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Sumário
1 - Introdução
1 - INTRODUÇÃO
São tantas as versões sobre as origens da Maçonaria que isso justifica uma grande
dificuldade para situá-la numa posição. Em primeiro lugar, parece-nos que aqueles que a
situam na Inglaterra, ou na França fazem uma pesquisa menos profunda e não se adentram
na Maçonaria Real, esotérica e só apanham poucos aspectos históricos da instituição, numa
visão superficial. Deslumbram-se com a Maçonaria esotérica, exterior, e sem intuição
filosófica, anatomizam a instituição nos seus objetivos visíveis e mais superficiais.
Só pode entender o que é Maçonaria quem entende sua filosofia, ou a rigor quem é
conhecedor das filosofias orientais, todo teístas, quem a procura nos contextos culturais
variados onde ela assume uma fisionomia particular embora mantendo sempre uma
perspectiva do universal.
Maçonaria é universalismo no melhor sentido do termo, que reúne diferenças étnicas,
religiosas, sócio-culturais, idiossincrasias raciais e de ordem psicológica numa convivência
criadora da tolerância, sua grande virtude. Daí que aceita grupos religiosos diferentes no
seu seio, livros sagrados diversos conquanto que se mantenham um único postulado
filosófico e também tornando dogma da instituição: a crença em Deus, seja elea sua forma
cristã ou outra forma monoteística. Mantém um idiossincrasia contra o politeísmo e
sustenta, por coerência, uma antítese, p. ex., com Marxismo histórico e dialético.
2. origem na Inglaterra
4. origem da França
5. origem na Suécia
6. origem na China
7. origem no Japão
8. origem em Viena
9. origem em Veneza
Para nós, não se trata apenas de um movimento característico do século XVIII, podendo
suas origens ser pesquisadas em Platão e na Bíblia.
O Primeiro, em TIMEU (69) fala do "O FOGO" do olho... fogo interior que brilha fora
como se fosse um relâmpago", e, na REPÚBLICA (508) escreve que "A luz e a visão se
parecem com o sol , a ciência da alma é como a luz para os olhos cegos". Também in "Carta
7ª" (341).
Na Bíblia (salmos, XXXVI, 9), está expresso: "Porque em ti está o manancial da vida: na
tua luz veremos a luz".
Paulo (Ep. Ef., 6,9): "Porque o fruto da luz consiste em toda bondade e justiça e
verdade".
Depois, em Santo Agostinho, aparece uma teoria da Iluminação. Nos "solilóquios" (P.L.
XXXII, col, 877), compara Deus ao sol dos espíritos. A sabedoria seria um processo de
iluminação ao Divino.
Depare-se, portanto, uma "Ilustração" antiga e outra moderna. R. Jolivet (Deiu, Soleil
des esprits) reúne os textos agostinianos sobre o problema, e F. Cayre ( Les sources de
l’amour divin) caracteriza a iluminação como "Líntuition des primiéres idéias, en tant
quélle est une participation à la lumiére de Dieu".
Baseando-se na chamada "Lei da Natureza" , diz que a liberdade está contida entre "os
poderes humanos", ao lado do próprio corpo, a inquietude, o entendimento, a lei positiva, a
sociabilidade.
Conceitua, ademais, a liberdade como o fato moral, de modo idêntico a Kant, filósofo
alemão.
Outra definição importante do autor é a lei, como meio para se atingir a felicidade. Daí
que a liberdade pode coexistir com a lei - como exigências da natureza humana.
Se a liberdade é algo inerente à natureza humana que como tal deve ser respeitada, no
entanto o filósofo fala também da imperfeição humana: "essas pobres criaturas finitas",
pois o homem pela liberdade está sujeito ao bem e ao mal.
No segundo caso, ela propugna, a começar com o juramento da crença em Deus e no ato
iniciatório, pelos atos esotéricos e litúrgicos de suas reuniões.
Poder-se-ia dizer talvez que a Maçonaria teria ocorrido, ao longo de sua história,
principalmente neste século, algumas dissenções, sempre de caráter político ou
administrativo, mas nunca de natureza doutrinária, a ponto de ferir seus postulados morais,
religiosos e finalmente filosóficos. Dai dizermos com justa razão que a Maçonaria constitui
em perfeito sistema ecumênico, onde não há diferenças doutrinarias, ou mesmo liturgias de
importância.
Na língua grega existiam duas formas "êthos" = conduta caráter; e "ethos" = costume.
Essa polivalência do termo grego não encontra tradução na língua latina, sofrendo então em
empobrecimento semântico, uma vez que persistiu apenas o segundo sentido, embora tenha
havido sempre intuição do segundo sentido.
O conceito grego tem uma longa história com a conotação de "modo de ser", que se
revela geral em nível dos sentimentos, como "pathos", no qual a vontade seria relevante.
No sentido do costume estaria num nível mais elevado, e, finalmente no nível do "caráter"-
algo conquistado na própria experiência pessoal.
ARISTÓTOLES valoriza a moral de tal modo que lhe dedica três obras, onde seu
conceito de ciência máxima moral" se torna o fundamento da política - "a ciência máxima
ordenada".
Assim, tanto a moral quanto a política são ordenadores do supremo bem. Não havendo
portanto distinção do objeto entre elas.
É o conflito e sua superação, entre o que Bergson chama de Moral "aberta "e moral
"fechada".
Recaséns Siches (filosofia do Direito, 403) argumenta, por sua vez, que, "se a justiça e os
demais valores jurídicos fossem meramente reais, do psiquismo, puras realidades
psicológicas, resultaria com referência a uma questão determinada, cada um deles se
fundaria no fato de sua própria consciência subjetiva; e como não houvesse uma estância
superior a ela... haveria que reconhecer que cada uma deles estaria justificando uma
opinião".
Tão importante é a "consciência moral", que o maior Teólogo moral do nosso tempo que
é BERNARD HAERING (A lei o Cristo, I, 201) diz que "A fé não suprime a consciência
torna-se, ela própria, um foco de luz. São Paulo de um" testemunho da consciência no
Espírito Santo (rom. 9.1)". Daí que "agir segundo a fé ou segundo a consciência é, para o
cristão, a mesma coisa. Consciência e fé agem em íntima conexão: a fé aclara a consciência
moral e a "boa consciência" protege a fé. O mistério da fé se encerra numa "consciência
pura" ( 1 Tim. 3.9).
A LEI MORAL
KANT, na Crítica da Razão Prática (conclusão) estabelece a dicotomia leis naturais e leis
morais, nesta bela construção estética:
"Duas coisas dão ao espírito crescente admiração e respeito, veneração sempre renovada
quanto com "‘thos" e "êthos", esclarecendo que "Mos" pode significar duas coisas: costume
e virtude moral, inclinação natural".
Propondo soluções, o autor diz que "a objeção é válida dando "mos" o significado de
costume e que todo ato de virtude pode fazer-se por eleição e que finalmente o mover-se
como por natureza a conformar-se com a razão é próprio das virtudes que radicam na parte
apetitiva".
SUAREZ (De legibus ac Deo Legislatore, VI, 1) emprega o termo "mos" no sentido de
prática, a qual ocorre nos atos livres, distinguidos o "costume de direito" do "costume de
fato".
Mas em verdade a própria Bíblia já mostrava sua identificação com a caridade: algo que
se exterioriza.
A CONSCIÊNCIA MORAL
No primeiro caso, procuramos interpretar. e temos as leis estéticas com essa conotação,
tais como as gramáticas, as morais, as jurídicas.
O grande Teólogo moderno HAERING (A Lei Moral, 1, 297) define a lei moral desse
modo: "Uma norma moral é ou não uma coação arbitrária contra a liberdade humana. É um
apelo que, partindo do objeto, dirige-se à liberdade. É um convite imperioso no sentido de
se preservar a liberdade". Fazemos desta definição genial a nossa opção.
A CERTEZA MORAL
A certeza moral não se caracteriza pelo rigor da certeza lógica, e nível de demonstração,
mas supõe noutras fontes de convicção, como a intuição e a fé.
DESCARTES (Principes, par. 205) conceitua a certeza moral do seguinte modo: "Mas
néanmoins, a fim que se ne fasse point de tort à la vérite, en la supposant moins certaine
qu’elle n’est, je distinguerai ici deux sortes de certitudes, La prémiére est appelée morale,
c’est-àdire suffisante est pour régler nos moeurs, ou aussi grande que celle des choses dont
nous n’avos point coutume de douter touchan la conduite de la vie, que nous sachions qu’il
se peut faire, absolument parlant, qu’elles soient fausses" (oavres, Pléiade, 949).
KANT aceita a certeza moral com fundamento na "razão prática" (praktischen Vermunft)
é na fé (Glaube).
Leibiniz (Nouveax Essais, IV, 16) fala de uma "principium cettitudinis moralis".
O grande teólogo Ataual Bernhard Haering (A Lei de Cristo, vol. I, Editora Herder, trad.
S. Paulo, 1064) aborda os graus de certeza e da incerteza, dizendo a respeito da "certeza
moral" que ela "exclui toda dúvida razoável" e que "basta para uma decisão prática e
dissipa toda dúvida, mas não exclui completamente a hipótese prudente de um erro". (p.
233).
E outro alemão do gênio, o filósofo Peter Wust (Incerteza e risco estabelece uma
hierarquia da certeza, que vai da certeza matemática, passando pela certeza moral, para
chegar à certeza matemática.
MORAL E MORALIDADE
CONCEITO DE DURKHEIM
A religiosidade, a moral e o direito são vistos na sua obra numa perspectiva cientifica
rigorosa, a mais rigorosa e sistemática de seu tempo, numa coerência metodológica
relevante.
Distinguindo uma moral aplicada, social, concreta, da mora teórica, diz que aquela é "a
lei que se encontra nas principais combinações e circunstâncias da vida".
A moral teórica ou a lei geral da moralidade vale como esquematização mais ou menos
aproximativa da realidade, mas não é a realidade mesma, pois "jamais um código, uma
consciência moral foi reconhecida ou sancionada, nem imperativo moral de Kant, nem a lei
do útil formulada por Betham ou Spencer" (op. Cit. p. 22).
Não nos parece, como a outros, que o sociólogo francês incidida propriamente no
sociologismo, uma vez que declara que "o domínio da moral começa ai onde começa o
domínio social".
Durkheim considerou a análise de Kant, através dos fins, mas em fins coletivos. E passa
a exemplificar belamente quando diz que "A caridade só tem valor como sistema ou
sintoma dos estados morais de que ela é solidária"... e quando nossa consciência fala é a
sociedade que fala em nós, porque a sociedade é o tipo e a fonte de toda a natureza moral"
(p. 74-76).
CONCEITO DE BERGSON
A existência psicológica da moral pode ser constatada, p. ex. na "angustia moral", que é
uma perturbação das relações entre o eu social e o eu individual"(Oeuvres, p. 988).
Distinguindo entre a moral fechada e a moral aberta, escreve que esta tem como exemplo
a "moral evangélica"— fenômeno psicológico, interiorizado sendo a primeira tipificada nos
hábitos e convenções sociais.
Finalmente, a moral bergsoniana é uma moral concreta, empírica, e não moral teórica, o
que implica na aceitação da moralidade.
A moral fecha seria a expressão do grupo tribal seja ele primitivo ou civilizado, ou seja
da parte inferior da nebulosa, enquanto a moral aberta representaria a intuição.
Mas como é difícil encontrar quaisquer das duas formas puras, pois pode haver mistura
ou um pouco de uma outra ou noutra, melhor dizendo, prosseguiria o esforço humano
heróico ao sentido de tornar universal os ideais e a ação correspondente.
Quanto mais a moral é dinâmica, aberta, criadora, libertadora, mais é ela intuição e não
instinto ou pressão.
A liberdade concreta e a justiça social, segundo nos parece, só seriam possíveis numa
vivência de "moral aberta".
Assim é que o autor destaca já naquele tempo, como puro filosofo que é que "a sociedade
é interior ao indivíduo", quando o comum é dizer-se que ela é exterior, "devendo-se evitar
no social a pura influência exterior" (p. 103).
As reações, p. ex., dos grupos políticos e religiosos do Iran, da Irlanda, para referirmos a
experiências no mundo ocidental atual, seriam uma expressão de "moral fechada". Portanto,
vê-se que há o preconceito de superioridade de cultura ocidental de julgar-se superior à
outras culturas, orientais e africanas, classificadas como "primitivas", o que está
perfeitamente superado em antropologia.
A "moral fechada" é infra-racional, operando mais como relação grupal como instintivo
de defesa. A "moral aberta" é transracional, baseada no "apelo", na inspiração, eu a leva
cada vez mais a dilatar-se, a abranger grupos diferenciados, tolerantes e universalizados nos
seus ideais e tentativas de realização.
De qualquer modo, tanto uma quanto outra não são justificadas pela razão, uma vez que
são "infra" ou "supra" racionais, o que levou o autor a considerar a "moral bergsoniana"
como uma moral baseada no sentimento, o que nos parece insuficiente.
A moral cristã, p. ex., é uma moral aberta, universal, em tese se bem que através do seu
rótulo persistam as intransigências e preceitos da "moral fechada" de muitos grupos
religiosos.
A "moral aberta" cujo modelo ideal é o Cristianismo dos Evangelhos. E não o das normas
estereotipas, sincréticas, existentes e até denominadas cristãs, civilizadas, liberais,
democrativas, preconceptualmente superiores, mostra a dialética de um conflito
permanente, na ascensão evolutiva, com as habituais, "morais fechadas".
A investigação sobre uma moral concreta ou moralidade não pode dispensar os resultados
da psicologia experimental atual, nos setores específicos do desenvolvimento, da nova
teoria da percepção e da psicolingüística.
Seria necessário então aproveitar o que era valido em toda a perquirição filosófica,
enriquecendo entretanto com a contribuição das ciências sociais, da sociologia com seu
novo conceito fundamental da interação (reciprocidade de influência de indivíduo e
grupos), procurando superar aquele conceito abstrato de sociedade do positivismo,
analisando o social de preferência na concretude do microgrupo o ponto de vista da
pesquisa, e não mais no macrigrupo um tanto incaracterístico, analisando também a
contribuição da psicologia experimental com seus novos estudos da percepção, da
aprendizagem e da linguagem, para captar o sentido novo da internalização: ponto
fundamental sobre que considerar para uma fundamentação psicossocial da moral.
Daniel M. Wegner (Desenvolvimento da Moralidade, editora Brasiliense, S. Paulo,
1978), procede uma interpretação psicanalística da moralidade que nos parece de suma
importância.
Por outro lado, segundo a nova teoria da aprendizagem, sendo todo comportamento
aprendido, e mais de acordo com a teoria de Piaget, a moralidade é algo social, não
havendo passividade do sujeito em face do seu grupo (e daí a não redução simples do moral
ao social) em que "uma pessoa pode rejeitar padrões morais convencionais tendo como
base seus próprios princípios éticos".
CONCEITO DE DEWEY
Johm Dewey (Human nature and Conduct, p. 170) estabelece uma equação entre moral e
social, afirmando que "o indivíduo chega a ser moral conforme participa neste mundo e
ocupa seu posto devido nele, sendo o grau de sua moralidade o de sua participação".
CONCEITO DE GURVITCH
Georges Gurvith (Morale thérorique et siences des Moeurs) procura justificar, início, o
problema da disciplina moral e seus "vícios lógicos aparentes das morais teóricas
históricas", incluindo pela "eliminação da moral teórica em proveito da ciência dos
costumes ou da sociologia de vida moral".
Segundo ele a experiência moral tanto é uma experiência dos ideais quanto do real,
superando o empirismo quanto o apriorismo, o que justifica concluir que:
a) "A moral teórica é possível enquanto disciplina filosófica que não constrói nem
prescreve nada, abstendo-se de juízo de valor e limitando-se aos juízos da realidade;
b) "A moral teórica só é possível uma experiência moral especifica, como suas próprias
certezas;
c) "A moral teórica é possível sem conflito com a sociologia da vida social, podendo haver
colaboração entre ambas".
Um autor moderno, A Sanchez Vasquez (Ética, 52) procura definir a essência da moral,
distinguindo-lhe dois aspectos: o normativo e o factual, confirmando os pontos de vista dos
autores anteriormente abordados.
Sendo a moralidade um componente efetivo das relações humanas concretas, passaria ele
a integrar a existência tanto individual quanto social.
b) regula somente atos e relações que acarretam conseqüências para outros e exigem
necessariamente a sanção dos demais;
Temos observado, no decurso da evolução dos estudos sobre a moral, apurado o diálogo
interdisciplinar, quando a ética definiu suas relações de fronteiras com a Psicologia, a
Antropologia, a Sociologia, a Psiquiatria, a Ciência da Comunicação, com os profundos
progressos obtidos nas suas análises, a tendência para que a moral não fosse abordada
apenas no seu aspecto tradicional, teórico e abstrato e adquirisse uma conotação precisa no
contexto sociocultural refletindo a interação social básica.
Assim nos parece superada a distinção de caracterização da moral como algo puramente
individual e subjetivo em posição ao direito p. ex., que seria objetivo e social.
Outro grande politicólogo atual, Ernst S, Graffithm sustenta que "A democracia está a
depender de requisitos prévios culturais as chamadas sete atitudes básicas, que são: amor à
crença na liberdade, participação na vida comunitária, integridade do debate, obrigação
assumida livremente pelos grupos econômicos de servis à sociedade, liderança em função
do interesse público, paixões canalizadas para fins construtivos, finalmente a amizade e a
colaboração entre as nações".
DOS CARISMAS
Não há nada mais comovente que o Capítulo referente aos Carismas, enumerados por
São Pedro, na Bíblia. E também de mais profundo, os olhos dos teólogos, ou dos psicólogos
e metapsiquistas: defrontar-se com essas aptidões, esses dons, de que se investem e
revestem certas personalidades, tornadas estranhas e sedutoras na convivência dos mortais.
4 - Lámata - curas;
5 - Energémata - Dom dos milagres;
7 - Diakrises - discernimento;
10 - Diakonía - ministério.
O Apóstolo Marcos define o Carisma como algo concedido pela Graça, portanto algo
sobrenatural, caracterizando-se como "uma efusão do Espírito Santo, um sinal da era
messiânica (16, 17).
O carisma tem sido preocupação dos grandes espíritos da humanidade. Platão nos fala de
"o fogo do olho... fogo interior que brilha fora como se fosse um relâmpago"(Temeu 69), ou
como "A luz e a visão que se parecem com o sol, a ciência que é luz para os olhos cegos"
(A República, 508).
David (Salmo, 34,9) disse "Porque em ti está o manancial da vida, na tua luz veremos a
luz: Mateus (6,22) fala nos "olhos que são lâmpadas do corpo". E finalmente Paulo
(Epistola aos Efésios, 6,9) tenta descrever: Porque o fruto da luz consiste em toda a
bondade, justiça e verdade:
DO AMOR
Eis o maior dos carismas, objeto então das mais belas páginas da estética literária na
Bíblia.
Destaque-se o estilo, sua beleza, a alta expressividade do Hino à Caridade, de São Paulo,
e, "I Coríntios" (13).
"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos se não tiver amor, serei como o
bronze, ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o Dom de profetizar e conheça
todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar
montanhas, se não tiver amor, nada serei. Ainda que eu distribua todos os meus bens entre
os pobres, ainda entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada
disso me aproveitará, o amor é paciente, benigno, não arde em chamas de ciúme, não se
ufana, não se orgulha.
Não se conduz inconvenientemente, não procura os interesses, não se exasperas não se
ressente do mal.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba. Mas, havendo
profecias, serão aniquiladas, havendo línguas, cessarão, havendo ciências, passará".
Para completar a beleza formal da citação acima, temos presente a sutileza da citação
joanina (15,13): "Ninguém tem maior amor que aquele que deu a vida por outrem".
Sendo o amor maior carisma, é dele que devemos partir para enfrentar sua posição
contexto humano, na problemática angustiosa da imperfeição humana.
O primado do valor amor surge da palavra de Isaias (1,18), ao dizer que "ainda que os
vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que
sejam vermelhos como o carmesim tornar-se-ão como a branca lã".
O termo Fé: hebraico "emunã", grego "pisitis", latim "fides", alemão "glaube", inglês
"faith", francês "foi italiano" "fide", é referido explicitamente duas vezes no Antigo
Testamento:
A) Deutrorônio (32,20): "E disse, esconderei o meu rosto deles, de perversidade, filhos em
quem não já liberdade".
B) Hebacuque (2,4): "Eis que a sua alma se incha, não é dele, mas o justo pela sua fé
viverá".
As formas verbais que expressam o sentido da fé são: crer, acreditar, confiar, esperar. Vê-
se portanto que a fé é também esperança.
b) A fé como "aceitação da boa nova" - Paulo, Ep. Rom. 1,8;10,17; I Cor. 25; 15.1.
a) "pisteu" como dativo simples dar crédito, aceitar como verdade o que se afirma: Mat.
21,31: "porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao
passo que publicanos e meretrizes creram".
b) "pisteo" seguido de "que": a fé depende de fatos: João, 8,24: "Por isso eu vos disse que
morrereis nos vossos pecados";
c) "pisteo" seguindo da preposição "eis" = crer dentro em Cristo: João, 15,5: "eu sou a
videira, vós os ramos". Quem permanece em mim, e eu nele, essa dá muito fruto: Porque
sem mim nada podeis fazer";
d) "pisteo" no sentido de "curar": Marcos, 9,23: "tudo é possível àquele que cre".
Menciona a seguir as seis definições da Fé, onde ressalta que a mais perfeita é a de São
Paulo "Argumento das coisas não vistas"(ibidem q.4.a.1), na qual se inclui "objeto da
esperança".
Santo Tomás, ainda, responde que "A fé é superior a elas em certeza e em razão de sua
matéria, pois versa sobre coisas eternas, que não podem mudar", sendo que "as três
restantes - sabedora, ciência e entendimento - versam, segundo a prova, sobre coisas
necessárias". Assim, a certeza dependeria da graça.
E ao ouvir a "Opus 111" de Beethben, com o grande pianista Clynes ao piano, sentia uma
alegria transfiguradora, uma experiência mística. O próprio Beethoven dissera: "Quem
compreende esta música está salvo".
Escrevendo in "Como eu vejo o Universo", (p.99), disse o seguinte: "Se o judaísmo dos
profetas tal como Jesus Cristo o ensinou lhes retiram os acessórios, em particular os
sacerdotes, fica então uma doutrina em condições de curar a humanidade de todas as
enfermidades".
Sua experiência religiosa não se reduz a uma simples estesia do universo físico - uma
visão panteística - porque admitia que "Tudo está determinado, do princípio ao fim, por
forças sobre os quais o homem não possui controle algum, do isento à estrela, e que os
seres humanos, as plantas ou o polvo cósmico, tudo dança numa música misteriosa".
A experiência religiosa apresenta assim várias dimensões, sempre como algo que temos
ou tem tocado os maiores espíritos da humanidade. Sua universidade e objetividade são
incontestáveis. Das crenças e do conhecimento mais recente da experiência religiosa
oriental e africana, impõe-se pesquisar as potencialidade do psiquismo humano, a "pistis
sophia" e sua eficácia na solução dos problemas humanos.
5.3 - É sociedade litúrgica secreta (esotérica) com aberturas como sociedade esotérica
(exterior, aberta, social, comunitária) e, que, cumpre deveres morais e sociais de fidelidade
e beneficência.
Sumário
1 - Fundamentação
2 - A ordem cósmica
6 - A ordem metajurídica
7 - A ordem dos espíritos
1 - Fundamentação
A ordem está tanto na imanência quanto na transcendência: ordem das coisas, ordem da
inteligência, ordem do coração - valores projetados nos diversos planos do homem.
O modelo da ordem maçônica é o dístico da "recta ratio" (a reta razão) que é a marca do
equilíbrio, da harmonia, que deve caracterizar o verdadeiro homem maçônico após o
juramento iniciático.
Há uma ordem de prioridade, uma ordem estabelecida pela razão, pelo discernimento,
uma ordem dos meios e uma ordem dos fins, e finalmente uma ordem da execução porque a
instituição constrói um sistema construtivo, que se torna visível no plano da solidariedade
humana, da fraternidade, da ajuda mútua.
A nossa pesquisa, nas línguas orientais que temos estudado, e nas fontes históricas das
culturas hebraicas, persa, árabe, grega, hindu, e, posteriormente, germânica e romana, nos
demonstra uma predominância (aqui já como expressão da cultura ocidental) da primeira. A
Linguagem hebraica e os nomes próprios ou personagens dos altos litúrgicos iniciáticos dos
graus filosóficos da Maçonaria se encontram na Bíblia no Antigo Testamento, e mais
recentemente as novas pesquisas reveladas na Enciclopédia Hebraica, da Universidade
hebraica, de Jerusalém, comprovam a existência de um período áureo do povo judeu por
ocasião da dominação da Babilônia, com dez universidades funcionando ( a ordem das
universidades não é portanto da Idade Média e nem elas tiveram sua primeira origem em
Bolonha Paris).
Vê-se, assim, que o lema mais alto da Maçonaria "ORDO AB CHAOS" (Latim certo e
não forma divulgada: "Ordo Ab Chao", sem o "s") é de motivação da cultura hebraica,
vétero, testamentária e neo testamentária, evoluindo do conceito de ordem cósmica até
chegar ao conceito de ordem espiritual, aqui precisamente na versão cristica.
2 - Ordem Cósmica
A ordem cósmica é nas leis naturais, as quais, segundo LOUIS ROUGIER (2) (Traité de
la Connaissance) podem ser classificadas em cinco tipos:
Exemplo de lei cósmica assume de preferência o sentido de lei geral de natureza física e
não de lei física local. HENRI POINCARÉ pode resumir, em termos matemáticos, como
"uma equação diferencial".
E essa ordem cósmica se apresenta tão perfeita que se traduz como "sinfonia sideral";
inspiradora portanto ao homem das demais ordens.
3 - Ordem Axiológica-social
A verdadeira ordem social não é amorfa, na qual se percebe o sentido das interrelações.
A vida social é um tecido de relações complexas, cujo sentido se torna transparente aos
que "têm olhos de ver" os intuitivos de toda sorte, nos planos filosóficos, teológico,
estético, ético moral e jurídico.
Na massa amorfa dos acontecimentos, das pressões e dispersões, de tudo que conspira
contra a tranqüilidade e a concentração, há alguém capaz de captar o sentido das interações,
descobri-lhes a teia sutil de causa e efeito, o significado e ter a capacidade para atribuir-lhes
valorações cada vez mais positiva e criadoras.
O "nervo" do social passa a ser então procurado de preferência, pelos sociólogos atuais,
no microgrupo, e não no macrogrupo ou na massa. A essa conquista da sociologia empírica,
experimental, atual, se somam os novos juízos dos antropólogos sobre as culturas,
vencendo o preconceito originário de uma cultura única determinada, tida como superior ou
universal e que então imponha um modelo de avaliação absoluta, sem capacidade a
estabilidade de seus suportes que eles residem.
4 - A Ordem Moral
A existência dessa ordem moral pode ser testada a cada momento por tudo que a aflige.
É tão evidente essa ordem moral que ela contesta às vezes a ordem exterior, social, dos
grandes números, e tanto mais legitima, quanto capaz de influir nesta última, como está
presente nos Santos e nos Heróis.
BERGSON fala com eloquência e justeza ao mesmo tempo de uma "moral aberta" em
contraste com uma "moral fechada", na sua obra "Les Deux Sources de la Morale et de la
religion". (3)
O filósofo escreve estas páginas profundas, admiráveis, sobre criação e amor, que estão a
base de uma religião dinâmica e de uma moral aberta, causas da ordem moral autêntica:
"Remarquons qu’ne émotion d’ordre sopérieur se suffit à ellemene".
Há uma série de valores que justificam a existência de uma ordem moral, vividas
pessoalmente ou pelo grupo social.
Há uma série de círculos interpenetrantes, de que uma deles é o jurídico, de modo a não
ser realista o isolamento de um deles. Sua existência formal não exclui a materialidade de
que se contém nos outros círculos.
Max Weber, que não é jurista, mas precisamente um sociólogo do direito, seu fundador,
define a ordem jurídica como "o conjunto de regras empíricas que contribuem para
determinar ou orientar a atividade humana, segundo uma finalidade (4)".
Luís Recasens Siches (5) por sua vez a define como a "ordem social, de vinculação entre
as pessoas".
Garcia Maunez (6) conclui que "a ordem jurídica não se identifica com o conceito
corrente, a ordem jurídica é uma ordem concreta, não se confundindo com o conceito
comum, convindo salientar, para esclarecer, que o sistema normativo é apenas um elemento
de ordem jurídica, estando sua eficácia na efetiva realização dos valores de seu sistema
normativo".
A maioria dos autores teria identificado a ordem jurídica com o sistema normativo, o que
não ocorre com o autor acima. Há um critério ordenador de cada ordem normativa. E esta é
de várias espécies: jurídica, moral, religião, os convencionalismo sociais, etc. Mas em
qualquer delas existe um condicionamento teológico.
(3) - BERGSON, H. - Les deux sorces de la morale et de la religion, pp. 1024 e 1191.
Helmut Kuhn (7) estabelece uma distinção entre ordem técnica e ordem normativa, esta
submetendo a conduta e um sistema de normas sobre a realização de valores. No particular
inexiste diferença entre os dois últimos autores.
A nós parece que é na realização dos valores que se pode identificar se uma ordem é
jurídica, ou não, ou metajuridica. Neste último caso, haveria, uma espécie de infiltração na
ordem jurídica, existente de elementos captados por intuição intelectual, ou emocional, a
enriquecer e matizar o sistema.
6 - A Ordem Metajurídica
Há fatos, normas e valores que justificam a existência de uma ordem metajurídica: o
amor, a fé, a esperança, a previsão, a paz interior, a verdade, a sinceridade, a liberdade e a
justiça.
Uma ordem que inclui nas outras ordens humanas: social, política, econômica, jurídica.
Não há ordem fechada definitivamente a essa influência.
Pesquisando sobre a linha evolutiva dos conceitos de uma ordem metajurídica, podemos
situar o ponto de partida da BÍBLIA, em Mateus 7,12: "Tudo quanto, pois, quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei, os profetas".
ORÍGENES (8), nos seus famosos comentários ao "Cântico dos Cânticos" de Salomão
(ed. Baerens, t. VIII, 52/53; Com. Livro, III, 7, ibid. 186), tece a admirável doutrina
clássica da "ordo amoris".
O texto bíblico é verdadeiramente uma apoteose de amor "Eu sou a rosa de Sarom o lírio
dos vales. Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amiga entre as filhas. Qual a
macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos: desejo muito a sua
sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar. levou-me à sala do
banquete, e o seu estandarte em mim era amor... Pomba minha, que andas pelas fendas das
penhas, no oculto ladeira, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é
doce, e a tua face aprazível". (Cântico dos Cânticos (2) (9).
A ordem da caridade (ordo amoris) é assim definida: "Donde me parece que a definição
breve é verdadeira da virtude é como é a ordem do amor". (Unde mihi videtur quod
definitio brevis et vera virtutis ordo est amirs, De Civ. Dei. XV).
Desenvolve essa doutrina, concluindo no livro XIX, 14, que a "ordem do amor" tem
como fundamento a seguinte: "não prejudicar a ninguém, ser útil o quanto possível ao
próximo, eis a grande regra de Mateus, VIII, 12: não faças a outrem o que não queres que te
faças".
A "ordo" é um "genus" que Santo Agostinho utiliza para representar uma operação
racional: todos os seres são ordenados.
E se define como "ordo est parium dispariunque rerum seu cumque loca tribuens
dispositio (De Civ. Dei, XIX), ou seja "A ordem à disposição que atribui as coisas os iguais
e desiguais o seu lugar certo".
O Bispo de Hipona é assim o autor de uma teoria sobre a ordem do amor, na Idade
Média, que irá ser utilizada pelas Escolástica e irá sugerir aos modernos como PASCAL,
BERGSON, SCHELER e NICOLAI HARTAMANN os grandes desenvolvimentos de
novos conceitos sobre a construção de uma ordem supracional, emocional, exilógica, numa
tentativa de superar a moldura puramente racionalista.
PASCAL, "Les Pensées" (11), "Oeuvre Complétes Pléiade, 1954) retoma o fio de
pensamento clássico e faz uma construção conceitual própria rica de exemplificação,
cultivando o Eesprit Geomótrique e ao mesmo tempo o Eesprit de Finesse. que são
construções mais que racionais porque ultraracionais".
O autor tece páginas de rara estesia, sobre a graça e a lei, e sobre as três ordens de coisas:
a da carne, a do espírito e a da vontade: "os carnais são os ricos e os reis, cujo objeto é o
corpo; os curiosos e eruditos, tem por objeto o espírito, a criação puramente intelectualista
são sábios, contudo, tem por objeto a justiça"(1303).
Com base nessa "lógica do coração" é que o autor constrói a ordem da justiça universal e
a ordem da caridade.
a) a ordem do corpo
c) a ordem da caridade.
A ordem do corpo, à materialista, é formada pelos ricos e pelos reis, que só vêem as
coisas e interesses materiais. A ordem intelectualista ou racionalista, e dos eruditos, só têm
a curiosidade pelas coisas, indo às vezes à inteligência pela inteligência. Mas a ordem da
caridade, à "ordo amoris", é a dos verdadeiros sábios e justos, que não pode ser vista pelos
ricos, pelos reis, pelos capitães e pelos eruditos, e que é a ordem da justiça universal e da
caridade:
- "La grandeur des gens d’esprits est invisible aux riches, aux capitaines, à tous ces grands
de chair".
Seu livro "Lhe Pensées", é movido por uma idéia nuclear, formada pela "ordo amoris",
de que decorrem todos os seus pensamentos filosóficos, sociais, jurídicos.
Portanto, fato, norma, e valor estão presentes na supra-estrutura formada pela realidade
metajurídica.
O homem: é o portador dos valores (Traeger des Wertes), e, como tal, na sua
conscientização do contorno sócio – cultural e age como "mensageiro do outro mundo",
traduz na ordem social e política sua natureza e projeta, especificamente, como realidade
jurídica carente da ordem metajurídica.
A intuição hartmaniana é uma intuição prospectiva, uma intuição semelhante a que falava
BERGSON - "intuiton dévinnatrice": intuição que advinha, portanto fora do mundo causal,
fechado, limitado pela visão, até atingir o plano extra - sensível, onde reina a "ordem do
amor", a "intuição metafísica" - aquela sabedoria que não se compreende por palavras.
Há, finalmente, uma ordem dos espíritos, uma ordem de graça, uma presença do mistério
ou da transcendência nos atos humanos mais profundos e que a Maçonaria procura traduzir
através dos seus diversos graus iniciáticos, embora tenha perdido para muitos a sua
captação, dos que vivenciam apenas os convencionalismo mas lhe falta a intuição profunda
do que se esconde sob o véu das palavras ou aparências.