutêsô) e Djakata-so (djacatá-sô). Vale assinalar que em toda a região do Dahomey atual
Benin, até os dias de hoje, todos esses Voduns inclusive o Orixá Shango são chamados de SO
(sô), que quer dizer raio. Sogbo era e ainda é, para o povo daometanos a grande deusa, mãe
de todos os Voduns So e irmã de Hevioso. Junto com seu irmão lidera a família. A partir do
meado do séc. XVI o culto desses Voduns se espalhou por todas as regiões do Dahomey. Com
essa expansão, novos Voduns foram surgindo. Vejamos alguns deles: Adantohun (adantôrrum)
(seria o que conhecemos como Soboadan?!) Ahuangan (arruangam) Alansan (alansam) Kasu
Kasu (cassu cassu) Saho (sarrô) Aden (feminina) Gbwesu (buêssu) Akele (aquêlé) Besu (bêssu)
Ozo (ôzô) Kunte (cuntê) feminina Naete (naêtê) feminina) Beyongbo (beionbó) (feminina)
Avehekete (averequéte) Dawhi (dauri) Hungbo (rumbó) Salile (salilê) Agbe (abê) (feminina)
Ahuangbe (arruambé) Contam os vodunos e Hunos que devido as tribos litorâneas que
prestavam culto aos xwala-yun (deuses do mar) adotarem o culto a So, Agbe e Naete foram
designadas a se estabelecerem no mar junto ao grande Vodum Hun e que a partir daí, o culto
dos dois panteões se fundiram nos cultos. Ao nível de Brasil, por tudo que pude constatar em
minhas pesquisas, não vi muita diferença entre nosso culto e o dos africanos. A maioria dos So
que existem no Benin existe aqui também. No Brasil é comum as pessoas chamarem todos os
Voduns do panteão do fogo de “Sobo”. Vejamos alguns Voduns e suas características: Kasu
Kasu (cassucassu) - Guerreiro que defende as aldeias e ou casas de santo onde é cultuado. Os
inimigos têm pavor de Kasu. Dizem que quando em luta ele cospe fogo sobre os inimigos.
Quando em guerras, Kasu coloca-se a frente da aldeia e ou casa de santo e abre seus braços
criando assim um obstáculo que impede os inimigos de atacar. A tradução de seu nome é
barreira. Sogbo (sobo) - Vodum feminina considerada a mãe de todos os So. Faz trovejar para
alertar os homens que os deuses julgadores e da justiça estão insatisfeitos e que o trovejar é
sinal do castigo que está por vir. Djakata-so (djacatásô) - Muito forte. Em sua ira arranca as
árvores e as joga sobre os inimigos e aldeias. Defende seus filhos mesmo que eles estejam
errados, só não podem errar com ele. Hevioso (reviossô) - Seus raios rasgam os céus
acompanhados dos trovões, destruindo cidades inteiras e fulminando os inimigos. Dizem os
Hunos que é preciso oferecer sacrifícios ao deus do trovão para aplacar sua fúria. Ele odeia
ladrões e malfeitores e os mata. Quando esta, satisfeito, Hevioso dá a chuva e o calor que
tornam férteis a terra e o homem.
Akholongbe (acrolombé) - Ataca os inimigos ou castiga o homem enviando granizo, ë faz os
rios transbordarem. É ele quem controla a temperatura do mundo. Quando está calmo e
satisfeito, ajuda o homem dando-lhe bons movimentos financeiros. Ajakata (ajacatá) - O
grande guardião dos céus. Somente ele possui as chaves que permite a entrada dos homens
nos céus. Quanto aborrecido envia as chuvas torrenciais. Gbwesu (buêssu) - É uma das mais
calmas, é o murmúrio dos trovões no horizonte. Akele (aquêlé) - É quem puxa as águas do mar
para o céu e a transforma em chuva. Alasan (alassam) - Talvez o mais velho de todos. Ensinou
ao homem o culto de So. Gbade (badé) - Jovem, guerreiro, brigão, implicante, muito
barulhento. Adora beber e quando o faz arruma bastante confusão deixando todos
atordoados. Adora esconder as coisa (pertences) e se diverte em ver as pessoas procurando.
No trovão ouve-se sua voz gritando para que os homens consertem o que está errado. Sua
morada são os vulcões. Adeen (adêêm) - É ela quem faz escurecer os céus e envia os
relâmpagos que fulminam. Sua mãe Sogbo ralha com ela dizendo: - Ahunevi anabahanlan!
(não mate as pessoas). Aden (adêm) - Vodum masculino do panteão do trovão, que veste
roupa branca. Dá as chuvas finas que faz as árvores frutificarem e, em conseqüência, é
guardião das árvores frutíferas. É o mesmo Vodum Adaen conhecido no Brasil. Em um
combate, mata os inimigos pelas costas, não a traição. Todo cuidado é pouco para lidar com
esse Vodum, pois a primeira vista ele não demonstra seus desagrados. Ahuanga (arruanga) -
Vodum masculino muito velho e grande feiticeiro do panteão do trovão, filho de Saho. Em um
salto transforma–se em fogo para proteger seus adeptos e queimar seus inimigos, depois disso
desaparece numa moringa. Tudo que é seu é enterrado. Auanga (auangá) - Vodum masculino
do panteão do trovão, irmão de Avehekete. Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os
ladrões. São muitos os Voduns desse panteão. Os So ou Sobos não gostam de malfeitores e
ladrões de um modo geral eles se irritam e matam esses elementos. A água da chuva
depositada nos telhados é um dos seus maiores beko (becó (kisilas)). Também não gostam de
feiticeiros e bruxos e se esses se meterem com seus protegidos Ele os fulmina. Os akututos
(eguns) não constituem um beko para esses Voduns, mas eles também não gostam muitos dos
mesmo. Quando é necessária a presença de um deles para afastar esses espíritos, se fazem
presente e com muita energia os afugentam. Sua principal dança é o hundose (rundôssé
(Brasil)) e o dogbahun (dôbarrum ( África)). Pela descrição dessa ultima, acredito que seja o
mesmo hundose que conhecemos no Brasil. Sosiovi (sôssiôvi) é nome do chocalho de So ou
Sobo. Sokpe (sopé) é o machado de Hevioso, feito com pedras de raio. Os Sos ou Sobos
representam vida, saúde, prosperidade e vitórias. fontes de pesquisa; Centro cultural Ceja Neji
Pierre Verger Lê Herrisé

Voduns das Águas Oceânicas

O oceano abriga uma variedade imensa de entidades, dentre estas, encontramos muitos
Voduns masculinos e femininas. Para falarmos sobre as Naês (mães) que habitam o oceano,
torna-se necessário falarmos dos Voduns masculinos que moram com elas. Para os adeptos do
culto Vodum o oceano é o grande Hu-Non (ru-nom), considerado o maior de todos os Voduns.
Naete (naêtê) e seu esposo Vodum Hou (rou) são os deuses que reinam esse universo
oceânico. Enquanto Naete fica nas águas calmas, Vodum Hou desbrava todas as regiões e dá a
cada Vodum suas tarefas. Naete (naêtê) - Vodum feminino do panteão do trovão que habita as
águas calmas antes da arrebentação, esposa de Vodum Hou. Hou (rou) - Vodum masculino do
panteão do trovão casado com Naetê, pai de Aveheketi, trindade muito cultuada e honrada
nos templos do Trovão. Sua morada são as volutas bramantes das ondas que arrebentam no
litoral. Cada Vodum habita uma região do oceano e têm uma função. Assim vamos encontrar:
Vodum Nate (natê) - Vodum do panteão do trovão que habita o mar. Adorado pelos
pescadores e por todos que trabalham no mar. É o grande guardião que habita em todo o
oceano, mar e praias.
Sayo (saíô) - Vodum feminina do panteão do trovão, irmã de Avhekete. Habita as ondas do mar
que fazem o nível do oceano subir. Considerada como uma sereia Vodum Tokpodun
(tópôdum) - Vodum feminina, deusa do rio. Seu frescor traz claridade para as cabeças e sua
tranqüilidade traz a paz. Símbolo de beleza, feminilidade, fertilidade, graça e caráter. Filha de
Naete deusa do oceano, irmã de Avhekete. Foi expulsa do oceano por seus irmãos por seu
caráter forte indo então, morar no rio. Vodum Tchahe (tchárrê) - Vodum feminina do panteão
do trovão, irmã de Avhekete. Habita o marulhar das ondas das águas oceânicas. Vodum Agboê
(abôê) - Vodum masculino do panteão do trovão, filho de Saho. Realiza tudo através de um
talismã que preparou junto com seu pai. Dança com muito vigor, gira em torno de si mesmo e
transforma–se na água que é Hu, o mar. Depois disso sai e pede a uma vodunsi que recolha
água do mar, coloque em um ponte e a esquente. O resultado disso é o huladje, o sal. Vodum
Avehekete (averequéte) - Vodum masculino do panteão do trovão,muito agitado, habita a
arrebentação marinha. É quem leva as mensagens de seu pai, Vodum Hou, às divindades
marítimas e aos homens. Costuma roubas as chaves de sua mãe para da-las aos homens.
Voduns gêmeos Dôtsê e Saho (dôtissê e Sarrô) - Dôtse nasceu à noite e Saho de manhã. Ela
tem um olho em um lado da terra e Saho no outro lado. Considerados os Voduns que olham o
mundo. Panteão do trovão, habitam sobre o mar. Vodum Yedomekwe (iêdômêqüê) - Vodum
feminina que faz chover. Habita na evaporação das águas oceânicas. Goheji (gôrêji) - Vodum
jovem muito alegre e falante, habita o encontro das águas das lagoas com o mar. Essa mãe
gosta muito de passear pelas lagoas e lagos misturando-se com os patos d'água em seu bailado
e fica muito aborrecida se algum caçador mata ou fere uma dessas aves. Veste roupas azul,
verde água, prateado com rosa clarinho ou azul. Gosta de adornos prateados, pérolas e
perfumes suave. Pertence ao panteão da terra. Quando Goreji resolve passear em águas
oceânicas, os cavalos marinhos que a adoram ficam ao seu dispor para transportá-la e passear
com ela. Em seu assentamento podemos colocar bonecas coloridas e outros brinquedos de
menina. Vodum Aboto - habita as águas doces profundas que desembocam no mar. É sempre
confundida tanto como Oxum quanto como Yemanja. Uma das Voduns mais velha do panteão
da terra. Veste branco, branco com amarelo, amarelo clarinho, suas contas são amarelo pálido.
Gosta de adornos dourados e perfume. Não gosta de muito barulho perto dela. Fica fascinada
com o barulho dos búzios em movimento com as águas e faz desses seu oráculo. Os gêmeos
Dazodje (dázôdjê) e Nyohuewe Ananu (niôrruêuê ananú) - habitam nas riquezas depositadas
no fundo do mar e são considerados os Voduns da Riqueza. Não são feitos na cabeça de
ninguém. Erzulie (erzúliê) - Vodum feminino que habita o reino abissal, pertence ao panteão
da terra. É considerada a mãe de Agué e Olokwe. Essa Vodum também é conhecida como
Erzulie-Dantor, poderosa conhecedora da alta magia. Dizem os bakonos que ela se assemelha
a Netuno, pois está sempre tentando levar toda a humanidade para habitar o oceano. Ela diz
que todos os humanos têm a capacidade dos anfíbios e que todos se originaram do fundo do
mar. Alguns acreditam que é um Vodum andrógino. Em momento de afogamento devemos
chamar por Vodum Abe (abê) e Vodum Sayo para que essas convençam Erzulie que nosso
lugar é na terra. Oulisa (oulissá) - Vodum masculino que habita as águas claras e frias do
oceano. Esse Vodum é sempre muito confundido com Lisa (lissá) ou Oxala. Veste branco com
detalhes prateado ou dourado. É um Guerreiro dos Mares. Panteão da terra. Abe (abê) -
Vodum feminina irmã de Bade, panteão do trovão. Habita as águas revoltas do oceano.
Sempre que acontece um naufrágio é ela junto com Vodum Sayo que tentam salvar os
náufragos. Considerada uma das mais velhas mães do mar, sempre substitui Naete, quando
essa precisa se ausentar do reino. Noche Abe é considerada a palmatória do mundo, cabe a ela
mostrar as verdades e não deixar que essas sumam nas águas, dizem os antigos que o ditado
"A verdade sempre anda sobre as águas, nunca afunda, um dia ela aparecerá na praia" foi dito
por Abe. Assim como Erzulie, Abe é conhecedora de alta magia. Veste branco, azul muito
clarinho. Existe uma grande confusão entre o nome desta Vodum com as Voduns Abe Huno
(abé runô), Abe Gelede (abé geledê), Abe Afefe (abé afêfê) que são Voduns guerreiras dos
raios, tempestades e ventos. Naê Aziri - Vodum das águas doces que muito se assemelha ao
Orixa Oxum. Panteão da terra. Essa Vodum é muito confundida com a Vodum Azihi-Tobosi
(aziri-tobossi) que habita o alto mar e é a protetora de todas as embarcações que navegam no
oceano. Afrekete (afrequéte) - é a mais jovem e mimada Vodum do panteão do trovão, habita
em todo o oceano. Junto com Nate(natê) desempenha o papel de Legba, guardando os mares.
Protege os pescadores e pune todos aqueles que insultam os deuses e habitantes do mar.
Quando vê uma embarcação pirata, agita as águas para que essa naufrague e após esse,
entrega todo o tesouro encontrado aos Voduns da riqueza e os mortos à Abe Gelede (abé).
Aouanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do trovão, irmão de Avehekete. Habita as
lagunas marinha. Suas águas engolem os ladrões.
Agoen (agôêm) - Vodum filho de Saho, reina na areia branca que cobre o chão das praias e
oceanos. Agwe (agüê) - Vodum feminina do panteão da terra que habita sobre as águas
oceânicas. Muito afetuosa, está sempre atenta as necessidade alimentares do homem e os
ajuda a prover sua mesa, usando sua arma principal, a dam (rede). São tantos os Voduns que
habitam as águas oceânicas que torna-se impraticável descrever todos aqui nesse espaço.
Temos em nosso culto uma linda cerimônia denominada GOZIN (gozim) onde fazemos
oferendas à todas as divindades que habitam as águas. É um momento muito sublime, de uma
energia indescritível. Quando "gritamos" Agoki-Agoka (agôqui-agôcá) podemos perceber a
chegada de cada um deles. Não poderia deixar de citar o mito do monstro marinho Mokele-
Mbenbe (môquêlêbêmbê), animal do tamanho de um elefante, um pescoço longo, um único
chifre e uma enorme calda envolada que ataca as embarcações. Muito temido e respeitado em
todo o Dahomey até os dias de hoje. E na Hou nule ye! (Ê ná rou nûlê iê!) (Que os deuses do
oceâno abençoem vocês!)

Yewa

Yewa é um vodum feminino da família Dambirá. Filha de Toy Azonze e Dambala, irmã de
Boçalabê nasceu para ser o símbolo da pureza e da beleza dos deuses. Do nascimento a fase
adulta Yewa viveu na família de Dan onde representava a faixa branca do arco-íris onde
também mora Ojiku. Recebeu de Dan Wedo o poder da vidência, da riqueza, e todos os corais
que existiam no mar que ela pegava com seu arpão. A beleza física de Yewa encantava a todos
que olhassem em seus olhos, mas essa nunca se encantava com ninguém pois era o símbolo da
virgindade e da pureza. Muitos homens se apaixonaram por ela e todos foram punidos pelos
deuses pois sabiam que era proibido amar a grande Virgem. Yewa adorava ver o por do sol e
sempre saía a passear pelos campos floridos acompanhada por dois bravos guardiões que não
permitiam que ninguém se aproximasse dela. Era um casal de gansos branco, lindos e
majestosos. Certo dia, estava Yewa a apreciar o por do sol, quando uma galinha, se
aproveitando da distração dos gansos, aproximou-se e ciscou muita terra sobre as vestes
brancas de Yewa, essa se enfureceu e amaldiçoou a galinha e daí para frente nunca mais quis
ver uma em sua frente como também resolveu mudar suas roupas para as cores do por do sol.
Certo dia, Yewa avistou um belo homem, um guerreiro e se encantou por ele. Yewa enfrentou
e desafiou todos os deuses por amor a esse homem e teve como castigo o exílio. Foi expulsa
da família de Dan e considerada a cobra má. Durante seu exílio, Yewa teve que fugir e
esconder-se da fúrias dos deuses. Em sua primeira fuga, Yewa contou com a ajuda de um
grande caçador e guerreiro, Odé, que a escondeu nas profundeza das matas escuras, em terras
yorubanas. Vendo-se em um lugar sombrio e sem recursos de sobrevivência a sua disposição,
Yewa aceitou um ofá que Odé ofereceu-lhe. Aprendeu a caçar junto com ele e com os demais
caçadores. A beleza de Yewa encantava e perturbava Odé e aos demais que viviam nas matas,
pois eles sabiam que não podiam se apaixonar por ela, temiam a fúrias dos deuses. Odé então,
fez para Yewa uma coroa de dans e folhas de palmeiras desfiadas. Mandou que ela a coloca-se,
assim ninguém se aproximaria dela com medo das dans e as folhas desfiadas da palmeira
esconderiam sua beleza contagiante. Yewa gostou do presente pois viu nesse, a possibilidade
de esconder-se dos deuses e livrar-se de sua fúria. Com o uso dessa coroa Yewa pode sair da
escuridão das matas e ir apreciar o que mais ela amava e representava ... o por do sol. Faltava-
lhe seus guardiões, pediu ajuda a Odé e esse caçou para ela um casal de gansos negros, pois
foram os únicos que encontrara. E assim, Yewa passou a ver e a viver o por do sol novamente
em seu exílio. Passado um tempo, Toy Azonze foi aos deuses pedir por sua filha Yewa que já
tinha sido por demais castigada. Depois de muitos pedidos e oferendas aos deuses, esses
concederam a Azonze a guarda de Yewa que deveria morar com ele. Azonze embrenhou-se
nas matas a procura de sua filha e a encontrou junto a Odé. Como agradecimento por tudo
que fez por Yewa, Toy Azonze deu a Odé um par de chifres e o poder de chamá-lo e aos
espíritos da caça quando assim precisasse. Yewa foi morar no reino dos mortos junto com
Azonze e com esse passou a exigir o cumprimento da moral e dos bons costumes. Em sua nova
morada Yewa recebeu o caracolo/aracolê onde guarda os segredos dos ancestrais e os invoca
quando é necessário, e o eruxim com o qual espanta os egum para o caminho de Oya. Sempre
que possível, Yewa engana Eku e salva uma vida.
Yewa é um Vodum raríssimo de ser encontrado no TA (cabeça) de alguém. A feitura de Yewa
deve ser sempre em TA de virgens e nunca em TA de homens. Por ter o poder da vidência,
Yewa tem o poder de nos livrar do "olho grande" e das invejas. Quem sabe cuidar desse
Vodum, se livra facilmente dos invejosos. Encontramos Yewa tanto nas águas quanto nas
matas e mundos subterrâneos (aquático e terrestre), mas seu local preferido é sempre o
horizonte, onde o por do sol faz o encontro dos dois mundos e o céu se encontra com a terra,
"Isso é Yewa" dizem os antigos. Ojiku é um Vodum Dam que sempre é muito confundido com
Yewa, assim como Boçalabê que é sua irmã. Ojiku é considerado a Cobra branca e Boçalabê é
uma Vodum das água doces, muito confundida com Oxum. Em muitas pesquisas e entrevistas
que fizemos pudemos constatar a confusão e controvérsias que as pessoas fazem em relação a
Yewa e esses dois Voduns.

Tohossou: Vodum Protetor dos Deficientes Físicos e Mentais

Por séculos, em todo o mundo, as crianças nascidas em circunstâncias especiais, eram mortas
pois eram segregadas e rotuladas como seres de mau agouro, diabos ou que perpetuavam a
miséria e o sofrimento de suas famílias, tornando-se assim, um estôrvo para seus pais. Eles
eram assassinados, conforme estabelecido pelo grupo, para serem poupados de uma vida com
olhares fixos e rejeições sociais. Não havia nenhuma recompensa em sacrificar uma vida
familiar cuidando dessas crianças carregadas de circunstâncias tão especiais. Esta situação
também estava presente na cultura dahomeana, até que um Vodum especial, nomeou
Tohossou para encarregar-se de mudar essa situação. Os Tohossous são congregados de
antepassados reais que surgiram durante o reinado do Rei Akaba, o segundo rei do Dahomey
(1685-1708). Eram conhecidos como "as crianças e o guardião dos três rios", um lugar onde
todos os antepassados viviam, e todos que morriam passavam a viver neste sagrado reino
subaquático. Este Tohossou foi considerado muito poderoso e, frequentemente, era chamado
para batalhas quando tudo já havia falhado, pois era um vencedor certo com uma rajada de
sua poderosa espada. O Tohossou é agrupado com o "Neusewe" dahomeano, grupo da
maioria dos mais antigos antepassados, hoje conhecido como "Loko". A primeira criança
nascida com má formação física e a fazer parte desse grupo foi Zomadonu, filho mais velho
Acoicinacaba. Zomadonu é quem comanda este poderoso grupo de Trowo (espíritos
ancestrais) . Para este grupo eram feitos sacrifícios e honras especiais. Infelizmente, foi
durante o reinado do rei Glele que deu-se a maior perseguição às famílias dessas crianças. Elas
eram sacrificadas afim de poupar o reinado e suas famílias. O mais significativo, é que esses
antepassados reais eram, frequentemente, ignorados e negligenciados pelos próprios reis.
Muitas tentativas foram feitas por esses antepassados para atrairem a atenção dos reis em
incentivá-los a dar-lhes as homenagens como era a tradição, mas os reis se recusavam
veementemente, então esses antepassados se tornaram enfurecidos. Um dia, irritados,
desceram na corte real, nos corpos dos adultos fisicamente mal formados e começaram a
destruição, a devastação e a exalarem um cheiro forte e desagradável e, acima de tudo, muita
confusão e desespero, destruindo a corte e vilas inteiras. Imediatamente o rei chamou os
bakonons de Fa para verificarem qual era o problema e o que poderia ser feito para acalmar
esses espíritos poderosos e irritados. Após um consulta cuidadosa, Tohossou começou a falar.
Além de exigirem que todos os reis erguessem um santuário ao Vodum maior, Zomadonu,
para que eles lhes pagassem as devidas homenagens, exigiram também que a repercussão da
"fama" que os física e mentalmente abalados tinham fosse cessada. Declarou ainda que
daquele momento em diante eles eram os seus guardiões protetores. Por último, propôs que,
aqueles que nascessem naquelas condições, suas famílias deveriam erguer um pequeno
santuário em suas casas e, os que assim fizessem, seriam recompensados e abençoados com
prosperidades especiais. Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má formação
física ou deficiências mental têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno altar é
consegrado aos Tohossous. Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional às
suas famílias, trazem bençãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido a idade, ferimentos ou doenças, também ficam sob a
proteção dos Tohossous.

Sakpatá

Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século XVIII, vindo da
cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine Vedji. Todos os Voduns,
pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá. Nesse panteão temos vários
Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy Akossu, no transe, ele se mantém deitado na
azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá à eles
inspirações para a descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é
a própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro. Toy Azonce é um outro
Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu assentamento fica em local bem isolado
do Kwe, sendo proibido tocá-lo. Somente UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar
desse assentamento. É Toy Azonce quem sempre faz todas as honras para seu irmão Toy
Akossu, quando ele está em terra. Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que
gosta de comer quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy
Abrogevi gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé que aprendeu a
comer e a gostar de quiabo. São tantos Voduns desse panteão que seria praticamente
impossível descrever cada um aqui. Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons
costumes. Nunca admitem falhas morais dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para
eles é Ewá, filha de Toy Azonce. As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns podem
variar de acordo com o gosto de cada um. Todos usam roupas feitas de palha da costa sendo
umas mais curtas e outras mais compridas. Sakpatá usa todas as cores e o estampado, sempre
com a presença das cores escuras. Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a
fibra da ráfia, obtida de palmas novas, extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia
vinifera. No Brasil, recebe o nome de Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra". A
palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de ascensão, de
regenerescência e da certeza da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos. Um
símbolo da alma. Além de proteger a vulnerabilidade do iniciado, sua utilização também é
reservada aos deuses ancestrais, numa reafirmação de sua ancestralidade, eternização e
transcendência. Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou
ainda, uma pequena espada. A maioria deles gostam de manter o rosto coberto pela palha da
costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar búzios e chaorôs
(guizos). O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que é confirmado pela sua relação
com as águas e seu desenvolvimento espiralóide a partir de um ponto central. Simboliza as
grandes viagens, as grandes evoluções, interiores e exteriores. É associado as divindades
ctonianas, deuses do interior da terra. Por extensão, o búzio simboliza o mundo subterrâneo e
suas divindades. O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do sino, sobretudo pela
percepção do som. Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido percebe, o som, que é reflexo da
vibração primordial. A repercussão do chaorô é o som sutil da revelação, a repercussão do
Poder divino na existência. Muitas vezes têm por objetivo fazer perceber o som das leis a
serem cumpridas. Universalmente, tem um poder de exorcismo e de purificação, afasta as
influências malignas ou, pelo menos, adverte da sua aproximação. Sem dúvida, simboliza o
apelo divino ao estudo da lei, a obediência à palavra divina, sempre uma comunicação entre o
céu e a terra, tendo também o poder de entrar em relação com o mundo subterrâneo. O
lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de eminência, de
elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o prestígio da força vital, da
criação periódica, da vida inesgotável, da fecundidade. Devemos lembrar que chifre, em
hebraico "querem", quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder e força. O lakidibá não sugere
apenas a potência, é a própria imagem do poder que Sakpatá tem sobre a vida e a morte. Na
conjunção do lakidibá e do deus Sakpatá, descobrimos um processo de anexação da potência,
da exaltação, da força, das quatro direções do espaço, da ambivalência.
Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e branco. Ele também contém a bondade, a
calma, a força, a capacidade de trabalho e de sacrifício pacífica do chifre do búfalo, de onde
origina-se. Rústico, pesado e selvagem, o búfalo é também considerado divindade da morte,
um significado de ordem espiritual, um animal sagrado. Na África, o búfalo (assim como o boi),
é considerado um animal sagrado, oferecido em sacrifício, ligado a todos os ritos de lavoura e
fecundação da terra. O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos.
Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu (pipoca) representaria as doenças de pele
eruptivas, cujo aspecto lembra os grãos se abrindo. Jogar o duburu assumi o valor e o aspecto
de uma oferenda, destreza e resistência. O ato de jogar se mostra sempre , de modo
consciente ou inconsciente, como uma das formas de diálogo do homem com o invisível. Tem
por alvo firmar uma atmosfera sagrada e restabelecer a ordem habitual das coisas, é
fundamentalmente um símbolo de luta, contra a morte, contra os elementos hostis, contra si
mesmo. Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e cada um
deles especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe uma única maneira de
agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos de artifícios. Uma vez por ano, os Kwes fazem
um banquete para as Divindades do Panteão de Sakpatá, onde devemos comer, dançar e
cantar junto com os Voduns. Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são convidados a
compartilhar desse banquete. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas
divindades, todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus filhos. Esse
banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os demais Voduns de
seu panteão. Toda a comunidade vêm saudar o Deus da varíola e seus descendentes, comer e
dançar junto com eles e, ali mesmo, é servido o banquete para todos os presentes. Após essa
cerimônia, Sakpatá e os demais Voduns, vestem suas roupas de festa e vão para a Sala
(barracão) comemorarem seu grande dia, junto com a comunidade que os aguardam. Quando
entram na Sala, todos gritam louvores à eles, dançam e cantam, louvando o Deus da varíola,
que traz a cura de todas as doenças. Suas danças e cânticos lembram sempre os doentes, as
doenças e a cura das mesmas. Algumas falam das lutas que esses Voduns enfrentaram com a
rejeição das comunidades com sua presença e outras falam das vitórias que tiveram sobre
todas as comunidades que a eles vieram pedir ajuda. Os Sakpatás trabalham muito e têm um
importantíssimo papel nas feituras de Voduns. Do início ao fim de uma ahama (barco de yaô),
eles atuam com rigidez e vigor, mantendo o bom andamento, principalmente dos bons
costumes morais e, cobram "feio" caso alguém cometa alguma falha. Eles são, na verdade, as
testemunhas de uma feitura. Após a feitura, se um filho negar alguma coisa que tenha sido
feita, eles são os primeiros a cobrarem desse vodunci a mentira que ele está dizendo, assim
como também cobram a quebra de segredos. Todas as folhas refrescantes para ferimentos,
pertencem a esses Voduns. Vale alertar que existem Orixás e Inkices também ligados a cura e
doenças porém, não são os mesmos deuses que os Voduns da família Dambirá, da nação Jeje.
Muitas confusões são feitas e, encontramos várias bibliografias relatando origens,
especificações e costumes que nada têm a ver com o Vodum Sakpatá.

AVEJI DA

Ligadas as tempestades, raios, furacões, redemoinhos, ciclones, tufões, maremotos, erupções


vulcânicas, aos ancestrais e a guerra, todas as Voduns guerreiras são conhecidas como Aveji
da. Até mesmo Oya dos yorubanos, é assim denominada em território daometano.
Erroneamente, no Brasil, algumas pessoas feita de Oya se intitulam filhas de Vodum Jò. Digo
erroneamente porque Oya é um Orixá yorubano e Vodum Jò é um ToVodum do panteão de
Aveji-da, assim como Jò Massahundo também. Aveji-da é o Deus/Deusa das tempestades e
dos ventos. Podemos encontrar as Aveji-da tanto na família Dambirà quanto na família
Heviosso. As Aveji-da, da família Dambirà estão ligadas diretamente ao cultos dos akututos,
sendo que cada uma tem sua função. Algumas reinam na fronteira do djenukom com o
aikungúmã, outras nos ekúchomê, outras no hou, ôtan e tódôum., outras em humahuan,
outras junto com Naê Nana, outras junto aos kpame e "possuídos" - essas, "talvez", sejam as
que mais trabalham (opinião minha) - outras se encarregam, junto com Exu, de levar os ebós e
pedidos feitos pelo povo encarnado e desencarnados, a quem de direito e tentam trazer as
soluções para cada um normalmente conseguem. Enfim, é uma infinidade de atribuições que
essas Voduns têm, todas sempre em prol daqueles que pedem e precisam do auxílio delas,
sejam encarnados ou desencarnados.
Todas essas Voduns, são temidas e respeitadas por akututòs. Elas têm todos os poderes sobre
o reino dos mortos e junto com Sakpata e Nae Nana, controlam a vida e a morte. As Aveji-da
da família Heviosso, estão mais ligadas aos fenômenos da natureza, como o furacão, ciclone,
maremotos, erupções vulcânicas, etc. onde os eguns recém desencarnados nesses fenômeno
são encaminhados imediatamente por elas as Guerreiras dos cultos de akututòs, pois Heviosso
e demais Sobos não abrem suas portas para ekùs, dessa forma o trabalho delas tem que ser
rápido e eficiente, para não contrariar o grande Heviosso. Contam os velhos Vodunos e
Bakonos que a fúria de Aveji-da e de Heviosso contra as heresias humanas é que provocam
esses fenômeno onde muitos sucumbem. Nessas ocasiões é que devemos recorrer a Velha
Vodum Guerreira que com sua sabedoria e magia sabe aplacar a fúria dos deuses e acalma-los.
Essa Velha Vodum Guerreira mora junto com as demais Yamis e todas as Aveji-da prestam
culto a mesma e tomam seus conselhos e usam sua magia quando precisam. Ela é um velha
Aveji-da que se esconde nas sombras e adora a noite. Os pássaros são seu encanto. Junto com
Ágüe visita os kwes em sua rondam noturna e se encontrar demandas ela ai se detem nos para
ajudar ou cobrar. A fúria dessa Vodum destrói os inimigos e fecha um kwe. Dificilmente um
kwe fechado por ela consegue se reerguer. Somente através de Baba Egum se consegue
chegar a ela para aplacar sua fúria. As Aveji-da são mulheres muito vaidosas, gostam do belo,
adoram a natureza, apreciam quando suas filhas imitam suas vaidades. São todas muito
vaidosas e autoritárias, não gostam de receber ordem de ninguém principalmente dos
homens, mas quando fazem suas vontades e caprichos tornam-se dócies e carinhosas. São
muito maternais, perdoam com facilidade seus filhos e os defende com toda a garra de
guerreiras. Gostam de disputar com os Voduns Guerreiros quem luta melhor e esses sempre
acabam cedendo aos encantos dessas mulheres que os encantam com sua magia e beleza. As
Aveji-da comem cabra ou cabrito, galinha, galo, d'angola, pombo e outros bichos. Gostam de
abara, acarajé, alapadá, quiabada, inhame, peixe, acarajés recheado com quiabo - existe um
infinidade de comidas para elas - Seus apetrechos são o erugim, adaga, espada de lança curta
com a ponta em forma de meia lua, faca, chicote, chifre de búfalo e de boi, fogareiro de ferro,
abano de palha, abano confeccionado em tecidos finos ou pena (leque), abanos
confeccionados em madeira, bonecas(fetiche), maruo... Usam todas as cores em suas
vestimentas. Seus colares ou fios de conta são das mais variadas cores e formato. Gostam de
todos os metais, sendo que o ferro, o cobre e a prata são seus preferidos. Vale ressaltar que a
confecção de apetrechos,vestimentas e fios de contas são determinados pelas próprias
Voduns, portanto não existe uma "receita" para esses itens. As Oyas feitas dentro do culto de
Voduns aderem todas as características das nativas, porém recebem também o que lhes são
de direito dentro de suas origens. Vocabulário: djenukom - céu (orum) aikungúmã - terra (aiye)
ekúchomê - cemitério tódôum -rio hou - mar ôtan - lago, lagoa ahuan - guerra, batalha
humahuan - campo de batalha (guerra) kpame - doentes, enfermos akututòs - ancestrais,
egungum ekùs – eguns

Tobossis/Naês/Mami Wata

Tobossis, Naês ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu, jevivi e
salobres. Aqui falaremos, especificamente ,das belas Naês das ezins doces e salobres. Em
todas as famílias de Voduns encontramos Naês, sendo que, a maioria delas, são da família
Dambirá, panteão da terra. No Brasil, convencionou-se chamar Oxum, dentro das casas Jeje,
de Tobossi. Tobossis são Voduns femininos, infantis e, como elas tem muito a ver com as Naês,
acredita-se que foi daí que o brasileiro passou a chamar Oxum de Tobossi. Como a maioria dos
adeptos do Candomblé sabem, Oxum é um Orixá da nação Ijexá, muito cultuada por todas as
nações, inclusive o Jeje mas, temos que entender que existem Oxum e Naês. Quando, dentro
da nação Jeje, uma pessoa é feita de Oxum, dizemos que ela é feita de Orixá, quando a pessoa
é feita de Naê, dizemos que ela é feita de Vodum.
As Naês vivem em plena harmonia com toda e qualquer entidade que mora nas ezins. Nesse
habitat não existe separação de nações. As Naês ou Mami Watas, são mulheres vaidosas,
exigentes, caridosas, algumas são guerreiras, outras caçadoras. Gostam do brilho das pedras e
do ouro, adoram se enfeitar com colares, pequenas conchas e caramujos, pulseiras, pequenas
penas coloridas. Normalmente, seus adornos são feitos por elas mesmas, caso alguém queira
fazer para elas, essas exigem que seja feito exatamente como elas fariam. Algumas Naês
gostam de ficar a beira dos tódôum, sentindo e recebendo a energia do guhê, das atinçá, do
djóom, da sum, etc.. Essas são muito falantes, gostam de dançar, cantar, caçar junto com
Otolu, pescar junto com Ajaunsi, macerar folhas junto com Agué, comer amalá com Sobo,
Aveheketi e Ahevessul, etc. Gostam de caminhar pelas matas, praias e lagoas, ondem residem
outras Naês. Outras Naes preferem as profundezas das ezins onde a paz reina com toda a
plenitude da natureza, essas não gostam de se expor aos olhos de curiosos e são de falar
muito pouco. As Naês que moram nas ezim salobres, são as mais guerreiras, cultuam os
ancestrais, lidam com eguns e a magia é seu forte. Dizem os antigos, que é nas lagoas que se
escondem os grandes mistérios da magia das Naês, pois ali se encontram as duas energias, a
das ezins jeçuçu e a das ezins jevivi. Fá sempre aconselha seus bakonos a irem à lagoa
conversarem com as Naês quando existe a necessidade da magia ser usada. As Naês usam
roupas de várias cores sendo que, algumas delas, adoram o dourado, daí confeccionar-se
roupas com tecido amarelo, o que não está totalmente correto. As roupas das Naês devem
obedecer a uma série de exigências das mesmas. Podemos até fazer uma roupa amarela ou
dourada, mas nunca podemos esquecer os detalhes que virão complementar a simbologia da
roupa a ser usada. Seus assentamentos podem ser feitos em louças, em bustos de madeira,
argila ou cô, dependendo da Vodum que se está assentando. Comem: bò, catraio, marreca,
kôkôlo, uhui, caças, eché. Dependendo da Naê, ela traz nas mãos: ezuzu (abebê), pena, ofá,
lira, eché (de preferência vivo), cobra, espada ou adaga. Em todos os estudos que fizemos na
África, encontramos a SEREIA simbolizando as Mami Wata/Naês, tanto das água doces quanto
das águas salgadas e salobre. É comum encontrarmos, em qualquer estabelecimento
comercial e residencial, a figura de uma sereia cultuada (podemos comparar com os santinhos
católicos que os brasileiros cultuam aqui em pequenos altares em seus estabelecimentos).
Vocabulário kôkôlo - galinha bò - cabra ou cabrito có - barro eché - pássaro uhui - peixe ezim -
água atinçá - árvores, folhas sum - lua djóom - vento tódoum - rio catraio - galinha da angola
guhê - sol jevivi - salgada jeçuçu - doce

A ORIGEM DE FA - O SISTEMA DAHOMEANO DE ADVINHAÇÃO

Gbadu nasceu após os gêmeos Agbe e Naete. Possui dezesseis olhos e é um deus andrógino.
Mawu designou-o a viver no alto de uma árvore de palma, no Orum, a fim de observar os
reinos do mar, da terra e do céu. Mais tarde, Mawu lhe diria os deveres que deveria executar.
Gbadu está sempre na árvore. A noite, quando dorme, seus olhos se fecham e depois não
pode abri-los sozinho. Legba foi encarregado por Mawu, para escalar a árvore de palma, a
cada manhã, para abrir os olhos de seu irmão.
Quando Legba escala a árvore de palma, pergunta primeiro a Gbadu que olhos deseja ter
aberto, se os detrás, da frente, da direita ou da esquerda. Ao ouvir a pergunta, Gabdu presta
atenção ao reino do mar, da terra e do céu; não quer falar porque outros podem ouvir. Em
resposta a Legba, põe semente da palma em sua mão. Se colocar uma semente, significa que
deseja abrir um de seus olhos e se forem duas sementes, Gabdu deseja que dois de seus olhos
sejam abertos. Quando Legba abre seus olhos, ele mesmo olha bem de perto o que está
acontecendo no mar e na terra e prometeu a Gbadu, a quem nós também chamamos de Fa,
que relataria tudo à ele, inclusive o que acontece no domínio de Mawu, o Orum. E dests
maneira aconteceu. Depois de um tempo, Gbadu começou a gerar crianças. A primeira criança
era Minona, uma filha. A segunda criança também era uma filha. Todas as outras crianças
eram filhos e foram chamados de: Aovi, Abi, Duwo, Kiti, Agbankwe e Zose. Um dia, Gabadu
confidenciou a Legba que estava incomodado porque Mawu ainda não tinha lhe designado seu
trabalho. O único que conhecia a língua de Mawu era Legba e este prometeu a Gbadu que o
ensinaria. Algum tempo após isto, Legba disse a Mawu que havia uma grande guerra na terra,
no mar e no céu e que, se Gbadu ficasse apenas olhando do alto, esses três reinos seriam logo
destruídos. A água do mar não sabia seu lugar e a chuva não soube cair. Isto estava
acontecendo porque os donos daqueles reinos não compreendiam a língua de Mawu. Mawu
perguntou: "O que deve ser feito?". Legba disse que o melhor seria enviar Gbadu à terra. Mas
Mawu respondeu: "Não, deixe Gbadu permanecer aqui, mas darei a compreensão de minha
língua à alguns homens na terra, dessa maneira, os homens saberão o futuro e como
comportarem-se". Mawu mandou Legba encontrar três filhos de Gabdu. Antes que essas
crianças de Gabdu fossem para a terra, Mawu entregou as chaves do futuro para Gabdu. Disse-
lhe que aquela era uma casa com dezesseis portas e que cada uma correspondia aos olhos de
Gabdu. A árvore de palma em que Gbadu descansou foi chamada de Fa. Assim, quando Gbadu
recebeu as chaves, Mawu disse que Legba era o "inspetor" do mundo e que desejava que
Gbadu fosse o intermediário entre os três reinos e ela mesma. Quando os homens desejarem
saber o futuro a fim de guiarem suas ações, deveriam pegar as sementes e jogá-las
aleatoriamente e isto abriria os olhos de Gbadu que corresponde ao número de sementes e a
ordem em que caíram. Porque as sementes abririam o olho que correspondesse a uma porta
na casa do futuro, o destino para quem fossem jogadas poderia ser visto. O que cada casa do
futuro continha foi ensinado às três crianças que foram enviadas à terra. As crianças escolhidas
para ligarem a terra Gbadu e Legba, consequentemente a Mawu, foram Duwo, Kiti e Zose.
Trouxeram sementes da palma com elas, mostrando aos homens como usá-las. Ensinaram e
disseram a cada homem o que era seu sekpoli (destino). Disseram que o sekpoli é a alma que
Mawu deu a tudo, mas antes de chamar esta alma, deve-se abrir os olhos de Gbadu. É
necessário saber o número de olhos de Gbadu que estão abertos antes de chamar esta alma,
de modo que se um homem souber o número de linhas que o Fa seguiu para ele, sabia seu
sekpoli. Foi dito que nenhum santuário era necessário para a adoração de sekpoli porque o
próprio corpo humano já é seu santuário. Quando os três tinham terminado de ensinar aos
homens, voltaram ao céu. Mais tarde, Mawu enviou todas as crianças de Gbadu à terra. Foram
conduzidos por Legba, que os instalou. Quando voltaram, Zose recebeu o título de Faluwono,
também conhecido como Bakonon, que quer dizer "possuidor dos segredos de Fa", que Gbadu
tinha lhe dado. Minona tornou-se uma deusa e reside na casa das mulheres, onde ela tece
algodão em seu eixo. Duwo recebeu o nome de Bokodaho. Reside nas casas de Pa (crianças de
Agbadu), enquanto Kiti e Duwo foram ajudar Zose, que é Faluwono, fazer seu trabalho. Zose
joga as sementes da palma. Ele tem somente um pé e, no começo, quando traçava linhas do
destino, as pessoas não acreditavam nele. Seu irmão, Aovi, o azarado, foi encarregado de fazer
com que as pessoas respeitassem o culto. Hoje, se o Fa disser algo e você não fizer, chama-se
Aovi para puni-lo. Então você deve respeitar o Fa. Pa fez uma figura pequena de argila de
Legba e colocou-a de um lado de sua casa , Aghannukwe. Abi foi chamado para dar a Minona a
mesma função que Aovi tem para o Fa. Abi é cinzas, combustão. É isso que faz com que as
mulheres respeitem Minona. Quando uma mulher cozinha e Minona está irritada com ela, o
fogo queima-a ou sua casa pega fogo. E é por esta razão, que quando na cerâmica é ateado
fogo está se chamando Abi, porque as cinzas, a combustão, são abundantes.
Pouco a pouco as pessoas começaram a compreender o "novo sistema" e porque Aovi é muito
severo, o culto passou a ser respeitado. Assim, o culto do Fa espalhou-se em toda parte. Um
dia, veio na terra visitar o culto do Fa com Gbadu. Como era seu hábito, compartilharam da
mesma esteira para dormir. Mas, tarde da noite, levantou-se secretamente e foi à Minona.
Entretanto, Gbadu acordou e descobriu que Legba o tinha enganado com sua própria filha.
Discutiram e foram para o Orum levar o caso a Mawu. Legba não admitiu que tinha dormido
com Minona. Mawu então, mandou que se despisse. Quando estava nú, Mawu viu que seu
pênis estava ereto e disse: "Você me enganou e deitou-se com sua irmã. Por este motivo eu
ordeno que seu pênis será sempre ereto e você não poderá mais saciar-se". Legba mostrou
indiferença a esta punição porque jogou com Gbadu antes que Mawu o repreendesse,
ordenando que seu pênis ficasse ereto para sempre, assim já sabia o que ia acontecer. É por
esta razão, que as danças de Legba são semelhantes a este acontecimento, tentando-se ver o
que toda mulher tem na mão.

Nohê Aikunguman (Mãe terra)

No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de tudo que é fundamento. Acreditamos que
somente Aikunguman pode sustentar uma base sólida para apoiar e firmar um templo de
Voduns. Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de Aikunguman, porém existem
aqueles cuja a tarefa primordial é o culto a mesma. Dependendo do que se pretende fazer,
invocamos o Vodum correspondente. Como exemplo podemos citar: Vodum Aizam -
considerada a patrona dos grandes mercados. - Ë costume em todo Benin, quando nasce uma
criança, levar a mesma ao mercado e lá fazer os mlenmlen (orikis) e oferendas à Aizan, pois
acreditam que esse ritual dará muito boa sorte à vida da criança. Esse procedimento também
se dá aos casais de noivos. Os familiares das duas partes ser reúnem e vão juntos com os
noivos ao mercado. Nos dois casos, tanto a criança quanto os noivos trazem para casa um
pouco de terra e a coloca no solo de suas casas para que a fartura e a prosperidade façam
sempre parte de suas vidas. Vodum Aizam tem uma grande família e cada um dos membros
reina em uma parte da terra, inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo
aquático). Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori de ninguém, assim como Aizan.
Saber plantar, cuidar, zelar esse Vodum é "garantir a vida" dentro da casa de santo. Intoto é
responsável pela putrefação das carnes e dos alimentos em geral; por essa razão temos que
saber cultuá-lo abaixo do solo para que essa atribuição dele só ocorra em seu mundo e nunca
no nosso. Vodum Agué - Dono de todos os segredos das folhas, este Vodum tem um papel
importantíssimo dentro do culto Aikunguman pois é ele quem a fertiliza e a alimenta com suas
sementes e magias. Em uma casa de santo cabe a ele levar o "sabor" de cada vodunci e o
apresentar à Aikunguman na passagem de sua vida profana para a religiosa, isso é, no seu
renascimento. Vodum Guiogu - O dono da faka (faca) e das grandes guerras. Seu papel é
importantíssimo no culto de Aikunguman, é ele quem dá à mesma o kun (sangue) dos animais
sacrificados. Junto com Vodum Yian, Guiogu garante que o kun humano não será derramado
dentro daquela casa. Baseados nessa pequena explanação, podemos entender o porquê de
usarmos "poeiras", "terras" de determinados lugares para fazermos assentamentos de Santos
e Legbas. Como eu disse, cada membro da família de Aizam, rege um local - feira-livre,
mercados, açougue, bancos, cemitérios, estradas, rios, mar, cachoeira, etc. Para nós filhos do
Culto Vodum, Aizan é a principal deusa da terra, ela é a própria terra.

Deuses da Riqueza (Daometanos)

Na cultura daometana, encontramos como Deuses da Riqueza, um casal de gêmeos que foram
enviados à terra por Mavu e Lissa, para que ajudassem a humanidade. Os gêmeos Da Zodji e
Nyohwe Ananu foram os primeiros Voduns a nascerem e após chegarem a terra, deram
origem a uma linhagem de Voduns ricos e guerreiros.
Cabe a esses Voduns guerreiros, ajudarem a todas pessoas que recorrerem a Da Zodje e a
Nyohwe Ananu, a chegarem até eles, isso é, caso algum caminho ou energia do solicitante
estiver atrapalhando o intercâmbio entre ele e os Deuses da Riqueza, esses Voduns mostram
os ebós que deverão ser feitos para que ele alcance os Deuses gêmeos. Quando chegaram a
Terra, Da Zodji e Nyohwe Ananu habitaram o mar, onde acharam as maiores riquezas da Terra.
Nyohwe Ananu, muito feminina, encantou-se com as conchas e os caramujos que encontrou e
ficava extasiada ao ouvir o som do mar dentro dos caramujos. Seu irmão mandou que
trouxessem todos os caramujos e conchas para o palácio deles para agradar Nyohwe Ananu.
De tanto Nyohwe insistir para que Da Zodji ouvisse o som dos caramujos esse atendeu seu
apelo e também se encantou. Daí por diante, os dois passavam todo o tempo ouvindo esse
som e não mais prestavam atenção aos pedidos das pessoas. Incomodados com essas atitude
dos Deuses gêmeos, seus descendentes resolveram consultar um bakono. O bakono consultou
Fá e esse mandou que todos pegassem um caramujo para si e que quando quisessem falar
com os Deuses da riqueza, falassem dentro do casco do caramujo, pois somente assim Da Zodji
e Nyohwe Ananu os ouviriam. Os descendentes obedeceram a Fá e passaram a falar com os
Deuses dentro dos caramujos e, alguns deles, começaram a colecionar caramujos por
acreditarem que quanto mais caramujos tivessem, mais poderiam conversar com eles. Esse
procedimento causou um pouco de confusão na vida dos Deuses da Riqueza pois, quando as
pessoas falavam com Da Zodji a irmã também ouvia e vice-versa. Então, eles estabeleceram o
seguinte: "Que cada um tivesse em seu poder dois caramujos. Um deveria ficar deitado e
nesse, os pedidos à Nyohwe deveriam ser feitos e o outro caramujo deveria ficar em pé e
nesse, os pedidos à Da Zodji deveriam ser feitos". Deram também a opção de usarem os
caramujos de uma maneira só e se comunicarem apenas com um dos Deuses.

NANÃ

Nanã é considera por todos os adeptos do Culto Vodum como a grande Mãe Universal que
criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de vó Misan (missam).
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o homem em especial, foi tirado.
Mistura de água e terra, a lama une o princípio receptivo e matricial (a terra) ao princípio
dinâmico da mutação e das transformações. Sua ligação com a água e a lama, associa Nanã à
agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia dos grãos e favas). Nanã tem os mais
variados nomes de acordo com o dialeto usado: Bouclou, Buukun, Buruku, etc. Em Dahomey,
na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo, Ela é conhecida como Nanã
Buruku (lê-se, buluku). No Brasil, também existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê
Naité, Yabainha, Naê, Anabiocô, etc. Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte). Ela
recebe em seu seio os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (lêcô - retorno, renascimento)
Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre a Nanã que ensina a "fórmula mágica",
o remédio de ervas que deve tomar, os ebós e oferendas que devem ser feitos. Se um doente
recorre a Nanã, imediatamente obtém o remédio curador. Na África quando uma família ou
alguém obtém um favor de Nanã, fica com o compromisso de oferecer um membro da família
ao culto de Nanã e esse, após sua iniciação, receberá na frente de seu nome a palavra Nanã;
assim como a criança que nasce com a ajuda da Grande Mãe também. Todos os sacerdotes e
sacerdotisas de Nanã têm na frente de seus nomes a palavra Nanã. Nanã é a maior
conhecedora do uso terapêutico das ervas. Alguns de seus sacerdotes e sacerdotisas são
preparados para serem curandeiros. Em Ghana existe a Sociedade dos Jou-Jou, em Allada e
Dahomey a Sociedade do Bo, etc.. Nessas sociedades as pessoas escolhidas são preparadas
para a prática da medicina através das ervas. Nanã diz que além do uso terapêutico das folhas
e de alguns produtos animais, as doenças devem que ser tratadas em sua origem espiritual,
para que a cura seja concretizada. É lastimável que no Brasil essa parte do culto a Nanã não
tenha sido trazida. Em outros países como Estados Unidos, Canadá, Jamaica e Haiti
encontramos essa prática. O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã requer uma série
de cuidados especiais, tanto na África, como no Brasil. Para mim, esse é o mais difícil culto de
Vodum. Nanã Buruku não é feita na cabeça de ninguém. Existem vários Voduns da linhagem de
Nanã Buruku, que são feitos nos iniciados. Todos esses Voduns seguem a tradição de Nanã
Buruku e são tão exigentes quanto Ela. Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é
exigido a abstinência de sexo, bebidas alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo menos dois
meses antes (na África são exigidos 3 meses), de todos que irão participar do
processo de renascimento do iniciado. Nesse período, são feitos vários ebós no iniciado e
alguns poucos nos participantes e na casa de santo. A bogami (bôgâmi - menstruação) é outro
beko de Nanã. Se durante o processo de iniciação a vodunsi ficar menstruada, deve ser
afastada imediatamente de Nanã e ficar reclusa em um lugar especial, fora do templo, até que
cesse esse período. Na África as mulheres menstruada são proibidas de entrar no Templo de
Nanã ou de participar de qualquer preceito, seja de rituais ou simplesmente fazer uma comida
de santo. Nanã diz que a bogami é um sangue impuro e aconselha as mulheres não
cozinharem para seus maridos nesse período. Por ter muita ligação com egungum é necessário
saber tratar muito bem de Buku, entidade assistente de Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é
permitido a sua presença, mas, ele deve ficar aposto, sua função será tomar conta de todos,
para que nenhuma exigência da Grande Mãe seja desobedecida, principalmente a abstinência
de sexo. Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem ser tratados corretamente
para garantir a paz, tranqüilidade e segurança nos rituais e preceitos. Ebós e oferendas
específicas devem ser feitos para essas duas entidades. Os ancestrais dos Voduns, do iniciado,
dos participantes e da casa de santo não podem ser esquecidos em hipótese alguma! Antes,
durante e depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos ebós, oferendas e preceitos.
Uma Nanã bem feita é caminho de prosperidade e crescimento para a casa de santo, do
iniciado e dos participantes. De acordo com a Vodum Nanã que está sento feita ou cultuada é
que se determina, se comerá bichos macho ou fêmea. Existem Voduns dessa linhagem que
não comem bicho de quatro pés, outros preferem comer somente o Igby. Nanã Buruku, por
exemplo, não gosta de muito kun (sangue) Vários textos têm sido publicados, citando o
carneiro como o bicho oferecido a Nanã, mas, se observarmos as fotos que acompanham esses
texto, veremos que se trata de cabra e cabritos. O sacrifício de carneiro é o maior beko (kisila)
de Nanã. Para essa Vodum, o carneiro é um bicho sagrado e não deve ser sacrificado. O não
uso da faca e outros metais nos nahunos e preceitos de Nanã devem-se ao fato de Ela ser
muito mais velha que esses metais. Por seu caráter conservador, quando o ferro e outros
metais apareceram, ela preferiu manter o que já conhecia em seus ritos. Vejamos abaixo
alguns dos Voduns da linhagem de Buruku. e algumas curiosidade ligadas a Grande Mãe. Nanã
Densu ou apenas Densu – Segundo os Fons esse Vodum é um deus andrógino e seria o lado
macho ou marido de Buruku. É muito cultuado nos rituais de Mami Wata onde é considerado
o maior de todos os deuses, os Fons o compara a Olokun. Muitos antropólogos têm atribuído
erronêamente Densu a um deus hindu, devido seus fetíches e assentamentos apresentarem
três cabeças. Esse Vodum é muito rico e farto. Costuma presentear seus adeptos com suas
riquezas. Não é feito na cabeça de ninguém. Nanã Asuo Gyebi (assuô giêbi) – Vodum
masculino velho, que habita os rios. Muito popular em Ghana e tido como o protetor das
crianças africanas que foram escravizadas. Esse Vodum pediu aos seus sacerdotes que o
levasse para os países onde os africanos foram escravizados afim de que pudesse resgatar suas
crianças. Ele já foi assentado em templos de Akonedi nos Estados Unidos e no Canadá. Nanã
Esi Ketewa (êssi quetêuá) – Vodum feminina muito velha, cultuada em Ghana, Cotonou e
Allada. Dizem os mais velhos que essa Vodum morreu de parto e que por isso a missão dela é
proteger e tratar as mulheres grávidas assim como seus filhos Nanã Adade Kofi (adadê côfi) –
Vodum masculino, tem a função de proteger e defender todos os templos de Nanã. É um
Vodum guerreiro, ligado ao ferro e outros metais. Cultuado em Ghana, Allada, Cotonou, Porto
Novo, etc. É o Vodum da força e perseverança. Sua espada é usada pelos adeptos de Nanã,
para prestarem juramentos de obediência, submissão e devoção a Grande Mãe. Nanã Tegahe
(têgarê) – Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o poder de tirar feitíços das
pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso terapêuticos e ritualísticos das ervas.
Muito alegre e faceira, gosta de dançar e cantar, mas fica muito séria e aborrecida quando
encontra malfeitores e ladrões; ela os mata. Nanã Obo Kwesi (obó cuêssi) – Vodum feminina
guerreira, cultuada na região Fanti em Ghana. Protege e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon
(doentes). Detesta quem faz aze (azê - bruxarias) ou qualquer mau a um ser humano. Nanã
Tongo ou Nanã Wango (tongô/uangô) – Vodum feminina, cultuada em Togo. Grande
curandeira, trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma grande Azeto (azétó - feiticeira)
e seu culto talvez seja um dos mais complexo. Em seus nahunos, os sacerdotes prostam-se no
chão ao lado dos bichos mortos e fingem estarem mortos também, assim permanecem até
que Wango incorpore em um deles e os ressuscite. Todos levantam, os bicho são suspensos e
preparados. Nanã Tongo dança com muita alegria, vestida em suas roupas confeccionadas com
as peles dos bichos sacrificados para ela. Seus adeptos costumam presentear Wango com
muitas jóias, enfeites, roupas e talismãs que a agradam. Antes de começar os nahunos para
Wango, corujas são atadas às árvores. Nanã Akonedi Abena – Vodum feminina jovem,
cultuada em diversas partes da África. Seu principal templo fica em Later, cidade de Ghana.
Quando Akonedi chega ela percorre a vila, esconde-se em arbustos e sobe em telhados à
procura de
feitíços, feiticeiros e malfeitores. Atende os moradores locais, fazendo libações e curando os
doentes. Em Ghana é considerada a Deusa da Justiça Seu corpo é coberto com um pó branco
sagrado, usa saia de palha, seu rosto é descoberto, na cabeça usa um torço, no corpo muitos
brajás e nas mãos trás um feixe de lenha. Sua dança é selvagem e desenvolve-se dentro de um
quadrado divino, dividido em outros quadrados menores feito com riscos do mesmo pó que
cobre seu corpo. Esse conjunto de quadrado também é usado por suas sacerdotisas durante as
danças. Seu assentamento fica em um buraco dentro da terra, ficando somente a tampa deste
aparecendo. Os sacerdote e adeptos de Akonedi carregam-na nos ombros numa espécie de
desfile, para que todos possam admirar e louvar a grande deusa da Justiça. Terça-feira é o dia
consagrado a essa Vodum. O Culto de Akonedi foi levado para alguns países, a pedido dos
governantes desses. Quem levou o culto de Akonedi para o novo mundo foi a maior
autoridade religiosa do culto, Nanã Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em 1995.
Mmoetea – Aldeia de pigmeus que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma sociedade
secreta especializada no uso das ervas para diversos fins. Desenvolveram a capacidade de
curar qualquer doença física, mental e espiritual. Trabalham com os espíritos da natureza e seu
maior deus é Nanã. Os espíritos da floresta deram aos Mmoeta o poder de ler a mente dos
homens e dos animais. São grandes curandeiros e poderosos feiticeiros. Buku – Assistente de
Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela varíola. “Toma conta e presta conta” do
comportamento moral das pessoas durante os cultos de Nanã e Sakpata. Legba Aghamasa –
Vodum Legba masculino, reina nos portais da morte onde reside Nanã Buruku. Odom – Bolsa
feita com pele de cabra não curtida, enfeitada com búzios, penas e sangue. Nessa bolsa são
colocados os gris-gris venenoso e não venenoso que decidem uma questão de justiça. Quando
duas pessoas brigam pela mesma “coisa” e recorrem a Nanã para saber quem tem razão, sua
sacerdotisa pede um galo a cada um dos queixosos, quando esses animais chegam, esses gris-
gris são oferecido aos animais. O galo que comer o venenoso, o dono dele perde a causa. Além
desses gri-gris, outros segredos de Nanã são guardados na Odom. A Odom fica sempre nos pés
do assentamento de Nanã, nunca vai a público e não pode jamais ser tocada por homens.
Abuk (abuquê) – De acordo com a cultura Fon, foi a primeira mulher a surgir. Patrona das
mulheres e dos jardins, seu fetíche é uma pequena serpente. (teria alguma coisa a ver com
Nanã?!!) Asase (assassê) – Deusa da criação dos homens e receptadora dos mesmos na morte.
Cultura Ashanti. (Seria a mesma Buruku?!) Atori (atôli) – Vara ou haste simbólica de Nanã,
representa seus filhos mortos e os ancestrais. Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis
- búzios) e palha, dificilmente cobrem seus rostos. Falar ou escrever sobre Nanã é uma tarefa
das mais difíceis, pois são tantas as história a ser contadas, que somente um livro poderia
caber. Todos os adeptos do Culto Vodum, devem prestar muita reverência a Nanã. Em seus
cânticos e danças devemos nos alegrar e nos sentirmos honrados em poder, aqui no Brasil,
participar dessa parte que na África é reservada somente aos seus sacerdotes e sacerdotisas.
Aho bo boy Naê!!

EKU E AVUN

No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado sempre de um avun. Essa é
uma das razões que, dentro dos Templos de Voduns, a entrada desse animal é proibida.
Porém, os sacerdotes reservam uma área fora dos templos, onde esses animais são criados
para que sejam os guardiões das almas, impedindo-as de entrarem nos Templos além de
encaminhá-las. Os Vodunos, Bokonos, Ahougans, Sofós, Vodunsis e outros, acreditam que
Vodum Ewa sempre espreita o temido Deus Eku para que esse nunca pegue ninguém
desprevenido, além de sempre tentar desviá-lo de seu caminho. Os velhos Vodunos contam-
nos várias histórias para justificar a proibição de avuns em Templos Voduns. Vejamos algumas
delas: 1 - Um dia, Aveheketi estava pescando e enchendo um balaio com muitos uhui, que
levaria para sua aldeia, para saciar a fome dos seus. Daí, enquanto ele estava distraído em sua
pescaria, os avuns vieram e sem que ele os visse, devoraram todos os uhui. Quando Aveheketi
terminou sua pescaria e voltou-se para o balaio, o encontrou vazio e ainda pode avistar os
avuns se afastando com seus uhui. Desse dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de avuns
em seus domínios, ato esse que foi seguido por toda a sua família que é a de Heviosso. Nos
kwes de Jeje, principalmente aqueles regidos por Heviosso ou mesmo Xangô, é proibido a
presença de avuns. Aveheketi diz que em Kwes que tem avuns, nenhum membro da família
Heviosso comparece. 2 - Um avun roubou o fogo de Dan, de Dan Wedo, das divindades
celestes ou do Grande-Espírito para trazê-lo na ponta de sua husi, e por isso, os Voduns têm
pavor de avuns. 3 - A repulsa ao avun nos Templos dos Voduns, é a interdição implacável
sofrida por esse animal, pelos muçulmanos, povo que muito influenciou a cultura africana. Eles
fazem do avun, a imagem daquilo que a criação comporta de mais vil. O avun, devorador de
oku é um animal impuro. Por
essa razão também, acreditam que os deuses jamais entram em um Templo onde se encontra
um avun. Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não tenha associado o avun à morte, aos
infernos, ao mundo subterrâneo, aos impérios invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou
selênicas. A primeira função mítica do avun universalmente atestada, é a de guia do homem
na noite da iku, após ter sido seu companheiro no dia da vida. Vemos, em muitas culturas, o
avun emprestar seu rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão aprisionar ou
destruir os inimigos da luz e guardar as Portas dos locais sagrados, reino dos okus, país de gelo
e de trevas. Algumas tradições chegam a criar avuns especialmente destinados a acompanhar
e a guiar os okus no Além. Atribui-se também ao avun como intercessor entre este mundo e o
outro, atuando como intermediário quando os vivos querem interrogar os okus e as divindades
subterrâneas do país dos okus. Na África, o avun possui a dom da clarividência e, além de sua
familiaridade com iku e com as forças invisíveis da noite, é considerado um grande feiticeiro. É
um costume africano, em seus banquetes funerários, oferecerem aos avuns a parte que
caberia ao oku, após ter pronunciado estas palavras: "A heaiye hesóa iwo ho hebo Ébe ti eke
oku sòa tiwo hoho ti bo" "Quando vivias, eras tu mesmo quem comia. Mas agora que estás
morto, é tua alma que come!" Também na cultura africana, encontramos feiticeiros com trajes
feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o poder divinatório outorgado a esse animal.
Em Porto Novo, Maupoil, num de seus relatos, conta que um de seus informantes, confiou-lhe
o seguinte: a fim de reforçar o poder de seu oráculo divinatório, ele o deixaria enterrado
durante alguns dias dentro da barriga de um avun que imolara especialmente com essa
finalidade. Enfim, seu conhecimento do mundo do Além, bem como do mundo em que vivem
os seres humanos, faz do avun senhor e conquistador do fogo, sempre ligado a iku, a
clarividência, a feitiçaria e as forças invisíveis. Vocabulário: Vodunos - sacerdotes Bakonos -
sacerdote de Fá Ahougan - sacerdote feito de Vodum Sofó - sacerdotisa feita de Vodum
vodunsis - feitos de Voduns (yao) Avun - cão Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda Uhui
- peixe Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris Oku - cadáver, morto

Itans

A Nação Jeje possui, em sua cultura, itans belíssimos que não poderíamos deixar de divulgar.
Estaremos sempre disponibilizando nesta página esta cultura tão rica que a todos encanta.
Colocaremos também belíssimos Mitos Africanos.

ITANS

Borboleta Os Primeiros Voduns Hevioso salva Dahomey Serpente - Visão do Fim Promessa feita
aos Voduns

MITOS

Anansi Árvore da Vida A Colheita de Estrelas A árvore que não tinha medo do céu A Tartaruga
e o Macaco - FA
KLAMKLAMLE (As Borboletas)

Contam-nos os velhos Vodunos que Aveji-da tem, em seu touboumé, um exército de


klamklamle que sobrevoam os mundos e voltam para contar-lhes seus feitos ao mesmo tempo
que trazem outras klamklamle que nada mais são do que as almas que ali irão residir. Dizem
que a própria Aveji-da, quando está muito preocupada, se transforma em uma linda klamklam
e sai pelos mundos a voar para observar melhor o djenukom e o aikungumã. Fá disse a um
bakono que sempre que uma Aveji-da recebe uma oferenda, uma klamklam aparece para
confirmar a presença dela.
A klamklam é como Aveji-da, ligeira e inconstante. Uma ligeireza sutil, de espírito viajante. A
klamklam brincando entre as flores é a alma da deusa nos humahuan. A deusa acompanha o
guhê na primeira metade de seu curso visível, até o guhemê. Em seguida, desce de volta à
aikungumã sobe a forma de uma klamklam. Há uma associação analógica da klamklam e da
chama, de suas cores e do bater de suas asas tal qual a duwe de Aveji-da. Aveji-da, assim como
todas as deusas do fogo, associa-se a obsidiana, uma kpe-izó, seu emblema. Símbolo do fogo
solar e diurno, e por essa razão da alma dos achólupêle, a klamklam é também um símbolo do
guhê-du, atravessando os mundos subterrâneos durante o seu curso noturno. É assim, símbolo
do fogo ctoniano oculto, ligado a noção de sacrifício, de morte e de ressurreição. É então a
klamklam, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Ela ilustra, ao mesmo tempo,
a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem. O homem segue, da vida à
morte, o ciclo da klamklam. Ele é, na sua infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na
sua maturidade; ele se transforma em crisálida na sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde
sai a sua alma que voa sob a forma de uma klamklam. A postura de ovos dessa klamklam é a
expressão de sua reencarnação. Dizem os velhos Vodunos: - Ekùs ete jo nhû oku do bochiô na
klamklam! (- A alma que deixa o corpo dos mortos tem a forma de uma borboleta) Quando
uma klamklam aparece no templo dos Voduns, todos saúdam a bela Deusa do degi, dos johon,
e das djizônukon num só grito "Ahoboboi, mikan Aveji-da!!!". Vocabulário klamklam -
borboleta (pronuncia-se kunlamkunlam) Klamklamle - borboletas Touboumé - reino Djenukom
- céu (orum) aikungumã - terra (aiye) Humahuane - guerra, campo de batalha Guhê - sol
Guhemê - meio-dia Duwe - dança Guhê-du - sol negro kpe-izó - pedra de fogo achólupê -
soldado, guerreiro achólupêle - soldados, guerreiros Oku - morto, cadáver Ete - que Ekùs -
alma, egum jo - deixar Nhû - corpo físico Bochiô - forma, escultura Na - uma (artigo) Degi - ar
Johon - vento Mikan - salve! djizônukon - tempestade

OS PRIMEIROS VODUNS

De acordo com os povos Fon de Abomey, Dahomey, Mawu é um deus supremo e criador.
Mawu representa a lua que traz a noite e a temperatura fresca, no mundo africano. Reside no
oeste e é descrita como uma velha fria e indiferente o que é considerado pelos povos Fon,
sinônimo de sabedoria e idade. Alguns itans contam que Mawu tem um irmão gêmeo
chamado Lisá, em outros, encontramos que se trata de um deus andrógino, que sua parte
feminina é Mawu e a parte masculina é Lisá. Lisá é tido, pelos povos africanos, como feroz e
áspero, residente no leste, representa o sol.
Mawu e Lisá são considerados como uma unidade inseparável na base do universo,
representantes do uno e da ordem. Foram trazidos por Nanã, que criou o mundo. Quando há
um eclipse do sol ou da lua, os povos de Fon acreditam que Mawu e Lisá estão fazendo amor.
E conceberam... As primeiras crianças a nascerem, gêmeos, foi um menino chamado Da Zodji e
uma menina chamada Nyohwe Ananu. O segundo a nascer, teve a mesma característica de
seus pais, andrógeno, era Sobo. O terceiro nascimento, também gemeos, foi um menino, Agbe
e uma menina, Naete. O quarto a nascer era velho e experiente. O quinto, também era um
homem, Gu. Todo em forma de corpo, não tinha cabeça. No lugar da cabeça, uma enorme
espada saía de sua garganta e seu tronco era uma pedra. O sexto nascimento não foi de um
ser. Era Djo, o ar, a atmosfera, o necessário para criar os homens. O sétimo a nascer tinha
chifre, era Legba. Era o preferido de Mawu, por ser o mais novo. Um dia, Mawu-Lisá reuniu
todas as crianças a fim de dividir seus reinos. Aos primeiros gemeos deu todas as riquezas e
disse-lhes para irem habitar a terra. Disse-lhes que a terra era para eles. À Sobo, Mawu disse
que devia permanecer no céu porque era homem e mulher como seu pai. Aos gemeos Agbe e
Naete, disse-lhes para irem habitar o mar, comandar as águas. Para o quarto filho, velho e
experiente, deu o comando de todos os animais e pássaros, e disse-lhe para viver no arbusto
como um caçador. A Gu, Mawu disse-lhe que era sua força, e era assim porque não foi lhe
dado uma cabeça como aos outros. Por isso, a terra não permaneceria para sempre só com
arbustos selvagens. Era ele quem ensinaria os homens a serem felizes. À Djo, Mawu disse-lhe
para viver no espaço, entre a terra e o céu. A ele confiaria o livre arbítrio do homem. Seus
irmãos seriam invisíveis e a ele cabia vesti-los. Depois que Mawu disse isso às crianças, ela deu
aos gemeos de Sagbata a língua que devia ser usada na terra, e removeu de sua memória a
linguagem do céu. Deu a Hevioso a língua que ele falaria e tirou de sua memória a língua
falada pelo pai. O mesmo foi feito para Agbe e Naete, para o mais velho e para Gu. Agora,
disse a Legba, você é a minha criança mais nova e como você é levado e nunca soube o que é
punição, não posso transformá-lo como a seus irmãos. Ficarás sempre comigo. Seu trabalho
será visitar todos os reinos governados por seus irmãos e dar-me ciência do que acontece.
Assim, Legba sabe todas as línguas faladas por seus irmãos e a língua de Mawu. Legba é
lingüísta de Mawu. Se um dos irmãos desejar falar com Mawu-Lisá, deve dar a mensagem a
Legba, porque nenhum deles sabe mais dirigir-se a Mawu-Lisa. Por isso que Legba está em
toda parte. E é também por isso que encontramos Legba na porta de todas as casas de Vodum,
porque todos os seres humanos e deuses devem dirigir-se a ele antes que possam se
aproximarem dos deuses.

HEVIOSO SALVA DAHOMEY


Houve uma grande seca no reino de Dahomey, quase quatro anos sem chover. A fome
assolava a região, o povo desesperado fazia junto com o rei, oferendas aos deuses pedindo
que enviassem a chuva, mas nada funcionava, parecia que os deuses não aceitavam as ofertas.
O rei já não sabia mais o que fazer, todos os recursos já tinham sido usados sem nenhum
sucesso. Em seu desespero o rei rogou aos seus ancestrais que mostrassem o que ele deveria
fazer para salvar seu povo e o reino. Um dia o rei acordou com gritos de uma de suas noiva e
foi ver o que acontecia. Encontrou sua noiva lutando com os soldados que não a deixam passar
para acordar o rei, interpelou-a, ela respondeu que tivera um sonho com um deus muito
poderoso e que trazia um recado ao rei. Huenu era uma jovem e bela virgem portadora de
poderes mágicos, que se tornaria esposa do rei tão logo a chuva chegasse. Huenu contou ao
rei que sonhará com um deus muito alto e forte que cuspia fogo e lançava raios e trovões com
suas mãos. Este deus disse a Huenu que se o rei erguesse um templo para ele em Dahomey e
passasse a cultuá-lo, traria a chuva e o sol que iriam fertilizar o solo e que nunca mais a seca
voltaria a castigar o reino. Após ouvir atentamente o relato da noiva, o rei considerou que era
uma resposta de seus ancestrais, mandou chamar os sacerdotes do reino e contou o sonho de
Huenu. Após varias conversas, os sacerdotes admitiram que não sabiam quem era esse deus,
resolveram consultar o bakono que vivia afastado da cidade. O rei mandou o buscá-lo. Após
consultar ao oráculo de Fá, o bakono disse tratar-se de Hevioso o deus do trovão e que o rei
deveria obedecê-lo. Os sacerdotes do rei não sabiam como fazer para tratar e cultuar o novo
deus, pediram auxilio novamente ao bakono que fez nova consulta a Fá. Fá mandou que o rei
fizesse ebó para Elegba e viajasse para Hevie onde ele encontraria Hevioso e aprenderia sobre
seu culto. O rei viajou com seus sacerdotes. Ao chegar em Hevie, foram recebidos por um
Hunon que já os aguardava. O rei e seus sacerdotes foram iniciados no culto de Hevioso e
aprenderam seu culto. Quando estavam prontos, o Hunon avisou que já poderiam partir, mas,
teriam que levar consigo uma sacerdotisa de Hevioso e essa levaria para Dahomey o
assentamento do deus do trovão que deveria ser estabelecido no reino. Ao chegarem a
Dahomey, o rei colocou Hevioso em seu palácio e mandou preparar oferendas conforme a
sacerdotisa havia indicado, depois mandou que todo o povo viesse conhecer o novo deus e
prestar homenagens, assim foi feito. Naquela mesma noite raios e trovões rasgaram os céus
de Dahomey e a chuva caiu em abundância fertilizando o solo. O rei não cabia em si de
contentamento, mandou um mensageiro a Hevie contar ao Hunon o sucedido e pedindo que
esse viesse a Dahomey assentar toda a família de Hevioso. Hunon chegou a Dahomey trazendo
consigo os assentamentos dos demais membros da família de Hevioso. Um grande templo foi
construído para Hevioso e uma grande festa que durou seis dias e seis noites, foi feita para
saudar aqueles novos deuses. Hunuon por ordem de Hevioso casou-se com Huenu que se
tornou uma grande sacerdotisa de Hevioso. Depois desse período nunca mais Dahomey
conheceu a fome, Hevioso prometeu e cumpriu. Ele envia a chuva e sol que fertilizam a terra.

Mito da Serpente - Visão do Fim

O mundo foi criado por Nana Buluku, um deus que não é macho e nem fêmea. Nana Buluku
gerou dois gêmeos, Mawu e Lisa, quem modelou o mundo com a ajuda de seus quatorze
filhos, os Voduns, deuses menores. Antes de Mawu ter dado vida à seus filhos, a Serpente do
arco-íris já existia, criada para servir a Nana-Buluku. Levava o criador por toda a parte em sua
boca. Rios, montanhas, entre os vales e curvas, exatamente o movimento circular da Serpente.
Onde eles paravam pela noite, montanhas surgiam de esterco da Serpente. Por este motivo,
quando você escava profundamente as montanhas, acha riquezas. Quando Nana acabou de
criar o mundo, é óbvio que a terra não podia suportar o peso de tudo, montanhas, árvores,
seres humanos e animais. O criador designou que Da envolvesse o mundo para mantê-lo,
amortecê-lo. Daí o costume africano do uso do torso quando estão levando uma carga pesada.
Para que Da não permanecesse no calor, Mawu criou o oceano para ele. E lá Da permanecem
desde o início dos tempos, com sua cauda na boca. Mesmo a água mantendo-a fresca, as vezes
se desloca em torno de si mesma tentando ficar confortável, o que causa os terremotos. Da
precisa manter-se alimentada, o que obriga a Nana e aos ferreiros forjarem barras de ferro
para mantê-la alimentada. Mais cedo ou mais tarde o suprimento de ferro irá se esgotar e Da
não vai ter nada o que comer. Com fome, ela vai comer sua cauda, suas convulsões serão
terríveis, toda a Terra vai inclinar, pela sobrecarga de coisas e pessoas. A terra vai ser engolida
pelo mar.

Não Devemos Quebrar Promessas Feitas aos Voduns


Está é a história de um homem pobre que se chamava Kakpo. Esse fato aconteceu em Tendji.
Há muito tempo, Loko era uma árvore sagrada. Havia um homem pobre que trabalhava com o
machado. Ele cortava árvores para conseguir madeira. Um dia, encontrou uma árvore boa para
cortar. Ele foi cortar Loko. Loko lhe disse: - Não me corte. Nenhum homem deve me cortar. Há
três Voduns que vivem na árvore de Loko: Dan, Dangbe e Tohwivo, do clã de Ayato, uma vila
em Abomey. Loko tem sete tipos de pequenas cabaças duplas. Loko disse ao homem: - Vire-se
para mim. Se eu lhe der riquezas, você fará tudo que eu mandar? O homem lhe respondeu: -
Sim! Loko deu-lhe sete das pequenas cabaças duplas e disse-lhe: - Encontre um bom lugar e
quebre uma na terra. Se eu der as riquezas você me dará um boi anualmente? - Sim,
respondeu o homem. Aquele lugar onde o pobre homem quebrou a primeira cabaça tinha se
tornado sagrado. Quebrou então a segunda. Muitas casas apareceram. Quando quebrou a
terceira cabaça as casas foram cercadas por paredes. Com a quarta, redes, bancos e almofadas
apareceram, tudo que era necessário à um rei. Quebrou a quinta cabaça e viu muitas pessoas
nas casas. Com a sexta surgiram cavalos. Montou um cavalo. Quando quebrou a sétima cabaça
encontrou Fa e Legba, e não apenas as coisas para adorá-los. Mas Kakpo não deu a Loko o boi
que lhe tinha prometido. Loko se transforma em um homem pobre, usando roupas de ráfia, e
vai pedir água a Kakpo. Encontrou o Minga de Kakpo, que se tornou rei. O Minga disse: - Sai
daqui! Que tipo de homem é você que veste-se com roupa de ráfia? E Loko foi afastado.
Voltou uma segunda vez. O Minga surrou-o com um chicote. Loko foi embora. Voltou uma
terceira vez. Os aldeões estavam ocupados em cultivar para o chefe. Bateram em Loko
novamente. Desta vez, Loko começou a cantar uma canção: - "Ponham aqui as sementes,
venham aqui e dancem para mim, seus dançarino que dançam bem". Loko cantava assim e,
enquanto cantou, todas as pessoas que cultivavam desapareceram. Kakpo ficou pobre outra
vez. Loko deixou-o somente com um pano de ráfia. Fa retornou ao seu reino. Kakpo foi outra
vez à Loko. Diante dele, encostou sua testa na terra e implorou que Loko o perdoasse. Disse: -
Eu lhe darei o boi que havia prometido. Mas Loko recusou. Kakpo e sua vila viveram o resto de
suas vidas pobremente.

Não se Deve Enganar um Bakonon O Macaco e a Tartaruga

O macaco pode subir em árvores, mas a tartaruga não pode. Os dois não eram amigos. Uma
vez, durante uma escassez, o macaco encontrou um milharal onde a colheita estava muito
boa. Ele não podia comer o milho porque as pessoas sempre expulsavam os macacos dali.
Assim, o macaco foi a um bakonon para perguntar o que ele podia fazer. A tartaruga disse: - Eu
sou um grande bakonon, mas eu não saio de minha casa. Se você quiser algo, deve vir à minha
casa. Estou aqui para os pobres, para todos aqueles que precisem de algo. Seu tivesse ido com
você, tu não me alimentarias, porque sabes subir em árvores e eu não. A tartaruga não queria
ir mas o macaco tanto insistiu até que, finalmente, ela foi com ele. Ela consultou o Fa por
longo tempo. Quando chegaram ao milharal, o macaco começou a comer. Disse a tartaruga
que esperasse por ele mas não deu nada à ela. Assim, deu meio-dia e a tartaruga não tinha
nada para comer. Um leopardo chegou ao local onde a tartaruga estava. Disse à tartaruga: - Eu
estou com uma criança doente em minha casa. Já fui a sua casa duas vezes mas não a
encontrei. O macaco, de cima da árvore, prestava atenção na conversa do leopardo com a
tartaruga. A tartaruga chamou o leopardo para baixo da árvore onde estava o macaco. Lá
jogarei o Fa para você, disse a tartaruga. Quando lá chegaram começou a jogar. Ela disse: - nós
devemos encontrar um macaco para curar sua criança. O leopardo indagou: - Devo encontrar
um macaco? E onde posso encontrar um? A tartaruga respondeu: - Oh! não é difícil. Você é
forte. Sem isso não posso fazer nada. Eu sei onde encontrar um macaco. O que você me dá se
eu lhe disser onde encontrar o que precisa?
Pediu mil cauris. O leopardo deu-lhe os mil cauris. - Olhe acima de minha cabeça e verá um
macaco, disse a tartaruga. O leopardo falou para o macaco: - Ah! venha já aqui, você está tão
perto! O macaco não quis descer porque tinha ouvido toda a conversa. O leopardo começou a
se irritar e gritava: - Você não está me ouvindo? Está de macaquice comigo? Um macaco não é
mais que meu filho! O Fa disse que você é a solução. Preciso de sua cabeça e sua cauda, o
resto deixo com você. Ouvindo essas palavras, o macaco fugiu. Disse: - Eu não estou aqui para
dar-lhe minha cabeça e minha cauda. O macaco correu e o leopardo foi atrás dele. O leopardo
conseguiu alcançá-lo e trouxe-o para a tartaruga. A tartaruga disse: - Bem, amarre-o! Assim o
leopardo fez, amarrou o macaco. Então a tartaruga teve descanso para comer e a criança
doente foi curada. Por essa razão, ninguém deve enganar um bakonon.

ANANSI

Anansi ou Ananse. é um heroi da cultura Ashanti, povo de Ghana, também chamado "O
Aranha". É o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai, que comanda Anansi para levar
chuva para apagar o fogo em florestas e determina os lugares que Anansi deve "fazer"
barreiras em oceanos e rios, em grandes inundações. Estas funções de Anansi se aproximam
com as do camaleão, alguns dizem que o camaleão roubou as funções de Anansi. Sua mãe,
Asase Ya, é considerada, por vezes, a criadora do Sol, da Lua e das Estrelas, bem como aquela
que instituiu a sucessão do dia e da noite. Diz-se que Asase Ya também criou o primeiro
homem e que Nyame deu o sopro de vida. Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a
humanidade como semear grãos e como usar a pá nos campos. Anansi é o mito africano mais
popular. Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida entre as crianças e jovens, por ter
tido sua performance caricaturada a uma aranha infantil, que conta histórias, mitos e fábulas
dos diversos lugares, civilizações e culturas africana.

A ÁRVORE DA VIDA

Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando foi e nunca soube - não havia floresta,
apenas colinas e planaltos a perder de vista, e um rio que atravessava estas terras desoladas.
Perto do rio, onde a terra era branca, vermelha e preta, erguia-se a casa de Khmvum, o Criador
de todas as coisas. Foi lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo dia, para lhe suplicar
que criasse uma grande floresta... - Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia nos dar
uma floresta, povoada por milhares de árvores... pediuMbere, com o coração cheio de
esperança. - Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os fortes, por favor, nos dê uma
floresta povoada por milhares de animais... - pediu Nkwa, com o coração cheio de sonhos.
Khmvum ouviu em silêncio, e depois alisou a barba, olhando firme para eles, com seus olhos
escuros como a noite. - E por que os meus filhos pigmeus estão querendo isso? - Nós somos
tão pequeninos... Os menores dos menores... - começou Mbere. - Podíamos nos esconder na
sombra das árvores... - E colados aos troncos enormes - continuou Nkwa - podíamos escapar
dos nossos inimigos gigantes... - Os gigantes receberam a força, na divisão, mas vou dar algo
muito melhor aos pigmeus... E o Criador ergueu a mão. - Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo,
para vocês não terem mais frio. E dou os animais que caminham, que pulam, que voam, que
nadam, para que jamais a fome entre na barriga de vocês. E lhes dou todas as árvores, como
abrigo e como amigas. Vocês serão os senhores da floresta e, no reino dela, os pigmeus
estarão em casa, livres. Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum boquiabertos, com a
impressão de estarem vivendo um sonho. Eles, os menores entre os homens, iam se tornar os
reis da floresta! Ardendo de impaciência e devorados pela curiosidade, viram o Criador entrar
em casa e voltar em seguida, trazendo uma árvore minúscula, que acabara de se formar. - Esta
aqui é Tii, a ancestral da floresta. É a guardiã da coisa vermelha que esquenta, que cozinha e
que ilumina. E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer, esfregando dois pedaços de pau.
Depois, plantou a arvorezinha na margem de três cores e foi se sentar, com os braços
cruzados.
- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma única árvore, mesmo se crescesse muito, não
era uma floresta. - Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que os animais não nasciam em árvores.
O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos. - Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem, outra
nuvem. Depois de uma árvore, outra árvore... Os dois pigmeus não perguntaram mais nada.
Curvados, com a testa apoiada no chão, rezavam para Khmvum, quando um barulho estranho
estranho os fez levantar a cabeça. Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a crescer com
uma velocidade prodigiosa. Em pouco tempo, seu tronco estava tão grande que seis pigmeus
não bastariam para rodeá-lo com os braços. O sol do meio-dia desaparecera por trás da
folhagem espessa que já enchia de sombra as duas margens do rio. E a árvore continuava
crescendo. Logo que a envergadura de seus galhos se estendeu pelo quatro cantos do
horizonte, Khmvum Vali, aquele que dá a vida, aproximou-se e tocou a árvore com a palma da
mão. Tii tremeu com o choque e fez cair sobre a planície um dilúvio de grãos. Mbere e Nkwa
caíram de joelhos, maravilhados. Num instante, cada grão dava vida a uma nova árvore. Onde
antes não havia nada, nascia agora um mundo ao redor deles, uma floresta profunda, que
crescia a olhos vistos! Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os fortes, sacudiu com as mãos
o tronco da grande ancestral e as folhas começaram a cair de uma a uma. Mbere e Nkwa
assistiram então, fascinados, ao nascimento do mundo animal: assim que uma folha tocava o
solo, começava a se arrastar, a saltar, a andar ... e ia crescendo e se transformando em
serpente, em macaco, em elefante... As que ficavam dando voltas no ar logo viravam pássaros
de todo tipo, e as que caíam no rio tornavam-se peixes, tartarugas, crocodilos... E toda a vida
da floresta nasceu da árvore Tii. Texto de Franck Jouve Tradução de Ana Maria Machado

A COLHEITA DE ESTRELAS

Já havia algum tempo que Bako, o Sol, dava sinais de cansaço... No começo, os pigmeus não
prestaram muita atenção. Talvez estivesse um pouco menos claro, seguramente fazia menos
calor que antes, mas, afinal de contas, sempre houve dias menos bonitos que outros, não era
motivo para ninguém se apavorar. Entretanto, depois de uma semana, mesmo os pigmeus
mais otimistas tinham que reconhecer que o fenômeno estava continuando de uma forma
anormal. Consultaram então o Nzorx, o advinho curandeiro, que foi consultar seu espelho de
vidência. O que leu nele não devia ser muito animador, porque apertou as mãos sobre o seu
talismã de chifre de antílope, como se quisesse se proteger e proteger sua tribo de uma
grande desgraça. - E então? O que foi que o espelho de vidência revelou? - perguntaram seus
irmãos, esperando o pior. Com um sorriso forçado, o Nzorx quis tranquilizá-los: desde que
existia a memória dos homens, nunca o Sol deixara de brilhar. Bako era velho e robusto como
o mundo, não havia nenhuma razão para que de repente adoecesse... - Mas não dá para negar
que Bako não anda com um aspecto muito bom - insistiu um pigmeu, com a voz preocupada. -
Está tão pálido... - Só um pouco de cansaço, isso passa. - E no fim do dia está vermelho,
afogueado, como se estivesse sem fôlego! - Na certa é uma febrezinha, mas não deve ser nada
grave. No entanto, os sintomas preocupantes se multiplicavam: o calor era cada vez menor... a
luz enfraquecia a olhos vistos... Bako cada dia deitava-se mais cedo, como se estivesse
esmagado pelo peso de um trabalho que ficara pesado demais para ele. Então o
pressentimento virou certeza: o estado do Sol piorava de maneira catastrófica. - Hum...
alguma coisa anormal está acontecendo... - murmurou um pigmeu, e depois outro, e mais
outro. - Bako só é a sombra do que era - sussurraram outros. - E se ele apagasse? Mal foi
formulada, essa idéia lançou o terror nos espíritos. A vida era inconcebível sem Bako para
iluminar e aquecer os humanos. Nessa noite, os pigmeus ficaram esperando o alvorecer e
tremendo: se o Sol não comparecesse ao encontro, seria simplesmente o fim do mundo. Como
o dia demorava a aparecer! Com um atraso angustiante, o astro levantou-se mais uma vez,
mas em que estado! Irreconhecível, lívido, gasto, subia penosamente pelo céu, mal
conseguindo dardejar seus grandes raios... Horrorizados, os pigmeus finalmente o viram
desaparecer numa luz crepuscular de muito mau agouro. Desta vez, foi o pânico. O Sol morria
no horizonte! Jamais teria a força de subir novamente ao firmamento se sua chama não fosse
reavivada. Aliás, nem haveria amanhã, pois com toda certeza o dia não nasceria nunca mais.
Era absolutamente indispensável que se tentasse alguma coisa logo, mas o que? Intimado a
encontrar uma solução, já que era o advinho e curandeiro, o pobre Nzrox ergueu as mãos para
o Céu, em sinal de impotência. - Rezemos a Khmvoum... Só ele pode curar Bako. Khmvoum... À
simples evocação do Deus supremo, os pigmeus readquiriram confiança, tão rapidamente
quanto haviam se desesperado. Isso mesmo, apenas o Grande Caçador celeste poderia
impedir o desastre. Bastava que ele ouvisse o pedido de socorro de seus filhos: tudo voltaria à
ordem e... De repente, uma risada sinistra rasgou o silêncio da noite: era Tore, o espírito da
Floresta! Só ele poderia achar graça num momento daqueles... Pouco lhe importava que a luz
abandonasse o mundo, ele era um pássaro noturno, um monstro da mata, que se alegrava
com as trevas. - Se a luz não voltar - balbuciou um pigmeu - o ogro Ngoogounogumbar vai
devorar nossos filhos... - E o anão Ogrigwabibikwa vai se transformar em réptil para nos
morder no escuro! Tremendo, os pigmeus dirigiram ao céu um olhar de súplica. Entrecortada
pelas risadas de Tore, sua prece subiu ao Céu: Ó Sol... Ó Sol... A morte vem, o fim já chega, O
astro cai e morre. O fogo escurece, a mata fica negra, A chama vai se apagar, é nossa desgraça!
É nossa desgraça... Oh! Khmvoum! Do alto do céu, Khmvoum ouviu a voz de seus filhos e siu
seu desespero. Sem perder um minuto, pôs-se a caminho em direção ao Sol. Em sua mão
direita, brilhava o Arco-íris. Na esquerda, tinha uma sacola enorme, que lançou sobre os
ombros: a colheita do Grande Semeador celeste ia começar... Khmvoum penetrou nas grandes
florestas do Céu. Dirigiu-se para o oriente, lá no fim do mundo, onde normalmente Bako
deveria reaparecer. Em sinal de aliança com seu povo, plantou lá o Arco-íris que, de manhã,
diria que os belos dias tinham voltado e que não havia mais nada a temer. Depois, com passos
decididos, enveredou pela Via Láctea; o caminho todo pavimentado de estrelas. Khmvoum
deteve-se numa região celeste rica em milhões de astros, todos muito brilhantes. Havia tantos,
de todo lado, que era só esticar a mão, colhê-los aos punhados e guardá-los na sacola. Bem
que as estrelas, assustadas, tentavam fugir, mas não era fácil escapar ao Grande Semeador, e
elas logo eram aprisionadas. Khmvoum calculou o peso da sacola. Já era quase o suficiente,
mais um punhado de estrelas e pronto. Unindo o gesto ao pensamento, agarrou um cometa
que passava voando e mais duas ou três estrelas cadentes, para completar! Khmvoum prestou
atenção. Por cima da tempestade que rugia lá embaixo, distinguiu o coro de seus filhos
desesperados, suplicando: É nossa desgraça ... Oh! Khmvoum! A morte já vem, o fim vai
chegando, A chama vai se apagar! Para tranquilizá-los, encarrega o elefante Gor, o mensageiro
celeste que fala na tempestade, de explicar aos pigmeus que o fim do mundo não viria nesse
dia. Gor dirigiu a tromba para a Terra, para mandar a mensagem de esperança... Na mesma
hora, atingidos por uma chuva diluviana, os pigmeus recitavam sua prece com fervor
crescente. O alvorecer já devia estar ali... não restava mais muito tempo para salvar Bako.
Então, quando o trovão estourou com sua força assustadora, acreditaram que a hora de seu
fim tinha chegado. Mas o Nzorx apontou um dedo inspirado em direção ao céu. - É a voz de
Gor! - exultou, com o rosto encharcado de chuva. - E nos diz que Khmvoum está à cabeceira de
Bako. Khmvoum atravessara o espaço com grandes passadas. Bem a leste do mundo, tinha
encontrado o astro moribundo, mais pálido que a Lua, e lançado o conteúdo de sua sacola na
fogueira quase extinta do Sol. As estrelas crepitaram, explodiram em centelhas que se
transformaram em chamas gigantescas. Bako foi ficando cada vez mais vermelho, como uma
brasa incandescente. A chuva de estrelas, que não parava de cair sobre ele, o regenerou. Ele
embrasou-se, inflamou-se, reencontrou seu esplendor original. E no oriente houve uma
ebulição de calor, uma luz ofuscante! Lá embaixo na floresta, as risadas cruéis de Tore, o
espírito da Floresta, estrangularam-se em sua garganta. A longa noite acabava de ter fim, a
hora do grande declínio ainda não chegara. Saudado pelos pigmeus entusiasmados, o Sol
levantou-se no horizonte. Mais brilhante do que nunca, rasgou o manto das trevas, furou as
nuvens negras, dissipou os medos, explodiu e resplandeceu no dia nascente. - Arco-íris! O
Arco-íris! - entoaram os pigmeus, encantados, descobrindo o sinal de Khmvoum a leste do céu.
Tu que brilhas no alto bem alto,
Acima da floresta tão grande, Arco poderoso do Grande Caçador celeste, Diz a ele que
agradecemos! Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse estrelas no céu e enquanto
Khmvoum velasse sobre seu povo. Texto - Franck Jouve e Michael Welply Tradução - Ana
Maria Machado

A ÁRVORE QUE NÃO TINHA MEDO DO CÉU

O Céu não foi sempre alto assim, nem a floresta tão bonita e cheia de vida. No começo, o Céu
ficava muito perto da Terra e pesava sobre ela como se fosse uma grande tampa, de tal modo
que as árvores só conseguiam crescer para os lados. Então seus galhos ficavam uns por cima
dos outros, suas folhas varriam o chão tristemente, seus brotos se amarrotavam e secavam...
Era assim desde o começo dos tempos - e seria até hoje se uma sumaúma, cansada de viver
apertada, não tivesse forçado seu destino. "Quem sabe se não há mais espaço do outro lado
do teto do mundo?", sonhava ela. Firmando bem sua copa, a árvore tentou furar um buraco e
então - mas que prodígio! - o Céu recuou alguns metros! Era o que bastava para que a valente
sumaúma se endireitasse em todo o seu tamanho e passasse lá para cima, para aspirar o ar das
alturas. Espantadas ao verem que se afastava o tirano que as oprimia desde sempre, as outras
árvores aproveitaram para se sacudir e se esticar, lançando seus galhos para o alto. Os troncos
se firmaram, as raízes ancoraram majestosamente no solo, os brotos atrofiados se
desdobraram, embriagados de felicidade, e deixaram assim nascer milhares de folhas. Em
volta da sumaúna, em pouco tempo a Terra era uma vasta floresta virgem, que finalmente
começava a respirar. Enquanto isso, do outro lado do Céu, um jovem casal de órfãos avançava
cautelosamente pelas grandes pradarias celestes. Ao avistar o que tanto procuravam, ficaram
imóveis. Um lagarto grande , preguiçoso, tomava sol estendido sobre uma nuvem. O caçador
ergueu sua azagaia, enquanto sua companheira punha uma flecha no arco. Consultaram-se
com um olhar e fizeram pontaria... O lagarto deu um salto e rolou sobre si mesmo, no instante
em que os dois projéteis fendiam o ar. Os órfãos não acreditaram no que viam: não apenas
tinham errado o alvo, mas seus tiros haviam desaparecido num buraco! Esquecendo a presa,
aproximaram-se da abertura... Debaixo do assoalho do Céu, um estranho mar verde ondulava
a perder de vista. Olhando mais de perto, descobriram a flecha e a lança fincadas no meio
daquele oceano esquisito. Não era um mar líquido. O que seria então? - E se nós
descêssemos? - sugeriu a moça, fascinada. Não precisou dizer duas vezes. Era isso mesmo o
que ele queria. Pousou o pé num galho da sumaúma, para testar se era firme, e depois
estendeu os braços para a companheira, a fim de ajudá-la. De galho em galho, penetraram
assim no coração daquele reino verde, até pisarem em terra firme. Durante todo o dia,
exploraram cada recanto da floresta, maravilhados com sua beleza e com o frescor que nela
reinava. A mesma idéia lhes ocorreu, ao mesmo tempo: por que não se mudavam para viver ali
embaixo? O entusiasmo deles diminuiu quando, depois de muitas horas de buscas inúteis,
tiveram de se render às evidências: não havia viv'alma naquele lugar... Nem um animal nos
ocos, nem ao menos um inseto! Um silêncio mortal planava sobre a floresta desabitada. Muito
desapontados, os órfãos se sentaram num tronco de árvore para pensar. Mesmo que eles se
alimentassem apenas de frutas e bagas, morreriam de tédio e solidão. E como começavam a
ter fome, a moça de repente se lembrou de que tinha no bolso uma espiga de migo celeste. Ia
dividi-la ao meio, mas mudou de idéia e a cortou em três pedaços. Deu um ao companheiro,
guardou o outro para si e plantou o último na beirada do bosque. Talvez surgisse um campo de
milho daquela terra semeada, num sinal de que pudessem ficar lá embaixo. Enquanto as
primeiras folhinhas do pé de milho apontavam timidamente em busca da luz, a sumaúna
continuava a crescer, empurrando o Céu, lá nas alturas. Até que chegou um momento em que
o Céu se cansou e não quis mais chegar para trás. Curvou-se todo para resistir ao ataque
daquela insolente... mas a árvore acabou conseguindo transpassá-lo e sair do outro lado. Foi
assim que uma copa gloriosa e triunfante irrompeu bem no meio da pradaria do céu - para
grande alegria dos animais que lá viviam e que vieram correndo se abrigar dentro dela. Até
que enfim, aparecia um lugar fresco e sombreado!
Porém, mal tinham se metido pelo meio da folhagem, quando o Céu resolveu de uma só vez se
afastar para bem longe da sumaúma, indo parar no lugar onde está até hoje. Abandonados,
sentindo-se presos numa armadilha, os animais não tiveram outro remédio: trataram de
descer, de qualquer jeito, pelo troco da sumaúma e foram viver na floresta. Os que não
conseguiram, nem sabiam voar, tiveram de esperar que os órfãos fossem buscá-los, um a um.
Foi assim que o mudou o mundo todo, graças a uma árvore que não tinha medo do Céu. Texto
de Franck Jouve Tradução de Ana Maria Machado

INSTRUMENTOS

A cultura africana é muito rica. Neste espaço disponibilizaremos alguns dos instrumentos
musicais usados em rituais e comemorações de nossa nação. Para cada um deles, contamos
um pouco de sua história e utilização. É, de fato, uma viagem no tempo e na história da cultura
afro-brasileira.

DANHOUN

O danhoun pertence a família dos instrumentos de percussão. É uma série de três tambores de
tamanhos diferentes sendo o maior chamado de hounon, o médio o sanga e o menor o alekle.
Eles são cobertos com ráfia tingida, apenas tocados por adeptos preparados (ogans) e sua
melodia só pode ser dançada por pessoas feitas. Este instrumento só é tocado durante as
cerimônias em honra ao deus Dan, representado pelo arco-íris ou por Dangbe, a cobra python,
para as Tovoduns das águas doces ou para Legba, deus dos caminhos. Nestas cerimônias os
adeptos também usam roupas de ráfia tingidas de roxo. A intensidade do ritmo do danhoun
proporciona o transe aos voduncis. O deus Aziza, fascinado pelo danhoun, foi o primeiro a
iniciar um ogan para tocar seu instrumento de adoração. Na África, tocar o danhoun para
outros deuses que não os citados, é considerado sacrilégio. Seu caráter altamente religioso faz
deste tambor um instrumento muito especial.

TATCHOOTA

tatchoota é uma espécie de gongo. Este instrumento musical é usado, principalmente


durantes os rituais fúnebres e celebrações. Ele difere dos outros gongos por seu tamanho e
forma especiais. É composto de duas peças independentes sendo a primeira sempre usada no
dedo indicador e a segunda, circular, no polegar. O tatchoota é confeccionado em ferro e,
usualmente, possui 8 cm de diâmetro e 20 cm de comprimento. Os primeiros tatchootas a
serem confeccionados pelos antigos ferreiros reais, eram muito maiores. É um instrumento
misterioso e maravilhoso. O tatchoota também é utilizado pelos betamaribes (caçadores), que
sinalizam um animal abatido aos outros betamaribes pedindo ajuda. Na cerimônia de
passagem da infância para a maturidade, o difoni, os jovens Fon recebem um tatchoota para
simbolizar esta nova etapa de vida e saem em procissão, tocando o instrumento. O ritmo
produzido pelo tatchoota é chamado tipenti, muito apreciado e dançado nas cerimônias em
homenagem aos Voduns e também no fim da estação das chuvas. Outro momento importante
onde o tatchoota é tocado é no sacrifício de animais e na entrega das oferendas aos deuses.

GOTA

O gota, também conhecido como kago, que é a base do ritmo tchinkoume.


Inicialmente foi chamado de zin e era uma peça redonda de cerâmica, utilizado para fornecer o
ritmo zinli, música tocada pelos antepassados que vieram de Tado, uma aldeia Mahi, onde
nasceu o gota. Depois foi introduzido em Savalou onde era tocado quando haviam inimigos na
cidade. Daí nasceu o ritmo particular do zin. O material principal utilizado para confeccionar o
gota é produzido pelo cabaceiro, chamado katin na língua Fon. Uma pele animal seca é
esticada cobrindo a abertura depois das sementes terem sido removidas. E é aí que o som é
produzido, com batidas firmes. Juntamente com este instrumento principal, outras duas
cabaças menores, emborcadas em recipientes cheios de água, proporcionam um som
diferente, o tohoun. Este ritmo é dançado por mulheres ágeis por ser um ritmo muito rápido.
O gota é tocado principalmente nas cerimônias em homenagem aos voduns, funerais e para
acalmar os espíritos dos mortos. Durante as cerimônias funerais toca o ritmo tchinkoume além
do yonoutcho e o ahidjekpe, que são o primeiro e segundo estágios, respectivamente, do ritual
dos mortos na tradição Mahi. Seu som oco e fundo representa o outro mundo para os Mahis.
Normalmente é tocado apenas por mulheres.

KANKANGUI

É também chamado de kankank, kakasi, kakati, kakake. O kankangui é um instrumento de


sopro, confeccionado em latão com aproximadamente 1,95 cm de comprimento, bem fino e
brilhante. É uma herança cultural do reino Nikki, no antigo Dahomey. É um instrumento
sagrado e só pode ser tocado por pessoas iniciadas. O kankangui é especial, não só por sua
forma mas também pelo seu tamanho além de produzir um som completamente diferente dos
instrumentos de sopro conhecidos. O iniciado que toca este instrumento é chamado de kiriku
e usa um bácom (espécie de chapéu) na cabeça. Ele era tocado para agradar os reis e a
aristocracia durante suas grandes cerimônias e procissões religiosas. Ainda hoje é tocado nas
procissões, festivais e cerimônias em homenagem aos Voduns. Nas noites de quinta-feira, ele é
tocado como um mensageiro sagrado, levando aos deuses todos os pedidos dos adeptos ao
culto dos Voduns.

ADJALIN

O adjalin é um instrumento muito antigo, criado pelo grupo étnico Goun. Ainda hoje, este
instrumento é tocado em quase todas as cerimônias e rituais em homenagem aos Voduns.
Normalmente, são os Gouns mais velhos que o tocam. É um instrumento que exemplifica a
grande imaginação e genialidade de um povo. Confeccionado apenas de hastes de bambu, ao
olharmos o adjalin temos a impressão de estarmos vendo uma pilha de lenha mas, o adjalin é
muito mais que isso. Tem uma forma retangular, quinze hastes de bambu são dispostas
horizontalmente. O adjalin tem em média 65 cm de comprimento por 25 cm de largura, e as
hastes de bambu são amarradas por fibras de legumes. O som deste instrumento é muito
harmonioso, agradando à muitas pessoas. Elas são atraídas pela melodia suave e fascinante,
encantadora, um verdadeiro som mágico. Quando tocado junto com os tambores, não há
quem resista a dançar. É, sem dúvida, um dos melhores instrumentos oriundos do antigo
Dahomey.
ALOUNLOUN

O instrumento é chamado de alounloun e seu ritmo adjogan. O alounloun é uma barra de ferro
comprida, de um metro de comprimento, com um alongamento, toda trabalhada, sua parte
central é de cobre e argolas deslizam para cima e para baixo para produzir a harmonia de sua
música. Tem um cabo na forma de um pássaro, símbolo de Kokpon. Para falar das origens
deste instrumento devemos voltar na história. No início, o alounloun era um cajado que
simbolizava a força do rei de Allada. Este cajado foi herdado por TeAgdanlin de seu pai Kokpon
quando da disputa, entre os dois irmãos, formaram então os reinos de Allada e Dahomey,
respectivamente, no século dezessete. Um descendente de Te-Agdanlin, De-Gbeyon,
transformou o cajado em um instrumento musical, durante seu reinado (1765-1775). Naquele
tempo, era usado para acompanhar canções que elogiavam o rei. Era tocado unicamente por
mulheres.
Ele pegou o alounloun durante a migração e veio para o sul do Benin onde criou o reino de
Hogbonou (atual Porto Novo). Quando ele morreu, de uma geração para a outra, o alounloun
sofreu várias transformações contando com o gosto e aspirações de cada rei. Foi realmente
transformado em um instrumento musical pelo rei De-Gbeyon para homenagear seus
antepassados. Naquela época ele não era tocado só para homenagear os reis mortos mas
também para os reis vivos, para as ahossis (rainhas) e na consagração dos ministros do rei. O
alounloun foi tocado durante cinco dinastias de Porto Novo. Hoje é tocado em muitas
cerimônias em homenagem aos voduns, nos ritos fúnebres, procissões e festivais.

BALAFON

O verdadeiro nome deste instrumento é balan, incorretamente chamado de balafon, palavra


francesa que indica quem toca o instrumento: balan é o instrumento, fo o tocador. Sua forma
é trapezóide e seu som melódico, ativo e excitante. Ele é confeccionado de barras de madeira
que produzem notas quando tocadas. As barras são dispostas paralelamente e sob ele coloca-
se cabaças de vários tamanhos para criar um sistema de amplificação do som. As barras são
feitas de uma madeira dura chamada gouene-yori, na língua bambara e koyehoun, em Fon. Os
fios que seguram as barras são feitos de pele de cabra ou cervo, que é mais resistente. O
balafon é tocado em cerimônias festivas em homenagem aos deuses, acompanhado de outros
instrumentos. Podemos encontrar o balafon em vários modelos.

DJEMBE

O djembe ou jeme, é um tambor com uma cabaça atada, tocado com a mão e junto com o
doudoumba, outro instrumento de percussão, fornecendo o tom baixo. O topo do djembe é
coberto com uma pele de cabra curtida, segura por argolas de ferro anexadas por nós de
corda. Tem um som agradável e puro. Alguns dizem que seu nome vem do som do
instrumento quando vibra. É um instrumento muito expressivo. O djembe deve estar sempre
em um local seco e limpo. É tocado em diversas cerimônias e rituais em homenagem aos
voduns.

KPANOUHOUN

O kpanouhoun é uma espécie de tamborim tocado por vários grupos étnicos: Fon, Mahi, Goun,
Mina, Yoruba, etc. É composto de uma parte semelhante a um prato fundo e uma margem
com buracos onde aparecem argolas de ferro. Uma parte da margem não contém buracos e é
aí que deve ser segurado com a mão direita. Com a palma da mão esquerda é tocado. Não se
pode dizer com exatidão onde este instrumento se originou. Ele emite um som muito
agradável, falicitador de nossos sonhos. É um dos raros instrumentos tocados exclusivamente
por mulheres, em cerimônias de casamentos, iniciações, funerais de idosos e festivais. Pode
ser acompanhado por um gongo de uma ou duas câmpulas.
SATO

O sato é um instrumento sagrado de percussão, feito de madeira e coberto de couro. O


tambor maior mede cerca de 1,75 cm de altura. Ele possui duas formas: uma masculina e outra
feminina sendo que, ainda podemos encontrar uma forma hermafrodita, exibindo seus
atributos sexuais na maneira de se tocar. Este tambor é tocado com pequenas varas curvas, e
emite um ritmo do mesmo nome, durante os festivais anuais em homenagem aos
antepassados. Nesta ocasião, todos dançam o ritmo sato, tocado pelo tambor de mesmo
nome acompanhado de outros instrumentos musicais: gbehoun, ahlomidon, alangandan e o
gongo. O tambor sato participa da passagem do morto do mundo visível para o invisível e é por
isso que é tocado nos ritos funerais, para garantir a separação da alma deste mundo e sua
transição para o outro mundo. A ninguém é permitido olhar dentro do sato pois lá estão os
espíritos dos mortos e é por isso que ele é guardado em posição ereta e só pode ser
transportado a noite.
Este instrumento é fantástico, desafia o tempo e é imutável.

YABARA

O yabara também é chamado de mayabara (a cabaça da humanidade). É um instrumento de


percussão, sua forma e tamanho são variáveis. Ele é confeccionado de uma cabaça e revestido
por uma rede de pérolas ou sementes de frutas, envolvendo a cabaça até o pescoço. Para se
tocar o yabara, pega-se o pescoço da cabaça com uma das mãos e com a outra a ponta da rede
para permitir que o som das pérolas ou sementes seja amplificado. Este é outro instrumento
bastante utilizado nas cerimônias e rituais dos Voduns.

KPEZIN

O kpezin é um instrumento importante na vida cultural e religiosa do Benin. É um tambor em


forma de pote, uma caixa de som com um longo pescoço e uma base redonda. A base é
revestida com vime trançado e o instrumento é assentado em uma "almofada" de casca de
bananeira seca e enrolada, presa no instrumento por fios de fibra de folhas de bananeira. O
topo tem um diâmetro de 73 cm e é coberto por pele de antílope. Há dois tipos de kpezin: o
maior chamado de kpezinnon e o menor kpezinvi, que podem ser tocados ao mesmo tempo. A
base do kpezin, coberta de pele, pode ser batida no centro ou nas margens para produzir sons
diferentes durante as cerimônias especiais, exigindo muita habilidade de seus tocadores. O
kpezin é frequentemente colocado em uma peça de madeira quando é tocado para que as
forças dos deuses sejam "armazenadas" nos assentamentos. Da mesma maneira, ele é tocado
para os assentamentos destes tambores que são guardados sob eles quando não estão sendo
tocados. Ele também é tocado em cerimônias e rituais aos voduns e funerais. Nos rituais
fúnebres ele é tocado acompanhado pelo zinli, para afastar as aflições, moléstias e ofensas. A
maior parte do tempo, os Ogans tocam o kpezin sob uma árvore. Também é utilizado em
rituais agrícolas e de purificação. O kpezin é um instrumento muito antigo, já tocado pelos
adjohoun (da cidade de Adja), trazido de Allada pelo rei Dakodonou, primeiro rei do Dahomey,
morto em 1645. No reinado de Glele, o kpezin também foi utilizado, inclusive para consertos
em frente ao palácio. Tradicionalmente, o kpezin é um instrumento sagrado. Na cerimônia do
aziza honou (Aziza é o deus da canção, da música, dos caminhos musicais), é tocado na
madrugada. Esta cerimônia confere grande força aos instrumentos.

GANKEKE

O gankeke é uma espécie de sino duplo sem nenhum pêndulo em seu interior, feito em duas
peças de ferro, redondas e finas ao longo, como um funil, unidos no fim com um espaço entre
elas, formando um cabo onde o tocador segura o instrumento. O pescoço do instrumento é
encurvado e os tocadores dão batidinhas com uma peça de madeira. Também encontramos
gankeke com apenas uma câmpula. Existem gankekes de 20, 30 ou 50 cm de comprimento.
Este maior é tocado especialmente nas cerimônias fúnebres. Ele produz um som agradável,
'kay' 'kay' 'kay', de onde sai seu nome, acrescido de gan, que quer dizer ferro. Este instrumento
é tocado principalmente por homens que, numa mão têm o gankeke e na outra o
zangbetohoun, que é um outro instrumento musical, secreto, exclusivo da sociedade do
Zangbeto. Seu propósito está em garantir a segurança do reino. Além de instrumento musical,
o gankeke era utilizado para que as ordens do rei fossem comunicadas por um músico
chamado kpalingan, uma espécie de repentista que vagueava pelo humpayme, cantando para
todo o reino as ordens e notícias do rei. O kpalingan também era responsável por cantar sobre
toda a genealogia dos reis do Dahomey. Assim, hoje, cada cantiga, cada reverência cantada
tem um significado, uma mensagem precisa que pode ser compreendida apenas pelos
iniciados. O gankeke também toca o ritmo gangbo, quando os Zangbeto, vigias da noite, saem
em patrulha. O instrumento gangbo, de onde vem o ritmo de mesmo nome, também é uma
espécie de gongo utilizado pelos Zangbeto.
Nas comunidades e cerimônias dos Voduns, o gankeke é um instrumento tocado pelas
sacerdotizas pela manhã e a noite, nos templos de Doudoua e de Dan, para saúde ou culto de
adoração à esses deuses, além de procissões. Era também com o gankeke que as sacerdotizas
"espantavam" a má sorte e os espíritos ruins dos palácio reais.

Artigos

As matérias apresentadas foram selecionadas por mim e tiveram autorizações de seus


respectivos autores. As pessoas que quiserem colocar suas matérias neste site, poderão
enviar-me a mesma para uma previa seleção. Só serão aceitas matérias relacionadas a cultura
dos Voduns e seus seguidores.

Simbolismo Espaço Sagrado Escolha do Nome Comidas de Santo Ervas, História e Ritos Vodou -
Arte e Deuses Dia Nacional dos Voduns

Simbolismo

A palavra "símbolo" origina-se do grego symbolon, um sinal de reconhecimento onde


observamos que sua etimologia mostra o símbolo como algo composto. É um sinal visível de
uma realidade invisível que jamais se esgota em seus significados. O objeto e seu significado
não podem ser separados. As imagens, os emblemas, os objetos, os símbolos, os mitos não são
meras criações de nossa alma, nosso espírito ou nossa mente, eles nos falam de todas as
nossas necessidades. São objetos de nosso cotidiano, percebidos pelos sentidos, mas que
apontam para algo encoberto, enigmático, para um significado e para um excesso de
significados, tudo que não pode ser esgotado no primeiro momento. Algo externo revela algo
interno, algo corporal em algo espiritual, algo particular em algo geral. Geramos energias
específicas ao visualizarmos, mentalizarmos, canalizarmos ou sentirmos um símbolo, eles nos
levam a entrar em ressonância com o Cosmo, que é o grande objetivo. Através dos símbolos
desenvolvemos uma maior capacidade de percepções, revelações e transformações. Eles
fazem parte de toda a nossa realidade, de nossa vida interior, mística e religiosa, nos orientam
no campo do conhecimento e no campo religioso. Somos conduzidos à diversas dimensões à
mundos distantes, à passados remotos e ao nosso interior onde a "palavra ainda não se
transformou em palavras". Os inúmeros símbolos existentes (lingüísticos, musicais, religiosos,
mitológicos, matemáticos, etc), ocultam verdades iniciáticas e contam, sozinhos e interligados,
passagens de toda humanidade além de formarem um único símbolo, o UNO. Quando
trabalhamos bem nossas energias, elas se transformam em símbolos de vida, de pensamento,
de sabedoria e o poder ativo dos símbolos projetam seu significado no Cosmo que nos devolve
em energia do saber infinito. Os símbolos são universais e difundidos em todo o mundo, em
todas as culturas. Não podem ser substituídos mediante um acordo. São suporte e difusores
de energias que nos revelam os segredos da matéria e do espírito, do físico e do espiritual. No
universo tudo é vida e se manifesta simbolicamente. O homem, desvendando a linguagem
oculta dos símbolos, desperta seu inconsciente para a unicidade, adquire esclarecimentos
suplementares sobre a natureza secreta de nossa identidade espiritual, nosso EU. O africanos
e seus descendentes transplantaram toda uma cultura em símbolos que fazem parte de nossa
sociedade cultural e religiosa. Através de diversas etnias e de processos sociais e históricos,
nosso país, nosso povo, nossa formação é profundamente marcada por instituições que
transportam e recriam a riquíssima herança africana. As casa de candomblé são os maiores
difusores desta herança cultural africana através de um farto e complexo sistema simbólico.
Todo grupo, toda etnia, associação ou comunidade, para se constituir como tal, deve
estabelecer modo de comunicação - gestos, sons, exclamações, ritmos, cores, formas - e
constitui-se numa linguagem. Essa linguagem compreende um conjunto de signos cujo
intercâmbios ou relações simbólicas configuram as divindades. Desta forma, o grupo expressa
seus desejos. O consenso simbólico permite que o grupo fale entre si. No candomblé o
simbolismo é realizado fundamentalmente pela prática religiosa. A comunicação se dá por
atividades individuais ou em grupo, pelas cerimônias e ritos públicos e privados, pelos quartos
sagrados, objetos, trajes e emblemas rituais. Dança, ritmos, cor, conta, gesto, folha, som,
emblemas e objetos se articulam para significar o sagrado. São instrumentos de comunicação
que, através de sua forma significante, manifestam e contribuem para manifestar e transmitir
a complexa trama simbólica que ultrapassa gerações, transcendendo o tempo e a origem. A
caracterização sagrada de um símbolo é dada através de rituais religiosos especiais que
transmitem poderes místicos à esses símbolos. Desta forma, não podem ser tratados como
objetos-divindades ou meros amuletos onipotentes que controlam os adeptos e sim como
objetos preparados e aceitos como símbolos de forças espirituais. Eles são mais que meras
representações materiais, são objetos essenciais em que o sagrado está representado. O
religioso reverencia não à matéria e sim à essência mística que ele simboliza, que têm
finalidades e funções. São portadores de forças místicas, estimulam a memória grupal e o
processo de ligação às divindades. Os símbolos são um "microcosmo" que, decodificados,
falam de todo um sistema religioso - estético de uma determinada nação. Não é possível
definir intelectualmente o processo de criação desses símbolos assim como, não podemos
compreender seu conteúdo sagrado como uma equação matemática. Cada um deles possui
conteúdos aparentes, visíveis ou manifestos em níveis consciente, latentes, ocultos ou
reprimidos no nível inconsciente. A religião, a mitologia e a arte são os veículos mais sensíveis
através dos quais uma cultura manifesta seus conteúdos e necessidades latentes. Eles abrigam
os mais ocultos conflitos de nosso mundo presente e passado, um gigantesco arquivo onde
parte de nossa história ancestral - o inconsciente coletivo - se elabora e transmite. Símbolos de
uma cultura que emprestam sua matéria para que o místico se revele. Para vivenciarmos os
símbolos realmente como tais, devemos estar prontos para nos deixarmos tocar
emocionalmente por eles, questionarmos nosso nível de vida concreto para depois nos
ocuparmos com o que está oculto. Quando estabelecemos relação com um símbolo, tudo que
está ligado a ele torna-se repentinamente vivo. Ainda hoje, a grande maioria do povo
candomblecista, desconhecem a simbologia dos objetos de nossa religião, assumindo atitudes
meramente repetitivas de tradições passadas oralmente, sem serem decodificadas.
Acreditamos que a cada símbolo compreendido e apreendido, crescemos em emanações de
energias interior e exterior. - Fontes de consulta: Dicionário de Símbolos - Jean Chevalier Os
Nagôs e a Morte - Juana Elbein

AS MÃOS

A mão exprime as idéias de atividade, ao mesmo tempo que as de poder e de dominação.


Certos escritos taoístas dão à elas o sentindo do alquimista de coagulação e de dissolução,
correspondendo a primeira fase ao esforço de concentração espiritual, a segunda à não
intervenção ao livre desenvolvimento da experiência interior dentro de um microcosmo que
escapa ao condicionamento espacial e temporal. É preciso lembrar ainda que a palavra
manifestação tem a mesma raiz que mão: manifesta-se aquilo que pode ser seguro ou
alcançado pela mão. A palavra em hebreu iad significa ao mesmo tempo mão e poder. A mão
esquerda é tradicionalmente associada com a justiça e a direita com a misericórdia; a mão do
rigor e a da maleabilidade, o equilíbrio quando juntas. A mão fechada é o símbolo do segredo.
A mão serve, enfim, à invocação. Por vezes ela é comparada com o olho: ela vê. É uma
interpretação que a psicánalise reteve, considerando que a mão que aparece nos sonhos é
equivalente ao olho. Daí o belo título: "O cego com dedos de luz". Segundo Gregorio de Nissa,
as mãos do homem estão ligadas ao conhecimento, à visão, pois elas têm como fim a
linguagem. As mãos têm uma "transferência" e também uma "troca" de energia. A mão é
como uma síntese, exclusivamente humana, do masculina e do feminino, ela é passiva naquilo
que contêm e ativa no que segura. As mãos possuem milhares de pontos ocultos de canais
sutis por onde circula a energia vital. Esses centros de consciência, superpostos ao longo da
coluna vertebral até o topo da cabeça, podem ser qualificados de "turbilhões de
matéria etérea". Ao friccionar as mãos com os búzios (jogo) dentro, estamos ativando esses
pontos, liberando e trocando energia, a concentração espiritual, a manifestação, o poder, o
segredo, a invocação, o conhecimento, a visão e o equilíbrio, para termos como fim a
"linguagem" da leitura dos búzios. Se todos os pais/mães de santo procurassem entender mais
sobre o significado de tudo que fazem e manipulam, com certeza o "poder" que têm em suas
mãos seria muito melhor explorado e aplicado em beneficío de seus filhos, de si próprio e da
humanidade. fonte de consulta: Símbolos - Jean Chevalier

O ESPAÇO SAGRADO Ataliba Fernando Costa*

A sacralização do espaço remonta, é certo, aos primórdios do aparecimento na Terra dos seres
humanos modernos (Homo sapiens) isso na era Cenozóica, período quaternário.O Homem é
considerado como uma das últimas espécies a surgir no planeta, e na sua curta trajetória sobre
a superfície deste planeta apenas ele possui as ideais condições e capacidade para agir sobre o
meio e manipular objetos, Aguiar ao dissertar sobre as capacidades humanas afirma que o
Homem diferencia-se das demais espécies animais, visto que só o Homem é dotado de
imaginação e inteligência simbólicas. Trataremos então a seguir de manipulações do Homem
sobre o meio, e a sacralização não só do espaço, mas também do momento, de um certo
momento que capturado e representado pode trazer presságios para um ato ou uma vida.
Comentaremos sobre as mais antigas representações conhecidas, as gravadas nas paredes das
cavernas, representações conhecidas como arte rupestre; além de muito estudadas em nossos
dias, trazem algumas incógnitas que ainda não foram plenamente elucidadas. Uma delas,
refere-se à dificuldade de precisar a idade desses desenhos. No entanto, alguns pesquisadores
afirmam que desenhos como esses datam de períodos anteriores ao Neolítico. Relevando os
problemas de exatidão da idade dessas representações, a arte rupestre prima por nos
fornecer, como salienta Brézillon, "informações sobre a fauna e o gênero de vida das
populações representadas". Estas formas primitivas de representação, feitas nas paredes das
cavernas, usando de pigmentos extraídos da natureza e entalhes feitos com ferramentas de
pedra, como muitos pesquisadores como Brézillon, Hauser, Garcia, Motes e outros puderam
observar, não tinham nenhuma intenção ornamental estética, e sim um caráter místico, onde
as imagens ali presentes representavam, para o Homem pré-histórico, amuletos; presságios
positivos em suas empreitadas, uma vez que se encontram em salas ocultas, de difícil acesso;
nunca em lugares expostos à apreciação, como mostra Hauser. Sobre todo el hecho de que las
pinturas estén a menudo completamente escondidas en rincones inaccesibles y totalmente
oscuros de las cavernas, en los que hubieram podido de ninguna manera ser una "decoración.
Tambien habla contra semejante explicación el hecho de su superposición a la manera de los
palimpsestos, superposición que destruye de antemano toda función decorativa; esta
superposición no era, sin embargo, necesaria, pues el pintor disponía de espacio suficiente. El
amontonamiento de una figura sobre outra indica claramente que las pinturas no eran creadas
com la inteción de proporcionar a los ojos un goce estético, sino persiguiendo un propósito en
el que lo más importante era que as pinturas estuviesen situadas en ciertas cavernas y en
ciertas partes específicas de las cavernas, indudablemente en determinados lugares
considerados como especialmente convenientes para la magia. De posse destas afirmações
exemplificadas podemos então, concluir que poderiam ser estes ambientes os primeiros
templos, lugares sacralizados, que manipulados pelo homem estavam prenhes de magia e
energia possibilitadora de presságios positivos. Ainda buscando subsídios nas informações de
Hauser, podemos também dizer que se o templo, ou seja, locais onde tais imagens eram
impressas, o local representado também continha a energia sagrada, um local sacro santo.
Ainda citando Hauser, quando este disserta sobre os autores das tais pinturas rupestres
podemos apreender que os executores dessas obras deveriam possuir além das posições de
caçador e até mesmo de geógrafo o título de sacerdote, aquele eu distinguia e prendia
mentalmente todas as particularidades de um lugar para assim pender no templo de seu clã
toda a mítica do lugar. l pintor paleolítico era cazador y debia, como tal, ser um buen
observador; debía conocer los animales y sus características, sus habituales paradas y sus
emigraciones a través de las más leves huellas y rastros; debía tener una vista aguda para
distinguir semejanzas y diferencias. Com essas informações podemos concluir que as
representações primitivas são parte das conquistas do Homem, que lenta e gradativamente foi
se intelectualizando e criando condições de agir sobre o meio, evoluindo, conseqüentemente,
na forma de representar o espaço à sua volta. Os desenhos impressos pelo Homem primitivo,
são
representações do espaço no qual ele age, e, como não poderia deixar de ser, está cheio de
elementos emocionais, um espaço relacionado com as necessidades e interesses do Homem
pré-histórico. Dizer que as câmaras das cavernas utilizadas pelo homem como templo, seria o
primeiro templo seria um pouco incoerente uma vez que o divino, o sagrado estava, na
realidade do outro lado daquelas paredes de pedra. Concluímos sim, que tais câmaras eram na
realidade a captura de espaços especiais que deviam ser transformados e sacralizados.
Finalizando essa questão da sacralização do espaço podemos afirmar que a categoria Espaço,
Paisagem e até mesmo Lugar (unidade elementar) servem como pano de fundo para as
atividades humanas, portanto o profano e o sagrado coexistem, e quem transforma e dá
caráter profano ou sagrado a um ambiente é o homem que o manipula ao se bel prazer.
Citando HARVEY, quando este fala das classificações do espaço, este escreve: O espaço não é
nem absoluto, relativo ou relacional em si mesmo, mas pode tornar-se em um ou em outro,
dependendo das circunstâncias. O problema da correta conceituação do espaço é resolvido
através da prática humana em relação a ele. Em outras palavras, não há respostas filosóficas
para questões filosóficas que surgem sobre natureza do espaço. As respostas estão na prática
humana.

* Ataliba Fernando Costa é Geógrafo, licenciado pela UFJF, com especialização em geografia e
Gestão do território – em curso. AGUIAR, V. T. B. Atlas Geográfico Escolar. Rio Claro: UNESP,
1996. Tese de Doutorado. P. 95. É o que podemos chamar de arte ou escrita primitiva e
indígena. São motivos geométricos representações zoomorfas e antropomorfas. BRÉZILLON,
Michel. A Arte Rupestre Pós-glacial. IN: LEROI-GOURHA, A. et al.. Pré História. São Paulo:
Pioneira/Edusp, 1981. P. 298-307. HAUSER, Arnold. História Social de la Literatura e la Arte .. p.
29. HARVEY, D. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec, 1980, p. 5.

A Escolha do Nome de Uma Criança no Benin - cultura Ewe/Fon/Mina

A escolha do nome a ser dado à uma criança para o povo Ewe/Fon/Mina, é um dos eventos
social e espiritual dos mais importantes. Marca o início do destino da criança aqui na terra. Do
momento da concepção, quando a mãe descobre que está grávida, até seu nascimento, todos
os eventos são marcas significativas na vida daquele novo Ser, que muito influenciarão sua
passagem neste planeta Diariamente, sua mãe vai caminhando ao mercado, pegar pequenas
poções de água. Esta pequena, porém sutil atividade tem um significado grande, revela o "Se"
(alma/espírito) da criança que está para nascer. Está água é oferecida à uma personalidade
importante e, desta forma, eles acreditam que a alma da criança se iguala à do antepassado
escolhido, que acompanhará está criança em seu nascimento. A culminância destes
importantes momentos, o nascimento da criança, é a escolha do nome. Por exemplo, o nome
atribuído à criança pode ser baseado no dia da semana que a criança nasceu. A criança é
também cuidadosamente examinada por dzoto (alma ancestral), pertencente à cosmologia
Ewe. Desta forma, totalmente assistida e acompanhada por seu dzoto, a criança nasce para
realizar seu destino aqui na terra. Do momento em que toma conhecimento deste sagrado
momento, a criança é orientada a evitar comer determinados alimentos e lhe é dado amuletos
que devem ser usados em seus braços, pescoço e quadril, onde quer que vá; desta forma, os
maus espíritos não a perturbarão. Outras situações bem observadas são: de que forma esta
criança sai do ventre de sua mãe, se possuem má formação, marcas de nascimento (sinais),
tamanho do corpo, como choram, etc. Todas estas características também contribuem para
determinar a personalidade da criança ou mesmo podem revelar sugestões para o seu futuro
destino, de sua família e de sua comunidade. O nome da criança também pode ser dado
baseado na ordem de seu nascimento. Por exemplo, um menino que tenha sido o terceiro a
nascer em uma família poderá ser chamado "Mensah" ou se for o quinto "Anani". A menina
poderá ser chamada de "Mania", "Masa" se for a quarta a nascer ou "Mansa Abla". A todas as
crianças é dado o nome de seu Vodum, aquele que o acompanhou em seu nascimento ou de
quem sua natureza mais assemelha. Mesmo as crianças nascida em circunstâncias
excepcionais ou inferiores, também recebem
o nome de seu Vodum. Por exemplo, as crianças nascidas com má formação física ou mental,
anões, são chamados "Tohosou", espíritos de antigos ancestrais de Dahomey, que
apresentavam as mesmas deficiências. Crianças nascidas de maneira incomum, algumas de
vezes até "engraçadas", também podiam ser nomeadas de acordo com as circunstâncias. Por
exemplo, se uma mãe esta trabalhando em uma estrada, ou a caminho do mercado, se for
menino pode se chamar "Alifoe" (homem do caminho) ou "Aliposi" (mulher do caminho) se for
uma menina. Se o pai da criança morrer antes de seu nascimento, se for menino pode ser
chamado "Apedo" (a casa está vazia) ou "Apedomesi" se for uma menina. Se for o último a
nascer pode ser nomeado "Agosu" e "Agosa" se for uma menino, "Agosi" ou "Agosivi" se for
uma menina. Se a criança for filha de pais muito pobres pode ser chamada "Lavagnon" (as
coisas vão melhorar) ou "Agbsi" (nas mãos de Deus), ou ainda "Agbebavi" (você compensa
toda a vida que choramos). Crianças que nascem com uma propensão a atrair espíritos
negativos devem ser chamadas "Abalo" ou "Aboki" que significa, mover os espíritos ruins para
longe. Finalmente, quando a criança é apresentada ao bokono, já tem um nome do espírito
(família totem) de sua família sanguínea, de sua linhagem. Tradicionalmente, na cultura Ewe, é
a avó ou o avô quem escolhe o nome da criança, na falta desses, outra pessoa poderá dar os
nomes desde que receba uma inspiração e mantenha a tradição de nomes, circunstâncias
incomuns, dias da semana, etc. para ele é muito importante e significativo para todo
cumprimento de sua vida espiritual e material na Terra. Atualmente, devido a grande
mortalidade infantil, os beninenses esperam suas criança completarem três meses de vida
para dar início as cerimônias na qual a criança se tornará um membro oficial da família. Centro
Cultural Ceja Neji

COMIDA DE SANTO

Explorando o assunto Comida de Santo, pode-se encontrar na literatura alguns textos.


Fazendo-se agora um resumo e algumas colocações. Nina Rodrigues, em seus estudos, ao
abordar à arte da culinária africana, achou difícil precisar, devido ao estado atual dos
costumes, à quais grupos pertenceriam determinadas comidas. Já Manuel Querino assinalava
que a contribuição dos grupos bantos, angolanos e jejes eram maiores que as dos nagôs,
contrariando a tese dos que insistiam na sua predominância. Nos terreiros, esta cozinha,
marcada por uma série de preceitos e interdições, vai aparecer relacionada diretamente aos
deuses através das chamadas comidas do santo. Assim, cada um deles irá receber em dias
especiais (ou não) pratos de sua preferência. Não se trata, porém só de comer e sim o que se
come, o que não se come, quando se come, com quem, participam de um todo integrado que
diz respeito a códigos imprescindíveis dentro da culinária dos deuses. E mais ainda, esta
comida dentro da dinâmica dos terreiros é um dos veículos de vital importância para a
transmissão e distribuição de axé. Seja essa comida reelaborada a partir de técnicas e
maneiras predominantemente banto, jeje ou yorubá, esse negros modificaram as refeições do
reino como já exposto. Outro fato que deve ser considerado é a falta de mantimentos num
país desde o começo assolado pela fome. Da nova terra, o português ao lado das caças e
muitos frutos, só pôde aproveitar a mandioca e o milho que eram alimentos básicos para o
sustento e o qual era oferecido aos negros. Adotar os mantimentos da terra, ao lado de
importar tantos outros como, por exemplo, o gengibre, arroz, inhame, banana, coco, dendê,
foi à solução encontrada pelos portugueses para suprir a falta de alimentos. Cascudo (1970)
diz que ao fim do séc XVIII os produtos americanos já estavam tão difundidos na África
portuguesa que participavam das refeições nos negros, escravos ou livres. Os ingredientes
africanos vindos da áfrica, como o quiabo, o inhame, erva-doce, gengibre, gergelim,
amendoim, melancia, dendê e outros foram entrando aos poucos no Brasil de acordo com as
exigências do tráfico ou da população aqui estabelecida. Não é possível, no entanto, se pensar
nesta cozinha e nem em uma outra somente a partir de tais elementos. Ela é mais do que um
conjunto de matérias naturais que podem ser adaptados e substituídos. Esse próprio fato
obedece a uma certa ordem inscrita nos mais remotos tempos, fazendo com que a comida não
perca seu sentido nem se afaste da visão do mundo que ela representa. O que dá identidade à
determinada comida não é a origem dos vários ingredientes combinados, mas a maneira como
estes elementos são combinados. E estas maneiras obedecem a determinados ritos que lhe
dão sentido e, como tais, apresentam-se como algo criativo. Assim, é completamente
arbitrário buscar precisar datas para essa culinária, entendendo esta como algo parado,
fechado, se o próprio tempo se incumbiu de dinamizá-la. As condições de possibilidade para se
pensar uma cozinha africana não podem ser pensadas em nível cronológico, assim como não
podem prescindir desse tempo. Elas vão acontecendo, se dando, de acordo com o tipo de
situação servil ou livre e o lugar em que vivia o africano, variando, desde o primeiro momento
em que dividiu a cozinha com as africanas cozinheiras, até quando pôde, ante as novas
condições suscitadas pelo processo histórico, negociar um tabuleiro. O processo de criação das
comidas africanas também se deve a importância dos jejuns e das
festas regulados pelas igrejas ( outra questão complexa que não cabe abrir aqui). Os africanos
tiveram também que adaptar às vezes sua alimentação, a hora e quantidade que se podia
comer impostas pela igreja. Todavia, quando puderam providenciar seus próprios alimentos. é
muito provável que tenham lançado mão do conhecimento acumulado e das várias
experiências trazidas de suas terras, já somadas a tantas outras. Tudo isso que foi colocado
pelos autores não se trata de um retorno à África, mas fazer com que comida se faça africana,
ou seja, remonte a histórias e passagens, visões de mundo associadas aos ancestrais, princípios
universais ou antepassados, aos primórdios dos tempos quando estes fundaram a
humanidade, constituíram as cidades e criaram os diferentes grupos. Visões de mundo
juntadas a inúmeras outras experiências históricas constituídas no Novo Mundo. É este fazer
que faz com que tal comida seja comida de santo. A comida de santo diferencia-se, assim,
daquela do dia a dia. Uma coisa é cozinhar um inhame e dividi-lo em pedaços e come-lo no
café da manhã. Outra é preparar esse mesmo inhame para Oxalá, quando variam desde o
tamanho, a forma das raízes, os procedimentos observados para sua feitura e por fim, as
palavras ditas para encantar a comida. Fazer um feijão no azeite não é o mesmo que preparar
um Omolocum. Neste nada pode se escapar, se escolhe bem os grãos, pois Oxun liga-se à
fecundidade. Os deuses comem comida mais elaborada. Embora os ingredientes sejam os
mesmos, mudam o tratamento que estes recebem. E a forma como estes são tratados
expressa seu sentido através de um ritual onde nada é por acaso. Assim, Exu pode comer de
tudo com já dizia um de seus mitos. Ogun pode receber feijoada, uma vez que as carnes
gordas lhe pertencem. E Oxossi por se ligar a terra, recebe todos os frutos dados pelo Novo
Mundo. Gonzegan Carla de Tobosi FONTE: Faces da Tradição Afro-Brasileira – CNPq Santo
Também Come - Raul Lody

ERVAS: HISTÓRIA E RITO

Wanda de Otolu Vem dos tempos mais primórdios, a história da utilização das plantas, tanto é
que os próprios animais, quando apresentam alguma enfermidade, buscam ervas para auto-
tratamento. Também o ser humano assim o fez, desde sempre. É certo que doenças sempre
existiram, e que, ao longo do tempo, foram sendo divididas em outras tantas. Certo também
que a alopatia (medicina convencional) não nasceu junto com o primeiro "homus sapiens" a
habitar o Planeta. Desta forma, como os seres primórdios curavam suas doenças, senão pela
utilização das ervas existentes? Partindo-se deste raciocínio, não se precisa ir tão longe, para
se concluir que as plantas sempre acompanharam o ser humano, seja na alimentação (auto-
subsistência), quanto no tratamento de suas doenças. Junto com isso, foram surgindo, como é
de conhecimento histórico, as tribos, os guetos, já que, cientificamente, tem-se conhecimento
hoje de que a vida humana surgiu mesmo no Continente Africano. Dentro desta visão, sabe-se
também, através dos historidadores, que buscam resgatar a história humana no seu princípio,
que, em cada tribo, ou gueto, haviam os denominados hoje "curandeiros". A partir dos rituais
desenvolvidos, novamente as ervas foram inseridas em todo o processo histórico. Baseando-se
neste conhecimento, tem-se a idéia exata da dimensão da importância de todas as plantas.
Inclusive, cientificamente, já se descobriu até a "aura" de cada planta, através de
equipamentos especiais que captam até as diferenças vibracionais de cada erva. Com todos
esses elementos reunidos, é impossível que, ainda hoje, as criaturas humanas não valorizem o
conhecido "chazinho", ou até, quem sabe, não utilizem as cascas, os frutos, as folhas, ou
mesmo as flores e as raízes, em outras atividades. No Candomblé, a árvore em si é de suma
importância, tanto que existem as árvores sagradas, desde a raiz, até o caule, as folhas e os
frutos. Os vegetais são imprescindíveis na prática religiosa. O ritual das ervas é importante
como elemento nos trabalhos espirituais. As folhas podem ser utilizadas, tanto secas, como
verdes. O caule é utilizado como marco numa Casa de Santo e como sustentação em tenda,
etc. A raiz é direcionada em cada fim ritualístico. As ervas, com seus elementos vitais, trazem a
essência para o crescimento espiritual.Cada elemento é atribuído à determinada natureza, de
acordo com a essência de cada Vodum, Orixá ou Inkice. Sem os rituais das ervas, não seria
possível o mínimo trabalho dentro de uma Casa de Santo. Em tudo, a erva sempre presente,
aproximando a essência de cada Ser Espiritual.
Vodou - Arte e Deuses

A arte tradicional de Vodun é a pedra fundamental desta religião, é a encarnação das idéias
religiosas mantidas por seguidores de Vodun. O significado dos objetos usados nos cultos de
Vodun é explicado geralmente desta maneira: Os seguidores de Vodun procuram imagens dos
deuses e dos sinais de mistérios divinos. Fiéis, são capazes de incitar um espírito em modelos
esculpidos e, assim sendo, o metal e a madeira aparentemente brutos são transformados em
um meio de comunicação com os deuses e seus antepassados. Se observarmos
cuidadosamente estes objetos, certamente nos aproximaremos do poder irradiado pelos
cultos e cerimoniais. Os deuses tentam incorporar em seus seguidores humanos, os dançarinos
mascarados são mensageiros que carregam sinais divinos, os corpos dos dançarinos servem
como mediadores para os deuses de Vodun, as figuras gigantescas do deus Legba dão aos
dançarinos uma nova energia e os espetáculos naturais como o trovão e o relâmpago são
interpretados como expressões da vontade ou da punição divina. O Vodun une seres humanos,
matéria e natureza em um contexto orgânico de uma vista coerente do mundo. Ao contrário
das religiões monoteístas como o islamismo ou o cristianismo, o Vodun tem um santuário de
deuses povoado por numerosas divindades. As escavações arqueológicas na costa ocidental
africana mostraram que a religião e suas divindades tem mais de quatro mil anos. Pode-se
dizer com certeza que a tradição local, por exemplo em Heviosso e em Shango, vai além de
muitos séculos. Os realtos dos comerciantes e dos viajantes europeus que visitaram Benin no
primeiro século também atestam a existência destes deuses. Em alguns casos, os templos e os
cerimoniais que são descritos nestes relatos estão até hoje quase que inalterados, como por
exemplo o templo Dangbe em Ouidah. Estes deuses parecem ser confusos, contraditórios e
criativos, com nenhuma hierarquia aparente, são passíveis de estar irados em um momento e
dóceis no momento seguinte. Nenhum dos deuses são semelhantes, cada um tem um papel
diferente. Alguns são relacionados ou têm crianças, outros são bi sexuados ou podem mudar
seu sexo à vontade. Por exemplo, Legba, o mensageiro dos deuses, desencadeia seu
inacreditável poder quando transforma-se literalmente em dois deuses durante um
cerimonial. Neste caso, um sacerdote retorna da dança em um dançarino mascarado grande e
outro pequeno que se põe a girar. Fez-se uma criança? É o comentário alegre de todos os
participantes do ceremonial para este sinal da fertilidade divina, sabem que trará graças aos
seres humanos também. Para comprovação disto, todas as imagens moldadas possuem penis
eretos como símbolos da vitalidade e potência. O Vodou é mais do que uma religião, é uma
maneira de vida que inspirou artistas do Haiti em muitos trabalhos. Depois da segunda guerra
mundial, estes trabalhos chamaram atenção de negociantes estrangeiros que comentaram o
renascimento do Haiti. Dois dos mais célebres destes artistas são o pintor Hyppolite e o
escultor Georges Liautaud. Outros artistas da atual geração são Antoine Oleyant cujas
bandeiras foram inspiradas pelos sonhos e visões de Vodou e Pierrot Barra que, com a
colaboração de sua esposa Marie Cassaise criam fantasias de Vodou com sucatas recicladas. O
renascimento do Haiti é expresso nas modernas telas de Edouard Duval Carrie, cujo
surrealismo captura perfeitamente características do recente pesadelo político recente do
Haiti. O conteúdo escrito desta página, traduzido e condensado pelos webmasters de Luiá,
aqui apresentado fazem parte do acervo do American Museum of Natural History
DIA NACIONAL DOS VODUNS

O Dia Nacional dos Voduns no Benin/África é comemorado em 10 de janeiro. Durante todo o


dia em várias regiões do Benin, o povo entusiasmado se aglomeram nas portas dos templos
executando rítmos, cânticos e danças em louvor aos Voduns. Todas as ruas e vilas são
decoradas com motivos que lembram os ancestrais e os Voduns. As mulheres fazem as
melhores iguarias e os homens preparam o vinho de palma, que serão degustados no decorrer
das festividades. As mulheres usam suas melhores roupas nativas e se enfeitam para agradar
os deuses, os homens tocam os mais variados instrumentos musicais emitindo ritmos divinos e
cantigas regionais que falam da tradição dos Voduns. Nas primeiras horas da madrugada os
sacerdotes e sacerdotisas saúdam e homenageiam Legba, Sagbeto e os Ancestrais,
acompanhados pelo povo. No amanhecer oferecem sacrifícios e presentes aos Voduns.
Começa a festa. Em Ouidah os adeptos de Mami Wata (mães das águas) improvisam altares
nas areias das praias, rios e córregos onde são oferecidos balaios enfeitados com fitas, flores e
presentes para os Voduns das águas. Diante desses altares, o povo canta e dança louvando os
deuses. O ponto culminante dessa comemoração é a hora em que esses presentes são
colocados em pequenas embarcações e levados para alto mar onde serão oferecidos aos
deuses; o povo acompanha todo esse movimento com gritos frenéticos e louvores. Essa data
foi estabelecida após ser proclamada a independência do Benin. O governo constituído por
beninenses elegeu Sossa Guedehouhoungue como
Presidente Nacional do Culto aos Voduns, oficializando assim a religião. Os principais templos
aguardam a chegada de Sossa para dar início os rituais culminantes de comemoraçao ao Dia
Nacional dos Voduns. Sossa se apresenta em praças públicas, onde os adoradores de Vodum o
aguardam para saudá-lo por sua luta em prol da religião. Sossa Guedehouhoungue faleceu em
27/01/2001 e foi sepultado em 25/02/2001 na cidade de Dotou. Sua urna mortuária viajou por
quase toda a África, onde o grande líder recebeu rituais fúnebres como a ultima homenagem
de um povo que tanto lutou para que seus direitos religiosos fossem respeitados. O dia 10 de
janeiro é o marco de uma grande vitória religiosa e Sossa sempre será lembrado como o
grande Sacerdote de Vodum. Comemorar e honrar os antepassados e Voduns, é uma prática
natural para o povo Fon.

O Humgebê

O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje. Ele representa o elo entre o orum e o aiye.
É o fio de conta da vida e da morte, símbolo do próprio céu, do mundo espiritual, invisível e
transcendente. O céu cósmico particularmente em suas relações com a terra. Somente
vodunsis recebem o humgebê. Temos visto ogans e ekedis usando erradamente o humgebê.
Quando o inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o humgebê pois acaba de nascer no mundo
do santo. Quando o vodunsi morre, o humgebê o acompanha. Ele nos liga ao orum, nos traz o
orum e nos leva de volta ao orum. Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente,
algumas casas de Jeje darem o humgebê aos seus filhos somente na obrigação de sete anos.
Cabe aqui uma pergunta de uma velha Doné de Salvador ao relatarmos esse fato: "Oxente!!!!
Vocês no Rio só nascem aos sete anos?". A preparação de um humgebê é igual ou maior que a
feitura de um Vodum, inclui obrigações, currans, zandros, etc. Há necessidade também, de
alguns preceitos de humdemê. O poder do humgebê ultrapassa a mente humana. Ele sempre
nos avisa quando vai acontece algo de muito grave na vida daquele vodunsi ou no kwe. A voz
do humgebê está num grande segredo da nação Jeje. Cada humgebe confeccionado pertence
àquele vodunsi e, em hipótese alguma, pode ser usado por outra pessoa ou tocado. Quando
um humgebê arrebenta, ele tem que passar por todo um processo especial para ser reenfiado.
A confecção de um humgebê segue características rígidas. Deve ter a quantidade certa de
miçangas entre os corais e seu fechamento também é um só. Não se fecha humgebê com
contas na cor do santo do yao e sim como um segui, como temos visto em alguns candomblés.
Também observamos humgebês enrolados no pescoço, atitude que quebra todo o seu
significado sagrado. A quantidade de corais que compõem um humgebê, ao contrário que
muitos pensam, não é fixa. O comprimento de um humgebê varia de acordo com a altura da
pessoa, devendo sempre estar um pouco abaixo do umbigo. Em alguns segmentos Jeje
encontramos o humgebê composto por dois seguis, um no fechamento e outro no meio, o que
também é correto. O humgebê é composto de contas, corais e segui. O coral é a "árvore das
águas", participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas
profundas (origem do mundo). Sua cor vermelha aparenta com o sangue. Segundo uma lenda
grega, o coral teria surgido das gotas de sangue derramado pela Medusa. O simbolismo do
coral tem tando a ver com sua cor quanto com a rara particularidade que tem de fazer
coincidir, na sua natureza, os três reinos: animal, vegetal e mineral. Devemos lembrar
também, do simbolismo guerreiro da cor vermelha. Como símbolo da árvore da vida e das
águas profundas, faz o elo entre a vida e a morte. Sua cor vermelha é o símbolo universal do
princípio de vida, com sua força, seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue. Representa
não a expressão, mas o mistério da vida e da morte. Um lado seduz, encoraja, provoca; o outro
lado alerta, detém, incita à vigilância. Este é, com efeito, a ambivalência do vermelho do
sangue profundo: escondido ele é a condição da vida; espalhado significa a morte. O azul do
segui, é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo,
perdendo até o infinito. É também a cor mais imaterial e fria e, em seu valor absoluto, a mais
pura, à exceção do vazio total do branco neutro. O conjunto de suas aplicações simbólicas
depende dessas qualidades fundamentais. Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas,
abrindo-as e desfazendo-as, desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna. É o caminho do
infinito, onde o real se torna imaginário, um pouco como passar para o outro lado do espelho.
O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e altaneira que é sobre-
humana. É também a cor da verdade. A verdade, a morte e os deuses andam sempre juntos e
é por isso que, a cor azul também é o limiar que separa os homens daqueles que o governam,
do Além, seu destino. Há também um simbolismo de castração, imposição e de um longo
sacrifício, um certo heroísmo, embutido no azul do segui. Como podemos observar, há uma
enorme simbologia religiosa e cósmica no nosso Hungebê
Mulheres na Sociedade Jeje

As mulheres na sociedade Jeje são representadas pela Mãe, ou pela Rainha. Os ministros,
homens que elevam ao trono, elegem a sucessora antes da atual rainha morrer e nomeiam-na
somente após a sua morte, com nome de alguma rainha antepassada muito respeitada.
Geralmente, nomeiam a mulher mais velha do clã. Hoje, fatores como a instrução e a
influência nacional podem vir a frente da antigüidade. A rainha conduz e organiza as mulheres
em atividades sociais como irem ao mercado, manterem tudo limpo e organizado, etc. São
tarefas importantes porque o mercado é um centro social vital para a comunidade. Fora ser
um lugar onde os bens são "trocados"; o mercado é também um lugar de reunião comum. Os
futuros noivos encontram-se pela primeira vez, no mercado. Em tempos de crises, a rainha
mãe orienta as mulheres a irem ao mercado mesmo que apenas socialmente. Quando os
homens vão guerrear, como era freqüente no passado, ou quando iam em visitas à corte real
do Duque, o que fazem ainda hoje, a rainha organiza as mulheres para trabalhos
administrativos. Pela manhã e a noite dirige uma cerimônia religiosa, pedindo proteção para
que os homens voltem em segurança. Posição difícil ocupa a rainha. Extremamente dedicada,
vive com sua vida pessoal comprometida pelas responsabilidade com o clã. Oscilando entre o
prazer, a responsabilidade e os conflitos, tem o encargo maior de ajudar aos aflitos que lhe
procuram, na esperança de solucionarem problemas dos mais diversos. Exerce um papel misto
que vai desde a doçura maternal até o rigor característico de uma líder. No candomblé, não é
diferente. O cargo maior na herarquia religiosa é perfeito para mulheres, até pela sua própria
natureza, pela maternidade. "No contexto africano, as mulheres merecem atenção especial
quando da realização das formas artísticas, visualizadas em sua fertilidade, ora seios
volumosos, fartos de amor e leite, ora o ventre protetor, ora símbolos de sociedades secretas,
enfim a matrilinearidade personificada no poder de criar vidas e conduzi-las até a
ancestralidade". (Jaime Sodré) Ela é a política e o cotidiano. Este arquétipo da mulher, foi
trazido para o Brasil. Muito mais que simples influências biológicas, culinárias, afetivas, etc, a
mulher tem a responsabilidade maior na formação e postura religiosa no candomblé. Essa
responsabilidade e valor feminino remontam à formação do mundo, sempre enfrentando
agressões, até mesmo físicas, com desacatos morais mas, é delas os mais importantes cargos
para a realização corretas dos cultos sagrados. Na África as mulheres reúnem-se em
sociedades secretas de prestígio e poder. Maior destaque devemos dar quando observamos
que a mulher, em outras religiões, tem participação restrita ou proibida. No Brasil, embora
haja a participação masculina, o matriarcado é predominante, um exemplo da soberania
feminina africana. "As mulheres do candomblé são o exercício da liderança religiosa-cultural e
civil a serviço da vida, preparadas e escolhidas para amar, lutar e servir, assim pensou Mawu-
Lissa e assim se fez". (Jaime Sodré) "Podemos ainda acrescentar que, sem o poder feminino,
sem o princípio de criação, não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade
não tem continuidade. Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e da preservação do
mundo: sem a mulher não existe vida, devendo, segundo os mitos, ser reverenciada e
respeitada pelos Voduns e pelos homens'. (Helena Theodoro). Na África, a sucessão de
mulheres nas lideranças dos cultos, dá-se através de um conselho de Bakonons, que jogam e
"anunciam" a nova líder do clã, escolhida pelos Voduns. No Brasil, poucas são as casas que
preservam o modelo cultural africano de sucessão. Política e interesses passaram a frente da
religiosidade, razão pela qual, infelizmente, algumas casas tradicionais fecham suas portas.
HUMBÊ E HUDJÈ

Temos visto, em vários fóruns de estudo sobre a cultura afro-brasileira, muita pessoas
perguntando sobre o que é o Humbê. Temos visto também, explicações que não têm nada a
ver com a realidade do Humbê. Por esse motivo, resolvemos esclarecer esse assunto, dentro
do que nos é permitido. Humbê é o segundo maior segredo da nação dos Voduns, aqui no
Brasil, denominada Jeje ou Djedje. Toda pessoa feita em Jeje deveria receber o Humbê, porém
alguns pai/mães de santo optaram em dar esse fundamento à alguns filhos somente após
esses fazerem por onde merecer recebê-lo pois, como sabemos, infelizmente, as pessoas hoje
mudam de casa, raíz, pai/mãe de santo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
Somente aqueles que percebem a importância, o valor de uma família, de uma raíz, são
merecedores de receber o Humbê, pois esses jamais sairão de suas casas e, principalmente, da
nação Jeje. Não podemos aqui descrever o Humbê, apenas podemos dizer que é um axé
pertencente única e exclusivamente a nação Jeje e que fica muito bem resguardado dentro do
Templo dos Voduns. Já ouvimos e lemos pessoas dizerem que Humbê é o mesmo que Oyè da
nação Ketu, isso é, a expressão "Tomar
Humbê" seria o mesmo que "Tomar cargo". Já vimos inclusive pessoas da própria nação Jeje
fazerem essa afirmação. No Jeje a expressão "Tomar HUDJÈ" é a correta para se dizer que a
pessoa está tomando cargo. Cremos que, o fato da grafia das duas palavras como também a
pronúncia serem muito parecidas, gerou toda essa confusão. Quem passa por um Humdémè,
um Humbê e um Agêuntò, nunca abandona a nação Jeje e jamais revela esses segredos para
alguém, salvo para seus descendentes. Aquele que falar, com CERTEZA não tomou HUMBÊ.

Pano da Costa

Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileira, o


pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do
sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros. Observemos a
profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que atua em tão
diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a
sobrevivencia dos rituais africano. O pano-da costa é assim chamado por ter sido um tipo de
tecido vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do Ouro. O tecido original foi substituido
por outros tipos de tecidos, o que não diminui em nada as funções do panoda-costa. O pano-
da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela naum esteja de roupa de santo completa. A
situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como
símbolo do poder sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado
pelas formas anatômicas características da mulher. O sentido protetor do pano-da-costa é
outro aspecto que merece atenção. As Yaos, ao terminar o período de feitura começam a
travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco,
que representa o prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo
no grande pano-da-costa, procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em
contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros Nos sirruns/axexes, a
mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece guardando
as mulheres das presenças de egum. Amigos, se voces podem encontrar mais informações
sobre o pano-da-costa no livros O Povo do Santo de Raul Lody da PALLAS-Editora e
Distribuidora Ltda. Agora vamos aos meus comentarios. O pano-da-costa é de uso exclusivo da
mulher nos cultos africanos, porque uma das principais funções do mesmo é proteger os orgão
reprodutores das mulheres, das Yamis. Concordo com toda essa parte a cima transcrita do
livro. Nos rituais de sirrum/axexe as mulheres usam dois panosda-costas branco: um
protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo
e seios. O autor fala sobre o uso de tiras amarradas na cintura pelas mulheres com obrigações
de 7 anos e pelas ekedes. Bem ai eu discordo. Primeiro se tem que ser usado na cintura, então
que seja um pano-da-costa enrolado e não uma tira de pano como muitas usam. O pano-da-
costa deve ter no minino 60 cm de largura para que possa proteger os orgãos que necessitam
de proteção. As famosas mães de santo não usam o pano- da -costa na cintura nunca. Aqui no
Rio de Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade de
santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta errado, pano-da-
costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura, quando muito,
pode-se enrolar até abaixo dos seios. Eu mesmo muita vezes coloco meu pano-da-costa na
cintura, mas coloco-o aberto e não enrolado e nunca o uso assim em candomble. De alguns
anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o
porque de usalo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino.
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da
costa amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou amarrado
para tras, ou simplesmente ficam com o peito nu adornados pelas conta e brajas. Em algumsa
casa encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta errado. As abians
ainda não tiveram seus pontos de energias abertos durante uma feitura, portanto as mesmas
não necessitam dessa proteção ainda.
ATINS

Atim no dialeto Ewe/Fongbe quer dizer árvore ou madeira. No Brasil, essa palavra é usada para
definir porções mágicas usadas pelos vários segmentos do Candomblé. Essas porções mágicas
são mais uma das heranças que nos deixaram os africanos que trouxeram seus deuses para o
novo mundo. São compostas de ingredientes vegetais, minerais e animais, usadas para várias
finalidades. Os chamados "atins de feitura", tem como finalidade purificar o corpo físico do
iniciado e ao mesmo tempo facilitar o transe. Os africanos acreditam que, quanto mais
djasi(djassi) eles passarem no corpo, mais aumenta a força de seu Vodum no transe. A
diferença no uso dessas porções no Brasil e na África, é que aqui são usadas somente durante
os rituais interno e na África são usadas em público, isto é, durante os rituais e festas é
colocado um recipiente contendo porções mágicas que os vodunsis passam com abundância
em seus corpos quando os Voduns começam a manifestar-se em seus filho. O djasi é muito
usado em algumas regiões do Benin. Consiste em uma pasta feita com farinha de milho, óleo
de palma e ervas sagradas. Os Ata (atá (gengibre)), atakim (ataquim) , makun (mácum
(sementes)), nhido [(nidô), nhifo (nifô) e nhijou(nijou) elementos animais], nhijou toubome
(nrijou-toubômê (manteiga do reino)), nhizou (nizou )chifre)), yicca (iicá (mandioca ralada e
seca)) e o zume (zumê (matos e folhas)); são alguns dos gris-gris(glisglis (ingredientes para pós
mágico e amuletos)) vendidos nos mercados de todas as cidades no Benin. Os
Gbokonans(bôcônãs), os Akpagans (apagans) e as Dehes (dérés) são alguns(as) dos sacerdotes
responsáveis pela fabricação dessas porções mágicas. O Akpagan é uma espécie de médico
curandeiro que conhece as propriedades terapêutica de todos os gris-gris. Existem ainda aos
porções mágicas denominadas "Zoha (zorra)", pós mágicos usados para feitiços. São
preparados pelos sacerdo-tes e adivinhos que os usam para afastar pessoas, desocupar casas,
desmanchar feitiços, etc. A zorra é um poderoso elemento quando bem feito e usado.
Devemos lembrar que, feitiço, não é sinônimo de maldade ou coisa ruim. No feitiço, também
encontramos a cura para doenças e a solução para vários problemas. Finalizando, concluímos
que os chamados atins são mais um recurso utilizados por nós e por nossos deuses para um
intercâmbios maior entre nós e eles, como também para a solução de vários problemas.

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